segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

PHYSALAN

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

We are brothers in splendor, Why don’t we get our hands and our love together in the open-air nights?, Where we all dwell, Where my co-sisters are like water in your land, With tearful eyes deprived of the twinkling of hanging lamps, Blinded by our Sapiranga peepers, Since the invisible is not unreal, It is just the real unseen, Marvel with me your great joy, Read my light and my two companions, Unveil my mother, Her smallness, So generous to her offsprings, Encouraging me to confess to you, Like your moon that hides one of its sides eternally, My dearest son keeps his fieriest edge always turned towards me, The other two within my reach, Same as Venus and Mars are to your arms, And my other four can surprise you with their burning frosts, My flora rejects the threshold of the universe, While yours repels and is coated with the exuberance of emeralds, Our beech sleeps in violet under a bluish-purple sky, And your flora dawns in topaz looking out an ultra dazzling horizon, Our lives are the same illuminated stages, Living in the same black backgrounds in the pilasters of the proscenium arches.

A ARTE QUE TRANSCENDE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98



ALÉM DO AMOR

Pouco terei perdido, E pouco perderei, Deste mundo passado onde nasci, Deste mundo futuro de renovações que vivi e morrerei, E dele sinto menos falta agora, Sem precisar saber porque, Sem pensar o que ele pode me fazer, Mesmo que ele me desabrace, Mesmo que ele me provoque com a brevidade da vida, E a pátria de meus desejos, Porque este corpo material não compreende e não consegue ousar minhas sensações emoções, E delas só atina a deduzir ilações racionais, Porque elas são como canções transcendentais, Que a alma extasiam, E do corpo mental arrebatando-a, À vastidão do universo a sobem, E a sublima, Às mais puras e inimagináveis regiões de supremos prazeres que nem o amor alcança, Que nem o dom do sexto sentido, Mas desatento, Percebe que as estrelas mais cintilantes, As árvores mais santas, Os jasmins mais azuis, As lilases mais perfumadas, E os lírios mais exuberantes, Florescem bem na frente das estreitas janelas dos olhos, Cujas vidraças embaçadas de postigo mal deixam coar o dia, Pode chamar de sonhos, Devaneios, Foras da realidade, Mas neles quero eternamente bem perto ficar, Neles me perder, Neles dormir como criança, Até descobrir onde eles terminam, E onde eu começo, E sem eles, O que seria de você, Que conhece meu amor carnal, Passional, Incondicional, Verdadeiro, E transitório, Mas não sabe o que mais cativa meu espírito, Um privilégio de Deus.


CONTES DU TEMPS PASSÉ

Este é o lugar certo para mim, Cheio de energia, Com flor do jasmim, E arrebatada sua voz aqui é uma covardia, 
Eu sou o homem certo para você explorar, Cheio de vida, Com flores para cheirar, E buscar em mim aqui é encontrar-se perdida, 
Este é o tempo certo para mim, Cheio de criatividade, Com cochonilha-do-carmim, E passada a vida aqui é antever a eternidade, 
Você é o tóxico oportuno para curtir, Cheia de segurança, Com flores para compartir, E traída sua perda aqui é ganhar sua confiança, 
Este é o sonho certo para mim, Cheio de realização, Com todo o jardim, E fantasiada sua imagem aqui é realizar minha imaginação, 
Eu sou o amigo certo para você legitimar, Cheio de ponderação, Com floreiras para cuidar, E destituídos de nomes tudo aqui é nenhuma possessão, 
Este é o limite certo para mim, Cheio de garantia, Com flor de delfim, E sentida a saudade aqui é esquecer a alegria, 
Você é a cura certa para minha alma, Cheia de vigor, Com a flor da palma, E desiludido seu cantar aqui é inarticular seu amor.



MEIO AMOR

Se você tivesse esperado um pouco 
O tempo nem ficaria sabendo
O presente não teria passado
O amanhã estaria pelo meio

À primeira vista é o que se planta
O que cresce é magia
O que amadurece é paixão
O que se colhe e alimenta é amor

A palavra não dita machuca
A mal explicada destrói
O perguntar-se não morre
O imaginar-se enlouquece

O que sobra do alimento do pássaro
Cai no solo e brota de novo
Recicla a flora para a fauna
Traz de volta o mesmo fruto

Se você soubesse quanto amor há para se dar
Se você soubesse quanto o tempo sabe esperar
O passado ainda estaria presente
O amanhã estaria por inteiro






PUIRT A BEUL
A lua piscou para mim e até me jogou um beijo, E ainda gritou lá de cima pode chamar-me de queijo, Eu nunca a vi assim tão extrovertida e sorridente, Tão cheia de si mesma tentando ver-me contente, Fez graça com a mão sobre a testa protegendo-se da luminosidade, Perscrutando para cima e para os lados por algo de intensidade, Apontou para uma direção de onde vinha algo de imediato, E passou um bando de meteoros como foguetes de apito gaiato, Apontou para outra direção mostrando algo de aproximação imediata, E brilhou no ar outra turma de meteoros como uma chuva de prata, Cruzou os braços e olhou-me com ar de interrogação, Abriu-os novamente a desafiar-me onde estava meu coração, Será que você não vê?, Tudo isso é para você! Deixa de lado a inteligibilidade, Derreta-se em vocalidade, Você é poesia vocal, Você é música bucal, A palavra é oca, A melodia está na boca, E isto o sol vai perder, Porque será antes do amanhecer, Suas palavras Joyceanas foram ouvidas e estou anunciando, É nesta noite que a mágica no ar de sua vida está chegando.



A MAGIA QUE CHEGA COM A INTUIÇÃO



Solitário e perdido em pensamentos, balançando na rede de quatro chinelos, Sob pouca luz deitada pelo lampião, O jardim de inverno vê a noite cair com o mesmo viço das tenras primaveras de meu espírito, Os últimos raios de sol ainda ouvem o canto dos pássaros que mistura-se ao murmúrio das ondas lavando a praia, Uma repentina viração atravessa as persianas a lufadas brandas e acaricia-me o corpo, E nela viaja uma voz celestial e arredia que toca minha  alma, Tirando presságios do canto do eterno feminino, E sai à ligeireza no feitio misterioso, No feitio do crepúsculo Nortumbriano, Rumo ao norte, Onde não sei seu nome, Onde nunca vi seu rosto, E saio a procurá-la nos lugares que não frequenta, Dos quais vive longe e não tem companhias, Mas ninguém atina com a descrição de onde de súbito passou tão fascinante cantar como se tivesse sido subtraído de seu lar, E abandonam-me na multidão para folhear milhões de faces até meus olhos se encontrarem com os dela, Sem precisar pedir-lhe para produzir sons melodiosos e encantados, Pois reconheço-a pelo seu fascínio que chegou pelos céus, Atravessando oceanos, Levando-me a perde-la de vista, Até embrenhar-me noutra multidão da qual vivo longe, Que não frequento, E surpreendo-me com a companhia de sua voz que ecoa pelo ar, Trazendo-me de volta ao meu remanso, Onde não há sol para partir, Apenas jardins de flores para juntar sedas-azul e guanambis, Zumbidos de abelhas e silenciosos mares de unções, E uma suave aragem que se demora até o anoitecer das estrelas, Com seu rosto e seu nome nela impregnados, E seu canto inebriado na funda contemplação da arte de causar emoção,  Brilhando-me o  êxtase em todo seu esplendor.



SUBLIMAÇÃO

A beleza está sempre à mostra, Neste mundo de coração insensível, Nos olhos de quem a vê, De quem quer se comover, Nos olhos negros que brilham na noite cerrada, Que ofuscam o brilho das estrelas e fazem-nas recolherem-se mais cedo, Dividem com o sol o céu lápis-lazúli que esconde os corpos celestes que não pregam os olhos para espreitar os contornos graciosos esculpidos pela natureza, Dessa criatura de olhar sincero, Que não se incomoda do glamour esmeralda querer fazer-lhe companhia, De seus cabelos lisos serem encaracolados e receberem reflexos de cobre para agradar o astro rei, Não se incomoda destas palavras terem sido escritas para alguém que ainda estava por vir, E que me foi negada na vida apenas para me entristecer, E que agora são para você, Para quando você chegar, Toda minha rua te pressentir, Te cheirar no ar, Ouvir os ventos assobiarem em tom diferente para todos alertar, Ver as saias e os chapéus elegantes das senhoritas tremularem com a brisa que está a anunciar, As floreiras nas janelas exalarem perfume para exaltar nosso esprit de corps, Os toldos coloridos dos edifícios descerem e amalgamarem-se com os guarda-sóis sobre as mesas nos calçadões, E lá estarei sentado junto a uma delas, Esperando você me convidar para namorar, Moça de pele de porcelana, De lábios moderados e amparados por mão delicada a expressar menos sensualidade do que ingenuidade.




MAGIA E PROVIDÊNCIA

Uma fada sussurrou-me que eu acordaria de uma noite mal dormida, mas não me assustaria, Um sonho ainda sonhado, 

Um carteiro assobiou-me notícias dentro de um envelope mal fechado, mas que eu não abriria, Um amor sem amado, 

Qual de vocês está tentando chamar minha atenção para algo que não entendo no mundo? Neste e no meu mundo, Qual de vocês está tentando perscrutar algum sentimento meu ainda insondável e profundo? Tão e pouco profundo, 

Um beija-flor pairou e deteve-se diante de meus olhos muito mais tempo do que deveria, Um agouro tão agourento, 

Um mágico tirou da cartola uma teresa de lenços somente com as cores que eu me adornaria, Um fascínio tão fascinante, 

Qual de vocês está tentando tirar o chão de meus pés que mantém-se equilibrados no mundo? Neste e no meu mundo, Qual de vocês está tentando desvendar meus maiores segredos que se escondem lá no fundo? Tão e pouco fundo, 

Um anjo apareceu em meu quarto e sentou-se ao meu lado apenas para me fazer companhia, Uma vida quase vivida, 

Qual anjo entre vocês perderia seu tempo com uma pessoa que nada mais espera do mundo? Neste e no  meu mundo, Qual anjo entre vocês perderia seu tempo com uma pessoa com um ferimento profundo? Tão e pouco profundo, 

Estou aqui por você e para você e por te querer até morrer, Morrer em você, Estou aqui por você e para você e por te querer até renascer, Renascer em você, Estou aqui por você e para você e por te querer até morrer, Morrer em você, Estou aqui por você e para você e por te querer até renascer, Renascer em você.




EVA

Pensou a titia serpente, 
Que minha semelhança a Deus, 
Far-me-ia todo tremente, 


Mulher, 


Minha amante, 
Minha confidente, 
Minha divindade, 
Minha cúmplice, 
Minha Eurídice, 
Minha feminilidade, 
Minha ascendente, 
Minha comandante, 


Pensou o todo-poderoso, 
Que minha expulsão do paraíso, 
Ser-me-ia muito penoso, 


Mulher, 


Minha companheira, 
Minha irmã egípcia, 
Minha alma gêmea, 
Minha maçã do amor, 
Meu pecado indolor, 
Minha vértebra fêmea, 
Minha conselheira propícia, 
Minha enviada alvissareira, 


Pensou o Onipotente, 
Que eu arrepender-me-ia, 
Por ser o inferno tão quente, 


Mulher, 


Minha feiticeira, 
Minha profetisa, 
Minha substância física, 
Minha cobiça demoníaca, 
Minha treva paradisíaca, 
Minha substância anímica, 
Minha Mona Lisa, 
Minha essência inteira.


ANA CAROLINA

Volte mais uma vez à minha lembrança, Suba neste tamanho de criança, Estique os braços para cima, Toque o céu com mãos de menina, Acenda cada estrela com dedos iluminados, Deixe a noite clarear todos os abandonados, Entra na minha vida mais uma vez de revés, Erga-se acima de seus próprios pés, Alce um voo de anjo com seus braços, Acompanhe Deus em todos os seus passos, Sobreponha suas mãos sobre cada cabeça, Vibre por elas e não deixe que nada lhes aconteça, Não me deixa nunca mais na saudade, Desça desse tamanho de maioridade, Dobre seus joelhos para baixo, Abençoe a terra sossegando seu facho, Apague cada mágoa com suas fervorosas orações, Deixe o mundo bater igual a todos os corações, Fique na minha vida para sempre em linha reta, Abaixe-se até o nível de sua postura ereta, Projete sua alma até alcançar a esperança, Deixe toda a humanidade com ar de criança, Receba a ingenuidade como num passe espiritual, Vibre com seus fluidos e espalhe seu amor imortal.


LOBA NOS SEIOS

Debaixo de minha blusa
Há um coração que bate sem parar
Que dispara ao menor sinal de temor
Ao menor sinal de amor
Se você o usa
Só para satisfazer sua imprudência
Você pode baixar minha resistência
Mas não me derrotar
Posso chorar por dentro
Sem você notar
Porque você não sabe o quanto aguento

Debaixo de minha blusa
Há um par de seios pronto para amamentar
Que empina ao menor chorinho
Ao menor toque de carinho
Se você o abusa
Só para se deleitar
Você pode até me excitar
Mas não vai me conquistar
Posso fazer-me presa fácil por fora
E te enganar
Porque você não sabe como uma loba devora

Debaixo de minha blusa
Há um ventre que se prepara para o porvir
Que sente um friozinho ao menor sinal de emoção
Ao menor sinal de paixão
Mas se você o fecunda e se escusa
Para fugir da responsabilidade
Você pode atentar contra minha maternidade
Mas não vai me impedir de parir
Posso dizer-lhe que não é nada sério
E deixar você partir
Porque sozinha uma loba já criou filhos capazes de formar um império


AS CASCAS DOS OVOS

Caminhamos para o final, Sem extravagância, Com elegância, Sem nenhum astral, 

Caminhamos para um desenlace, Com expurgações, Sem estimulações, Com muita classe, 

Caminhamos como um estertor, Largando nossa beleza, Expondo nossa fraqueza, Indiferentes à dor, 

Caminhamos para o fim da vida, Sem nenhum significado, Com objetivo realizado, Sem alma vendida, 

Caminhamos para o mutismo, Com resignação, Sem insurreição, Com realismo, 

Caminhamos para a contingência, Sem arrogância, Com fragrância, Sem interferência, 

Caminhamos para uma conclusão, Manifestando nossa fragilidade, Dissimulando nossa temeridade, Com aceitação, 

Caminhamos para o crepúsculo, Com um desígnio natural, Sem destruição da moral, Com um ósculo, 

Caminhamos para o sono eterno, Sem nada para sonhar, Com tudo para amar, Com agradecimento fraterno.





DONIMO

O céu abre-se e solta um magnificente estrépito dos tempos imemoriais, Todos os anjos entoam um canto unissonante que vai além dos limites do universo, Chegou a hora de Deus tomar meu lugar, Chegou a hora de eu tomar o lugar dos sonhos, Chegou a hora dos sonhos tomarem o lugar da vida, Chegou a hora da vida tomar o lugar de Deus, O som das naves prontas para partir soleniza, Glória ao Mestre, Glória ao som primordial, Chegou a hora de Deus tomar meu lugar, Chegou a hora de eu tomar o lugar dos sonhos, Chegou a hora dos sonhos tomarem o lugar da vida, Chegou a hora da vida tomar o lugar de Deus, Todas as naves partem a um só tempo, Vida linda, vida linda, quantas lembranças guardarei de você, Vida linda, vida linda, quantas lágrimas levarei de você, Vida linda, vida linda, quantas lembranças guardarei de você, Vida linda, vida linda, quantas lágrimas levarei de você, Deus poderá sonhar no meu lugar, Teus sonhos irão te consolar, Deus poderá sonhar no meu lugar, Teus sonhos irão te consolar, Deus poderá sonhar no meu lugar, Teus sonhos irão te consolar, E você nunca mais desejará acordar, Deus poderá sonhar no meu lugar, Teus sonhos irão te consolar, Os sonhos tomaram o lugar da vida, Teus sonhos irão te consolar, Os sonhos tomaram o lugar da vida, E você nunca mais desejará acordar,Vida linda, vida linda, quantas lembranças guardarei de você, Vida linda, vida linda, quantas lágrimas levarei de você, Vida linda, vida linda, quantas lembranças guardarei de você, Vida linda, vida linda, quantas lágrimas levarei de você, Deus poderá sonhar no lugar de Donimo, Os sonhos de Donimo irão te consolar, Deus poderá sonhar no lugar de Donimo, Os sonhos de Donimo irão te consolar, Deus poderá sonhar no lugar de Donimo, Os sonhos de Donimo irão te consolar, Deus poderá sonhar no lugar de Donimo, Os sonhos de Donimo irão te consolar, Chegou a hora de Deus tomar meu lugar, Chegou a hora de eu tomar o lugar dos sonhos, Chegou a hora dos sonhos tomarem o lugar da vida, Chegou a hora da vida tomar o lugar de Deus, Vida linda, vida linda, quantas lembranças guardarei de você, Vida linda, vida linda, quantas lágrimas levarei de você, Vida linda, vida linda, quantas lembranças guardarei de você, Vida linda, vida linda, Quantas lágrimas levarei de você, Deus poderá sonhar no meu lugar, Teus sonhos irão te consolar, E você nunca mais desejará acordar, Deus poderá sonhar no meu lugar, Teus sonhos irão te consolar, Chegou a hora dos sonhos tomarem o lugar da vida, E você nunca mais desejará acordar, Chegou a hora da vida tomar o lugar de Deus, E você nunca mais desejará acordar, Vida linda, vida linda, quantas lembranças guardarei de você, Vida linda, vida linda, quantas lágrimas levarei de você, Vida linda, vida linda, quantas lembranças guardarei de você, Vida linda, vida linda, quantas lágrimas levarei de você.

ADORO AS PALAVRAS DE LARISSA

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Em nenhuma de nossas dores supremas, A resistência à morte inevitável significou apego à efêmera vida, Sem testemunhas, Elas bocejam dormentes, Numa criminosa indiferença, Numa manobra torpe, Negam nossos corpos, Mas neles se alojam, Fazem deles campos de provas, Subtraem nossas crenças, Tanto faz estarmos vivos ou mortos, Nenhum mensageiro grego nos traz boas novas, Você perdeu o lume dos olhos, E eu, Pasmo, Ainda estou tremendo, Travando uma luta surda, De comoção, Ainda tenho sangue nas veias fluindo, Esperando ser extraído por uma injeção, Enquanto a agulha e a seringa seguem fervendo, 

Que venha a indiferença
Aloje-se em meu corpo
Faça dele um campo de provas
Aqui não há mais lugar para crença
Tanto faz estar vivo ou morto
Aqui não há mais lugar para boas novas
Continuo tremendo
Mas não de emoção
E meu sangue segue fluindo
Mas não estou fervendo
Teste uma arma nuclear no meu coração
Jamais sairei por ai fugindo
Tenho sangue frio no cadafalso
Não é preciso me matar
Podem me comer vivo
Não é necessário sair no meu encalço
Eu tropeço e caio para facilitar
Não adianta perguntar-me o motivo
Meu coração continua batendo
Forte como um trem mas seu balançar não é macio
Tornei-me frio demais para ser amável
Enquanto não me matam sigo vivendo
Mas não vou procurar recheio para meu vazio
Não sou mais um ser sociável
Adoro as palavras de Amanda
Nunca tive uma praia ensolarada
Nunca tive amor de graça
Sou levado pelo caminho por onde o desprezo anda
Minha praia sempre foi nublada
Nunca tive ódio por desgraça
Nunca tive alguém por perto
Aqui não há lugar para auto piedade
Tanto faz estar só ou mal acompanhado
Estou exilado no deserto
Aqui não há lugar para amizade
Continuo sofrendo
Mas não de dor corporal
E meus pensamentos seguem produzindo
Mas já estou esquecendo
Teste uma bomba atômica no meu corpo aural
Jamais ignorarei para onde estou indo
Tenho paz de espírito com uma arma apontada na consciência
Não é preciso me surpreender
Conte até dez para puxar o gatilho
Não esperem que eu peça clemência
Eu não tenho nada a perder
Nem pai, nem espírito, nem filho
Minha alma continua sonhando
Onírica como Deus mas sua numinosidade não é mágica
Tornei-me mundano demais para transcender
Enquanto acordo todas as manhãs continuo ensimesmando
Não espero que a criptomnésia enriqueça minha vigília trágica
Não passo de um espectro ocupando o espaço de outro ser
Adoro as palavras da Larissa
Nunca tive qualquer doença diagnosticada
Nunca tive vontade de trabalhar
Sempre me senti mal para justificar minha preguiça
Sempre dormi demais e acordei na hora atrasada
Nunca tive nada para me atrapalhar
Nunca quis levar uma vida trabalhosa
Aqui não há lugar para humildade
Sempre gostei de aparecer
Sempre exaltei minha mente engenhosa
Aqui não há lugar para suscetibilidade
Continuo sem medo de sofrer
Menos ainda de uma acusação vergonhosa
Minhas mentiras andam aos trancos e barranco
Já tornaram-se o meu melhor repertório
Que venha a desonra
Aloje-se em meu tronco
Faça dele um bode expiatório
Aqui não há mais lugar para esperança
Tanto faz ter nascido ou morrido
Aqui não há mais lugar para choro
Continuo sem bem-aventurança
Mas não por ter escolhido
E meu corpo sobrevive à base de soro
Não tenho mais adrenalina
Teste uma arma biológica na minha veia
Jamais deixarei de ser um indigente
Tenho o avesso encouraçado de morfina
Não é preciso praticar uma eutanásia e meia
Podem me retalhar enquanto estiver consciente
Não é necessário vedar-me a visão
Basta permitir-me que eu abra um livro e leia
Basta deixar minha alma escrever o que ela sente
Não adianta perguntar-me a razão


CICLO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Cuca, Vai embora, Acabou minha hora, Uma gota vermelha brilhante chamusca meu céu, Já não é mais papai Noel, Não venha me pegar, O papa-gente vem me buscar, Ele grita meu nome e me assusta, Pá-á-pá-santa-justa, Ele é ela que apanha meu último sono, É deus deixando-me no abandono, Rezo ave Maria, Todo dia, Rezo pai nosso, Mais que posso, Ele que é ela aparece de xandor, Conhece minha vida de cor, Minhas andanças, Minhas esperanças, Cuca, Se você vier me buscar, Só me leve para o mar, Se podes me ajudar, Peça a Moira Nona que teceu meu nascimento, Para deixar a intenção do Manjaléu cair na planura do rio do esquecimento, Que a Parca Décima adultere meu sorteio, E possa prolongar meu ciclo neste mundo de devaneio, Que a filha da necessidade Morta, Cegue esta tesoura abominável que o fio da minha vida ainda não corta.

TUDO O QUE VOCÊ QUISER








Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.  


Toda uma vida vivida, Todo um trabalho de Sísifo redobrado, A pleno fulgor, Todos os amigos de semideuses, Todos os sois translúcidos e unidos, Ainda me dado a ver, Renascendo, São seus, Todas aquelas colossais águas, Descendo, Por sendas destorcidas, Do alto de cachoeiras para o infinito, Entre sortilégios tão indecifráveis, Quão eterno instante de ventura, Adorado seja, Devolvo ao seu olhar, Todos os luares correndo as horas sobre suspiros, Doces como prelúdios de harpa, Sobre a singeleza de seu corpo, Mais leve que uma folha de magnólia, Caído do céu na noite desfeita em estrelas, Lua de junho argêntea nos campos, Brancura de luz das manhãs silenciosas, Devolvo à sua lembrança, Todo frio susto que corre pelas minhas veias, Todo meu fogo que arde em febre sem se ver, Tudo que me acalma e me endoidece, Que me eleva e me abate, Te dou, Com o coração na mão.

THE PASSANGER

 

 Texto de autoria de ALCEU NATALI com direito autoral protegidopela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DAS MÚSICAS DOS VÍDEOS POSTADOS 

Estou aqui por fração de tempo, De piscar de olhos de esplendor e um sem fim de tédio das lembranças, A totalidade de minha alma não se demorou na honestidade, Já fui fichado, Quase detido, Um pouco foragido, Um pouco escondido, Nos meus ancestrais, A eles rezando as ave-marias de mais de um terço, Sumindo devagar no crepúsculo, Surgindo em silêncio na boca da noite, Embora andando proscrito, Sou passageiro que correu as sete partidas, Oferecendo o que tinha a este ou aquele, Sempre na esperança de que algum dia me pusessem à testa de alguma responsabilidade, Enganando este ou aquele, Oferecendo o que não poderia, Sempre na ignorância de que em nenhum momento me pusessem diante de uma falsidade, Mas como um galheta, Um mísero desterrado, A morte me arrancará os ferros, Ela é sobre-humana, Dona da eternidade, Divindade das águas, E das terras, Indiferente à dor, Às alegrias, Aos desgostos, Imune às paixões, Surda aos gritos de desespero e solidão que saem do chão e chegam aos céus impassíveis, De azul enegrecido, Marfim ebanizado, Remontando minha pálida velhice aos primórdios sumerianos, Opondo-se ao meu desejo, De ser a criação, A destruição, De não mais precisar rezar, De não mais precisar aqui permanecer, Encerrar minhas experiências com a humanidade, Impor minha vontade, Saber o que o mundo não sabe, Ser a verdade revelada, O Salvador, O Omni Sciente, O Ubíquo, Porém, Na minha breve passagem pela vida, Você ainda é para mim mulher nova e formosa, Portanto adorada eterno seja.