Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.
TEXTO ESCRITO HÁ 3 ANOS
Maio de 1981. Estou em
Bucareste, capital da Romênia, terra do Conde Drácula que, segundo histórias
deformadas pela imaginação popular, empalava mais gente do que a santa inquisição,
mais ainda do que Cercei e Daenerys juntas foram capazes de assassinar na idade
média fictícia do filme Games Of Thrones (GOT). Naquele tempo eu já não usava
nem relógio e nem cueca, mas levei um crucifixo, just in case, you know. Não fui à antiga Dácia, uma província do império romano, a passeio. Parafraseando Fagner, passeio é para quem tem casa na praia e joga prata no ar. Fui
enviado para as bandas da Transilvânia para camelar por uma empresa brasileira
que nada produzia, exatamente como nosso atual governo. Os Camelots Du Roi só
compravam negócios de terceiros já fechados, mormente para ter acesso a
empréstimos federais a juros subsidiados - um eufemismo de falcatruados. O NeedWant, nome dado a um prostíbulo no seriado Defiance, devia ter uns 200 proxenetas, algumas cafetinas, e minguados
aspirantes à integridade profissional. Foi o maior cabide de empregos onde já trabalhei com
carteira assinada - já foi tarde, carteirinha de trabalho. O NeedWant tinha
rebentos de nepotismo e paternalismo de todo tipo: burocratas aposentados do
alto escalão do Banco do Brasil, filhos de políticos - eufemismo de corruptos -,
playboys, comediantes, tele operadores de piadas, pseudo economistas,
frequentadores do Jockey Clube, de Rinhas de Galo e da Bolsa de Valores,
aprendizes de puxa sacos, mágicos que faziam dinheiro sumir na sua frente,
médiuns que encorporavam espíritos desempregados e muares semelhantes à nova
sub-espécie que surgiu na última eleição presidencial. Meu QI era um bocadinho acima da
média, mas não do tipo Quem Indique que pagava
os mais altos salários e dispensava curriculum para admissão. Respondi a um
anúncio no Estadão e só consegui o emprego depois de uma rígida peneira e várias
e angustiantes entrevistas semelhantes aos diários e torturantes interrogatórios
dos juízes do carrasco do Vaticano aos quais Joana D'Arc foi submetida. Eu era - pero no mucho hoy en día - um
idealista imbecil - hoje sou mais tenebroso e pé de gancho do que o Rei da Noite
do GOT - com uns longes de iniciativas vacilantes. Apesar das severas restrições
impostas às minhas ousadias, tidas como desavisadas, consegui bons negócios com
empresas japonesas - e isso iria me render dividendos 6 anos mais tarde - e com
muitos países do bloco comunista. Eis aqui uma ironia do regime militar no
Brasil varonil. Eles tomaram o poder através de um golpe de estado sob o
pretexto de que João Goulart queria implantar o comunismo na pátria amada. E
como sabemos, eles assassinaram muitos estudantes que se manifestavam
abertamente contra a opressão tirânica e abjeta dos milicos - o gorila dos
tempos atuais diz que a ditadura não matou tanta gente assim e que desaparecidos
não podem ser contabilizados. E o paladino do nazismo coloca o coronel e
torturador Ustra no pedestal do brilhantismo repressivo e criminoso. Enquanto os
jovens lutavam e morriam contra o autoritarismo, os
brutamontes faziam acordos comerciais com todos os camaradas do leste Europeu,
onde o direito de ir e vir do cidadão era quase uma utopia, precisamente como as
fake news dos bozominions sabotam a liberdade de expressão da nossa agonizante
democracia. As transações eram bilaterais, feitas separadamente com cada país
marxista, e conduzidas na base de troca, chamada de Barter Business no jargão do
comércio internacional, sem envolvimento de nenhum tipo de moeda. Funcionava
assim: eu compro um quilo de você e você compra um quilo de mim e nossos
governos se incumbem de fazer os acertos financeiros. Meu cândido hegelianismo
atrevia-se e propôs uma viagem aos países da cortina de ferro, com objetivos bem
definidos: romper o monopólio de uma concorrente brasileira que mantinha
conchavos com o governo da Alemanha Oriental, levar à Romênia, com quem iniciara
bons contatos à distância, as mesmas propostas de negócios bem-sucedidos que já
mantinha com a Polônia, país que estava na minha agenda de visitas e,
finalmente, abrir o mercado da União Soviética com os mesmos trocas-trocas. Minha
proposição foi unanimemente aprovada por razões óbvias. Plebeus fora do panelão
como eu só tinham autorização para visitar países do terceiro mundo, enquanto os
nobres do trono de ferro só iam a países do primeiro mundo. E os do segundo
mundo? Ninguém se habilitava a conhece-los porque neles não era possível gozar
das mordomias e regalias encontradas somente na Europa ocidental e nos EUA.
Então, vamos deixar este day dream believer se ferrar naqueles cárceres
socialistas. Comecei pela Alemanha Oriental e não fui bem-sucedido, mas
também não considerei-me derrotado. Ocorre que a Ministra da Economia daquela
clausura, com quem me encontrei, estava recebendo em dia suas propinas
depositadas em sua conta na Suíça e sendo muito bem comida pelo seu amante
brasileiro. Minha malfadada experiência na Alemanha Oriental mereceu um texto
poético, voltado para o lado humanista e cultural, já postado no meu blogue com
o título LIBERDADE SILENCIOSA. Passei uma semana em Leipzig, sul da Alemanha
Oriental, e num sábado à tarde deveria pegar um voo para Berlim Oriental, do
lado comunista, e de lá voar para Bucareste no domingo de tarde. Durante minha
estadia em Leipzig, conheci um brasileiro na feira internacional de primavera.
Ele também iria partir no mesmo sábado à tarde, mas para Berlim Ocidental, do
lado capitalista, onde ele alugou um carro. Ele me convidou para irmos juntos de
carro para Berlim. Topei. Cancelei meu voo e rodamos cerca de duas horas e meia.
Ao longo do caminho pudemos ver tropas russas fazendo exercícios de rotina com
soldados alemães como parte do chamado Pacto de Varsóvia, uma resposta dos
soviéticos à OTAN dos Americanos. Ao anoitecer chegamos ao muro da vergonha que
separava as duas Alemanhas, fortemente vigiado e controlado pelos exércitos
russo e alemão, empunhando metralhadoras. Atravessar a muralha e passar para o
lado capitalista foi um thriller, uma experiência cinematográfica e emocionante,
como cruzar o território dos walking deads do GOT. Cada carro passava por três
vistorias em três tipos de pedágios, bem fortificados e distantes 50 metros um
do outro. No primeiro, um soldado alemão de alta patente, supunha, falando um
bom inglês, nos pediu os passaportes, examinou-os e nos perguntou o que
estávamos fazendo na sua Germânia. Falamos a verdade. Ele nos perguntou o que
tínhamos no porta-malas do carro. Mais uma vez, falamos a verdade. E nos
bolsos? Meu companheiro disse ter apenas documentos. O soldado abaixou
a cabeça, esticou o pescoço e olhou para mim, E você? Eu tinha
29 anos, menos ousado do que ingênuo. Achando que fosse fazer um agrado ao
capitão, tirei do bolso 150 marcos alemães orientais e disse-lhe, todo
sorridente, que estava levando o dinheiro como souvenir. Imediatamente o meganha
sentenciou em tom agressivo: Os dois para fora do carro. Meu
colega perguntou o que houve e o mata-cachorro respondeu: Vocês não
sabem que é proibido sair de nosso país com nosso dinheiro? Eu
retruquei: Não sabíamos disso. Ninguém nos disse nada. Como te falei,
pretendia levar este dinheiro para meu país como uma lembrança do seu porque não
sei se um dia voltarei aqui. O maenga nos olhou feio: Vocês
vieram aqui violar nossas leis? Opa, eu disse,
claro que não. O soldado chamou outros guardas e mandou eles
fazerem um pente fino no carro. Nós dois fomos levados a uma cela, sem grades,
mas era um aposento para meliantes porque estávamos trancados num pequeno espaço sem janelas. Numa das paredes havia uma portinhola com um balcão, um guichê
semelhante a bilheteria de cinema. A cada 5 minutos surgia uma jovem de cara
fechada, vociferando um alemão que pouco entendíamos. Meu repetitivo das
weiß ich nicht já não se sustentava. Cacete, Alceu, você
apronta cada uma, impacientou-se meu colega. Espera aí, eu não sabia disso e não venha me dizer que você
sabia. A lavagem cerebral que fizeram nestes comunas é tão alienante que eles
chegam a pensar que o dinheiro deles vale ouro. E lá em Leipzig a pensão onde
fiquei não aceitou pagamento com marco alemão oriental que para eles não vale
nada. Só aceitaram marco alemão ocidental e dólar que valem muito mais e só com
estas moedas eles podem pagar as mercadorias contrabandeadas do
ocidente. Lá vinha a alemã colérica de novo. Ela me mostrou uma nota de
marco alemão oriental e um pequeno papel, um tipo de recibo. Agora entendia. Ela
queria que eu apresentasse o comprovante de troca dos dólares. Mas eu não tinha
porque troquei o dinheiro no câmbio negro. No mundo comunista tudo funcionava
somente por baixo do pano. Falando um péssimo alemão, pedi a ela para trazer
alguém que entendesse inglês. Ela saiu e voltou com o meganha que nos deteve.
Expliquei a ele que troquei os dólares num banco e que joguei o comprovante fora
porque meu país não exigia a apresentação de qualquer tipo de prova cambial - isso não era verdade.
Tomamos um chá de cadeira de mais de duas horas até que o english speaking
eastern german guy reapareceu e fez algo inacreditável. Me entregou 150 marcos
alemães ocidentais e nos disse que estávamos livres e poderíamos ir embora. Ele
trocou os marcos na base de 1 por 1, sendo que o ocidental valia dez vezes mais,
aliás, o oriental não valia absolutamente nada e só servia para o povão sofrido
da Alemanha soviética, socialista de araque. Lá fora o carro estava quase
depenado. Tudo no chão, malas abertas, roupas, amostras de produtos. Dos males o
menor. Arremessamos tudo dentro do porta-malas. Vamos cair fora desta
porra, depois arrumamos tudo no hotel. Passamos pelo segundo pedágio.
As mesmas perguntas e as mesmas respostas. Vem o último pedágio e, finalmente,
encontramos um alemão comunista com senso de humor. Ele olha nossos
passaportes, sorri e emenda: Oh, Brasil, Pelé, café! E eu, sempre impulsivo, ainda mais tão aliviado, tive a cara de pau de dizer que o Pelé era meu parente. O alemão
vibrou, saiu da cabine e pediu para meu companheiro tirar uma foto com o primo
do Edson Arantes. Agora estávamos livres de fato. Um pouco mais à frente surgiu
uma enorme placa. Você está entrando em área sob controle dos EUA,
França e Inglaterra. Meu camarada bradou de alegria. Estamos
livres, Alceu, e você, seu filho da mãe, quase nos ferrou de novo. Nem mulato
você é para ser parente do Pelé. Caramba, você apronta cada uma! E esse
camarada aqui compartilhou: Então, meu amigo, vamos comemorar nossa fuga de Alcatraz esta noite em Berlim. Vamos torrar estes 150 marcos num bom restaurante. Sair de Berlim oriental e passar para o lado ocidental era o
mesmo que migrar do inferno ao paraíso. A diferença entre as duas metades era
gritante. No domingo de manhã meu companheiro precisava ir ao aeroporto
para devolver o carro alugado e viajar para a Itália. Eu ainda precisava
atravessar o muro outra vez, para o lado comunista, de onde sairia meu voo para
Bucareste. No hotel perguntei como fazia para atravessar o muro. A recepcionista
me disse que no centro da cidade saía um ônibus a cada meia hora e que tinha um
passe especial para atravessar para o outro lado. Perguntei se existia outra
maneira. Ela respondeu que havia motoristas de táxi que também tinham este
passe. Pedi a ela para me chamar um. Ele me levou ao ponto de travessia mais
famoso, chamado Check Point Charlie, mas quando lá chegamos ele
empacou como esqueleto de burro, saiu do carro, desceu minhas duas malas e me
pediu o dinheiro. O danado não tinha passe coisa nenhuma. Fui até o primeiro
guarda americano e ele me deu a mesma sugestão da recepcionista. Volte
ao centro da cidade e pegue um ônibus que tem passe para atravessar o muro.
Voltar ao centro? Não!
E se eu quiser atravessar para o outro lado a pé, posso? Pode sim, mas eu
não faria isso. Pois eu vou fazer. Carregando duas malas pesadas, uma
de roupas e outra de material de trabalho, comecei a caminhar por um estreito
corredor ao lado da pista para veículos. Depois de uns 50 metros surgiu outra
enorme placa: Atenção, você está deixando a área sob controle dos EUA,
França e Inglaterra. Que se dane, vim aqui para fazer negócios com os
comunistas. Mais 50 metros adiante, abriu-se como uma clareira na mata um
espantoso posto de dois andares, protegido por cercas elétricas, arame farpado e
concertinas, e com vários soldados com metralhadoras na parte superior. Na parte
inferior um sentinela saiu de uma cabine e passou a me olhar à distância. Acho
que ele devia estar pensando 'Quem é este espião disfarçado de turista
idiota vindo para cá a pé e com duas malas?' Aproximei-me dele. Ele
perguntou, em inglês, o que eu viera fazer ali. Expliquei. Ele me pediu o
passaporte e a passagem para Bucareste. Entrou na cabine, fechou a porta,
começou a falar demoradamente ao telefone, sempre olhando para meus documentos.
Estou ferrado, pensei. Depois de uns 10 minutos ele saiu, me devolveu tudo e me
disse que em 5 minutos um carro viria me buscar e me levar para o aeroporto. E
não deu outra. Chegou uma van. O motorista desceu, guardou minhas malas no
porta-malas, gentilmente me abriu a porta do passageiro e lá fomos nós. No aeroporto, ele me
ajudou a descer as malas. Dei-lhe uma gorjeta em marcos alemães ocidentais e ele
me agradeceu muito. Pois é, nem sempre as diferentes ideologias, radicais e
liberais, se opõem ao bom senso e à cortesia. Definitivamente, eu tinha cara
de idiota, do tipo agente 86. Depois desse agradável sufoco, e enquanto esperava
a chamada para embarcar, sentei num bar, tomei dois copos cheios de vodca russa,
boa pra caramba, a melhor do mundo. Lá vou eu, decolando num Tupolev russo,
robusto e estável. Só há romenos a bordo e a língua deles me é bem familiar. É
meio latina. Consigo entender um pouco. Avião para eles é
avion. Eles falam o tempo todo e bem alto, como eu, paulistano
italiano. O piloto colocou som ambiente, só música dos Beatles! Pois é, o fab
four é realmente universal. Antes de sair do Brasil, tinha dúvidas sobre como
começar meus contatos na Romênia. Em todos os países comunistas todas as
empresas eram estatais. Recomendaram-me pedir ajuda à Embaixada brasileira em
Bucareste. E eles foram extremamente prestimosos. Se encarregaram de fazer
reservas em hotel e disseram que iriam enviar uma carro para me apanhar no
aeroporto. Quando cheguei, levei um susto, havia 5 pessoas com a placa
ALCEU NATALI. O próprio embaixador, dois assessores
brasileiros, o motorista e uma linda jovem romena, chamada Natasha, de olhos
verde ágata, cintilando ao lusco-fusco. Fiquei preocupado. Como eu era - e ainda
sou - um zé ninguém, nada importante, a presença desse pessoal no aeroporto
devia ser para me avisar que algo ruim aconteceu. Talvez uma morte na minha
família. Mas que nada! Eles me receberam com festa e gozações. Entramos num
carro enorme. E no caminho para o hotel outro sobressalto. O motorista romeno
falava português: Seja bem vindo ao nosso pais, Alceu. Um
assessor brasileiro explicou: Todos os romenos que trabalham na
embaixada são obrigados a falar português. Somente nós, brasilenses,
conseguimos essa proeza. E era verdade! A Natasha também falava um pouco de português, mas
ela era muito séria e economizava nas palavras. Chegamos ao luxuoso Hotel
Intercontinental de Bucareste. Ainda bem que quem vai pagar a conta é o dono do NeedWant. Ao fazer o check in perguntei ao embaixador qual iria ser a programação
do dia seguinte, uma segunda-feira. Espere um pouco, vamos te acompanhar
até o quarto. E eles vieram mesmo, os cinco. O motorista romeno falou
em bom português: Mas este quarto é para um sultão e seu harém.
Nunca vi tanto luxo. Um dos assessores se jogou na cama.
Ela é bem macia. Eu estava muito cansado. Queria tomar um banho
e dormir, mas não sabia como dispensá-los educadamente. Não foi preciso dizer
nada. O embaixador antecipou-se: Alceu, fique à vontade, se quiser tome
um banho primeiro e troque de roupa. Fizemos uma reserva para um jantar no
restaurante deste hotel que é ótimo. É incrível! No restaurante é servido de tudo,
do bom e do melhor, uma fartura de comes e bebes, inclusive a predileta carne de
porco dos romenos. O motorista exclamou: Meu Deus há quanto tempo não
como essa delícia! Perguntei-lhe por quê. Alceu, você não
conhece a Romênia. Este país era livre e todos criavam porcos em casa. Daí
vieram estes comunistas e tomaram tudo da população. Hoje, se alguém quiser
comer carne de porco tem que pagar uma fortuna! Ao final do jantar, o
Embaixador me passou a programação: Amanhã cedo a Natasha vem te apanhar
aqui no hotel e levá-lo à embaixada. Na parte da manhã meus assessores
comerciais lhe darão uma explicação completa sobre como se faz negócios aqui na
Romênia. Na parte da tarde você terá um encontro com a Ministra da Economia e
com ela você poderá discutir todos os tipos de transações de Barter Business que
nosso governo mantém com este país. A Natasha vai te acompanhar
o tempo todo. Tinha uma pergunta para o Embaixador: Vou ficar
aqui dois dias, depois embarco para Varsóvia e de lá vou para outra
cidade que é um polo industrial polonês. Minha preocupação são estas agitações
trabalhistas que levaram à formação do sindicato Solidariedade que agora é uma
força política sob o comando deste Lech Walesa e que acabou se elegendo
presidente no ano passado. Ele é anticomunista, quer converter a Polônia ao
capitalismo. Dizem que os soviéticos estão se preparando para invadir a Polônia.
O embaixador, tranquilo,
respondeu: Alceu, isto não
vai acontecer, a OTAN não vai permitir e, se você tiver algum problema, acho que não vai ter nenhum, em último
caso basta você se refugiar numa embaixada brasileira. Bem, se em último caso eu teria que sair
correndo para me abrigar num reduto brasileiro, então, em primeiro caso,
cancelei esta viagem à Varsóvia e deixei a Polônia para outra vez, e daqui de
Bucareste vou embarcar direto para Moscou. Lá estarei protegido because nobody
has the guts to invade the USSR. Tinha outra pergunta ao Embaixador: Preciso trocar dólares. O hotel faz
isso? Não faz. Não, Alceu,
a Natasha fará isso para você. O câmbio negro paga muito mais. Ela te levará o
dinheiro amanhã. Diga a ela quanto você precisa trocar. Na segunda-feira, Natasha, de olhar menos
sóbrio que a roupa que vestia, chegou cedo ao hotel. Convidei-a para tomar café.
Ela aceitou. Natasha era alta, muito bonita, mas não sorria. Era solícita, mas
sempre circunspecta. Acreditava que ela recebeu instruções de seu patrão para
dar o melhor atendimento possível a um visitante brasileiro. Ela tinha uma
postura austera. Com ela não tinha conversa mole. Dava conselhos sobre como se
comportar e falar com as pessoas na Romênia. Ela se vestia bem, mas o estilo de sua roupa não combinava com sua jovialidade, talvez porque quisesse manter-se na
formalidade e no profissionalismo que seu trabalho exigia. Ela tirou um pacote
da bolsa e me entregou. Era o dinheiro romeno. Em seguida tirei de minha maleta
um pacote de dólares e ela se apavorou. Por favor, esconda isso rapidamente. Se alguém
me vê com dólares posso ser presa. Você me dá os dólares no carro. Pedi desculpas e ela disse que
desculpas não eram necessárias, porque eu não conhecia as regras do país. E por
falar em regras, perguntei a ela sobre a noite passada, sobre toda aquela
recepção no aeroporto, o jantar super pomposo para seis pessoas e pago pela
embaixada. Seria o que eu estava pensando? Sim, Alceu, ela respondeu, sempre falando em inglês comigo,
a Embaixada tem em seu
orçamento uma quota para gastos com visitantes e, como isso não é muito
frequente, quando acontece, como no caso de sua visita, eles aproveitam para
gastar tudo que está acumulado. Louvada seja essa extravagância com recursos dos cofres
públicos, fartados com o dinheiro do contribuinte. Na embaixada tudo transcorreu
bem. Saí de lá bem escolado sobre a Romênia. Natasha me disse que antes de nosso
encontro com a Ministra da Economia, marcado para às 14:00, ela deveria me levar
para almoçar, por conta da Embaixada. Alceu, você tem alguma preferência? Natasha, o que você escolher está bom para mim.
Então vou te levar a um
restaurante que acho que você vai gostar. O restaurante tinha mais de 5 estrelas, exclusivo para
uma minoria abastarda no topo do poder. Durante o almoço Natasha aproveitou para
repassar várias instruções sobre o encontro com a Ministra. Eu lhe agradeci e
acrescentei: Natasha, você é muito
prestativa. Tudo que você me explica é muito útil e me facilita as coisas. Você
é uma ótima profissional. Exerce sua função com seriedade e prazer ao mesmo
tempo. Te agradeço muito por isso. Alceu, não estou acostumada a elogios deste tipo. Só
estou cumprindo meu dever. Você é
assim com todo mundo? E por que
não deveria ser? Opa! Me desculpe.
Fiz uma pergunta inconveniente. Desculpas não são necessárias. Você não conhece a
Romênia. Mas agora estou
conhecendo. Graças a você. E estou também conhecendo a Natasha. O que você está querendo me dizer? Sabe de uma coisa, Natasha, até agora você não
me fez nenhuma pergunta pessoal. E
deveria? Por quê? Não te perguntei qual é sua preferência? Natasha estava visivelmente encabulada, sem
saber onde pousar o olhar. Agora era eu quem precisava facilitar as coisas para
ela. Então vamos lá,
Natasha. Já que você nada me pergunta eu respondo como se você tivesse me
indagado. Tenho 29 anos. Sei que mulher não gosta de falar a idade que tem, mas
arrisco dizer que você tem menos que 25 anos. Ela continuou inibida. Demorou para responder, e
finalmente confirmou. Você
está certo. Agora é sua vez.
Minha vez? Sim, sua vez de me fazer uma pergunta ou me falar
qualquer outra coisa sobre você mesma. Definidamente, ela não estava à vontade. Pensou e,
enfim, decidiu me fazer uma pergunta bem rebuscada. Está bem. Você é casado? Sim. E você? Ainda não. Ainda não encontrou seu príncipe encantado?
Alceu, você costuma fazer este
tipo de pergunta a todas as mulheres solteiras? Não! Faço este tipo de pergunta somente a mulheres
bonitas, chamadas Natasha, que nunca sorriem, mas que escondem esplendor por
trás desses olhares enigmáticos. Natasha sentiu-se perdida. Olhou para os lados, para
cima, me periferiou - eta neologismo vagabundo - e looked away. E então, Natasha? O que você está esperando? Perdeu a
esperança? Alceu, viver só de
esperanças é o mesmo que esperar pela eternidade. Olha só! Além de bonita e simpática, a Natasha é filosofa! Ela pareceu não
ter gostado desta observação. Talvez tivesse soado um pouco sarcástica, mas ela
manteve a classe e me avisou que estava na hora de irmos. No Ministério da
Economia sentamos numa grande sala. Eu e Natasha de um lado da enorme mesa. A
Ministra e seu assessor do outro. Depois das apresentações de praxe, a Ministra
perguntou: Então, Sr.
Natali, o que o senhor tem a nos oferecer? Sra. Ministra, eu trouxe o melhor fio de algodão para
sua indústria têxtil. Ele é fabricado por uma multinacional japonesa no Brasil.
O senhor trouxe
amostras?Claro! Aqui estão 10
cones de 1 quilo cada. Acho que são suficientes para fazer testes. Se precisar
de mais, despacho mais cones do Brasil bem rápido. Por ora esta quantidade basta. Se precisarmos de mais
avisaremos através da Embaixada Brasileira. Por falar em área têxtil, tenho algo
a lhe propor, mas antes preciso saber qual é sua contrapartida. Estamos muito interessados em ureia.
Ótimo, nossa ureia é uma das
melhores do mundo. Suponho que você queira amostras. Sim, preciso levar comigo. Vou providenciá-las amanhã cedo. Quer que eu envie
para o hotel onde você esta hospedado? Natasha interveio: Sra. Ministra, não é preciso, eu mesma virei aqui
apanhá-las. Está bem então. Sr.
Natali, me dê licença por alguns minutos. Vou fazer um rápido despacho e já volto.
A Ministra saiu com seu
assessor e eu disse à Natasha: Você viu? Ela sorriu o tempo todo! Ela sorriu para você porque ela está apenas sendo
diplomática. É um sorriso meio forçado. Você acha que me sai bem? Sim, acho que a ministra até gostou de você.
E a Natasha, também
gostou? Ela ficou mais
séria do que normalmente era. Nada respondeu. A ministra voltou e foi direto ao
assunto: Sr. Natali, temos
uma indústria têxtil em franco desenvolvimento. Produzimos ótimas roupas
femininas e gostaria que o senhor considerasse a possibilidade de importar
nossas roupas. Posso, sim.
Então, te proponho uma visita à
nossa melhor fábrica de moda feminina. Pode ser amanhã cedo, por volta das 10:00
horas. Está bom para o senhor? Está
combinado! Meu
assessor pode ir buscá-lo no hotel. Natasha:
Não é necessário,
Sra. Ministra. Basta a senhora me fornecer o endereço e levarei o Sr. Natali à
fábrica com o carro da Embaixada. O dia foi produtivo. As perspectivas eram boas, mas
importar roupas da Romênia iria ser difícil. Natasha me levou de volta ao hotel
e me disse que estava incumbida de me levar para jantar. Natasha, hoje eu quero que você escolha um
restaurante de sua preferência, ou melhor, um restaurante chique da cidade onde você
nunca esteve. Está bem, Alceu,
obrigada. Só que desta vez é por
minha conta. Não, Alceu, não posso
aceitar isso. Tenho que prestar contas à Embaixada. Deixe a Embaixada comigo. Brasileiros com brasileiros
se entendem. Está bem, Alceu, como
você quiser. Chegamos ao
restaurante. Muito pomposo. Natasha, é este mesmo que você queria? Sim, ouço sempre falar deste restaurante, mas
nunca estive aqui. Espero que você goste. Quem tem que gostar é você. O que você vai beber?
Alceu, é você quem escolhe!
Você esqueceu que hoje você é
minha convidada? Pela
primeira vez, Natasha me fez uma pergunta espontânea, sem que eu a
forçasse. Qual é sua bebida favorita?
Bem, depende. No meu país gosto muito de uma bebida tipicamente brasileira, chamada caipirinha,
uma mistura de um tipo de aguardente, açúcar e limão. Mas, via de regra, costumo
beber Whisky escocês. Mas aqui no leste europeu aprendi a gostar de vodca. A
russa é demais. E qual é sua preferência? Eu bebo muito pouco. Às vezes tomo vinho. Então vamos pedir vinho! Não, Alceu, aceite o que te peço, por favor. Você
gosta de vodca e aqui temos a melhor vodca russa. Pode pedir e eu te acompanho.
Sério? Sim, sério. Sério sem um sorriso Natasha chegou a esboçá-lo,
mas se conteve. Seu olhar penetrante dizia muito mais coisas que se podia
imaginar. Vamos fazer um
brinde à Natasha! E ao Alceu
também! À Natasha, mulher linda,
inteligente, prestativa, amiga, e o que mais? Dona de um olhar de raro fascínio,
e eu tenho o privilégio de estar bem diante dele. Alceu, é muita gentileza sua. Não sou tudo isso que
você diz. Além disso, como já te disse, não estou acostumada a receber elogios.
Os homens deste país parecem que
não enxergam muito bem - observação muito arriscada. Ela não era casada mas podia e deveria ter um namorado. Natasha quase sorriu, mas seu belo olhar frio
ainda dominava seu semblante. No dia seguinte, fomos à fábrica. Entramos no show
room e o que vi era desalentador. A moda romena era muito brega, super
antiquada. Por educação e em nome de um boa relação comercial, pedi à Natasha
para me ajudar a escolher algumas amostras. Você tem alguma preferência? A ideia é levar a moda romena ao Brasil. Então,
escolha as melhores roupas romenas que você vestiria. Qualquer tamanho? Do seu tamanho! No carro de volta ao
hotel, fiz uma confissão: Natasha, a moda brasileira é muito diferente da
romena. Dificilmente esta roupa vai emplacar no Brasil. Não é uma questão de
qualidade, mas de estilo. Vamos nos concentrar na ureia. Lamento,
Alceu. Fiz você perder o seu tempo. Não, não foi tempo perdido. Pedi para você escolher as
roupas porque elas são para você. Não, Alceu, não posso aceitar isso, de jeito nenhum!
Pode sim, e você me deve uma
coisa. Eu te devo? O
quê? Ontem à noite você me pediu
para aceitar a vodca e eu aceitei, agora peço que você aceite estas roupas.
É muita gentileza sua, Alceu.
Que bom que a Natasha aceitou.
Agora só falta ela sorrir. Ela desconversou e
emendou: Eu vou te levar
ao aeroporto no final do dia. Temos a tarde livre. Posso te levar para conhecer
alguns lugares históricos ou para você fazer compras se
quiser. Tenho uma
ideia. Você conhece alguma loja de luxo, de moda feminina, mesmo que seja
clandestina, que vende roupas ocidentais, roupas francesas e contrabandeadas?
Ouço falar de uma bem famosa,
frequentada somente pelas madames ricas, esposas de nossos mandatários, mas
dizem que os preços lá são exorbitantes. Você me leva lá? Está bem, vou conseguir o endereço com uma amiga.
Descanse um pouco. Volto na hora que você fizer o check out. Está bem?
Ok, você é quem manda, Natasha do
sorriso guardado a sete chaves. Chegamos à loja e não queriam nos deixar entrar. Só
conseguimos quando disse que estava lá à pedido do Embaixador brasileiro e a
Natasha mostrou documentos oficiais. A loja era pura ostentação, extravagante,
com roupas da alta moda francesa. Natasha, me ajude a escolher. Qual destes vestidos
você usaria? Eu? Todos!
Escolha o melhor, o que você mais
gostou. Você está pensando em
levar um presente para sua esposa? Sim. Qual é o tamanho dela? O seu! Ela tem sua altura. Prove-o. Se você gostar eu
vou levá-lo. Natasha
escolheu um vestido preto, estiloso, a cor que combina com tudo e está sempre na
moda, e que realçava ainda mais seus lindos olhos verdes claros e cintilantes. Ela se olhou no espelho e deixou a timidez de lado. Nossa, Alceu, é lindo demais. Sua esposa vai adorar.
Comprei o vestido, mandei
embrulhar para presente e, de fato, o preço era bem salgado. Saímos da loja.
Ainda tínhamos tempo para gastar antes de ir ao aeroporto. Fiz uma proposta.
Vamos parar num bar por aí
e beber mais uma vodca? Uma despedida! Está bem. Vou fazer mais um brinde à Natasha. Mais
um!, Alceu, você
não precisa me fazer mais elogios. Você tem sido muito gentil comigo.
Entreguei o vestido à Natasha.
O que é isso, Alceu?
O vestido é seu! Nem pensar! Não posso aceitar. Pode sim. Não, Alceu, eu não poderei usar este vestido tão
sofisticado. Todos vão notar. As pessoas irão desconfiar de mim. Elas sabem que
só uma pessoa rica usaria um vestido elegante e caro como este. Eu acredito no que você diz. Mas
tenho outra proposta: você me devolve o vestido mas, em troca, me abre um largo
sorriso, está bem? Ela emudeceu. Não conseguia falar e nem olhar para mim.
De repente, ela me veio com esta: Alceu, antes de te levar ao aeroporto preciso ir em
casa resolver um pequeno problema que esqueci, mas é bem rápido. Me espere aqui
mesmo. Não vou demorar mais do que meia hora. Está bem? Ok, Natasha, te espero bebendo esta vodca que é
demais. Natasha saiu com
o vestido embrulhado debaixo do braço. Pensei comigo, o que ela
pretende fazer? vai esconder o vestido em casa, ou vendê-lo? Eta pensamento grosseiro e deselegante que foi detonado com uma incrível surpresa. Natasha aparece trajando o vestido francês, e uma blusa rustica por cima, para esconder um pouco da
sofisticação do público. Seus cabelos volumosos, sempre presos, desfraldaram-se, deixando à mostra suas lindas melenas encaracoladas. Ela está radiante, é um fetiche de mulher. Sem demonstrar a menor preocupação de ser por mim notada, ainda sem sorrir e sempre carregando suas pastas de trabalho, ela apenas diz: Vamos para o aeroporto? Ok, vamos. À propósito, o vestido fica muito mais belo
em você, mas ainda perde para seu olhar. No trajeto até o aeroporto, ela manteve-se calada. Um
pouco inquieta. Tentei puxar conversa, mas ela se limitava a dizer sim e não
para tudo. Ao chegar fiz logo check in e despachei a bagagem. Faltava
menos de meia hora para o embarque. Fomos para a área de imigração onde nos
despediríamos. Eu estava pronto para dizer um simples adeus e lhe agradecer por
tudo quando Natasha me surpreendeu com perguntas: Alceu, você tem planos de voltar à Romênia?
Depende, Natasha. As perspectivas
de negócios aqui são promissoras. Se elas prosperarem certamente terei que
voltar aqui. E então,
para meu assombro, Natasha me fez uma pergunta desconcertante: Alceu, este seria o único motivo que o
traria de volta à Romênia? Foi minha vez de calar. O que mais me levaria de volta àquele país senão o trabalho? Ela me pegou desprevenido e eu não
sabia, sinceramente, o que responder. Hesitei e ela percebeu. Então, como se
soubesse que eu nunca mais voltaria à Romênia, ela me fez outra pergunta ainda
mais desnorteante, mas não tão difícil de ser respondida: Você vai me escrever? Neste momento me fiz de desentendido e saí com
uma resposta bem estúpida: Te escrever? Como? Nem tenho seu endereço!
Tem, sim! É óbvio que tenho. É o endereço da Embaixada. Eu estava pronto para lhe dizer que iria lhe enviar uma carta na
embaixada quando, finalmente, ela abriu um sorriso de felicidade, exteriorizando
uma gama numerosa de sentimentos. Quer saber de uma coisa, pensei comigo, e lhe
disse: Oras, um sorriso tão lindo
assim merece um abraço! Abracei-a
e ela também me abraçou bem forte. Lentamente afastei-me um pouco, e beijei-lhe a testa e, o inimaginável
aconteceu: ela beijou-me nos lábios. Perdi completamente o rebolado. Não sabia o
que falar. Apenas disse adeus, e ela nada respondeu. Encaminhei-me para o
corredor que leva ao setor de imigração. Parei, olhei para trás, e lá estava
ela, sem sorrir, e com o mesmo olhar deslumbrante. Virei as costas e fui embora.
Aquele sorriso, aquele abraço, aquele beijo, aquele olhar me acompanharam o
tempo todo, até na hora de apertar o cinto para decolar no mesmo Tupolev russo
que agora me levaria à capital do império soviético. Seguindo uma velha mania,
revistei todos os meus bolsos novamente para ter a certeza que estava tudo no
lugar, que nada faltava, mas no bolso lateral do paletó do lado esquerdo toquei
num objeto estranho. Um papel dobrado em quatro, do tamanho de uma caixa de
fósforo. Abri-o e perdi o fôlego. Era um bilhete da Natasha. Quando foi que ela
colocou este bilhete no meu bolso? Na hora em que nos abraçamos? Comecei a ler e
fiquei emocionado. O bilhete dizia: O endereço da Natasha
é...Certamente era o endereço de sua casa, mas o mais comovente estava
logo abaixo. Ela escreveu as seguintes palavras em três idiomas,
romeno, inglês e até português:
Alceu,
Esperar é difícil, mas suportável,
Desde que a esperança não ganhe
ares de eternidade. Insuportável
mesmo é não ter, Todos os dias,
Alguém para quem se possa sorrir e dar amor.
Sua filósofa,
Natasha
Já se
passaram quase quatro décadas e muita coisa mudou no mundo. Estive muitas vezes na Europa ocidental e oriental, antes e depois do fim do
comunismo, mas nunca mais voltei à Romênia. Os negócios com aquele país não deram
certo. Não tenho dúvidas que a Natasha ficou muito indignada por eu jamais ter,
pelo menos, enviado uma carta a ela. Não o fiz pelos mesmos motivos que me
convenceram a não voltar à Romênia a trabalho, mesmo estando na Europa e bem
perto dela. Eu só tinha 29 anos e ainda não estava maduro e preparado o
suficiente para tomar decisões levado pela paixão. Tinha certeza absoluta que se
eu resolvesse voltar à Romênia só para revê-la não me limitaria a lhe fazer
apenas uma visita de cortesia. Eu a tiraria de Bucareste e a levaria embora
comigo. Mas optei por ter aquela jovem mulher somente no meu coração e no meu pensamento. Escolhi uma música que me faz lembrar de
tudo o que senti junto a ela por apenas dois dias e, desde então, separado por 40 anos. Muita
coisa mudou no mundo, mas há certas coisas na vida das pessoas que nunca mudam. Então, o que foram aquele vestido francês e aquele beijo nos lábios? Um presente de agradecimento ou de afeto? Mas e aquela pergunta sobre o que mais me traria de volta à Romênia? O seu amor?