sábado, 23 de novembro de 2024
UM MÁGICO TOQUE FEMININO
EM NOME DA MÃE
O PRIMEIRO ENCONTRO DE ONEDIN COM DONA MYSTIQUE (TRECHO ORIGINAL DO LIVRO VALE DA AMOREIRA)
O que é que o senhor está dizendo, moço? Onde já se viu um seguidor e mártir do Nosso Senhor ser chamado de bicha! O senhor está ofendendo a mim e a Deus, sabia? Onde é que o senhor está com a cabeça?
Nada surpreendia Onedin, mas esta inesperada observação da Sra. Mystique exigiu dele alguns segundos extras de reflexão. Os olhos múlti direcionais de Onedin percorreram rapidamente a sala à procura de algum livro sobre a Grécia clássica, mas nada encontraram. Onedin pensa: Esta mulher não pode ser uma espírita enrustida senão ela era teria dito que Platão foi um precursor e não um seguidor ou um mártir do Mestre. Será que ela é uma daquelas católicas pseudólogas inconscientes a ponto de confundir Santo Antão com Platão? Seria bem mais simples e até útil se Onedin usasse um pouco de sua memória críptica e explicasse à Sra. Mystique que talvez ela estivesse se referindo àquele santo que iniciou o movimento dos anacoretas e que séculos depois foi fonte de inspiração para os mosteiros Beneditinos. Mas, ao invés disso, Onedin preferiu justificar uma implausível homossexualidade de Platão dentro do contexto desavisado da Sra. Mystique. Onedin não se importava se alguém confundisse as pessoas. O que ele não admitia era alguém duvidar e ainda se ofender com suas afirmações.
Perdão, minha senhora, jamais passou pela minha cabeça a ideia de denegrir a imagem do nosso venerável São Platão, o candidato a apóstolo. Eu explico para a senhora. O Mestre tinha um grupo de amigos mais íntimos chamados os 12 apóstolos, e tinha também um grupo de seguidores menos chegados, mas fieis, chamados os 12 suplentes e...
...Espera um pouco. Eu nunca ouvi falar nestes 12 suplentes! E o que eles têm a ver com o fato de Platão ser bicha?
Tem tudo a ver. Eu te explico. Os 12 suplentes eram seguidores devotos que aspiravam entrar no grupo dos 12 Apóstolos para poder desfrutar da divina companhia do Mestre e de suas parábolas do arco da velha, mas eles não ganhavam o suficiente para chegar a tal posto. Eles não ganhavam como os suplentes da nossa câmara que para substituir os titulares em férias faturam em apenas um mês uma grana que a senhora levaria uns vinte anos para juntar. Para entrar no círculo de amizades do Mestre era preciso ter cacife, mas, com exceção de São Platão que abriu mão de seus escravos e de sua vida aristocrática em Atenas para ser apenas um carregador de tirso em meio às poucas bacantes na Galileia, esses suplentes eram todos uns pés rapados!
Ah essa não! Isso já é demais! Desde quando o Nosso Senhor cobrava pela sua amizade? O senhor já está passando dos limites!
De forma nenhuma! Isso era coisa do Judas. Ou a senhora já se esqueceu que ele era o tesoureiro do grupo e um grande trambiqueiro?
Mas o Nosso Senhor jamais teria permitido que Judas ludibriasse seus companheiros!
Claro que não! Mas ele não tinha conhecimento das falcatruas de Judas, tanto é que até ele foi vítima daquele salafrário e acabou sendo traído por ele e foi vendido aos Romanos por trinta paus, lembra-se?
É mesmo!
A bem da lógica, era a Sra. Mystique quem precisava de um tempo extra para refletir sobre todas essas asneiras de Onedin. Uma pessoa normal esperava que a Sra. Mystique encerrasse a conversa e colocasse Onedin para fora de sua casa. Mas aquilo que os humanos chamam de normal é muito mais relativo do que o tempo.
Mas, me diga uma coisa. Como o senhor sabe que o Platão era veado?
Bem, como eu lhe disse, Platão era um dos 12 suplementes e, juntamente com os 12 apóstolos, um dos 24 seguidores do Mestre. Como ele era o último da fila na ordem de preferência do Mestre, era chamado de 24.
Ah, não! Isso já é demais! 24, o veado no jogo do bicho? Moço, o Senhor já está querendo me fazer rir com coisa séria. Como é que poderia existir jogo do bicho naquela época?
Oras bolas, a senhora não sabe?
Não sei o quê?
Que os contraventores do jogo do bicho se inspiraram no sistema hierárquico dos 12 apóstolos e dos 12 suplentes baseado em números e nomes de animais!
Não diga!
Digo sim! Eu conheço tudo sobre o significado de toda essa bicharada.
Agora, o senhor me deixou curiosa. Fala-me aí, quem era quem nesta hierarquia.
Eu bem que gostaria Sra. Mystique, mas tenho outro compromisso. Teremos que deixar isso para outro dia.
Agora, Onedin queria se livrar da pessoa quem ele pensou ser sua melhor pista para desvendar o misterioso crime passional, mas mal sabia ele que ela seria a peça chave do quebra-cabeça legado por Tilly. Se ele se libertasse dela e voltasse a encontrá-la, e ele voltaria a se encontrar com ela mais vezes até dar uma explicação sobre todos os animais de sua perigosa improvisação, ele não teria dificuldades para aceitar a irrogação da pecha de embusteiro com esta história do jogo do bicho em tempos longínquos com a mesma cordialidade que Murphy aceitou a de pessimista, pois seu otimismo congênito destituiu-o da noção de defeito e lisonjeio, mas ele estaria preparado para dar uma explicação convincente e mais absurda do que esta história, pois cedo ou tarde, rezam os ditames do juízo humano, a senhora Mystique cairia em si ou alguém faria isso por ela, e sua razão seria naturalmente restituída à normalidade. Porém, a Sra. Mystique não era daquelas pessoas que gostam de mágicas, aquelas que sabem que tudo não passa de um truque, mas que sentem um enorme prazer em serem enganadas. A senhora Mystique não nasceu e nem se tornou doida. Como a maioria das pessoas, ela precisava ser alienada, pois só assim é possível continuar vivendo. Onedin não precisou se esmerar para esquivar-se dela, afinal ela não era tão matreira como o coisa à toa, e seu hálito enxofrado se amalgamava com o cheiro de mofo do ambiente e formava uma rara atmosfera catinguenta, mas exorcizante.
Ah, vamos lá, moço, o senhor é um verdadeiro artista de cidade grande. Me dá uma canja, vai. Fale-me só alguns nomezinhos.
Está bem, mas só alguns nomes porque já estou atrasado. O número 1 era Pedro, o avestruz, aquela rocha sobre a qual o Mestre disse que iria edificar sua igreja.
Mas por quê avestruz?
Porque ele era covarde. Ele negou o Mestre três vezes. Agiu como uma avestruz que enterra a cabeça na areia para não enfrentar o perigo e a adversidade. A senhora lembra daquela letra do Paul que diz: 'Me used to be angry young man, Me hiding me head in the sand'? É a mesma coisa.
Nossa que interessante! Não entendo inglês, mas acho que agora estou começando a ligar as coisas. Posso dar um palpite?
Claro!
Eu já sei quem é o número 2, a águia. É João!
A senhora sabe que eu também sempre pensei que João fosse a águia até o dia que eu estudei este código secreto do entourage do Mestre e descobri que, na verdade, João é o 7, o carneiro.
Essa eu não entendi. E aquilo que a gente aprendeu no catecismo sobre os quatro evangelistas serem representados por animais, Marcos, o leão, Mateus, a fera com rosto de homem, Lucas, o touro e João, a águia?
São apenas interpretações artísticas da igreja tardia. Não tem nada a ver com o código secreto dos apóstolos.
Mas, então, fizeram estas representações com base em quê?
Foi com base nos próprios evangelhos. Dizem o seguinte: João é a águia porque sua narrativa começa no céu, com o verbo eterno que desce à terra e se faz carne. Marcos começa falando de João Batista, uma voz que clama no deserto como um leão que urra. Lucas é um boi porque este é um animal de sacrifício no templo e a narrativa sobre a pregação de Jesus de Lucas começa no templo. Mateus é, na verdade, apenas um ser humano e sua narrativa começa com a genealogia humana de Jesus.
Puxa vida, o senhor sabe tanta coisa! Também não é para menos. Um jornalista do Legislado Baixo! Aqui no Vale e ainda na minha casa, me entrevistando! Sinto-me lisonjeada com sua presença e deslumbrada com tanto conhecimento que estou adquirindo com o senhor.
Imagina. Eu que não estou acostumado com tanto elogio assim.
Muito obrigada, moço. O senhor pode me dizer por quê João era o carneiro?
O evangelho diz que João era o apóstolo favorito do Mestre. Ele o amava. João foi o único apóstolo que esteve presente na crucificação, sempre junto à mãe do Mestre. E do alto da cruz o Mestre disse para sua mãe: 'Mulher, eis o teu filho!' E disse para João: 'Eis a tua mãe!' O Mestre era conhecido como o cordeiro de Deus, por isso, seu apóstolo favorito teve a honra de substituir o Mestre e passar a ser chamado por um nome correspondente: o carneiro!”
Se, por acaso, a senhora Mystique perguntasse que bicho João foi antes da crucificação, Onedin já estava com a resposta na ponta da língua.
Meu Deus, que coisa linda! Olha só, fiquei toda arrepiada.
Bem, agora preciso ir mesmo.
Por favor, só mais um nome. Eu prometo que será o último hoje, tá bom?
Está bem, só mais um.
Quem era o número três, o burro?
Eu acho que a senhora vai ficar tão surpresa quanto eu quando fiquei sabendo. Era o Pedro.
O Pedro de novo? Não entendi.
Era outro apelido que ele recebeu do Mestre, porque, além de covarde, ele era meio burro, meio porra louca, se a senhora me permite. Fazia as coisas sem pensar. Há várias passagens no evangelho que atestam sua impulsividade. Naquele episódio do Mestre andando sobre as águas, Pedro pediu para ir ao encontro dele e o Mestre pediu para que ele viesse. O burro desceu do barco, achando que iria andar sobre as águas e afundou. O Mestre, sempre paciente, lhe perguntou educadamente: 'Onde está sua fé?' Mas eu acho que ele devia estar se perguntado: 'Meu pai, terias tu colocado o cérebro deste burro no lugar por onde saem as fezes'? Tem também a noite em que o Mestre foi preso. Quando o soldado se aproximou para levá-lo, Pedro se precipitou e cortou a orelha dele com uma espada, arrumou a maior confusão e o Monte das Oliveiras quase virou um banho de sangue e teve nego que precisou sair correndo pelado.
Nossa! Olha que eu já li os evangelhos várias vezes e nunca tinha prestado atenção nestes detalhes.
Até mesmo depois da ressurreição, eu acho que o Mestre tirou uma com a cara dele.
Ah, não acredito.
Bem, se a senhora leu os evangelhos tantas vezes como disse, veja o Capítulo 21 de João. Lá diz que na terceira aparição que o Mestre fez aos apóstolos após a ressurreição, eles haviam acabado de comer e o Mestre fez a Pedro a mesma pergunta três vezes: 'Você me ama mais do que os outros'? E Pedro deu ao Mestre a mesma resposta três vezes: 'Sim, Mestre. O Senhor sabe que eu te amo'. Mas, nas três vezes, o Mestre deu a mesma réplica: 'Vá dar comida aos carneiros'. Na terceira vez, Pedro ficou até meio aborrecido e disse: 'Mestre, você conhece todas as coisas. Você sabe que eu te amo'.
Virgem Maria, esta eu preciso conferir. Não é que eu duvido do senhor, por favor não se ofenda, mas preciso ler isso de novo e descobrir como eu não percebi esse tipo de gozação antes. Mas, pensando bem, será que o Nosso Senhor não estaria testando Pedro por causa daquelas três vezes que ele o negou?
Faz sentido. Talvez o Mestre quisesse apenas constatar que Pedro era covarde e burro, mas não mentiroso.
Moço, agora estou me dando conta de uma coisa. Se Pedro ocupa 2 dos 24 números do jogo, alguém vai ficar sem número. Como o senhor explica isso?
Onedin tinha explicação para tudo. Ele não só provaria que nenhum dos 24 integrantes ficaria sem número, como também elevaria a quantidade deles acima dos 24 sem aumentar a quantidade de animais.
A senhora me dá licença, mas eu tenho que ir mesmo, mas eu retorno. Eu preciso ir porque não acho justo deixar meus amigos e convivas se iludindo com a opulência da cidade grande depois de eu ter conhecido esta pequena e simplória cidade do interior que recebe estranhos em seus lares de braços abertos e ainda retribuem suas súbitas aparições com largos sorrisos em seus rostos. A senhora não perde por esperar! Este seu humilde entrevistador há de aqui regressar em breve como o melhor aprendiz da homossexualidade que esta amoreira cheia de amores mil jamais viu...
AS THE DYNAS STARTED INCREASING THEIR CONTIGENT, THE PHYSAS PROMPTLY MANAGED TO DOUBLE UP THEIR TROOPS TO 100 BILLION AND REINFORCED THEIR HIGH COMMAND WITH 3 UPDATED LEADING CLONES WITH THE DNA OF ALIEN CIVILAZATIONS FROM THE ORION'S BELT, AND THEY WERE NAMED THE THREE MARYS TO HONOR CLAUDIA'S HOMELAND
VIGÉSIMA QUINTA HORA
As linhas de seu fim, Sinalizadores de sua efemeridade, Cada um dos sulcos que marcam a palma de suas mãos conhece todos os escuros e tortuosos meandros de sua alma, Os desígnios de suas aspiradas transcendências, As inexorabilidades de seus incompreendidos mundos, Sua Alma, Sua Palma, Esconda-se da luz do dia até que a noite caia, Não carece ainda dormir sem acordar, Dissipe de sua memória os que nunca imaginaram estar em seu lugar, Em seu abandono, Em sua revolta, Nenhuma lágrima sua deve ser derramada sobre os sepulcros onde todos os que não querem ver jazerão, Nenhuma de suas vesguices pode enxergar pelo que seus olhos choram com voz embargada, Nenhum pensamento seu deve ser levado de volta às suas melhores lembranças das quais eles se fartaram até se olvidarem, Que os dias que lhe restam apaguem tudo, Até mesmo o que Deus ainda está por vislumbrar, Que se cultive a virtude da obliteração, Dos repetidos erros de qualquer passado, Das pretensas regenerações de qualquer futuro, Quando os espectros dos mortos começarem a errar à sua volta e a se lamuriarem, Pegue a estrada e viaje sem destino, Sem se deter, Madrugada adentro, Por caminhos desolados, Aqueles que pelo criador não são lembrados, Guie-se somente pelas luzes das estrelas até que os primeiros raios de sol as apaguem, Quando você chegar onde não há mais nenhum sinal de vida, Aí você deve parar, E esquecer de mim, Para ser ninguém, Ter somente seu avesso por companhia, Sem aqueles olhos cegos que te tateiam, Numa criminosa injustiça por suas deficiências de que são os primeiros testemunhos, Sem aquelas bocas dormentes que te bocejam, Numa impiedosa indiferença por sua suprema provação que fingem desconhecerem, E, Então, Caminhe, Até encontrar a porta que se abre na vigésima quinta hora, Adentre-a, E fique à mercê do imponderável e do intangível, Estes majestosos senhores da eternidade e do infinito, Venerados e rogados, Por todo impetuoso espírito, A um só tempo carente e valente, Por uma única disposição, Uma única ideia factícia, Nestas palavras tão escatológicas, Neste tempo extra tão adormecido, Que só de sonhos se levanta.
POLITICAMENTE ERRADO
AOS PAIROS
Sempre entreparo, Hesito sobre que satisfação posso ter, Alheia à realidade que no sambaqui do outro lado da estrela polar cai no esquecimento e não me resolve, Ainda procuro estar no melhor dos mundos, Detenho-me, Aos pairos entre a África e a Índia, Entre vir do hemisfério norte nidificar em meu torrão, Em buracos, Nos barrancos, Em ocos de paus, E apenas fazer flores, Quinquilharias e até ninhos, Em todas habitações humanas, Onde quer que elas estejam, Impacienta-me a demora do sol baixar sob o horizonte, E apressada lá vou chamar as luas de Júpiter, De Saturno e de outras terras que ainda não me enxergam, Por este universo afora, E quando a escuridão me envolve, Solto seus braços, Salto em queda livre pelo vórtice de um sonho que pertence a outrem, Até chegar ao fosso que se fecha ao redor de minha aura, Ao longo de minhas estradas da vida percorridas, E do alto você surge como o grande espelho que reflete sua imagem perdida, Com esta mulher de longo, Abraçados num bailado por horas esquecidas, Esta mulher suspensa no ar, Como se você tivesse mãos invisíveis que me seguram acima do chão, E os meus mais descomunais de todos os esforços, Com os olhos e ouvidos, Mal conseguem o mais leve movimento, A câmera mais lenta, Tudo paira, Como uma névoa sutil acima dos pântanos, No seu tempo misterioso que parece estancar a noite, No seu silêncio de extensão indefinida que parece deter a alma de todas as gerações mortas, Assim, Indiferente à felicidade, E conformada com o indeterminismo de sua existência, Sinto a aproximação de inexoráveis abutres, A sobrevoar-me lentamente, A farejar-me o corpo de uma cor, A daltonizar minha consciência.
ESSAS COISAS ACONTECEM
Eu sou apátrida. Nasci na Faixa de Gaza depois que ela foi tomada dos palestinos pelos israelenses em 1967. Minha mãe é judia, da família Ben Stein, e era uma agiota nas ruas de Tel Aviv. Meu pai é palestino, da família Bin Salim, e ganhava a vida fabricando bombas caseiras. Quando eu era adolescente, imigramos para o Brasil e fixamos residência no bairro do Bom Retiro em São Paulo. Lá minha mãe montou uma agência de viagem e prosperou como doleira. Meu pai montou um esquema de contrabando com fiscais e também enriqueceu. Meus pais sempre tiveram muitas divergências religiosas, por isso não entendo por que eles se casaram. A opulência fácil neste paraíso de ladrões subiu-lhes à cabeça, e eles acabaram se separando, de seus acordos conjugais e de suas tradições seculares. Minha mãe abandonou o judaísmo e entrou para a igreja universal do reino de deus. Ela se tornou a tesoureira do bispo, conhecido pelo jargão 'ou dá ou desce', e hoje ela tem casas em Miami, Paris e Roma, mas continua morando em São Paulo, no bairro do Morumbi. Meu pai, muito machista, descontrolou-se um pouco com o divórcio pedido pela minha mãe. Entregou-se à bebida, perdeu tudo o que tinha, abandonou o islamismo e se tornou pai de santo. Mas ele teve muita sorte. Fez um trabalho milagroso para um cliente endinheirado no terreiro de umbanda onde trabalhava e, por gratidão, este cliente o apresentou ao autor da icônica frase ‘se o estrupo é inevitável, relaxe e goze’, de quem era amigo. Meu pai ganhou a confiança do ‘rouba, mas faz’, e tornou-se o administrador de suas contas bancárias internacionais. Hoje meu pai vive tão bem quanto minha mãe. Tem casas nas Ilhas Jersey, Genebra e Ilhas Cayman. Desde que os meus pais se separaram eu sempre morei com minha mãe. Eu puxei mais o lado judeu do que o muçulmano. Como eu entendo as línguas e as culturas destas duas raças semitas fui escolhida e treinada para ser espiã no Oriente Médio, mas minha escolha se deveu mais à minha mediunidade, minha capacidade de fazer projeções astrais. Desde então sou obrigada a sair do meu corpo quase todas as noites em missões pelo mundo afora. Ainda sou uma jovem mulher, mas pareço ter mais de 50. Estou envelhecida e traumatizada. Minha dor física e moral começou no dia em que eu descobri que era paranormal quando era apenas uma adolescente e ainda morava na Faixa de Gaza. Meu pai trabalhava até de madrugada fazendo bombas caseiras para os suicidas do Hamas, e uma noite houve um acidente em casa: uma bomba explodiu num dos cômodos e tudo foi para os ares. Eu fui arremessada às nuvens, mas daí comecei a perceber que eu não caía, mas flutuava e voava. Pensei que eu estivesse sonhando. Lá de cima vi minha casa no chão, uma enorme fogueira, entulho sobre entulho. Comecei a planar e a descer como um aeromodelo e quando aterrissei na minha casa ainda em chamas fiquei apavorada ao ver meus pais estropiados e quase sem vida. O pior ainda estava por vir. Num canto em meio aos escombros, onde fora meu quarto, vi meu próprio corpo todo ensanguentado. Surtei. Estava chocada, mas não sentia nenhuma dor. Vi os carros de resgates levarem meus pais e meu corpo para o hospital. Enquanto estávamos os três numa UTI em estado grave, fiquei quase dois meses voando high and low, dia e noite. Quando todos nós melhoramos e saímos da UTI para quartos normais, sem saber como, consegui entrar no corpo e aí, sim, senti as dores e as sequelas daquela grande explosão. Quando todos nós recebemos alta, meu pai abandonou seu trabalho de revolucionário e resolveu trazer minha família para o Brasil. Eu contei esta história de sair do corpo somente para minha mãe e ela, como toda boa judia oportunista, teve uma ideia. Foi a Jerusalém e lá falou com um rabino de uma sinagoga poderosa ligada à polícia secreta israelense e lhe explicou tudo a meu respeito. Foi esse rabino que anos mais tarde me apresentou ao Mossad. O resto é uma longa história. Lembro-me do meu primeiro ano aqui no Brasil, em 1994, quando o Brasil foi campeão mundial de futebol. Os foguetórios nas ruas à noite arrancavam-me do sono profundo e me projetavam para fora de meu corpo. Era meu trauma da adolescência que curei com muita terapia e, finalmente, durante os treinamentos militares em Israel. Foi lá que dominei a técnica de sair e voltar para o corpo com disciplina. Raramente as polícias secretas, e muito menos a israelense, aceitam mulheres para espionagem astral. Eu só fui contratada porque além da minha astralidade tenho um dom raro que se assemelha com algo que apenas os alienígenas parecem ter chamado TRANSEUNCIA, algo parecido com o que nós chamamos de ubiquidade. Mas trauseuncia é um termo muito limitado para definir as muitas habilidades de quem a tem, como, por exemplo, fazer o tempo parar. Certamente, vocês devem estar se perguntando por que minha mãe me alistou num serviço militar tão perigoso como esse, ao invés de manter-me trabalhando com ela uma vez que ela já era milionária. Mas os judeus sempre ambicionam mais e minha mãe sabia que a espionagem astral paga uma grana preta, especialmente para alguém como eu, com um grau significativo de transeuncia. Minha mãe tinha em mente até mesmo criar uma agência de espionagem entre Brasil, Israel e EUA e duplicar sua riqueza. Minhas amigas me perguntam até hoje por que eu não apenas participei de algumas missões até juntar um bom dinheiro, cair fora e montar meu próprio negócio. Até uma judia espertalhona como minha mãe enganou-se. Espionagem astral é pior que a máfia. Quando você entra você nunca mais sai e se sair morre. Além disso, torna-se um vício. É como entrar para a política tupiniquim: você nunca mais consegue parar de roubar. O espaço astral é muito mais populoso que o mundo físico. Muito mais arriscado e ardiloso. Ao contrário do mundo físico onde há leis criadas por uma minoria de corruptos para enganar a maioria dos otários, no mundo astral não há ingênuos, exceção feita aos mortos, e nem leis. É um lugar onde vale tudo. Um lugar de todos e, ao mesmo tempo, de ninguém. No espaço astral encontra-se com todo tipo de pessoas: espiãs como eu, gente comum que sai do corpo só para passear e até gente morta que não sabe que morreu. No começo de minha carreira de espiã astral, ainda com pouca experiência, cruzei com um sujeito aqui mesmo em São Paulo que queria saber onde ficava o Rio Anhangabaú. Expliquei a ele que o rio já havia sido soterrado e sobre ele passava uma avenida, mas ele achou que eu estava sacaneando. O sujeito parecia ter morrido havia mais de 150 anos e estava procurando o rio para tomar banho. Para me livrar dele tive que levá-lo até o rio Tietê e dizer a ele que era o rio Anhangabaú que havia sido alargado para permitir navegação fluvial. Por sorte, o espírito acreditou em mim e largou do meu pé. Saiu voando rápido em direção à marginal e de longe eu o vi saltando de cabeça lá de cima da ponte das bandeiras naquele esgoto a céu aberto. Alguns destes mortos estão realmente perdidinhos da silva e quando encontram alguém como eu que lhes dá atenção eles grudam e não largam. Certa vez parei em pleno voo para dar uma informação a um morto, mas ele não se deu por satisfeito, me seguiu até em casa e ficou zoando lá quase uma semana. Ainda bem que minha mãe conhece uns rabinos da cabala judaica que preparam um incenso que tem um fedor tão forte que espanta até espírito de barata da casa por mais de um ano. Quando comecei a trabalhar para o Mossad israelense automaticamente comecei a prestar serviços para a CIA americana, porque este país, os EUA, trabalha arduamente para dominar o resto do mundo. O problema no espaço astral é que todo mundo acaba se conhecendo. Não demorou muito para minha fama como espiã astral se espalhar e logo fui procurada pelo Hezbollah libanês para fazer um trabalho contra Israel. Aceitei porque todo mundo é hipócrita, sem ideologia, e só age por interesse, dinheiro e poder. Afinal, tenho também meu lado paterno muçulmano e aprendi muito com a malandragem brasileira. Não há nada de imoral em ser um agente duplo. Hoje sou muito mais que isso. De agente duplo passei a agente triplo, quádruplo, quíntuplo, sêxtuplo, sétuplo, óctuplo, nônuplo, décuplo e, para encurtar a história, já trabalhei para tantas polícias secretas e grupos terroristas que posso dizer que hoje sou uma agente cêntupla. Podem me chamar de mercenária. Dou preferência a quem paga mais. Não vejo nenhuma desonra nisso, porque o mundo é mercenário. No mundo físico, os cinco países que formam o conselho de segurança da ONU, EUA, Rússia, China, França e Inglaterra, são os campeões de vendas de armas por baixo do pano para fomentar guerras em países paupérrimos e que morrem de fome, como os africanos. Estes cinco países usam agentes autônomos para levarem suas armas aos países em guerra. Seus presidentes não querem sujar suas mãos em público e precisam de agentes secretos para fazer a sujeira. Se não há guerras, eles criam-nas porque suas indústrias bélicas não podem ficar ociosas e precisam manter os empregos de seus funcionários e o bem-estar de seu povo. Todos são matadores de aluguel. Quando o Aiatolá Khomeini do Irã expulsou os americanos, inventou-se uma guerra de fronteiras entre Irã e Iraque. Os Americanos colocaram Saddam no poder e lhe deram armas e poder para lutar contra os iranianos. Todos vendiam armas para Saddam: França, Inglaterra, Rússia e China. O Brasil vendeu armas (tanques e metralhadoras) para os dois lados, Irã e Iraque. Quando a ex União Soviética invadiu o Afeganistão, os americanos deram armas e apoio logístico a Al-Qaeda e ao Talibã para estes rebeldes lutarem contra os Russos. Os americanos já venderam armas para a Coréia do Norte e vários outros países que hoje são considerados seus inimigos. Tudo é uma questão de interesse momentâneo. Um amigo hoje pode tornar-se um inimigo amanhã. Tudo é uma questão de conveniência a serviço do poder. A China, por exemplo, se diz comunista, mas ela não tem ideologia nenhuma. Na Palestina, ela vende armas para os dois lados, israelenses e palestinos. A China pretende e vai dominar o mundo no futuro. No mundo astral não existe conselho de segurança. Lá tudo funciona na base do CADA UM PARA SI E DEUS PARA TODOS. Por falar em deus, agora vocês devem entender por que os alienígenas estão por aqui assistindo a toda esta balbúrdia no planeta terra. Por enquanto eles parecem estar neutros e se limitam a nos observar apenas a partir do plano astral. Quando eles entram no plano físico é somente para cruzar com humanos. Mas isso é história para outro dia. No plano astral trava-se uma guerra mais sangrenta que no plano físico. A maior parte da população astral é composta de espiões. Eu sofro demais com as contraespionagens. No plano astral a gente não morre. Para se manter vivo é preciso esconder o corpo no plano físico a sete chaves. Todos os países do mundo inteiro usam médiuns para descobrir onde se encontram escondidos os corpos físicos de pessoas em missão de espionagem com seus corpos astrais. Eles descobrem e matam estes espiões. Eu tenho um escudo contra estes médiuns que é a minha transeuncia. Mas se eles não conseguem te encontrar no plano físico, a contraespionagem te encontra no astral e se você é capturado o sofrimento pelo qual você passa é muito pior que a morte. É preferível morrer fisicamente do que ser detido durante uma missão no astral. A tortura é simplesmente indescritível. É muito parecida como, por exemplo, ser enterrada viva e permanecer dentro de um caixão debaixo da terra por décadas, viva, até seu corpo físico parar de funcionar. O que se pode fazer de ruim com o corpo astral é muito pior do que qualquer tipo de tortura imposta ao corpo físico. Os alienígenas sabem muito sobre isso. Numa ocasião, eu estava numa missão para a CIA americana e fui surpreendida e presa por um grupo da FLP (Frente de Libertação da Palestina). Eles iriam me torturar até eu revelar o segredo de minha missão. O que me salvou foi o fato de eu falar árabe e contar a eles o passado de meu pai como colaborador do Hamas. Às vezes nem mesmo a raça ou até a mesma a nacionalidade ajuda um espião astral a se livrar de uma tortura das bravas. Soube de um caso do grupo terrorista israelense Kahne Chai, também conhecido como Kachi, que sequestrou espiões judeus ortodoxos e não livrou a deles só por serem compatriotas. Ocorreu também um caso do grupo inglês MI5 interferir na espionagem da Scotland Yard. Há também cooperação entre grupos de espionagem de países diferentes por mera empatia, como o ETA espanhol e o IRA irlandês. E há também batalhas homéricas entre grupos de países que são inimigos mortais, como o Mujahideen indiano e o Jaish-e-Mohammed paquistanês. No plano astral estão acontecendo coisas que ninguém no mundo físico imagina. Há pessoas conspirando para reativar antigos grupos. A Gestapo da Alemanha Nazista, a KGB da União Soviética, o DOI-CODI da ditadura militar brasileira, o OVRA da Itália fascista, e até mesmo o Oprichniks do tempo do Ivan, o Terrível, da Rússia. Para encerrar, vou lhes contar o que de mais estarrecedor já me aconteceu durante uma missão. Fui capturada por um disco voador. Não me perguntem como é um disco voador por dentro e nem como são os alienígenas. Se eu lhes contar, vocês irão achar que sou muito mais doida do que já estou. Muito bem, para satisfazer a curiosidade de vocês vou contar apenas uma coisinha simples, mas aterradora. Os alienígenas e suas naves que chamamos de disco voador são uma coisa só, mas não concreta. Parece-se mais com uma projeção, como o corpo astral do ser humano. Um amigo meu que foi capturado por eles lhes perguntou de onde eles são e, e eles responderam que não sabem, por isso, há quem diga que eles estão presos na dimensão astral da terra, e não sabem como sair. Eles abduzem humanos no plano astral somente para descobrir uma maneira de sair de nossa gravidade e recuperar a noção de onde eles vieram. Eu não acredito nesta tese. Creio que eles me apanharam para investigar minha transeuncia. O problema é que eu sentia uma dor enorme enquanto eles me examinavam. Os filhos das mães simplesmente dividiram meu corpo astral em várias partes. Eu gritei de dor. Um deles olhou para mim e falou comigo só com o pensamento, daquela forma que conhecemos como telepatia: ‘Calma seu corpo físico permanece intacto’. E eu respondi: ‘Pode estar intacto, mas o que vocês estão fazendo com meu corpo astral dói pra cacete.’ Finalmente, o alienígena me tranquilizou: ‘A dor está está só na sua mente, mas agora acabou, e se você achar que seu corpo astral foi prejudicado nós lhe daremos um novo’. Isso é de dar um nó na cabeça, mas me deu também uma ideia e perguntei a ele: ‘Vocês não podem me transformar numa trauseunte em definitivo?’ O alienígena me olhou detidamente e disse: 'Isso já é possível em sua mente’. Para mim, a resposta foi um SIM. O alienígena me libertou e emendou: 'Neste universo onde vivemos há escolhas e possibilidades para todos os gostos. Noutros nem tanto'. Ninguém vai acreditar em mim, mas lhes digo que essas coisas estão realmente acontecendo o tempo todo. Talvez você acredite quando morrer e ficar perdido, vagando no espaço, pensando que está vivo. Os espiões astrais não mexem com os mortos porque, é óbvio, eles não têm mais o corpo físico e não servem para nada.
A COLHEITA DE PERSÉFONE NO MUNDO
ONE OF THE PHYSA'S LEADERS IN THE MIND WAR AGAINST THE DYNAS