terça-feira, 26 de novembro de 2024

O OLHAR DA COMUNHÃO


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche) 
É sublime estar sempre esperando por você, É feitiço que o tempo todo você nunca esteve longe de mim, Porque é este encantamento que nos faz sentir distantes, Porque é este encantamento que nos faz sussurrar orações à noite, Nos faz temer estar dentro de um momento mágico sem perceber que ele é real, Nos dá medo de que um dia ele acabe como se fosse uma fantasia passageira, Me dá o medo ingênuo de que você um dia vá embora, E leve consigo a fascinação que contagia nosso mundo, Porque são esses muitos instantes felizes que nos fazem pensar que vivemos num lugar foram do comum, Nos tornam tão importantes, Como todos aqueles que têm alguém esperando, E se a alegria que me contamina me impele a lhe dizer algo singular, Não será diferente daquilo que todos tocados pelo mesmo sentimento já perceberam, Que a vida nos destinou esta ocasião tão preciosa, Nos tornando tão especiais no mundo, Comungando nos olhares encantados, De tempos abençoados, Perseguidos pelo medo de sermos tão felizes, Celebrando a vida que sempre esperou por nós, Tendo-nos ao seu lado o tempo todo, Compartilhando a mesma magia, O mesmo sonho, Murmurando as mesmas preces, Todas ouvidas, Todas atendidas, Sob o olhar celestial de quem ao nosso redor consegue ver a felicidade sempre fazendo-se acompanhar pelo amor que move este mundo mágico.



PRIVILÉGIO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


Ainda que eu tivesse toda a riqueza do mundo, e não soubesse que você existisse, não entenderia de onde viria tanto desprazer por uma fortuna conjurando em minha perdição meus erros e uma paixão que poderia ser ardente, ainda que eu ouvisse as vozes incógnitas, e não tivesse ouvidos para você, eles jamais se prestariam a cupidos servidores, não se atreveriam contra o céu, e não beijariam a mão à deusa dos amores, ainda que eu fosse um semideus maior que Bach, e não tivesse o privilégio de gostar mais de você, minha vida teria menos sentido ainda e o universo choraria mais bilhões de vezes com nossa cansativa busca de seus inexoráveis mistérios, quando eu era menino, e você ainda não era, minha alma, sem-ventura, pouco aceitava, já ansiava mais que silêncio e prece, já desejava fugir-me para encontrar alguém que te criasse, logo que acabei com as coisas de menino, e você veio à luz, cheguei à meia idade com um resto de irresponsabilidade menina, um perdedor em quem ninguém apostaria, não invejo os que esqueceram a cor das primeiras calças que vestiram, não atino com as de ontem que ainda hoje enfio, sem meu amor por você aqui já não mais estaria.

THE CLOGS ARE OPEN



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Grandes tristezas resignadas no recôndito da sede de todos sentimentos, De amarga história ainda não cicatrizada, Entra ano, Sai ano, Fundem-se sonhos e realidades em luz e escuridão, Passado patente ao espírito do presente, Futuro com data marcada, Secam ao sol rios de ardentes aspirações, Murcham falto de claridade pastos de apaixonados desejos, Permanecem nuas árvores de frutos deiscentes, Amarga ainda é à solitária a saudade que embarga a voz, E no peito, Escaldante lava, Pousa errante nuvem, Passageira como calendário na parede, Correndo mais rápido que o tempo, Mais lenta que noites insones, De olhos brancos afogueados, Veem o nascer do dia por sombra de cortina, Fechada à queima pelos raios de Coaraci, Oh, Como doce à desacompanhada é o sussurro do anjo anunciando-lhe the clogs are open no isolamento, Abrindo livros empoeirados na prateleira, Dissipando as escórias da mesmice ralo abaixo, Deitando-lhe sob um céu protetor, Que não deixa a precipitação entrar, Nem vento uivante varrendo detritos, Nem luzes de ruas escuras borbotando formas laranjas através da janela, Nas horas do crepúsculo, Nas horas do céu noturno vermelho que apraz os pastores, Nem ladrões da madrugada, Que lhe foram caros e lhe venderam, E antes de chegado o momento de sentar-se numa cadeira de balanço com uma manta cobrindo os joelhos, Vai a um cemitério, Pensar em todas as esperanças e sonhos perdidos que jazem sob o solo, Vai a uma igreja, Pensar nas imagens e nas preces vivas que procuraram atributos que nunca existiram, Vai ao santuário da alma, Pensar nas pessoas que só se importavam com o corporal, De amor de água poluída, Enquanto se esperava pelos seus corações, Sai da touceira, Passa por uma ampla campina, Por onde a lua, Sozinha no firmamento liso, Estende sua triste luminosidade, Sai da touceira, Passa por uma vereda macia e fecunda, Por onde a primeira estrela da manhã, Radiante no horizonte, Estende sua alegre calidez, Sai do encarceramento de um casulo de algodão que se abre, Rebento com um grito de incontido alívio e felicidade, Na melodia de sua liberdade, Na harmonia de sua delicadeza, No reconhecimento de um mundo que acabou.