Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)
Escrevo, Mas escrever não é saber, Confesso, Mas não
morro como padre que nada ouve no sacramento da penitência, Trato logo de casar
e gerar filhos que coincidam o numinoso com a realidade, Assim as mesmas mentes,
Oníricas e vigeis, Unem-se na imaginação e além dela, Vi o sentimento inquieto
da mulher das cores, Magoado, Oculto, E aterrador, Então criei-lhe um novo mundo
secreto, E este arrancou-lhe o coração que lhe apunhalara, E a levou até a baixa
idade média, Onde um lusitano arcaico conta uma história que, Antes e durante, A
desconhece, E vai descobrir o novo universo da homossexual feminina e colorida,
E será o único a lê-la depois de pronta, Em troca, Sou lançado num conflito
armado e desprevenido, Sou raso, No lugar de uma contraofensiva, Sou levado para
cima de onde salto para não morrer, Para ouvir uma canção de ninar de bebê para
soldado, Minha guerra é um grito com voz de criança, A ela sou uma lira que ao
silêncio consagra, Que a Deus glorifico no céu, E Ele perece flagelado como seu
filho na terra, Não tão cruel como o inferno astral sem costa marítima, Recorro
à cartomante, E dela despeço-me pela mente, E do grande perigo de corpo ausente,
De temor, Muitas vezes maior que o próprio risco, Bem diferente da velha
combatente com arco de teixo, Que me recebe em sua mais recente vida, Esta
existência que me produz e me deixa produzir, Eleva-me a um intrincado labirinto
de animais falantes, Desce-me a um subterrâneo de simpáticos humanos idênticos,
Viajando-me no tempo, Até a época medieval, Onde minha amada vira freira, E em
nossas horas de tédio de memória, De saudade, Andamos, Um pelo outro, Solitários
numa praia de dia nublado, Esperando nos rever como uma enfermeira e um
combalido num campo de batalha, Como um pai e uma filha na primeira vez que
chego a um noivado, E em troca, Sou avistado por quem cuida de enfermos e
recém-nascidos, Morenas de roxo e branco, Me vejo diante de um técnico de
futebol sem saída para o mar, Prometendo um novo rolo compressor, Encontro a
homônima de minha caçula sentada no canto da segunda casa do arqueiro, E o
presidente assassinado na base de lançamentos para o espaço sideral, Saio desta
noite alta, Dessa noite morta, E vou dar numa região de coronelismo, De clientelismo, Que leva no nome o dia dos que conheceram a morte e viveram, Dos
que dominaram a vida e morreram, Trabalho arduamente para mudar as divisas de
minha mediocridade e avançá-la no passado, E lá, Aparentemente calmo e
imperturbável, Minha cólera impotente é desafiada por uma enigmática trindade, O
redentor na proa de um barco, Compenetrado, A rainha virgem deitada no fundo de
um lago, Sorrindo de felicidade, O abominável homem das neves bradando do topo
mais alto, Sou conduzido de volta à minha imortal milha quadrada, E um amigo
esquecido convida-me a juntar-se à sua invenção, Outro, Ainda solteiro, Pede-me
desculpas pela bagunça em sua casa, Saímos para tomar o chá das 5, Em noite
ainda iluminada por lampião, Ele me canta canções inéditas antes do lançamento
oficial, Resolvo entrar no espírito da trama, Meu pai finalmente me chama, Chego a um hospital num campo de Marte, Gero
um campo de Vênus para a mãe de uma de minhas vítimas, Ela me pede ajuda, Então
faço seu paciente japonês adiar seu suicídio por uma semana, São presentes dos
mortos que não sei como pagar, Que, indesejado, Não sei como agradecer e com eles ficar, Nem numa
berlinda, Nem num auditório, Saio deste sonho pela porta de uma igreja, Ladeira
abaixo com cordão de isolamento desde o altar, Com loiras, Ruivas, Morenas, Uma
velha e uma brotoeja, Em harmonia, Põem nos meus ouvidos todo o talento que a
natureza não me concedeu, Um som celestial, Uma mágica no ar, Que confia-me a
cidade que quer sair da escuridão, E ela me faz revelações abismais, E
obrigo-me muito mais quando souber como escrever, O que se faz quando o sol está frio
demais.
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