sexta-feira, 1 de novembro de 2024

AO ETERNO E INFINITO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98


Trem que parte de estação escondida numa deformação do espaço e do tempo de um arrabalde de alta densidade. Estação naturalmente conhecida por todos seus confinantes. No seu bojo carrega gente. Somente vidas risonhas e fugidias, vidas em movimento, que se sentem encontradas e preferem apenas partir sem atinar para o  destino. Já têm todo alento e sabem o que o amanhã trará. Lentas e ruidosas, rodas trotam pelos trilhos. O professor sem formação começa a recortar as imagens que entram pela janela. A psicóloga sem diploma é arquitetada na mente de uma marginalizada, lendo cartas de tarô em casa e farejando novos clientes na igreja. Em cada vagão todos se conhecem e são amigos. Todos precisam de pouco amor para atenuar uma dor que não têm. Uma única mulher sofisticada até agora se sente incomodada no meio de tantas pessoas, apesar da classe única ser espaçosa, confortável e quase privativa. Em cada estação todos se confraternizam e se dispersam. Todos já passaram por lá muitas vezes. Nenhum é especial e nenhum se detêm,   o movimento importa. De estação em estação entram e saem e se saúdam. Da mente da marginalizada as vidas apenas saem e se constroem nas fantasias de uma contadora de histórias de assombrações e nas revelações políticas e veladas do colecionador de recortes de jornal. Vem-lhe à mente sua impressionante e derradeira conversa com a única confidente que se impregnou em sua memória de forma indelével e traz-lhe recorrentes lembranças da última vez que ela falou-lhe tanto sobre segredos encontrados nos sonhos, numa situação semelhante àquela vivida na penúltima conversa, e ambas caracterizadas por palavras opostas àquelas que um censor emprega para depreciar os humildes anseios alheios: coerência com o conteúdo básico do conhecimento absoluto e ocorrências simultâneas sem relação causal, mas com o mesmo significado; muito mais que sonâmbulas: verdadeiras projeções astrais; oníricas, mas impessoais; tão lógicas quanto o conceito de desordem no universo e tão constantes como a insensata busca por um significado para a vida. E ao contrário da maneira de conceber e realizar atribuída pelo desagregador aos que se movem pela felicidade, as verdades que nessa penúltima estação se comprimiam intensamente como num ovo cósmico eclodiram quando a marginalizada pretendia dizer coisas feitas para não enganar, mas que fazem com que todos se sintam enganados. No entanto, estarão enganados para sempre aqueles que nunca se empenharem em compreender a querença desta explosão, que não forja um limite, segue em frente, até o fim da linha que não existe, e se dissolve com a vida que ilude.

PRESENTES DE AMOR E O MITO DA MULHER APANHADA EM ADULTÉRIO

Texto  de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


No início dos anos 90, resolvi reler todos os diálogos de Platão que eu conhecera nos tempos de faculdade. Naquela ocasião, decidi ler, pela primeira vez, os diálogos considerados menores e de au
toria duvidosa: Hiparco, Os Rivais, Teágenes, Clitofonte, Minos e O Segundo Alcibíades. Este último tornou-se o meu favorito. Seu tema, a prece, contém, em muitas passagens, o espírito do platonismo e do estoicismo que pessoas anônimas usaram para escrever parte dos evangelhos cristãos. É muito bonito, por exemplo, a prece do poeta desconhecido que Sócrates aprova: Dá-nos, Zeus, os bens que pedimos e os que silenciamos, e afasta de nós os males, mesmo se o pedirmos por não sabermos que são males. No entanto, este diálogo não é de Platão. É de um admirador anônimo, escrito entre o século 3 e 4 antes da era comum.

Quem conhece os diálogos de Platão, logo percebe que O Segundo Alcibíades contém falhas nas associações e força argumentativas e ausência do habitual senso de humor com o qual o grande filósofo atenuava a investida dos questionamentos de seu mestre. O autor demonstra que conhece, profundamente, o estilo de Platão, no entanto, em várias passagens, a linguagem usada não é Platônica. O texto contém muitos erros de  estrutura e dicção. Em 151B, a frase grega é literalmente traduzida Eu ficaria feliz em ver-me aceitando, o que não é nada Platônico. Uma das provas de que o diálogo foi escrito muito tempo depois de Platão está na palavra grega usada para respondido em 149Bapokrithenai, enquanto Platão teria usado apokrinasthai. Outros exemplos: Em 148C, as palavras chronou oudenon parecem significar tempo passado em Grego e, certamente, não é Platônico (No livro de Aristóteles, Física, na passagem IV. 13.5 as palavras o parekon chronos significam tempo presente). Em 145D as palavras ana logon são usadas no genitivo na passagem 29C do livro Timeu de Platão, enquanto a frase Platônica normal para esta passagem é osautos.

Platão teve muitos imitadores e admiradores anônimos, mas este que escreveu o Segundo Alcibíades, é mais que isso. Como devemos entender uma pessoa que escreve uma obra magnífica, imitando seu ídolo, e prefere permanecer no anonimato ao invés de desfrutar da glória de um filósofo, mesmo que de um plagiador? Como devemos entender uma pessoa que encerra o diálogo com esta nobre máxima: Amão diz que prefere o culto discreto dos lacedemônios aos sacrifícios de todos os helenos reunidosem resposta às queixas dos Atenienses de sempre levarem a pior nas batalhas contra os Espartanos? Isto não é um plágio oportunista ou uma imitação barata. Isto é um presente de amor para a  posteridade.

Os maiores imitadores de Platão, no entanto, não foram meros e frustrados pretendentes a filósofos, mas, sobretudo, os cristãos. Boa parte das histórias e grandes máximas que aparecem nos evangelhos canônicos, conhecidos como Marcos, Mateus, Lucas e João, foram baseados nos diálogos de Platão e na cultura grega. Todas as pessoas que inventaram as histórias contidas nos evangelhos eram anônimas e inspiraram-se em várias fontes, principalmente a Grega, mormente a Platônica (muitos acadêmicos costumam dizer que o cristianismo é um neoplatonismo). Todos os evangelistas eram cultos, falavam Hebraico, Aramaico, Latim e Grego, e liam livros acessíveis somente à nobreza, como os diálogos de Platão. Eles fizeram uso da obra de Platão e de outros pensadores gregos para inventar o que hoje chamam de moral cristã. A igreja deu nomes aos autores destes evangelhos, mas quando aqui faço menção a qualquer um deles, não refiro-me a uma pessoa que existiu e cujo nome conhecemos. Quando digo João, refiro-me ao autor anônimo que escreveu o evangelho conhecido pela igreja Católica como sendo de São João.

Os autores anônimos dos evangelhos canônicos não tinham admiradores ou imitadores, mas concorrentes, anônimos também, e que escreviam seus próprios evangelhos, como várias pessoas de diferentes regiões fizeram ao longo de mais de um século. Como o conteúdo destes evangelhos concorrentes não atendiam aos interesses imediatos da igreja católica dominante, foram chamados de apócrifos e banidos, mas redescobertos nos tempos modernos. Para cada um dos quatro evangelhos canônicos existe, pelo menos, cinco apócrifos. O que os evangelhos canônicos mais tinham eram adulteradores,  dentro da própria igreja cristã que, por séculos, modificou as histórias dos evangelhos para atender aos seus proselitismos e manter seus fiéis sob rédeas  curtas. A maioria das adulterações é bem visível e até grotesca. No entanto, os autores originais e anônimos dos evangelhos eram bem criativos e inventavam histórias mirabolantes, intrigantes e, às vezes, até assustadoras e surpreendentes, comprometendo a imagem de seu ídolo mitológico que se tornou a figura central da maior religião da humanidade.

Há uma história famosa e interessante no evangelho de João, conhecida como A Mulher Apanhada Em Adultério, que requer atenção especial. Em qualquer bíblia de livrarias ou de hotéis e igrejas, está história aparece nos capítulos 7.53 a 8.11, mas o mundo acadêmico nem sequer a cita em seus estudos científicos da literatura cristã primitiva. Por quê? Porque, embora ela não seja diferente de outras histórias sobre Jesus encontradas nos evangelhos sinóticos (Marcos, Mateus e  Lucas), ela não foi escrita pelo autor original do evangelho de João. Ela tem muitos problemas como o Segundo Alcibíades que foi, erroneamente, atribuído a Platão.

Esta história não aparece em nenhum dos manuscritos unciais Gregos, a não ser num único conjunto deles, sendo os principais três manuscritos datados do século 4 da era comum, o Sinaiticus, Vaticanus e Freerianus, e um do século 9, o Koridethian. Um manuscrito uncial do século 8 e outro de século 9 omite esta história, deixando um espaço vazio onde ela outrora fora inserida, o que denota que já naquela época era considerada não autêntica. Além disso, vários manuscritos cursivos omitem a história, enquanto os manuscritos cursivos de Ferrar colocam esta história no evangelho de Lucas, entre o discurso apocalíptico do capítulo 21 e a abertura da história da paixão no capítulo 22. Outros a colocam no final do evangelho de João e outros depois do capítulo 7. O  mais interessante é que durante os primeiros mil anos da era cristã nenhum comentarista Grego fez qualquer menção a esta história. Na verdade, evidências desta história só aparecem nos manuscritos latinos e ocidentais, sendo o mais antigo deles o Códex Bezae do século 5.

Fora estas anomalias nos manuscritos unciais e cursivos da igreja, o que torna esta história uma invenção bem tardia é o fato de que seu autor comete os mesmos erros cometidos pelo autor do Segundo Alcibíades. A partícula grega de aparece 10 vezes nesta curta história e não é uma palavra característica de João. Ela aparece 202 vezes no evangelho inteiro, ao passo que João usa com a mesma frequência (195 vezes) a partícula grega oun. Para a palavra multidão, João usa o grego ochlos, mas nesta história, o inventor anônimo usa o grego laos. Em todo o evangelho, João chama os opositores de Jesus simplesmente de Os Judeus, mas nesta história eles são chamados de Escribas. Para a palavra cedo, João usa o grego proi (ver capítulos  18, 20 e 21 de João), mas nesta história a palavra grega usada é orthrou.

Se esta história não faz parte do evangelho, então de onde ela veio, com qual propósito foi criada e por que ela foi inserida justamente ali, entre os capítulos 7.52 e 8.11? Uma história parecida com esta foi mencionada pela primeira vez nas Constituições Apostólicas  dos séculos 3 e 4 da era comum, sem ser, no entanto, atribuída a nenhum evangelho. O Bispo cristão, Eusébio de Cesárea, que viveu do ano 260 a 339 da era comum, menciona em seu livro, A História da Igreja, que um tal de Papias relata uma outra história de uma mulher acusada de pecados perante Jesus e que estaria contida no Evangelho dos Hebreus. Eis as palavras de Eusébio no capítulo III, versículo 39: Papias também faz uso de evidências tiradas de 1 João e 1 Pedro, e relata a história de uma mulher falsamente acusada de muitos pecados perante Jesus. Esta história é encontrada no Evangelho dos Hebreus. Eusébio não associa ou compara esta 'outra história' de Papias à história contida em João 7.53 e 8.11, simplesmente porque no tempo de Eusébio, século 4 da era comum, a história da Mulher Apanhada Em Adultério não existia.



A exemplo do que fez o autor do Segundo Alcibíades, o autor da Mulher Apanhada Em Adultério nos legou outro presente de amor com a grande máxima: Que atire a primeira pedra quem não tiver nenhum pecado. Deixo para o leitor o desafio de dar respostas às três perguntas feitas no parágrafo anterior. Ofereço este texto como meu presente de amor para os carregadores de tirso que passaram a vida andando em círculos e aos bacantes que sempre caminharam em linha reta até a apoteose ou, conforme a versão cristã desta máxima de Platão, para os chamados que me fazem companhia no anonimato e para os escolhidos que se fazem acompanhar somente pelo estrelato


ESPORA ORIONIS - O CÍRCULO DE BACHIR: MOMENTO DAS MENINAS DA PRAIA

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Bachir: Hoje temos gente nova no círculo. Apresente-se, Abulition!

Abuliton: Que saudade da noite em Perequê-Mirim, recostado no colchão, deitado sobre terreno chão, recebendo luz do corredor através da fresta da porta a Iluminar minhas Brumas de Avalon e atender ao meu desejo de paz podre por uma lua e o que sobrou num sol.

Bachir: Muito bom! Agora você, Maranta!

Maranta: Eu também. Sinto falta das noites de Comburiu, sentada à mesa, escrevendo, juntando letrinhas, como dizia Carlos Roberto Zen, que me trouxeram aqui hoje e me deram momentos de prazer, um presente do tempo que preciso devolver aos que amo e aos que sobrevivem.

As meninas da praia.




Phalaenopsis: Gostaria de fazer um aparte. Orlas da terra, em declive suave, ordinariamente cobertas de areia, e que confinam com o mar. Certa vez, um sujeito me disse que viver é tomar um bom vinho e lembrar o passado. Com a invasão carcinógena no meu aparelho digestor, onde minha degustação torna-se diluta, meus vinhos agora são dos mortos, enterrados no céu da boca. Saudoso nem sempre fui, mas das meninas não esqueço. Aqui estou, recostado no sofá, cabeça reclinada para trás, a escutar como quem presta ouvido às vozes que da cozinha me convidam para jantar, vozes longínquas às memórias que meus olhos cerrados estão a imaginar, cercados de um lado pela vastidão do oceano, no chão a maciez da areia para pés descalços, no alto o sol dourado cortado por algumas pipas coloridas que enfeitam o olhar, como os sorrisos de todas as meninas que cirandam sem parar, e riem desde a manhã até o fim do dia que elas nunca veem chegar, felicidade com as companhias que parece se eternizar. Elas não devem ter ouvido meus pensamentos prazenteiros, e não podem me despertar. Para onde foram? O que fizeram de todas aquelas lembranças? Espero que tenham ficado com a maior parte de minha alegria, e a menor de minha solidão. Espreguiço meu corpo dorido na poltrona surrada, olhos abertos ao infinito, a se perder como quem os fecha às ausências que querem se acercar, ausências desatinadas com os sentimentos que minha alma anestesiada está a preencher, cercada de um lado por lágrimas de sangue, no chão a terra dura para as mãos calejarem, no alto o sol a pino rabiscado por alguns pingos de chuva que refrescam o suor, como as obstinações das meninas, agora mulheres feitas, que trabalham sem parar, e perduram antes de o dia começar até o fim da noite que nunca as veem descansar. Uma missão com os deveres que parece predestinar. Não podem mais ficar, não podem mais ajudar, e quem tomará conta de todas aquelas crianças? Quem nos trará mais bem-aventuranças? Quem herdará a maior parte de suas devoções? E nada do que sobrou de suas desambições? Estes são pedaços da vida. Instantes momentos.

Zamioculcas: Os momentos não têm rosto. Só movimentos. Vejam a Poliça mergulhando os braços no vazio como a remar e a Pocahonta trazendo-os à tona a simular a ondulação das águas.

Beaucarnea: Momentos de entoação de quase plangentes leituras e escritas embalam o tardio despertar de uma verve literária que ainda pode vos seguir pelo pouco de vida que lhes restam. Tirem suas cartas e apostem em tudo que a saudade vos deixa no passado e invoca no presente. Escolham: arriscar e vadiar caindo aos pedaços à beira-mar de verão ou arrumar um emprego como vestidores de defuntos.

Momento



Dieffenbachia: Preciso de você um momento, Um momento de solidariedade, Para recostar-me sob as sombras das árvores que falam, gemem, farfalham e abrigam espíritos benevolentes, Preciso de você um momento, Um momento de amizade, Para soprar mais forte dentro de mim o vento pleno de palavras, visões, avisos, ruídos de forças que vagam, que atraem amigos e afastam os males, Preciso de você um momento, Um momento de fraternidade, Para me ungir com a água que se move, articula, profetiza e santifica, Preciso de você um momento, Um momento de adversidade, Para sentir frio, calor, estar na escuridão, encontrar luz e olhar para o céu todo pai que obra com a mãe terra no milagre da vida, Preciso de você um momento, Um momento de superioridade, Para comungar com o universo, sentir-me parte do todo, sentir-me deus, filho da reverência e da necessidade.

Bachir:Rudbechia,parece que você esbouçou levantar a mão. Quer dizer alguma coisa?

Rudbechia: É sobre mim, mas deixa pra lá, não é nada importante.

Bachir:Rudbechia, aqui tudo é importante. Conte sua história!

SAUDADE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

MEU PAI, MEU MELHOR AMIGO, MORREU NESTE DIA, 1 DE NOVEMBRO -  ARMANDO NATALI - 1926 - 1997 

Pouco ou muito eu faça, A ressonância de uma cantiga sentida, Embalando seu último olhar, Me segue por toda a vida, De pouca valia, Para quem não tem senão dias e noites, Dias que foram só seus, Vivendo e trabalhando a plena luz, Sendo-me dado somente ver nascendo, O sol claro, Seu amigo de heróis anônimos, Noites que ainda são minhas, Incriminatórias e irrespondíveis, Debruçadas sobre sua lembrança, Tornaram-me a saudade, A única companheira que pude te oferecer, Que punge, Não me consola, Nem me perdoa, Pouco ou muito eu pense, O silêncio das lágrimas derramadas, Pedindo-me para te abraçar, Enlutam seus dias venturosos, De muito valor, Para quem nunca teve senão todas as horas para os outros, Sem ninguém que lhe trouxesse de volta ao lar, Onde seus sorrisos meu tempo não vivido em plenitude obliterou, E sempre ao me deitar, Pergunto-me, Que caminhos terá sua alma percorrido para chegar onde está, Que caminhos há para se chegar ao santuário que só pode ter te acolhido com o mesmo amor que você doou, Sempre de olhos abertos e atentos, Enquanto cerro os meus, Pego no sono e com você tenho meus sonhos, Indagando se estou vivendo nos seus, Se minhas preces ajudam-lhe a esquecer o que não fui para você.


DESPERTAR AGRIDOCE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Meu pai faleceu há 27 anos, neste dia, 1 de Novembro. Isto é para você, meu melhor amigo.

Cada vez que você faz anos entre o ponto vernal e o solstício de verão, Quero chorar, Mas não consigo, Um sentimento estranho, Quase amargo, quase doce, Me impede, E me envolve numa onda de pesar e esperança, Ainda tenho o aspecto indeciso de solteirão, O ar impreciso como das frutas que antes de maduras enrugam no galho, Nas outras estações, Derramo muitas lágrimas estrondosas, Como um recém-nascido, Um dos primeiros ingênuos ouvidos numa senzala, E às vezes, Meu pranto sussurra, Soa uma lamentação de tessitura mais aguda, Como um violino tocando uma sinfonia, Com este sabor agridoce, E abrindo-se para a vastidão em estâncias de arrependimento, Ultimamente, Com as quadras dos anos me abarrotando de vicissitudes, Cada vez mais minha consternação dá lugar à expectativa, Está indo da súplica à confiança, De tal modo que seu aniversário torna-se uma data de todos os dias nesta ambiguidade de você estar ausente e presente em minha vida, E à fé, Que as festas de suas primaveras sejam mais de um jovem guerreiro do que um comandante envelhecido, Ainda que sempre prudente, E que a força de nossos pensamentos desçam ao fundo de nossas almas sem ambivalência.