sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

LOBA NOS SEIOS


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98



Debaixo de minha blusa
Há um coração que bate sem parar
Que dispara ao menor sinal de temor
Ao menor sinal de amor
Se você o usa
Só para satisfazer sua imprudência
Você pode baixar minha resistência
Mas não me derrotar
Posso chorar por dentro
Sem você notar
Porque você não sabe o quanto aguento


Debaixo de minha blusa
Há um par de seios pronto para amamentar
Que empina ao menor chorinho
Ao menor toque de carinho
Se você o abusa
Só para se deleitar
Você pode até me excitar
Mas não vai me conquistar
Posso fazer-me presa fácil por fora
E te enganar
Porque você não sabe como uma loba devora


Debaixo de minha blusa
Há um ventre que se prepara para o porvir
Que sente um friozinho ao menor sinal de emoção
Ao menor sinal de paixão
Mas se você o fecunda e se escusa
Para fugir da responsabilidade
Você pode atentar contra minha maternidade
Mas não vai me impedir de parir
Posso dizer-lhe que não é nada sério
E deixar você partir
Porque sozinha uma loba já criou filhos capazes de formar um império




quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

SÓCRATES NA TERRA DO BEIJA-FLOR


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


O Brasil masculino estava de ressaca. Eu e uma menor parcela da população feminina também. A seleção brasileira, patrocinada pela marca Topper da São Paulo Alpargatas S/A, acabara de ser deportada da Espanha por Paolo Rossi, Il Bambino d'Oro. Tele Santana, sempre sorridente e solícito, mesmo diante de uma decepção que parecia ser de proporção mundial, circulava pelas dependências do departamento de exportação da empresa, com a aura e a triunfal guirlanda de idealizador do futebol-arte, e autografava todos os pedidos. Em 1982, nenhum brasileiro imaginaria, nem nos mais dantescos pesadelos, que o verdadeiro holocausto de nosso hegemônico esporte bretão viria 32 anos depois, em nossas plenas terras de palmeiras e floresta tropical, onde cantam uirapurus e sabiás. As águias alemãs que aqui gorjeariam, entoariam nossos cantos canarinhos, bem mais melodiosos do que as aves toscanas naquele fatídico dia no Sarriá. Foi a última vez que padeci com nosso esporte mais popular, e, na esteira de minha purgação, pus fim a um sofrimento que encontrou indescritível consolo com a quebra de um jejum de muitos e angustiantes meses de emprego: eu estava de volta ao trabalho, e este seria o meu derradeiro na condição de empregado de carteira assinada. Não me deram muito tempo para me familiarizar com os produtos que eu deveria exportar, o que estava em perfeita contradição com a sucessão de meses que levaram para me contratar, desde o dia que respondi a um anúncio no velho Estadão. Em pouco mais de quatro semanas, fui despachado para nossos vizinhos do norte da America do Sul, da América Central e do Caribe, onde visitei lugares que deram arriscados e deleitosos contornos à minha primeira viagem àquelas bandas: as perigosas Bogotá e Cidade do Panamá, a medonha Zona Livre de Cólon, a sossegada Isla Margarita da Venezuela, a cordial e simpaticíssima Santo Domingo da República Dominicana, as paradisíacas Aruba, Curaçao e Barbados e, finalmente, o interessante e inesquecível Porto de Espanha, capital de Trinidad e Tobago. Este país que tinha, na época, menos de 1 milhão de habitantes, foi uma colônia britânica até 1962, e o inglês crioulo lá falado era e é, até hoje, bastante desafiador, mesmo para um nativo da Inglaterra. O drama pode ser sentido só com este exemplo: crowd (cráud)que significa multidão, soa como crow (crou) corvo. O representante comercial da empresa, um indiano, teve a cortesia de enviar seu motorista particular para me apanhar no aeroporto, e me levar ao luxuoso hotel Hilton, de cinco estrelas, quatro a mais que o meu salário. Ao entrar para fazer o check-in, setor da recepção para registrar-se e receber a chave do quarto, segundo o Sr. Aurélio, deparei-me com um mundaréu de homens falando alto, com a boca e as mãos, como os italianos. Ao aproximar-me, me dei conta que eles algazarravam em português brasileiro! Reconheci alguns rostos e identifiquei-me ao mais próximo, Adilson Monteiro Alves, sociólogo e um dos fundadores da Democracia Corintiana. Ao saber que eu trabalhava para o patrocinador do clube, foi logo me apresentando ao presidente, Waldemar Pires, ao técnico, Mario Travaglini, e convidando-me a juntar-me à comitiva do time e assistir ao amistoso contra a seleção de Trinidad e Tobago no dia seguinte, uma sexta-feira, dia 3 de Setembro de 1982. Meu primeiro encontro com o agente de vendas, completamente esquecido pela Alpargatas, foi decepcionante para ele, porque esperava que eu trouxesse a linha de calçados. Porém, eu era encarregado de vender somente produtos do setor chamado Resto: colchas de chenile e encerados. Nervoso e de nariz empinado, ele designou seu assistente para me acompanhar nas visitas a clientes, e recusou meu convite para assistir ao jogo do Corinthians à noite. Mal sabia ele, e jamais explicaria Deus, que, em pouco tempo, atingiríamos a misteriosa receita de mais de meio milhão de dólares anuais só com as antigas colchas Madrigal, num mercado menor que o bairro de Santo Amaro em São Paulo. Voltei ao hotel antes do pôr do sol. O calor era escaldante, como no verão carioca. Tirei o terno e a gravata, isso mesmo, você entendeu direito, esta indumentária me era imposta pelos meus superiores até nos desertos do Oriente Médio onde estive muitas vezes. De chinelo, camiseta e bermuda, fui para a área de lazer. Lá toda a delegação do Corinthians se concentrava. A maioria dos jogadores se divertia na piscina. Casagrande, com apenas 19 anos, era o brincalhão da turma. Adorava empurrar os companheiros na água. Sócrates não se misturava. Ficava na companhia dos dirigentes e da comissão técnica. Tirei um cigarro do maço de Hollywood e acheguei-me dele, recostado numa espreguiçadeira, segurando um livro, provavelmente de filosofia sobre seu xará. Mal puxei conversa e ele me pediu um cancerígeno. Perguntei:Você voltou a fumar? – para se preparar para a copa do mundo na Espanha, Sócrates absteve-se do tabaco por seis meses. Constatei, então, uma de suas marcas registradas: sua fama de arrogante. E o que você tem a ver com isso? Entornei o caldo de nosso quase monólogo ao pedir a ele para me falar sobre aquela partida contra a Itália. Não quero falar mais sobre isso. Ele me pediu para acender o cigarro e continuou lendo. Mais tarde, naquela noite, eu teria um verdadeiro diálogo com ele, mais amistoso, digamos, mas, para ser sincero mesmo, em circunstância anômala, na qual se inseria mais um de seus logotipos fora da cancha. Chegara a hora de ir para o estádio. Todos foram para seus quartos e desceram de calça e blusão de moletom da Topper. Três micro-ônibus nos aguardavam na saída do hotel. Embarquei num deles. No trajeto até o campo, os jogadores que estavam comigo vociferaram, alucinadamente, contra  todos os transeuntes. Se todos eles fossem submetidos ao exame antidoping, seriam reprovados, e se naqueles tempos já vigorassem as atuais leis disciplinares impostas pelos mafiosos STJD, CONMEBOL, CONCACAF e FIFA, eles pegariam um gancho pesado. Não tive permissão para entrar no vestiário. A preleção do técnico aos jogadores era segredo democrático, mas pude adentrar o gramado com o time formado por Solito, Sócrates, Ataliba, Casagrande, Zenon, Biro Biro, Mauro, Daniel González, Alfinete, Paulinho e Wladimir, uma grande equipe que fez época no futebol. Quando eu me encaminhava para o banco de reservas, um homem, elegantemente vestido, veio ter comigo, falando um bom cockney do East End de Londres. Eu era o único que falava inglês, e fui, imediatamente, confundido com o chefe da delegação. O cavalheiro era o Presidente da Federação de Futebol de Trinidad e Tobago. Suas efusivas saudações e paparicos fizeram me sentir um cartola. Tal qual um político brasileiro em campanha à reeleição, ele me levou  para dar uma volta em torno do campo, construído em 1980, e fez questão de me explicar, em detalhes, outras melhorias que ainda planejava fazer: a ampliação  das arquibancadas, a troca do gramado e a construção de uma pista de atletismo. O Estádio Hasely Crawford era um pouco acanhado. Não me recordo do seu tamanho. Minha memória de 67 anos já não se refresca com tanta facilidade, e já manifesta lampejos de Alzheimer. Acredito que fosse muito parecido com o antigo Parque Antártica do Palmeiras, com capacidade para 27 mil pessoas. O presidente trinitino-tobaguiano massageou meu ego, ainda em busca de autoafirmação, ao me oferecer a tribuna de honra. Encabulada e educadamente recusei, explicando que, por ser o único a falar a língua da terra, precisava estar junto aos ‘meus’ comandados para eventuais traduções, especialmente junto ao trio de arbitragem e nas entrevistas para a imprensa local. Ele entendeu e até se desculpou. Sentei-me no banco ao lado do lateral Zé Maria, às vésperas de pendurar as chuteiras. O jogo foi apenas um treino para o Corinthians, que venceu por 8x2. O  futebol de Trinidad era embrionário, amador, e somente em 2006 conseguiria vaga para participar de sua primeira copa do mundo. Os dois gols do anfitrião foram  facilitados para retribuir a calorosa recepção que os corintianos receberam das autoridades e do público. Ataliba, recém-contratado junto ao Juventus da Rua Javari, foi cumprimentado por todos os jogadores ao fazer seu primeiro gol com o uniforme alvinegro depois de várias atuações sem sucesso. Nada como um saco de pancadas para se reabilitar. Além de dois gols e uma exibição a altura do craque que foi, com assistências inteligentes e liderança intelectual, Sócrates desfilou seu repertório de toques de calcanhar, sua marca registrada no adestramento da bola, uma marca visual da mesma maneira que as bandeirinhas se tornaram sinônimo da pintura de Volpi, como escreveu, inteligentemente, o talentoso Daniel Piza, por ocasião da morte do 'Doutor' em 2011. Havia apenas um repórter de campo brasileiro fazendo a cobertura do evento. Não me lembro se ele era da Gazeta Esportiva, do Diário da Noite ou da Revista Placar. Só sei que, a cada substituição, ele me chamava correndo junto ao mesário, para lhe explicar quem entrou no lugar de quem. Ao final da partida, o presidente da federação trinitina me abordou e me levou de volta ao hotel no seu carro. Sentado no banco de trás estava, nada mais nada menos que Juan Figger, uruguaio que se mudou para São Paulo em 1968, tornou-se rico e célebre por ser um dos maiores empresários de jogadores de futebol e promotores de jogos e torneios amistosos, e, segundo a imprensa, por praticar muitas atividades ilícitas: sonegação fiscal, evasão de divisas, falsificação de passaportes e influência na convocação de jogadores, por ele empresariados, para a seleção brasileira, com objetivo de valorizar o passe dos mesmos. Esse era o trabalho com o qual sonhei tanto: gerenciar esportistas, artistas e músicos. Em 1982, eu e um colega da Alpargatas planejamos um empreendimento que se tonaria uma realidade aqui somente nos anos 90: exportar jogadores brasileiros para a Europa e trazer bandas de rock britânico para apresentações no Brasil. Não executamos o plano, perdemos o momento, e outros ficaram com nossos sonhos. Juan, que organizou dois amistosos para o Corinthians em mares de céu azul caribenho, permaneceu calado o tempo todo. Já o presidente da federação, eufórico, delirava com ideias que ele queria deixar sob minha responsabilidade: um torneio em Trinidad, reunindo Santos, Corinthians, Palmeiras e Flamengo. De volta ao hotel, fui direto para o bar, sem nenhuma mágoa para afogar, simplesmente porque eu teria um fim de semana de folga e só voltaria a trabalhar na segunda-feira. Lá estava Sócrates, saboreando uísques, cervejas e outros baratos etílicos afins. Sentei-me ao seu lado e, desta vez, bebericamos juntos e jogamos muita conversa fora, literalmente, sobre todos os possíveis assuntos descartáveis, menos futebol. Sócrates estava, ainda, no primeiro de dez assaltos às malvadas, mas eu já estava meio grogue, tentando manter o equilíbrio, prestes a jogar a toalha. Os adversários do Corinthians tinham enorme dificuldade para acompanhar o Sócrates dentro das quatro linhas, mas era quase impossível acompanhá-lo na arte de ingerir as águas que os passarinhos não bebem. Fui salvo pelo gongo: foi anunciado o jantar que o hotel, ou a Federação Trinitina, ou não sei quem, ofereceu à delegação corintiana. Voltei ao meu apartamento, desabei na cama de sapato e tudo, e o quarto parecia enfeitiçado, girando como um carrossel. Contei poucos cavalinhos para ferrar no sono. Depois de um tempo imponderável, o telefone tocou. Passava da meia-noite. Quem era o filho da mãe que me ligou em plena madrugada de sábado, perguntaria o pai do bem sucedido corretor da bolsa de valores no filme O Lobo De Wall Street. Era tudo demais tudo de menos que outro representante comercial, outro indiano, da cidade de San Fernando. Nas poucas semanas que tive para me preparar para aquela longa viagem, ao triar as rumas de telexes sem respostas,  encontrei dois agentes interessados nos produtos da Alpargatas. Acabei ficando com o esnobe do Port Of Spain, mas, por precaução, avisei o sanfernandino que eu estaria em seu país. Mas por que ele me procurou a esta hora? O inoportuno soube, pela televisão, que o médico Sócrates estava em Trinidad, e queria conhecê-lo Rodopiando pelos corredores, consegui chegar ao bar. E lá estava Sócrates novamente, jantado, e agora acompanhado de vários camaradas. Tive que tomar algumas doses de uísque com o pródigo de Gandhi, que era médico também, e não veio falar sobre negócios. Apresentei-o ao Sócrates, larguei os dois no balcão do bar conversando, não sei em qual língua, provavelmente em libras. Trotando em zigue-zague, rumei em direção aos elevadores. Ao passar pelo saguão, fui interpelado pelo Daniel González, caindo pelas tabelas, tentando dar uma entrevista a um canal de TV local. A jovem e bonita jornalista pediu-me para ajudar na tradução. Cada pergunta dela era respondida com impropérios aqui intraduzíveis, como, por exemplo, este belo eufemismo: quero levá-la para meu quarto para fazer amor. Sempre polido, eu dizia à moça que o Daniel e todos os corintianos estavam adorando o país. Mais jogadores, completamente embriagados, juntaram-se àquela baixaria, que eu trasladava para uma solicitude. Para me desvencilhar deles, tive que enganá-los com uma falsa e súbita indisposição estomacal, embora meu vômito implorasse para abrir a porta. Escorando-me pelas paredes, consegui chegar ao meu apartamento. Com as mãos trêmulas, coloquei o aviso de não perturbe na maçaneta do lado de fora da porta, tirei o telefone do gancho, e desmaiei na cama. Meu inconsciente cancelou todos os sonhos programados para aquela noite. Acordei depois das 15 horas, com uma retumbante dor de cabeça e, rebuscando chavões, na consciência. Lentamente, comecei a recobrar os sentidos e a rememorar o que se passara nas últimas 24 horas. Lembrei-me que, enquanto estava sóbrio, Sócrates me disse que eles teriam que levantar às 6 da manhã no Sábado para pegar um voo para Curaçao, onde jogariam um amistoso  contra a seleção local no Domingo. Seleção de Curaçao? Impossível! O escrete desta ilha de encantos mil devia ser igual ao Íbis de Pernambuco, o pior time do mundo, que entrou para o Livro Guinness dos Recordes por ter conquistado a  façanha de três anos e onze meses sem comemorar uma única vitória. Mas, contra um time encharcado de engasga-gato, talvez os curaçaoanos conseguissem uma vitória. Quase! O jogo foi 0x0, e o Corinthians deve ter se arrastado numa lombeira tão confusa como o papiamento, língua oficial das antigas Antilhas Holandesas, mistura de holandês, alemão, inglês, espanhol e português. Se os corintianos não se refizeram da bebedeira com um trago de bebida que cura, significado da palavra Curaçao, então eles provaram da típica bebida Curaçau (com U mesmo), feita com cascas de laranjas da ilha e cachaça de cana de açúcar da melhor qualidade da região. Lembrei-me, também, de ter explicado ao Sócrates que Cristovão Colombo batizou o país de La Isla de La Trinidad, uma óbvia referência à Santíssima Trindade Cristã. Mas os ameríndios locais chamavam a ilha de Terra do  Beija Flor. Faz todo sentido. Afinal, dois humming birds adornam o brasão de armas de Trinidad. E Tobago, o que significa? Há tantas controvérsias sobre sua etimologia que prefiro não arriscar uma explicação. Melhor lembrar-me daqueles dias ouvindo a Enya cantar Caribbean Blue (Azul Caribenho): So the world goes round and round..., E o mundo gira e gira..., e eu completo: and so does my head, e assim também gira minha cabeça, while little colorful birds still hum in my mindenquanto passarinhos coloridos ainda zumbem em minha mente, saudosa do grande Sócrates brasileiro, que partiu cedo demais.





quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

A PERFECT DAY FOR A GIANT SOUL WITH AN UNCERTAIN SMILE

A PERFECT DAY FOR A GIANT SOUL WITH AN UNCERTAIN SMILE (POSTED ON US WWW.AMAZON.COM ON JANUARY 25TH, 2009). Allbum review written by Alceu Natali with Copyright protected by Brazilian law 9610/98





For my definition of 'great' albums please refer to my review of 'Heaven Or Las Vegas' by the Cocteau Twins. A cd store in a shopping mall is not the right place to look for great music. But once upon a time there was one in my neighborhood that was very promising. One of the salesmen there had an appreciation for This Mortal Coil. That was a good start. Their heap was small but not too ordinary. Side by side with disposable radio habitués you could also find a handful of classic candidates. And you could also listen to good music while browsing through their shelves. Curiously, and unlike the mainstream commercial music aired in almost every music place in town, that particular store used to play only cool songs like This Is The Day. I think that's the reason why that store did not last too long. In the 5th of all hells you cannot survive selling the real things only. The Brazilian devil's tacky taste reigns over the sanctified. I bought Soul Mining at that store that no longer exists only because of that song. The rest of The The's albums found their way into my collection through foreign channels. Many say 2. This Is the Day is the best track. It is really very cheerful and catchy with a beautiful accordion that brings to mind the best of Dominguinhos' swinging baiao. Gorgeous! Notwithstanding, 8. Perfect, with its famous Louie Louie's progression, a fat bass and a wonderful combination of different instruments and chorus is just sublime and second to none. 4. Uncertain Smile is less cheerful but splashes sugar while the drum bounces and the guitars water the beat until it leaves room to the amazingly brilliant and classy piano performance by Jools Hollands. Magnificent! 7. Giant is an incredibly beautiful crescendo from a simple drum beat joined by discrete keyboard, a fat bass, voice, more prominent keyboards, orchestral synthesizer, machine drumming, ritualistic chanting. It grows inside and beneath you and you feel like a giant looking over the tops of the trees in a jungle. 1. I've Been Waitin' for Tomorrow (All of My Life) is an aggressive attack by a desperate singing and led by a thundering drum beat, gradually joined by a nervous bass, a low and uneasy synth, a more voracious bass and hastier voice. The sound is threatening, pressing and alarming and suddenly stops. 3. The Sinking Feeling is sort of a short version of the entire album or a first interlude if you will. And it does work. 5. The Twilight Hour sounds like an early attempt to give birth to Giant 6. Soul Mining sounds very much like a second interlude and, once again, it does work very well. Some say Soul Mining got very close to the list of best records of the 80's and that it should definitely stir some intense debate over its inclusion in that decade's finest albums. It is not in my list of the 80's but my all time's greatest.


terça-feira, 28 de janeiro de 2025

QUAALUDE VERSÃO LIMÃO 714

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Gostei muito de falar com você. Você me liga qualquer dias destes? O quê? Você não tem meu telefone? Procurou na lista? O quê? Também não tem meu nome? Claro que te dou. É Tadeu. Sobrenome? Pra quê? Tá, deu pra entender. Sem sobrenome não se pode encontrar nome de ninguém nas listas telefônicas. Sou o Tadeu Micanta. Talquei, agora me canta o número pra ver se está certo. Está correto. E o seu nome? Maria Amália! Puta coincidência! Tive uma amiga na pré-escola com esse nome. Escuta, dá pra gente conversar mais um pouco? Legal, o que você curte? Não, não estou falando de couro. Nem de alimento em molho. Não, também não é exposição ao sol e nem enrijecimento de pele. Pare de falar um pouco. Perguntei do que você gosta. Uppers? Eu também! O que você toma? Tá brincando! O quê? O tipo limão 714? Eu também, mas raciono porque tenho muito pouco. Quanto você tem? Cacilda, 50 vidros com 30 drágeas cada? Como você conseguiu tudo isso? Com a CIA? Tá me gozando? Um subprefeito de São Paulo amigo da CIA? Impossível! Espera um pouco, agora você está pegando pesado. A CIA que inventou o LSD? E o Timothy Leary? Cobaia? Cobaia do quê? Essa não! Os americanos criaram o LSD para contaminar a União Soviética e dizimar os russos sem disparar uma única bombinha atômica? Difícil de acreditar! Então esse seu amigo subprefeito é da pesada! Efeito do LSD? Não? Ah, do Limão 714. Bem, depois da terceira vez dominei a sonolência e depois da sexta passei pela fase babão. Você baba até hoje? Eu não, mas mijei na cama até os 12 anos. Mais que uma drágea do Limão 714? Bem, um dia tomei 5 comprimidos de  uma vez só e tive paralisia cerebral, lúcido, mas sem nenhum controle motor. Você já travou o quengo alguma vez? Virou do avesso? Como? O quê? Entranhas pra fora e roupa pra dentro? Chamou um anversador? Ficou boa? Ah, neurônios no lugar dos pelos pubianos é o de menos. O que você faz? Nada? Não trabalha? Ah, é do lar, a heroína que limpa a casa, cozinha, lava e passa, leva cachorro pra passear...O quê? Não faz nada disso? Hum, entendi, você fica só com a heroína e viaja o dia inteiro sem sair de casa. Esse Limão 714 faz milagres. E quem banca tudo? Claro, o subprefeito. O quê? Voltar ao assunto anterior? Qual? Não, não conheço muito bem a história do Timothy. Amigo do John Lennon? Não, não sabia. Sim, gosto muito de música. Brasileira. Gosto das duplas Napoleon Solo & Illya Kuryakin e Lassie & Rin Tin TinVocê também gosta? Duas também? Quais? Dalagnou & Desmoronou e Bozo Imbrochável & Micheque Impagavél. Nunca ouvi falar. Qual é o seu gênero favorito? Música ácida? Então você deve gostar de Tomorrow Never Know e I Am The Walrus do Lennon, ou Acid Queen do The Who. Got To Get You Into My Life do Paul? Não sabia que ele se referia a dar um up em sua vida. Doctor Robert? Essa todo mundo conhece. Era o cognome do fornecedor de bagulhos dos Beatles, um sugar plum fairy como dizem os londrinos. É verdade, esse nome é também uma referência a uma peça de Tchaikovsky. Você está ligada em tudo! Corrijo: ligadona. Os Beatles? Claro que curto. Tenho tudo deles. Tá precisando de um Doctor Tadeu aí em sua casa? Opa, é pra já. Qual é o seu endereço? Sim, tenho GPS, mas não está funcionando. Preciso trocar o chip. Sim, tenho um PC. Sim, está ligado. E você acha que dá pra se guiar pelo seu GPS no computador? Talquei, estou vendo. Eu mesmo digito no teclado? Talquei, deu certo. Av. Maria Amália Lopes de Azevedo? É teu nome! Homenagem? Então você deve ser uma pessoa muito importante! Ah, só podia ser um amigo subprefeito! E o Lopes de Azevedo? Entendi. Quer dizer então que ele é descendente da família Lopes de Azevedo do século 19! Olha, este seu amigo subprefeito é muito mais que  um simples Queirós. É um autêntico Cid! amante. Deve ser fissurado em você. O quê? Gay? Não? Bissexual? Também não? Hermafrodita? DNA de mulher com pênis! E Você também é hermafrodita? DNA de homem com vagina! Bem, eu sou quase normal. Tenho 3 testículos e nádegas desproporcionais. O lado direito é 30% mais largo que o esquerdo. Quase perfeita? Ah, saco escrotal abaixo da vagina é o de menos. Quantos testículos? É melhor só um do que nenhum. Olha só, moro do outro lado da cidade. Sei chegar até o centro, mas não sei como chegar até aí sem GPS. Vou te ligar do celular pra você me orientar. Valeu! Já estou no carro. Está me ouvindo? É porque o sinal está ruim. Se a ligação cair te ligo de novo. Você me liga? Ah, você tem identificador de chamadas. Legal. Vai rolar algum rango? Rolinha a passarinho com tarântulas fritas? Eu já comi caranguejeiras. Já imaginava que elas têm o mesmo gosto. E pra beber? Wow, Aqua Velva? O que vamos ouvir? Come Together do Lennon? Algo especial pra você? Slogan de campanha do Timothy pro governo da Califórnia em 1969? Cool! E depois de Come Together? Ah, o outro lado do disco, Something do George. Legal. Tem mais? Lucy In The Sky With Diamonds e A Day In The Life? Estou vendo que os Beatles vão monopolizar o som e polarizar as canções. Sabe do que gosto em A Day In The Life? A parte que diz 'acordei, caí da cama, passei um pente no cabelo, desci as escadas, tomei uma xícara, olhei no relógio e percebi que estava atrasado, encontrei meu casaco, peguei meu chapéu, cheguei no ônibus em segundos, sentei no segundo andar, dei uma tragada, daí alguém falou e entrei num sonho'. O cara deu um tapa num baseado e viajou dentro do busão. Legal, né? O quê? Você viaja abaixo do décimo nível? Sabia que no livro Em Algum Lugar Na Espora De Orion tem um texto com esse nome? Incrível! Você é um daqueles buracos negros trigêmeos? Quero ser seu horizonte de eventos. E por falar nisso, hoje vai rolar um sexozinho também, não vai? Ménage à trois? O subprefeito está aí? Talquei, vou nessa. Posso usar um neologismo? É verdade, eu te parodiei e inventei a palavra anversador. Mas aqui vai outra: hoje vou androginar, que tal? Somos todos filhos de Hermes e Afrodite? Você sabe das coisas. É craque mesmo. Não? Ah, claro, é Limão 714. Meu nome? Não te dei? Meu telefone? Não te dei? Procurou nas páginas amarelas? E no google? Não esquenta a cabeça com isso. Também esqueci seu nome e seu endereço. Também tenho estes repentes de amnésia como você. Desde quando o quê? Alô! Alô! Ficou mudo! Essa mulher deve ser uma doida de pedra, alguma quenga de cachola quaaludada. Acho que vou tomar uma mamadeira bem quentinha e pegar um berçário. 


segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

AROUND - A TRIBUTE TO ALL VICTIMS OF BRUMADINHO

  Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

I found a dead tanager in my backyard, Greyish blue, On a sunny day, Decorated and hardened wings, Closed to the body, It was a grown-up, Had no signs of violence, Must have been poisoned or made ill, Since nobody sees a bird die of an old age, I kept an eye on it for a while, Just like a mother watching her son sleeping, I gave it a worthy funeral, Surrounded it with flowers on the soil, And like calisthenics, Rays of sunlight were redirected to my garland, Silenced the space, Made the fauna in the neighborhood shine, I came in, Turned on the TV, Another tragedy is announced, People dead, People missing, Things lost, Many tears of blood that no longer fit the eyes, Will rattle hanging on the necks of survivors, Like the dark beads of tears of all Saints Marys as they have nobody else to turn to, It is a major calamity, They will talk about it for several days, Until it is forgotten, And when the earth is on the other side of the sun, And I am at this side lest I remember what happened over there, Grass will grow on my little bird´s grave, And cover it with everlasting affection, The earth will be back to where I am, And I will not be able to avoid her reminding me of what was left from that misfortune, Scarce lives without the slightest passions, As though they took anothers robes and disrobed in the marketplace, And at the edge of the rivers where the lover´s sweet songs are now voiceless, And for a long time sadness will grieve in their muddy waters, And every time the moon makes a lap around the nights, I have my omens that, Sooner or later, I will steer toward those who came to this world to make us happy and those who came only to make us mourn.

domingo, 26 de janeiro de 2025

BARGANHANDO COM A MORTE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


Certos acontecimentos e até mesmo certas pessoas são inexplicáveis. Pacífico oscilava entre os opostos da fama de malandro, se visto apenas de fora, e da ternura de um conciliador, se fosse possível penetrar no seu íntimo. Ele argumentou com os milicos de maneira bem convincente e livrou a barra de todos. Ele era da turma da rua de baixo, rival da turma da rua de cima de Tilly, mas ele costumava fazer diplomáticas incursões pelos territórios inimigos e acabava conquistando a simpatia de todos. Durante um curto período de tempo e sem nenhum motivo aparente, ele passou a frequentar a rua de Tilly com quem teve uma enorme empatia. Ele não jogava bola, mas por causa de Tilly promoveu um torneio entre várias turmas, muito mais pelo desejo de uma confraternização entre vizinhanças rivais, especialmente entre a sua, a do Córrego do Macaco, e a de Tilly, a do Messias Trombeteiro. Pacífico morreu de forma estúpida, de complicações pulmonares depois de ter levado dois tiros no peito só porque, de brincadeira, ele chamou de cheirosinho um sujeito conhecido por continuar fedendo como carniça mesmo depois de tomar banho. Pacífico era pobre de espírito e universal e, ao saber de sua morte, Tilly se arrependeu pela segunda vez e profundamente, por não ter lhe retribuído em vida tanta consideração com atitudes mais solidárias. Mas, mesmo certas atitudes são incompreensíveis, como a de Tilly ao escolher o pacato e limitado Bombeiro, o filho do desejo, como seu confidente e conselheiro para seu primeiro ato sexual com preservativo. Bombeiro também morreu de forma brutal, com um tiro na nuca disparado pelo passageiro no banco de trás de seu táxi. A morte foi muito precipitada com Pacífico e Bombeiro e nem sempre ela é assim. Nem sempre ela vem para ceifar vidas. Muitas vezes ela aparece apenas para fazer uma visita, tomar um café, bater um papo, agradecer a hospitalidade, esperar por um ‘volte sempre’ e se despedir com um ‘qualquer coisa, é só avisar’. Se Tilly soubesse disso ele não teria saído correndo naquele dia fatídico e permaneceria calmo e parado como ele fez na primeira hora de uma noite quando ele se encontrava abraçado com a namorada no ponto de ônibus e viu, à distância, se aproximando pela calçada, uma horda de desordeiros, chutando latas de lixos, escarrando, urinando nos postes, uivando como coiotes de porre e vomitando toda sorte de palavrões para os que iam e vinham a pé ou motorizados. Não demorou muito para aqueles vândalos do anus da periferia chegarem até Tilly e sua namorada e prensá-los contra a parede prenunciando um duplo estupro, mas com preliminares com requintes cáusticos:
E aí, meu, não vai apresentar a noivinha pra gente?
Tilly, solenemente, apresentou sua namorada ao chefe daqueles fariseus que, jocosamente, se inclinou, beijou a mão da moça, voltou-se para Tilly e lhe disse:
Mina joia, meu.
Tilly agradeceu e apressou-se em apresentar a si mesmo e acrescentou que estudava no Ginásio do Prolongo e de lá viera a pé até a avenida para pegar o ônibus de volta para casa.
Espera aí! Te conheço! Você é amigo da turma do sei lá de quem do Prolongo! Ei, patota, esse cara é dos nossos! Caralho, cadê a educação? Cumprimentem a noiva dele!
Aqueles fuleiros limparam o ranho e a baba com o dorso das mãos ensebadas, e um a um contaminaram a delicada e suave pele da eleita de Tilly, meneando as cabeças para frente, leve e seguidamente enquanto andavam de fasto, como se fossem súditos sem permissão para dar as costas a uma princesa antes de deixar o palácio. E assim, despediu-se o Átila do Bairro da Marrequinha:
Valeu, meu! Joia te encontrar e conhecer sua noivinha! Fica frio. Aqui, lá no Prolongo e nesse pedaço todo você está em casa! É só dar um toque. E não se esqueça da gente quando sair o casório!
Quando a morte se depara com a pessoa errada, ela se toca, por assim dizer, se constrange com a mancada que deu e, ao querer se desculpar com agrados, acaba se complicando mais ainda e comete gafes como prometer que lhe avisará com antecedência quando sua hora estiver chegando. A pessoa errada neste caso pode ter sido a namorada de Tilly protegida pelo seu daimon. Só isso poderia explicar o engano esdrúxulo de ser reconhecido por alguém que Tilly nunca viu mais gordo e ainda ser associado à turma de um sujeito cujo apelido era tão difícil de entender e de guardar quanto o de um colega seu do mesmo Ginásio do Prolongo que disse ter sido transferido de uma escola com um nome tão cumprido e complicado cuja única parte inteligível era ligabuia. Volta e meia a morte é confundida com uma pessoa que na verdade a odeia e se Tilly soubesse desses odds and sods, esses baratos afins da morte, naquele dia lúgubre ele permaneceria parado e calmo e depois prosseguiria tranquilamente, como fez aquele franzino cabra bom, cabras às direitas, e que, ao atravessar a caatinga, inadvertidamente cruzou o caminho de Lampião e foi tomado por um jagunço, um cangaceiro manso, e se viu cercado pelo bando maldito. Mas o sujeito era mesmo cabra do colhão roxo e não se intimidou com as ameaças de Virgulino. Não o desafiou e nem o desrespeitou, mas também não fez concessões à sua neutralidade e desengajamento por isso foi logo condenado a morrer antes da hora. Lampião exclamou:
Sai correndo, seu cabra da peste, e não olha pra trás. Vamos ver até onde você consegue chegar!
Os cangaceiros começaram a armar os gatilhos e o sujeito miúdo se pôs a caminhar lentamente, a passos curtos e pernas atracadas, sem hesitar e sem esboçar qualquer gesto com a cabeça ou com os braços. Andava como se já estivesse morto apreciando a paisagem desolada do jardim do éden do sertão nordestino e como se algumas balas varando seu corpo não fizessem qualquer diferença. Ainda com o condenado bem ao alcance das espingardas, Lampião, meio escabreado, levantou a mão e gritou para todos:
Deixa-o ir embora! Este é cabra-macho e vai ser cria nossa!
É difícil precisar se Tilly era cria ou refém do medo. Ele tinha saído mais cedo do trabalho para sacar um benefício em dinheiro. Deu partida no carro, subiu a rampa da garagem, alcançou a rua, virou a direita e logo chegou na avenida principal que se encontrava com o trânsito completamente parado devido à enorme quantidade de veículos. Tilly foi se espremendo e se enfiando até entrar pela faixa reservada para ônibus e logo deu o sinal de seta para a esquerda esperando que alguém lhe desse passagem para a pista do meio. Tilly estava comprimido entre ônibus e o de trás começou a buzinar incessantemente. Tilly resmungou:
Esse trânsito maluco deixa todo mundo cada vez mais nervoso. Esse cara pensa que buzinando vai fazer os carros andarem.
O trafego permanecia preguiçosamente estático como a vegetação arbustiva do semiárido, mas barulhento como maritacas fazendo coro, e quando andava era insuficiente para abrir uma brecha por onde Tilly pudesse deixar o território dos coletivos, brutamontes impacientes. E para piorar, aquele que fungava no seu cangote resolveu cravar o dedo na buzina e espalhar por toda redondeza a presença insignificante de Tilly com um ruído espalhafatoso, feito um cancão do asfalto, a voz da mata sem cor. Tilly olhou no espelho retrovisor e percebeu que não só o motorista, mas várias pessoas com as cabeças para fora das janelas esbravejavam alucinadamente contra ele. Tilly desdenhou:
Esses caras são gozados. Acham que tudo está parado por minha causa e que eu tenho que sair da frente deles decolando como um helicóptero.
De repente, várias pessoas desceram do ônibus ao mesmo tempo, lançaram-se em direção de Tilly, envolveram seu carro, arrancaram-no para fora, vociferaram contra ele e o ameaçaram em uníssono. Tilly, quase sujando as calças, não entendeu bulhufas e tratou de se desvencilhar das agarrações, cutucões e empurrões e saiu numa desabalada carreira avenida abaixo, largando tudo para trás, como um doido varrido agonizando em meio a um ataque de pânico, exigindo o máximo de suas pernas ligeiras e mantendo os braços ocupados como duas asas recolhidas e alternando cotoveladas e socos no ar para manter o corpo em equilíbrio, o que não lhe permitia tapar os ouvidos para silenciar os disparos ardidos que esperava queimar seu corpo e para emudecer o angustiante barulho tal qual o grito infinito da natureza de Munch e que ainda estremecia a atmosfera desde o buzinaço ensurdecedor daquele condutor apressado. E não podia também tapar os olhos para esconder o vexame, mas tampouco necessitava fazê-lo para ganhar o dom de mântis de Tirésias, pois, embora não pudesse prever se sairia desta vivo, sabia onde queria chegar e como. Ele não corria numa mata branca onde um projétil espoletado viaja livre e impune nas extensas planícies interplanálticas e trespassa com facilidade as cadavéricas e deprimentes árvores de troncos tortuosos e folhas perdidas. Tilly corria pela mata descorada feita de altos maciços de pedra e dispostos na forma de intrincados labirintos saturados de transeuntes em constante movimento de vaivém o que dificultava uma perseguição corpo a corpo e um tiro a queima-roupa. Bastava Tilly fazer o quadrilátero perfeito para voltar ao seu local de trabalho e lá chegar quase desfalecido, desabar num sofá e ser logo acudido pelos seus companheiros preocupados e ansiosos para saber o que aconteceu.Tilly balbuciou antes de desmaiar:
Um bando de assassinos levou meu carro lá na avenida e tentou me linchar.
Tilly foi levado a um hospital onde foi apenas sedado e, no mesmo dia, recebeu alta. Seus colegas foram até o local do incidente e para surpresa deles, o carro de Tilly continuava no meio da via pública, com o motor ligado e portas abertas, sem estorvar ninguém, pois naquela hora o engarrafamento encontrara vazão e o trânsito fluía normalmente. Um comerciante local ainda permanecia na calçada observando o veículo desde a hora do incidente e foi ele quem explicou para os companheiros de Tilly o que se passara.
Não foi nada não. Foi um pessoal que fretou alguns ônibus para ir ao enterro de um amigo que foi assassinado e eles estavam meio de cabeça quente e descontaram no rapaz só porque ele entrou com seu carro no meio do cortejo fúnebre.
Talvez fosse melhor para Tilly se a dona morte se descuidasse e o levasse, mesmo que fosse de susto, assim ele não teria que continuar levando essa vida ordinária, popularmente chamada de cheia de altos e baixos, com bons e maus momentos se revezando. E a morte retrucou:
Mas, afinal de contas, todos vocês não vivem de outra forma senão com esses intermitentes ups and downs, esses sobe e desce, como autênticos camaleões surfando numa montanha russa e quando seus anjos da guarda já não dão mais conta vocês jogam a culpa na minha prima fatalidade!

sábado, 25 de janeiro de 2025

GENTE DO MUNDO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Nesta casa morou o menino que demorou para amadurecer, E logo tomou gosto pelos sonhos, Viveu com os pés muito longe do chão, Sem atinar para tantas nuvens que embaçavam sua visão, Quandou, finalmente, acordou para a realidade, Sua mente já estava turva e viciada, Olhou à sua volta, E só então se deu conta de que estava impregnado de seus personagens oníricos, Identificado com todos, Como as máscaras de pai, Filho, Marido e profissional, Que todos admiram, Ele morreu sem nunca se conhecer, Sua casa está sendo engolida pelo progresso como sua consciência sempre foi pelas suas ilusões. Ali, Ao lado morou a menina que nasceu num circo, E não conseguia definir o papel que melhor lhe adequava, Lhe assustava a altura dos trapézios, Temia os leões e outras feras soltas no picadeiro, Transitou pela ilusionismo, Pelo malabarismo, Pela acrobacia, Arriscou-se na corda bamba, E um dia cansou-se de ser itinerante, Sem jamais descobrir sua verdadeira vocação, Morreu da mesma tristeza que o palhaço esconde do público, Sua casa sempre cheia hoje está vazia como sempre esteve sua alma por todos os lugares por onde passou. Do outro lado da rua morou o homem que demorou a aprender a nadar, E logo ele tomou gosto pela navegação, Remou contra a maré o tempo todo, Sem saber que jamais saía do lugar, Um dia avistou à sua frente terras longínquas, Mas seus braços já estavam cansados, Olhou ao redor, E só então se deu conta de que estava longe de tudo, Distante de todos, Como no universo onde as galáxias distanciam-se umas das outras a velocidades espantosas todos os dias, Sem que ninguém perceba, Ele morreu dormindo em seu barco, Sua casa está abandonada como ele esteve a vida inteira.


sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

NOSSAS MÃES

 HOMENAGEM AO POETA NATHAN DE CASTRO, MESTRE DOS SONETOS, MORTO AOS 60 ANOS
Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98
Clique no link abaixo de cada texto e leia-o ao som de uma música especialmente escolhida para ele

Mãe Alice, chega-lhe com lastro
Este poeta amigo e mestre do soneto
Junte-se ao orgulho de mãe Castro
E cantem seus versos em dueto

Na calada de eternas esperanças
Só os ecos de suas vozes respondem
Suspiradas de doces lembranças
Que as almas saudosas não escondem

Um céu mais poético me espera
Um companheiro da arte da palavra
Em ti todo meu louvor encerra

De seus quartetos se tira presságios
De Nossas Mães filhos da terra
De seus tercetos novos adágios

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

VENTOS UIVANTES

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Nenhuma lembrança, Da terra roxa e fértil, Com mãe de filho do céu, Nenhuma lembrança, De morada em garagem de fundos, Com história de ouvir contar, No caminho do tatu, As memórias sobem à entrada da toca na superfície para observar, Veem a segunda mãe chegar para ensinar a escrever na idade que ainda precisa crescer, O tesouro desenterrado a céu aberto, À espera de felizardos desbravadores, Um caco de vidro a pé cortado, Provoca menos dor do que pavor, Como a escuridão solitária no alto do segundo andar habitada por ventos uivantes que fazem a alma dos vivos penar, As compensações só vêm com esperneio e pranto sob uma mesa, Novas espoletas para o revolver, O carro de lata para pedalar, A direção em reforma que pode tardar, mas não falhar, Desta terra se leva cones de fios têxteis improvisados de adereços para o carnaval, O cinto com fivela de elefante que não esquece, Os pés de galinhas sangrando pelas picadas de cupins que dividem o mesmo espaço num caminhão, No caminho das armadilhas de taquara e cipó, Que podem se estender de mar a mar, Os peixes delas não escapam, Mas não mantém a segunda mãe neste mundo, E as recordações são jogadas no Rio Letes, Como quando se está prestes a encarnar, O que resta são os ferozes marimbondos que montam guarda na grade junto ao chão que traz ar e luz do sol ao porão, E os pés de melancia que começam a brotar bem na hora da mudar, Obscuras reminiscências que poderiam ser de uma alma encaminhando-se para a planura de calor e sufocação terríveis, Quando, Despida da sombra de árvores, Bebe da água que nenhum vaso pode conservar, Só faz esquecer, Faz sentir falsas brisas, Não deixa se ver partir pelo seu filhão, Que dele queria se apossar, Sem nenhuma má índole, Somente ciúmes de mãe deserdada, Sem ressentimento por ter sido odiada, Sem mágoa por ter sido por poucos amada, Sem assustar ninguém com noites em pesadelos, Sem atinar para as suas batalhas perdidas, E teu filhão deixa para trás aqueles ares devastadores das trevas desacompanhadas e te chama, Minha segunda mãe Alice, Sou eu, O Aloysius, Ainda estou do outro lado de você, Perdido aqui como perdida você deve estar aí, Logo deixarei minha casa, Excomungarei a última ave-maria, Para você me encontrar, Desta vez de olhos abertos, Para te abraçar, E juntos escolhermos nossos novos destinos, Láquesis elegerá um guia espiritual para cada um de nós, E ele nos levará a Cloto para sancionar nossas escolhas, E esta nos conduzirá a Átropos para tornar irreversível nossas vontades, E do trono da Necessidade passaremos para o outro lado, E felizes recuperaremos o tempo que nos foi roubado. 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

ESQUECER É UMA VIRTUDE




Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Aqueles dias que Denise tinha, A Pimentinha, Que não ardia, Só se escondia, Com lembrança mais remota que criança, Que nenhum adulto alcança, Nem o tio que contava histórias nas noites quando a vida estava suspensa no ar, Nem a tia-avó que voltava da morte para cantar, Para bater palmas para a menininha, Alegre saltando da escrivaninha, Crescendo ao lado de muito sofrimento, Escrevendo dentro de seu pensamento, Brincando com bola, Não indo tão bem na escola, Mas tão bem como um virtuoso compositor, De músicas de amor, Com palavras verdadeiras, Sempre em línguas estrangeiras, Sempre leal, Fugindo do mal, Enganando-se com o ideal, De uma família unida, De uma família falida, Pela convenção passiva, Pela incompreensão letiva, Pelas crianças que Denise precisava ter, Pelo pai que não podia morrer, Pelos amigos que poderiam ser, Omissos nas horas de servir, Pelos desconhecidos que conseguiam ver, Assistentes espontâneos por antevir, Todos aqueles dos quais agora Denise se despe, E dos novos com os quais se veste, Com os quais troca de nome, Mas não se comove, Não derrama uma lágrima, Não reserva em seu coração espaço para qualquer lástima, Passa a ser a Ariadne de Teseu, Um amor que a esqueceu, E a largou num labirinto, Cuja saída conhece por instinto, Jogando fora o novelo de linho, Porque traçou um novo caminho, Do qual ela nunca mais voltará, E nenhuma saudade se lamentará, Nenhum traje velho lhe será necessário, Nenhum farrapo novo lhe será precário, Nenhum elegante vestido negro cobrirá sua  cinta-liga, Nenhuma blusa chique cobrirá sua desnuda barriga, Apenas uma curta veste vermelha, Apenas um batom que lhe assemelha, Nenhuma recordação lhe trará tristeza, Nenhuma inovação lhe trará alegria, Nenhum novo passo lhe dará qualquer certeza, O que vier de sua nova jornada será vivido a cada dia, Todas as viagens pelo mundo serão guardadas  entre seus seios, Nenhuma pessoa que conheceu no mundo afetará seus anseios, Todos os ódios jazerão sob seus pés, Todas suas expectativas sofrearão um revés, Se lhe sobrar algum amor terá que esperar por uma nova vida, Se lhe sobrar alguma dor terá que esperar por uma verdadeira amiga, Porque romperá com o passado, E nada do que fez e foi será lembrado.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

SOLIDÃO E SOLITUDE

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Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Minha fiel companheira, Trouxeste-me às fileiras da humanidade, E comigo pretendes ficar minha existência inteira, Fazendo-me viver por minha individualidade, E morrer-me do mundo desacompanhado, Aguçando-me saber o que há do outro lado, Vida, morte, solidão ou solitude, Separação ou encontro com a divindade, Desconexão inanimada ou união por vicissitude, Ciclo incompleto ou clímax de minha superioridade, Minha leal camarada, Assediaste minha alma todo esse tempo, E a tua tencionas deixar sempre escancarada, Impedindo-me de ter qualquer sentimento, E de desprover-me da falta de esperança, Afligindo-me encontrar alguma segurança, No abandono, na inutilidade, no medo ou na rejeição, Ensimesmado nos pensamentos ou solitário na multidão, No vazio existencial ou na angústia conscientizada, No preço pela liberdade ou na escora sociabilizada, Minha inseparável amiga, Distinguiste-me dos outros através de um segredo, E planejas manter-me cercado de um enigma, Impelindo-me a sucessivas recaídas tão cedo, E à falta de coesão de minha personalidade individual, Confiando-me a uma diferenciação grupal, Nos divãs, nas muletas, nos recreios e escudos resguardados, Mar aberto para os fortes e porto protetor para os naufragados, Albergues para os desventurados e terra prometida para os corajosos, Odisseia sem destino para os órfãos e o seio da família para os medrosos, Minha eterna parceira de andor, Desafiaste minha autonomia pessoal como uma presunção fantasiosa, E esperas deixar-me identificado com o mundo exterior, Torcendo para que eu estreite meus horizontes e me desvie da minha meta gloriosa, E pavoneie-me com o mérito de uma covardia, Desintegrando minha multiplicidade e minhas ações homogêneas e em harmonia, Eu mesmo sei resolver uma situação litigiosa de obrigações contraditórias e inadiáveis, Possuo uma consciência elevada de minhas responsabilidades intransferíveis, Sou fiador perante mim de uma acusação impiedosa e de uma defesa obstinada e sem demora, Sou réu, promotor, juiz, jurado e a decisão será tomada a portas fechadas e você está fora.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

IRMÃS

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

De seus pensamentos imagino que, Para que eu me torne tão bem morigerada, Nossa mãe cria juntamente a seus peitos todas as criaturas, Filhas do mesmo universo, Todas colaças, Geradas e sustentadas na resolução fraterna que depende só da vontade, E semelhança de intencionalidade consciente, Os tempos cronológicos com seus espaços tão distanciados, Perdem a razão de ser ante a intemporalidade e a transespacialidade de nossas existências, Que nos aproximam por minha intensa vibração interior, De quem se sente inferior, E que precisa que suas dores terebrantes sejam tomadas por irmãs de discreta superioridade, Guardem, Pois, Em suas casas vedadas ao meu mundo, E de vossas boas mentes, Minhas desavisadas preces, Que deveriam agradecer ao invés de suplicar, Aqui os pobres e míseros guardam seus lugares santos, E ali gente que abandonei, E mais além gente que nem sei, E acolá vossa abençoada empatia acolhe com simpatia todas as tristezas sem excessiva comiseração.


domingo, 19 de janeiro de 2025

UM DIA VISTO À NOITE


 Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98


Ela foi levada pelo amor, Pela janela, A porta estava trancada, E a chave torta, Foi tudo embora, Mundo afora, Casa e esperança, De onde sai tanta gente com tanta lembrança? Que aqui tem a vida estancada, Indiferente e ensimesmada, Perdida na realidade, Em busca de verdade que não existe, Só ela insiste, Nada houve em Roswell, O desastrado caído do céu, Só eu sei que ele pode ser turista e tão bom quanto um samaritano, Quanto eu um sonhador Joyceano, Shakespeariano, E já agora perco o fio da meada, Sobre o que falava, Aquela paixão arrastada pela esteira rolante da matéria da escuridão, Até o final da luz, Onde ficamos todos nús, Acabados, Tristes, E a felicidade andando de lado, O meu medo avançado, Estica meu dedo para ser tocado, Como se nossa existência fosse mágica, A morte esquecida em sua inexorabilidade, Trágica na sua previsibilidade, E como diz aquele homem, Toda essa gente solitária, De onde elas vêm? De onde elas são? E como disse aquele outro homem, Sabemos como é estar morto, E se sente como se nunca tivesse nascido, Isto é muito parecido com tudo que penso à noite, Com o açoite da depressão, O americano exilado na Rússia, Adaptado à solidão, O mentalista que encontra nomes que o inconsciente desconhece, Isso me adormece, Até quando o dia me amanhece, E sigo doente, Como dor de dente em todos os ossos do corpo, Nascido torto, E assim partirei, Esperando encontrar a fenestra que me dei largada aberta, E o amor que me tirei trazido de volta, Como um pedaço de coisa preso ao rodopio do vento, Dançando arisco e lento, Neste mundo fantástico, De tanta beleza, Fico estático, Com tanta riqueza, Não me aguento, Não levo jeito, Só tento.   

   

sábado, 18 de janeiro de 2025

QUIASMO RIMADO


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

A Estive no Vale da Amoreira e soube do crime proibido de se comentar
B Fui à casa da Cândida, conheci sua mãe e sua avó que gostam de conversar
C Estive na Galileia, vi Jesus e a rainha da Inglaterra
D Lady Jane levou-me ao convento na idade média onde minha amada se aferra
E Estive no consultório da Lilian para socorrer uma vida que estava por um fio
F Voei até Nimes nublada e acinzentada sobre a baixada Fluminense no Rio
G Encontrei-me com a civilização dos ursos humanos de diferentes ideologias
H Falei com meu pai pela última vez amarrado a uma cama e cheio de agonias
I Pediram-me para explicar a espada de Dâmocles que afeta dois casais
J Sai voando pela janela até a casa de meus pais
K Segui voando pelas ruas e atravessei a porta de cultos espirituais
L Voltei à Galileia e invadi a área reservada à crucificação
L Ali morri com uma lança romana cravando-me no chão
K Encontrei Dona Ana sentada trabalhando desde tempos imemoriais
J Só duas jovens freiras morenas reconheceram-me na minha invisibilidade
I Li no jornal que a insegurança do poder paira sobre nossa infidelidade
H Reencontrei meu pai num hospital na cidade de Campo de Marte que não tem mar
G Encontrei-me com os humanos do futuro que são todos gêmeos e falam bem devagar
F Visitei a Nimes romana no sul do território francês
E Trouxe de volta o rebelde e quase suicida japonês
D O amor de minha vida virou freira e trocou-me por Deus
C Fui levado ao Himalaia para ver o homem das neves lá do alto acenar adeus
B Na casa da minha amiga, o cão vivo é manso, mas o morto era bravo e ladrou
A Descobri quem matou, quem morreu e quem escapou