Chorou o universo quando acabou
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
RENOVAÇÃO
Chorou o universo quando acabou
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
ADEUS
Eu me preparava par ser jornalista. Prevenia
minha namorada para que, quando casados, ela se acostumasse com minhas
constantes ausências. Queria ser um correspondente internacional. Algumas
poucas ciências exatas se colocavam no meu caminho. Então, por medo de
enfrentá-las e para evitá-las, optei por outra humana na qual a exatidão
exercia um papel bem menor. Comecei a estudar inglês sem saber porquê. Dei
aulas em todas estas escolas particulares vagabundas que existem até hoje. Não
desisti de ser repórter no exterior e de outra profissão que exigisse o domínio
de idioma estrangeiro. Prestei muitos concursos e passei em vários, mas na hora
de assumir o cargo fui sacaneado por diretores que deram minha vaga a parentes.
Os que mais gosto de lembrar são o Museu da Casa Brasileira onde eu seria
Monitor Cultural. Vai aqui um desconto para o Museu porque ele pertence ao
estado e todo estado brasileiro contraiu o câncer da corrupção e da bandidagem.
A empresa sueca Sandvik. Esta foi esquecida porque dei o troco noutra sueca. A
gigante canadense Alcan. Foi difícil encontrar outra canadense tão grande para
uma desforra do mesmo tamanho. Então precisei juntar algumas canadenses
menores. O Bradesco. Levar o Bradesco a sério é o mesmo que pensar que temos
governo neste país. Pausa para cantar
Passando por caminhos cortados, Por terrenos
baldios encantados, Encontrei tesouros desenterrados, E emoldurei-os em todos
os meus sonhos já sonhados, Fazendo amor com todos com quem me apaixonei, Todos
que desejei, Descobri sentimentos que jamais imaginei, E depurei-os todos para
a única pessoa que amarei, Ausentando-me dos tempos de ingenuidade, Dos tempos
de maldade, Encontrei o ideal de felicidade, E completei-o com poesia e
musicalidade, Cultivando amizade com todos que passaram pela minha vida, Pela minha
lida, Descobri meu despreparo para uma partida, E enterrei-o numa irrevogável e
triste despedida.
Até que um professor da faculdade de inglês
que pensei que me odiasse me arrumou um emprego no Senac. Fiz as contas de
quanto ganharia se eu desse aulas nos três turnos. Era muito pouco para minha
ambição. Uma colega de classe que conhecia muito bem minha ganância me deu dois
presentes: o livro Fernão Capelo Gaivota, e um emprego na Brastex, empresa de
comércio exterior, onde ela trabalhava de secretaria. Minha insegurança era
notória, capaz de se defender com falsidade, traição e covardia. Não me
aguentava sozinho. Precisava de ajuda de fora para encobrir minha
incompetência, e de dentro para fazer companhia à minha carência. Quem passou
por mim saiu decepcionado. Comecei a sonhar acordado e viajar pelas estrelas.
Queria ser astrônomo, talvez após ter lido o livro Alfa Centauro de Isaac
Asimov, ou depois de saber do início do projeto SETI, já não me lembro. Esqueci
que nada entendia de física. Prossegui delirando. Serei um estatístico (e a
matemática?). Poderia trabalhar no Ibope ou no DataFolha. A ideia veio de meu
fascínio pelo jogo de xadrez, minha obsessão por dominar a manjada abertura Rui
Lopes com as brancas e a difícil defesa Siciliana com as pretas. Até que eu não
era tão ruim no que fazia. Recebi um convite para ser gerente noutra cidade.
Mas sair de São Paulo nem pensar. Mais uma pausa para cantar:
Passando por caminhos cortados, Por terrenos
baldios encantados, Encontrei tesouros desenterrados, E emoldurei-os em todos
os meus sonhos já sonhados, Fazendo amor com todos com quem me apaixonei, Todos
que desejei, Descobri sentimentos que jamais imaginei, E depurei-os todos para
a única pessoa que amarei, Ausentando-me dos tempos de ingenuidade, Dos tempos
de maldade, Encontrei o ideal de felicidade, E completei-o com poesia e
musicalidade, Cultivando amizade com todos que passaram pela minha vida, Pela
minha lida, Descobri meu despreparo para uma partida, E enterrei-o numa
irrevogável e triste despedida.
Estudei Administração de Empesas da mesma PUCSP onde fiz faculdade de Inglês. Abracei a carreira de comércio exterior. Erro fatal. Não há lugar para gente honesta neste país para esta profissão (na verdade, para todas). Dei muitas cabeçadas, como empregado em 10 anos, e como autônomo em 30 anos. Não se assustem! Sou velho, mas não tanto. Tenho 63, mas dentro deste corpo há uma jovem alma estudiosa, cheia de ideias, obstinada, que ainda tem um pouquinho de paciência com gente burra, Que gosta de ir às casas de shows em Londres para ouvir bandas de promissores garotos de 18 anos que sonham um dia ser um U2, um Oasis, um Radiohead, um Coldplay, Que senta num bar de calçada na Oxford Street só para curtir o vaivém do mulheril estonteante, vestido com excentricidade e psicodelismo, esbanjando charme, Que compra roupas paquistanesas, uma calça comprida, uma túnica que vai até o meio da canela e um echarpe que serve de turbante, mas não nas horríveis cores masculinas, branco, preto, cor de chumbo, cor de merda e de burro quando foge, mas nas cores femininas, combinação de bordô com salmão e o echarpe usado como echarpe mesmo, em volta do pescoço. Entrei numa multinacional japonesa aqui em São Paulo assim vestido e todos se escandalizaram. Os japas passaram de amarelo para branco marmóreo, em estado de livor mortis. Se eu contabilizar todas as vezes que fui sacaneado e sacaneei dá um empate técnico. No final, estou onde comecei: trabalhando 3 turnos e ganhando muito menos que minha ambição. Última pausa para cantar e ouvir a música que está rolando, muito melhor que esta conversa:
Oh, I vow that it's goodbye
Oh, I vow that it's goodbye and God bless
Why did we have to assume
We're exactly the same?
Oh, no, no, talking about yourself, self, self
[Verse 2]
Oh, I vow that it's goodbye to the old ways
Those stories were a good read
They were dumb as well
I could never be seen
Falling down on my knees, crawling
Oh, no, no, talk about a sell, sell, sell
[Interlude]
It's unfair
It's unfair
It's unfair
[Bridge]
Oh, as the heavens shudder baby
I belong to you
Oh, they said you get what you deserve
And all they said was true
[Outro]
So, is this what it's come to?
Am I cold or just a little bit warm?
Oh, well
Just give me an easy life and a peaceful death
Yeah, yeah
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
DESPEDIDA DE UMA ABDUZIDA PELAS DYNAS
Chegou a hora das gêmeas tomarem nosso lugar, Chegou a hora de darmos lugar aos sonhos, Chegou a hora dos sonhos tomarem o lugar de nossas vidas,
As vozes ciciosas dos etéreos, prontos para partir, solenizam:
Glória à Dinastia, Glória ao Éter,
Chegou a hora das gêmeas fecundarem nosso lar, Chegou a hora de nos juntarmos à matriz das hibernadas, Chegou a hora da soberana Dinastia se multiplicar,
Todos os etéreos partem comigo a um só tempo,
Vida Linda, Vida Linda, Quantas lembranças guardarei de você, Vida Linda, Vida Linda, Quantos prantos levarei de você, Vida Linda, Vida Linda, Quantas esperanças herdadas de você, Vida Linda, Vida Linda, Quantos encantos sortílegos de você,
Gêmeas Lindas, Gêmeas Lindas, Quantos cultos se antepuseram a todos os afetos por vocês, Gêmeas Lindas, Gêmeas Lindas, Quantos gabos em circunstâncias felizes deram graças por vocês, Gêmeas Lindas, Gêmeas Lindas, Quão vultos sãos os anseios por vocês, Gêmeas Lindas, Gêmeas Lindas, Quão flechados os amores por vocês.
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
EPÍSTOLA ÀS LÉSBIAS E AOS MILÉSIOS
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
A TREASURE HIDDEN IN HEAVEN
domingo, 23 de fevereiro de 2025
AQUA VELVA
I´M GONNA GET YA ANYWAY!
sábado, 22 de fevereiro de 2025
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
UMA NOITE NO PELICANO
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
AQUELA QUE VEM COM A MARÉ
Água calma, espraiada ao sabor da cor do céu
brigadeiro, do mar profundo em dia translúcido, espelha a esmeralda das
encostas, a safira do firmamento límpido, o dourado do sol alto, o arco-íris da
bonança, dando reflexos multicoloridos à vida submersa, à que brota na
superfície, à que se ergue às alturas, à que prolifera neste paraíso, e teu
silêncio é rompido pelo distante espocar de nuvens esparsas que se uniram para
gotejar, cada pingo rufando silencioso, águas do empíreo com as águas da terra,
espargindo o doce sobre a graça, o espírito e a vivacidade, em harmonia e
comunhão, cada um deixando-se tocar e se penetrar, aumentando e diminuindo o
volume, orquestrando o entorno revezado e concomitante, miúdo e torrencial,
abrandando com o vento austero que arregaça as ondas, rugindo com grandiosidade
e elegância, donas do mundo que enfrentam a lua e por ela não recuam, mas se
impõem e aquietam-se quando lhes apraz, então surgem seus contornos graciosos,
de expressão severa e bela, para experimentar os ares do continente a
desfraldarem seus cabelos, caminhar pelos prados verdejantes a encantarem-se
com seus movimentos, pelas ribeiras sombrias a revelarem seus mistérios, pelos
bosques passarinhados a juntarem-se ao seu canto, e a ele também me junto para
cantar-lhe uma canção de amor impossível, mas esperançoso, entre o meu mundo e
o seu, entre a terra e o mar, o mito e a realidade, cercado de enigmas que só o
coração pode desvendar, de simplicidade que você é capaz de entender, de paixão
que você é capaz de sentir, que vem de um lugar antigo que traz saudade, que
tem águas transportando casais enamorados por entre as edificações, que nos
convida a valsar, a relembrar os tempos de cavalheirismo, e como é lindo vê-la
embalar-se ao som envolvente, descontrair seus lábios carnudos e descerrar um
largo sorriso, rodopiar e rodar sua saia alegremente ainda que por poucos
segundos, e como é sublime e lastimoso vê-la valer-se deste instante de
felicidade para abrir sua voz e entoar sua despedida.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
PLANETA CHUPÃO
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
A RODA DE CATARINA
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
ESCOLHIDA
domingo, 16 de fevereiro de 2025
GRAVIDADE
Na presença majestosa daquela
mulher que se impunha pelo silêncio do coração, Tão imaterial, Passando com uma
lentidão de sonho, E uma paz de espírito quase incapaz de se desacreditar,
Veio-me à mente, Um amor amordaçado em minha alma por tudo que há de mais
deprimente, Memórias que minha sensibilidade feminina ainda consente, Uma humanidade que nunca se ausentou de nossa
vida, Nunca esqueceu da gente, Como a guerreira santa que com ambas mãos de
anéis abalou e rompeu as armas mais destemperadas do terror. O olhar meio
perdido, Meio conformado, Daquela que jamais saberei se por ela fui perdoado,
Aquela que expôs o corpo à sensualidade em prol da virtude de se esquecer de
quem se tanto amou, E que não poderia ter sido esquecido, E que nenhuma lágrima
cairá sobre o sepulcro onde jazer, A mulher que perdeu o afeto de todos que
conheceu, E nem de longe os seus adeuses serão trocados com os olhos e acenos,
Aquela que pergunta, Com uma fleuma britânica, Como isso pode ser, Sem se
surpreender, Não preciso ver seu rosto, Porque em você não há nada de
assustador e misterioso, Há quem sinta a gravidade caindo, Nos levando para
casa, Subindo e vendo estrelas colidindo, Para saber de onde viemos, Há quem
pense nas lembranças esquecidas de uma mulher que acredita que você um dia já
foi, Até quem note os nítidos detalhes de seus sapatos, E ainda os ouve como
moedas a tilintar, Te vejo como reflexo da composição de um artista, Vejo você
evocar e recriar uma atmosfera livre, Um desígnio singular que te define, Uma
cintilação suave, Incerta e fina, Que bruxuleia incolor e sozinha, Indo de um
puro rio a uma opaca névoa, Ainda não desfeita do sol nascido, Criando a ilusão
de um ser desaparecendo no ar rarefeito, Uma ninfa etérea e real, Atraída pela
gravidade sem peso, Flutuando em direção a uma luz que se acende mim.
sábado, 15 de fevereiro de 2025
SOU MÚSICA
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025
AS CEREJAS DO BOLO
SÓ VOCÊ