sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

RENOVAÇÃO


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Chorou o universo quando acabou
Seu pranto ecoou no infinito
Encontrou-se com seu rugido de nascença
Consolaram-se os dois
Criaram um novo canto
Amálgama da concepção
Com o remanescente do nada
Aos poucos se distanciaram
Por quase uma eternidade
Um a emudecer
Outro a soluçar
O vazio confessou seu pesar
Pelo fim inexorável e esperado
Enlutou por quase uma perpetuidade
Até chegar a hora de voltar a obrar
Juntou todos os invisíveis do umbral
Deu-lhe um casulo protetor
Inflou-o até explodir
O berro sibilante do recém-nascido
Abafou os últimos sussurros de seu antecessor
Acordou toda a escuridão
Ofuscou-lhe os olhos com um clarão


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

ADEUS

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Escrito em 2015

Eu me preparava par ser jornalista. Prevenia minha namorada para que, quando casados, ela se acostumasse com minhas constantes ausências. Queria ser um correspondente internacional. Algumas poucas ciências exatas se colocavam no meu caminho. Então, por medo de enfrentá-las e para evitá-las, optei por outra humana na qual a exatidão exercia um papel bem menor. Comecei a estudar inglês sem saber porquê. Dei aulas em todas estas escolas particulares vagabundas que existem até hoje. Não desisti de ser repórter no exterior e de outra profissão que exigisse o domínio de idioma estrangeiro. Prestei muitos concursos e passei em vários, mas na hora de assumir o cargo fui sacaneado por diretores que deram minha vaga a parentes. Os que mais gosto de lembrar são o Museu da Casa Brasileira onde eu seria Monitor Cultural. Vai aqui um desconto para o Museu porque ele pertence ao estado e todo estado brasileiro contraiu o câncer da corrupção e da bandidagem. A empresa sueca Sandvik. Esta foi esquecida porque dei o troco noutra sueca. A gigante canadense Alcan. Foi difícil encontrar outra canadense tão grande para uma desforra do mesmo tamanho. Então precisei juntar algumas canadenses menores. O Bradesco. Levar o Bradesco a sério é o mesmo que pensar que temos governo neste país. Pausa para cantar

 

Passando por caminhos cortados, Por terrenos baldios encantados, Encontrei tesouros desenterrados, E emoldurei-os em todos os meus sonhos já sonhados, Fazendo amor com todos com quem me apaixonei, Todos que desejei, Descobri sentimentos que jamais imaginei, E depurei-os todos para a única pessoa que amarei, Ausentando-me dos tempos de ingenuidade, Dos tempos de maldade, Encontrei o ideal de felicidade, E completei-o com poesia e musicalidade, Cultivando amizade com todos que passaram pela minha vida, Pela minha lida, Descobri meu despreparo para uma partida, E enterrei-o numa irrevogável e triste despedida.

 

Até que um professor da faculdade de inglês que pensei que me odiasse me arrumou um emprego no Senac. Fiz as contas de quanto ganharia se eu desse aulas nos três turnos. Era muito pouco para minha ambição. Uma colega de classe que conhecia muito bem minha ganância me deu dois presentes: o livro Fernão Capelo Gaivota, e um emprego na Brastex, empresa de comércio exterior, onde ela trabalhava de secretaria. Minha insegurança era notória, capaz de se defender com falsidade, traição e covardia. Não me aguentava sozinho. Precisava de ajuda de fora para encobrir minha incompetência, e de dentro para fazer companhia à minha carência. Quem passou por mim saiu decepcionado. Comecei a sonhar acordado e viajar pelas estrelas. Queria ser astrônomo, talvez após ter lido o livro Alfa Centauro de Isaac Asimov, ou depois de saber do início do projeto SETI, já não me lembro. Esqueci que nada entendia de física. Prossegui delirando. Serei um estatístico (e a matemática?). Poderia trabalhar no Ibope ou no DataFolha. A ideia veio de meu fascínio pelo jogo de xadrez, minha obsessão por dominar a manjada abertura Rui Lopes com as brancas e a difícil defesa Siciliana com as pretas. Até que eu não era tão ruim no que fazia. Recebi um convite para ser gerente noutra cidade. Mas sair de São Paulo nem pensar. Mais uma pausa para cantar:

 

Passando por caminhos cortados, Por terrenos baldios encantados, Encontrei tesouros desenterrados, E emoldurei-os em todos os meus sonhos já sonhados, Fazendo amor com todos com quem me apaixonei, Todos que desejei, Descobri sentimentos que jamais imaginei, E depurei-os todos para a única pessoa que amarei, Ausentando-me dos tempos de ingenuidade, Dos tempos de maldade, Encontrei o ideal de felicidade, E completei-o com poesia e musicalidade, Cultivando amizade com todos que passaram pela minha vida, Pela minha lida, Descobri meu despreparo para uma partida, E enterrei-o numa irrevogável e triste despedida.

 

Estudei Administração de Empesas da mesma PUCSP onde fiz faculdade de Inglês. Abracei a carreira de comércio exterior. Erro fatal. Não há lugar para gente honesta neste país para esta profissão (na verdade, para todas). Dei muitas cabeçadas, como empregado em 10 anos, e como autônomo em 30 anos. Não se assustem! Sou velho, mas não tanto. Tenho 63, mas dentro deste corpo há uma jovem alma estudiosa, cheia de ideias, obstinada, que ainda tem um pouquinho de paciência com gente burra, Que gosta de ir às casas de shows em Londres para ouvir bandas de promissores garotos de 18 anos que sonham um dia ser um U2, um Oasis, um Radiohead, um Coldplay, Que senta num bar de calçada na Oxford Street só para curtir o vaivém do mulheril estonteante, vestido com excentricidade e psicodelismo, esbanjando charme, Que compra roupas paquistanesas, uma calça comprida, uma túnica que vai até o meio da canela e um echarpe que serve de turbante, mas não nas horríveis cores masculinas, branco, preto, cor de chumbo, cor de merda e de burro quando foge, mas nas cores femininas, combinação de bordô com salmão e o echarpe usado como echarpe mesmo, em volta do pescoço. Entrei numa multinacional japonesa aqui em São Paulo assim vestido e todos se escandalizaram. Os japas passaram de amarelo para branco marmóreo, em estado de livor mortis. Se eu contabilizar todas as vezes que fui sacaneado e sacaneei dá um empate técnico. No final, estou onde comecei: trabalhando 3 turnos e ganhando muito menos que minha ambição. Última pausa para cantar e ouvir a música que está rolando, muito melhor que esta conversa: 

[Verse 1]

Oh, I vow that it's goodbye

Oh, I vow that it's goodbye and God bless

Why did we have to assume

We're exactly the same?

Oh, no, no, talking about yourself, self, self

[Verse 2]

Oh, I vow that it's goodbye to the old ways

Those stories were a good read

They were dumb as well

I could never be seen

Falling down on my knees, crawling

Oh, no, no, talk about a sell, sell, sell

[Interlude]

It's unfair

It's unfair

It's unfair

[Bridge]

Oh, as the heavens shudder baby

I belong to you

Oh, they said you get what you deserve

And all they said was true

[Outro]

So, is this what it's come to?

Am I cold or just a little bit warm?

Oh, well

Just give me an easy life and a peaceful death

Yeah, yeah

 


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

DESPEDIDA DE UMA ABDUZIDA PELAS DYNAS


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 








O céu abre-se e solta um magnificente estrépito de tempos imemoriais, Todos os etéreos entoam um canto unissonante que vai além dos limites da audição dos cães,

Chegou a hora das gêmeas tomarem nosso lugar, Chegou a hora de darmos lugar aos sonhos, Chegou a hora dos sonhos tomarem o lugar de nossas vidas, 
Chegou a hora de nossas vidas darem lugar à Dinastia,

As vozes ciciosas dos etéreos, prontos para partir, solenizam: 

Glória à Dinastia, Glória ao Éter,

Chegou a hora das gêmeas fecundarem nosso lar, Chegou a hora de nos juntarmos à matriz das hibernadas, Chegou a hora da soberana Dinastia  se multiplicar, 
Chegou a hora das Dynas sonharem por toda a humanidade,

Todos os etéreos partem comigo
 a um só tempo,

Vida Linda, Vida Linda, Quantas lembranças guardarei de você, Vida Linda, Vida Linda, Quantos prantos levarei de você, Vida Linda, Vida Linda, Quantas esperanças herdadas de você, Vida Linda, Vida Linda, Quantos encantos sortílegos de você,

Nossas irmãs viverão e sonharão em nosso lugar, Suas vidas um dia nos consolarão, E nunca mais desejaremos voltar, As gêmeas sonharão em nosso lugar, Chegou a hora dos sonhos tomarem o lugar de nossas vidas, E nunca mais desejaremos dormir e acordar, Chegou a hora de nossas vidas darem lugar às gêmeas, E nunca mais desejaremos voltar,

Sonhos Lindos, Sonhos Lindos, Quantas realidades tornaram-se vocês, Sonhos Lindos, Sonhos Lindos, Quantas revelações fizeram-se vocês, Sonhos Lindos, Sonhos Lindos, Quantas saudades rebenqueadas de vocês, Sonhos Lindos, Sonhos Lindos, Quantas intuições tiradas de vocês,

Nossas irmãs viverão e sonharão em nosso lugar, E nunca deixarão de nos amar, As gêmeas sonharão em nosso lugar, Seus sonhos nos consolarão, Chegou a hora das gêmeas tomarem nosso lugar, Chegou a hora de tomarmos o lugar dos sonhos, Chegou a hora dos sonhos tomarem o lugar de nossas vidas, 
Chegou a hora de nossas vidas darem lugar às gêmeas,

Gêmeas Lindas, Gêmeas Lindas, Quantos cultos se antepuseram a todos os afetos por vocês, Gêmeas Lindas, Gêmeas Lindas, Quantos gabos em circunstâncias felizes deram graças por vocês, Gêmeas Lindas, Gêmeas Lindas, Quão vultos sãos os anseios por vocês, Gêmeas Lindas, Gêmeas Lindas, Quão flechados os amores por vocês.

As gêmeas sonharão em nosso lugar, Seus sonhos nos consolarão, E nunca mais desejaremos acordar, As gêmeas sonharão em nosso lugar, Chegou a hora dos sonhos tomarem o lugar de nossas vidas, E nunca mais desejaremos acordar, Chegou a hora de nossas vidas darem lugar às gêmeas, E nunca mais desejaremos acordar,


Lugar Lindo, Lugar Lindo, Quão profundos são os caminhos trilhados por vocês, Lugar Lindo, Lugar Lindo, Quão desmedidas as proporções em vocês, Lugar Lindo, Lugar Lindo, Quantos mundos encontram-se em vocês, Lugar Lindo, Lugar Lindo, Quantas vidas nossas e de outrem vivendo de vocês.




terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

EPÍSTOLA ÀS LÉSBIAS E AOS MILÉSIOS

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98


Ela é feia e de baixa estatura como ele, e quando feios e baixos se multiplicam tornam-se depravados e turbulentos, e quando nos vemos frente a frente com depravados e turbulentos chamejamos avisos rubros, porque eles vestem roupa cargo sem nada rubro por baixo e poderiam ser Safo ou ninguém, Alceu como eu, porque sem máscaras poucos conseguem ser alguém. E elas socializam com os maridos como se quisessem provar que não se separarão, e eles são gárgulas encharcados de vodka e cerveja, levando a vida conjugal em banho-maria, fazendo amor em salmoura, e ninguém sabe se eles têm sido mais falsos fora do vidro de condimento do que dentro, e poderiam ser Zen ou ninguém, Maria como judia, porque sem máscaras eles não conseguem ser alguém. E ela é beata tanto quanto ele delira, e quando beatos e delirantes se juntam tornam-se requisitados e endeusados, e quando contrariamos os desígnios dos requisitados e endeusados eles correm de burro quando foge, porque vestimos camiseta gola de padre com colete ultrajante por cima e poderíamos ser Mara ou outrem, Alfredo como remedo, porque sem bengalas não chegamos até ninguém. E ela é famosa e homem como ele, e quando famosos e másculos se exilam tornam-se suicidas e combatentes, e quando estamos frente a frente com suicidas e combatentes chamejamos avisos amarelos, porque eles se travestem de fervor sem continência dourada por dentro e poderiam ser lírico ou ninguém, político como poético, porque amor e liberdade não têm porém. E elas dão ouvidos aos estranhos como se quisessem provar que eles não falharão, e eles são milongueiros soterrados em promessas e mentiras, levando uma vida em banho-joão, fazendo amor em conserva, e só Deus sabe o que eles verdadeiramente são entre quatro paredes e além delas, e poderiam ser Armando ou ninguém, Armando como ando, porque quem não usa máscaras não se detém.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

A TREASURE HIDDEN IN HEAVEN

Review written by Alceu Natali with Copyright protected by Brazilian law # 9610/98
POSTED ON WWW.AMAZON.COM ON NOVEMBER 1ST, 2007



INTRODUCTION During the last 15 years I have seen lists of the Best Albums Of All Time, published, mainly, by English and American magazines. I have tried my best but I could never listen to most of those great albums without skipping various tracks. I ask myself if it is a question of taste or prejudice. Maybe both. For instances, when I see The Beastie Boys and Eminem among the English magazine Q's 100 best albums of all time, inevitably, my dark side comes to light: I'd rather see those rappers and hip hoppers murdering the ears of music lovers than murdering people in the streets. Here goes another example: the absence of The Who's album My Generation among the 100 best of that magazine makes me wonder whether these magazines reviewers really listen to music at all. In my country, people say that taste is something that cannot be disputed, but the other day my wife added: taste is something that cannot be disputed but to be sorry about. And she is pretty damn right because what you find and do not find in those lists is something to be awfully sorry about. For someone like me, who loves british pop music, it is impossible to take seriously any list of the best albums of all time that is not topped by Beatles' albums. The Rolling Stone magazine Greatest Albums of All Time have some respect for The Beatles and included 8 albums of theirs among the 100 greatest, however among their 500 greatest you will not find such a precious stone like Heaven Or Las Vegas but you meet face to face with those music murderers I mentioned above and also a lot of albums that are not good enough to be part of the 100,000 greatest of all time. Lest the new generations think I am just a dinosaur of the 60's, I anticipate that I am not the kind of guy who spends hours listening to the complete collections of the greatest bands of the golden decade. I love rock and pop music from all decades. As a matter of fact, I have more CDs from the last two decades than from the 60's, 70's, 80's, 90's and the new millenium's. Nowadays, with the invention of the MP3, people do not need anymore to buy a whole album only because of a few good songs. The music lovers can download from internet only the songs that they like and that means that within a couple of years or so there will be no more CDs for sale. Then, instead of a collection of CDs on his/her shelves, the music lover will have an anthology of songs in his/her iPOD. And I wonder if we are going back to the 60's when only singles were bought while an album was a luxury, something to be bought only as a Christmas gift, or just a tricky marketing strategy to make some extra money on a couple of hits repacked together with a bunch of disposable fillers. As you may remember or not, it was The Beatles with their unmatched talents who made albums become a new form of art and be taken seriously by the media and the public. Anyway, I am already familiar with the iPOD but I am not the kind of anthological guy. Lately, I started prospecting what I call great albums, but great for me is not an album made only of classics in all tracks, or an habitue of radio's hit parades and famous magazines' lists. Furthermore, there is no perfect album. Great for me is a damn good album, from the very first track to the last one. That album that you listen to all the way without skipping a track and without wishing a certain track reaches its end soon because your favorite one comes next. I have prospected many of those types of albums but you will not see most of my greatest in those famous and respectable lists made by journalists as mediocre as music reviewers as I am as an artist or a writer. If you ask me about my prospecting criteria, all I can tell you is that those who have good ears for music do not need more than 30 seconds of each track of an album to know whether it is great or not. That's what I do. When I am looking for new bands I listen to the 30 seconds of every track of their albums available at Amazon until I find my classic one. My musical sense of smell is infallible. When I listen to the entire CD that had that smell of great stemming from the 30 seconds of each one of its tracks there is no mistake about it: it is a great album! On the other hand, I already own about 1,000 CDs of different bands and among them there are various great ones. Heaven Or Las Vegas is one of them. THE TRACKS 1. Cherry-Coloured Funk is a thick and corpulent song, with instruments and vocals filling the space. It is a simple but classic melody, soft and tranquil. It progresses from low vocal notes until it reaches a peak, while the celestial chords sound all the time in the background as if they were playing in a nearby room, and the same goes for the discrete but scoring bass. 2. Pitch The Baby is faster with a more prominent and pointed bass and higher vocal notes. The heavenly atmosphere permeates the song all over. It is a forewarning of track 6 and displays a melodic progression from the first track that culminates with 3. Iceblink luck, a very beautiful pop song, in which both vocals and instruments play with intensity and devotion. Only the drums are muffled to leave room for the fight between the enchanting vocals and the gorgeous instruments for the thrilling climax to the show. 4. Fifty-Fifty Clown is a masterpiece. It has a timelessly futurist sound. Only Strawberry Fields Forever by The Beatles has a similarly complex and beautiful melodic progression. The first part is very difficult to be sung. You cannot whistle it even after listening to it ten times in a row and that means it required a lot of talent to be invented. 5. Heaven Or Las Vegas is similar to Iceblink Luck, less intense and more rhythmical, and equally beautiful. Beth Fraser's vocals are terrific. Iceblink Luck and Heaven Or Las Vegas are Cocteau Twins' couple of their most pop songs, a pair of explosion of joy. 6. I Wear Your Ring is another masterpiece. It is a song that was waiting for someone to create it and it was up to the Cocteau Twins to do it. Beth Fraser' vocals, the bass and the rest of the instruments are amazing and trance inducing. The second and final part is pure ecstasy, one of the best moments of pop music. 7. Fotzepolitic is moved by the beauty of the previous track, celebrates its splendor and makes sure not to challenge its royalty and, at the same time, pays it a sublime homage and becomes a metaphor of that masterpiece. 8. Wolf In The Breast is a prime and a proof that, definitely, the Cocteau Twins were wounded by a Cupid arrow of excellence and made another masterpiece of a simple ballad. After six breathtaking tracks, enters 9. Road, River And Rail, a more lamenting ballad that is not deprived of any of the refinements of the previous tracks and 10. Frou-frou Foxes In Midsummer continues that lamenting for a while but ends with an explosion of vibrant and fire working sound that fills the air again, like a farewell tune adequate to the last track of a fantastic album. REMARK I met a guy who loves rock and pop music like I do and who has the same taste and prejudice I do, but one day he grinned in irony when I told him I found the Cocteau Twins great. 'Why do not you share a kitchenette with them?' asked me the same guy who declared that the Brazilian bossa nova is the greatest revolution in music of all time. Well, bossa nova is a kind of music easily found in every corner of Rio de Janeiro City or even in casinos in Las Vegas and in some boring and corny American movies but the Cocteau Twins' sound is a treasure hidden in heaven and finding it out demands as much talent as the Cocteau Twins needed to produce Heaven Or Las Vegas.

THE TRACKS

1. Cherry-Coloured Funk

2. Pitch The Baby

3. Iceblink luck

4. Fifty-Fifty Clown

5. Heaven Or Las Vegas

6. I Wear Your Ring

7. Fotzepolitic

8. Wolf In The Breast

9. Road, River And Rail

10. Frou-frou Foxes In Midsummer

domingo, 23 de fevereiro de 2025

AQUA VELVA


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Escrito em Abril de 2013

O dirigente da escola é uma assombração que sempre aparece num dia de espanto, É uma toupeira mental, Beligerante com a cidadania, Capacho quadrado da ditadura, Carrasco pós era da ajoelhação no milho, Do burro no canto frontal da sala de costas para a classe, Dado a sentar a pua naqueles que se mostram contrários às suas regras, Incentivador dos professores a colocar rebeldes num corredor polonês, Pagar irreverências com um número excessivo de abdominais, Pagar faltas com um número excessivo de páginas com a mesma lição, Com o mesmo desenho, Com os mesmos números, Que torturam, Mas não ensinam, Castigos dos quais ninguém está livre, A não ser da perseguição aos comunistas porque somos jovens demais para fazer política, Mas a efervescência da juventude causa ciúmes e afronta moral, E se vê obrigada a estudar com calças bregas e largas e cabelo americano curto, E Pete diz que esta gente lhe faz sentir diminuído com sua simples presença, Lhe faz querer morrer antes de envelhecer, Esta gente me faz sentir jubilado, Mas tenho medo da morte e esnobo-a vaticinando que chegar aos 60 já está bom demais, E com as periquitas não é diferente dentro da instituição, Mas fora dela elas são minas de 16, Passando por 26, Forradas de meia de seda goela abaixo, Regurgitando baforadas de Holywoods, Ministers e Bagulhos, Soluços de Cuba Libre e Hi-Fi, Tentadores esconderijos de sexo, Lançadoras de perfumes para cheirar, De minissaias generosas, Acompanhando-nos nos jogos e nas baladas, Mas John e Paul ficam tristes porque a menina de preto gosta de outro, E eu, como Pete, Não me importo se a minha está dançando com meus amigos, Posso sair à  luz, Deixá-la com a turma, The kids are alright, São psicodélicos, E com ela está tudo tudo azul, Nos olhos, Nos cabelos, Nas roupas, Na Aqua Velva, Por isso espero que os deuses se esqueçam da minha insolência, Como se esqueceram da de Pete, Pois já cheguei aos 66, Continuo nos 60, E quero morrer só depois de mais envelhecer, Ainda quero perder o juízo nos ônibus das 19:15, E falar como Pete falava ainda antes dos 40, Ando, Não corro, Falo manso, Não saio atirando, Nem voando, Cambaleio, Mas não choro, Te cozinho, Mas não te abuso, Apenas te olho, Mas não te escancaro, Não te canso, Te trilho, Aperto o passo, Sinto dor, Me exercito, Sem pressa, Patético, Sem musculatura, Salto, Mas não danço, Baqueio, Mas me seguro, E no fim acabo te pegando, Mina, Porque minha geração ainda não acabou, Quem é dos 60 merece ir até os 69, Até de ponta cabeça, E, Quem sabe, Os super poderosos do Supremo continuem esculachando a constituição, se distraiam e me invertam para 96!




I´M GONNA GET YA ANYWAY!



THE HEADMASTER RITUAL by THE SMITHS
[Verse 1]
Belligerent ghouls
Run Manchester schools
Spineless swines
Cemented minds
Sir leads the troops
Jealous of youth
Same old suit since 1962
He does the military two-step
Down the nape of my neck
[Chorus 1]
I want to go home
I don't want to stay
Give up education
As a bad mistake
[Verse 2]
Mid-week on the playing fields
Sir thwacks you on the knees
Knees you in the groin
Elbow in the face
Bruises bigger than dinner plates
[Chorus 2]
I want to go home
I don't want to stay
[Verse 3]
Belligerent ghouls
Run Manchester schools
Spineless bastards all
Sir leads the troops
Jealous of youth
Same old jokes since 1902
He does the military two-step
Down the nape of my neck
[Chorus 3]
I want to go home
I don't want to stay
Give up life
As a bad mistake
[Verse 4]
Please excuse me from gym
I've got this terrible cold coming on
He grabs and devours
He kicks me in the showers
Kicks me in the showers
And he grabs and devours
[Chorus 2]
I want to go home
I don't want to stay

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025







 

UMA NOITE NO PELICANO


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Cai a noite baixa e curta de verão, Sobre um mar de rosas, Azulão na escuridão, E tranquilo como um lago suíço, Com escassas luzes bruxuleantes tocando os barcos adiante no intangível horizonte, Lá pelos idos da alta idade média dos anos dourados, E eu, Sócio fóbico e fobofóbico, Sou rastejado em passos de cobra, Lenta e pegajosa, Para a pista de cimento do Pelicano, rodeada de palmeiras, De ar-livre, De muitas vestes aquarelistas, Rezo minhas rezas, Outros cantam seus cantos, E todos dançam conforme as músicas que alertam, Amor de verão não sobe a serra, A menina que me tira tem o venerado símbolo da minoridade, Seus cabelos são lindos pendões de inocência, Que a brisa beija e balança, Tem o nome da mais badalada rua da minha pauliceia desvairada, Logo torna-se minha primeira namorada, Sem jamais saber que teve um romance, A vigésima quinta hora retorna todos ao edifício Brasil, Mas a madrugada é apenas uma criança de peito, Os grown-ups, Com seus carburetos, Arrastam suas redes nas águas mornas ao relento, Eu fico para trás, Recosto minha cabeça no colo de outra cuja graça se perdeu com o tempo, Esta não tão abaixo da maioridade, Sabe embrenhar seus dedos pelas minhas madeixas,Tresnoitar, Curva seus lábios sobre os meus, Exala um misto de perfume, E de cheiro áspero de raízes e seiva, Relaxa os nervos, Adormece o cérebro, Põe seu coração à larga, Sussurra no meu ouvido um galanteio, A namoração vai escalar os oitocentos metros até o planalto de onde viemos, E depois, Depois deixamos a vida viver sua vida.



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

AQUELA QUE VEM COM A MARÉ


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/9


Água calma, espraiada ao sabor da cor do céu brigadeiro, do mar profundo em dia translúcido, espelha a esmeralda das encostas, a safira do firmamento límpido, o dourado do sol alto, o arco-íris da bonança, dando reflexos multicoloridos à vida submersa, à que brota na superfície, à que se ergue às alturas, à que prolifera neste paraíso, e teu silêncio é rompido pelo distante espocar de nuvens esparsas que se uniram para gotejar, cada pingo rufando silencioso, águas do empíreo com as águas da terra, espargindo o doce sobre a graça, o espírito e a vivacidade, em harmonia e comunhão, cada um deixando-se tocar e se penetrar, aumentando e diminuindo o volume, orquestrando o entorno revezado e concomitante, miúdo e torrencial, abrandando com o vento austero que arregaça as ondas, rugindo com grandiosidade e elegância, donas do mundo que enfrentam a lua e por ela não recuam, mas se impõem e aquietam-se quando lhes apraz, então surgem seus contornos graciosos, de expressão severa e bela, para experimentar os ares do continente a desfraldarem seus cabelos, caminhar pelos prados verdejantes a encantarem-se com seus movimentos, pelas ribeiras sombrias a revelarem seus mistérios, pelos bosques passarinhados a juntarem-se ao seu canto, e a ele também me junto para cantar-lhe uma canção de amor impossível, mas esperançoso, entre o meu mundo e o seu, entre a terra e o mar, o mito e a realidade, cercado de enigmas que só o coração pode desvendar, de simplicidade que você é capaz de entender, de paixão que você é capaz de sentir, que vem de um lugar antigo que traz saudade, que tem águas transportando casais enamorados por entre as edificações, que nos convida a valsar, a relembrar os tempos de cavalheirismo, e como é lindo vê-la embalar-se ao som envolvente, descontrair seus lábios carnudos e descerrar um largo sorriso, rodopiar e rodar sua saia alegremente ainda que por poucos segundos, e como é sublime e lastimoso vê-la valer-se deste instante de felicidade para abrir sua voz e entoar sua despedida.



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

PLANETA CHUPÃO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Dizem os beatos incorrigíveis que é nos dias em que vivemos, Não quando o sol extinguir seu combustível daqui a 5 bilhões de anos, Que sem percebermos, Corre solto o juízo final, E eu, Por causar tantos danos, Ser pecador reincidente, Devo voltar a andar de quatro novamente, Perder o intelecto para um instinto animal, Mais parece que a Dona Santa Inquisição só mudou de nome, Trocou o privilégio ocidental por um broadcasting global, De mãos dadas com a miséria e a fome, Incitando os fundamentalistas a partir para uma desforra incólume, Juntos, Todos criam um sem número de cultos, Fanatismos e mútuos insultos, Tudo para dar a medalha de Ustra ao gabinete do ódio, Enquanto a justiça sempre fica fora do pódio, Desde sua criação este planeta sempre teve religiosos matusquelas, E eu, Para não ficar de fora, Só fumo baseado da hora, E me culpam por todos os males e todas as mazelas, Desde a invenção das armas químicas e da bomba nuclear, O poder destrutivo do Homo Sapiens não o satisfaz, Ele precisa testar seus brinquedos em mulheres e crianças inocentes sem pensar, Para saber de quantos genocídios ele é capaz, A corrida espacial já começou e não demora muito para a terra levar a lua de roldão, Tomar todos os planetas internos e transformá-los em novos infernos, E levar toda sua maldade para além da órbita de Plutão, Sobra dinheiro para enviar uma nave tripulada a Marte, Sobra dinheiro para que o primeiro mundo se farte, Mas falta para que o terceiro viva só de restos, Se deus existe onde estão seus préstimos?, Nas mãos de Satanás que há muito percebeu nossa falta de noção, Ri do nosso conceito de paraíso, E investe tudo que tem em nosso prejuízo, No primitivismo e na selvageria, A morte torpe e prematura é rotina, Na modernidade e alta tecnologia, Ela é puro prazer de uma ganância predadora e assassina, Se existe planeta chupão, Já estamos nele com seu deus brasileiro, Vê se você se liga, Meu irmão, Seu país já foi sucateado pela corrupção, E toda a riqueza que você nunca teve está depositada no estrangeiro.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

A RODA DE CATARINA

Texto  de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98
O dia começa com o homem poderoso debochado, Respondendo à carta do amigo preocupado, Ele compara o inimigo ao homossexual eunuco e amante, O chama de inseguro e vacilante, Pálida e doentia coalhada de leite de asno de sua dieta, Que tece como o bicho da seda ao estilo do péssimo poeta, E pergunta quem quebra uma borboleta numa roda, Linda borboleta de maravilhosa fragilidade que não amola, Que o homem poderoso ridiculariza comparando-a àquele que usa ruge vergonhoso, Que fede, Ferroa, Zumbe e aporrinha o justo e o espirituoso, E o dia termina com a bonança perturbada, Desbotadas as cores do arco-íris, Um tudo-nada afoga o sorriso, A borboleta abre os olhos na manhã seguinte inquietada, Faz esvoaçarem no céu todos os íbis, Transforma o amanhã num paraíso, A borboleta é aquebrantada sobre uma roda, A maldade encontra seu bode expiatório, Os tudos-nadas festejam o precipitado juízo, A borboleta fecha os olhos na noite que se incomoda, Faz suas orações ultrapassarem o purgatório, Transforma todo escárnio e tortura em paraíso, A tempestade volta a cair, A carga torna-se mais pesada, E o tudo-nada mais incisivo, A borboleta se desnuda toda para sair, E voltar com a alma lavada, Transforma as intempéries num paraíso, O mundo está fora de alcance, A vida mais carregada, E o tudo-nada mais preciso, A borboleta embala o berço para que o tudo descanse, E o nada tenha sua esperança alimentada, Transforma toda mazela num paraíso.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

ESCOLHIDA

      Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


Sírio, As trilhas encruzilhadas, 
Revoluciona promessas, Esquece-as, 
Orbita, Realidades escondidas, 
O espelho que se ofusca em reflexo, 

Dos embalos dos braços da mãe, 
Até as danças com a irmã, 
De uma escolha Sofia morre metade, 
Último olhar para a filha, Qual eterno amanhã. 

Campos de centeios dobrados, 
Transladados, Rotacionados em Zeus, 
Se assopram, Menina e boneca apartadas
Em corpo e espírito: Aural, Quase Deus!


To pneuma pnei qegei


domingo, 16 de fevereiro de 2025

GRAVIDADE

 


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Na presença majestosa daquela mulher que se impunha pelo silêncio do coração, Tão imaterial, Passando com uma lentidão de sonho, E uma paz de espírito quase incapaz de se desacreditar, Veio-me à mente, Um amor amordaçado em minha alma por tudo que há de mais deprimente, Memórias que minha sensibilidade feminina ainda consente,  Uma humanidade que nunca se ausentou de nossa vida, Nunca esqueceu da gente, Como a guerreira santa que com ambas mãos de anéis abalou e rompeu as armas mais destemperadas do terror. O olhar meio perdido, Meio conformado, Daquela que jamais saberei se por ela fui perdoado, Aquela que expôs o corpo à sensualidade em prol da virtude de se esquecer de quem se tanto amou, E que não poderia ter sido esquecido, E que nenhuma lágrima cairá sobre o sepulcro onde jazer, A mulher que perdeu o afeto de todos que conheceu, E nem de longe os seus adeuses serão trocados com os olhos e acenos, Aquela que pergunta, Com uma fleuma britânica, Como isso pode ser, Sem se surpreender, Não preciso ver seu rosto, Porque em você não há nada de assustador e misterioso, Há quem sinta a gravidade caindo, Nos levando para casa, Subindo e vendo estrelas colidindo, Para saber de onde viemos, Há quem pense nas lembranças esquecidas de uma mulher que acredita que você um dia já foi, Até quem note os nítidos detalhes de seus sapatos, E ainda os ouve como moedas a tilintar, Te vejo como reflexo da composição de um artista, Vejo você evocar e recriar uma atmosfera livre, Um desígnio singular que te define, Uma cintilação suave, Incerta e fina, Que bruxuleia incolor e sozinha, Indo de um puro rio a uma opaca névoa, Ainda não desfeita do sol nascido, Criando a ilusão de um ser desaparecendo no ar rarefeito, Uma ninfa etérea e real, Atraída pela gravidade sem peso, Flutuando em direção a uma luz que se acende mim.





sábado, 15 de fevereiro de 2025

SOU MÚSICA

Texto de autoria de Aleu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Sou o dom das musas, levo a todos seus sentidos, particularmente para seus ouvidos, minha matéria-prima em agradável combinação. No curso de minha propagação pelo espaço os sons vibrarão com sua efervescência. Tiro sua alma para cair nos braços da linguagem mais eloquente, e no curso de sua eternidade pelo universo as esferas lhe acompanharão na minha cadência. Sou seu antidepressivo, tiro-lhe da fossa e lhe devolvo à vida que levava antes. Sou sua heroína, elevo seu astral até onde Lúcia flutua com seus diamantes. Acompanho-te desde criança e agora você faz sexo com a dança. E eu te marco com sua melhor lembrança. Sem mim a vida seria um erro, sem você um mundo irracional. Quando te julgam insano os que te veem dançando é porque não me ouvem. Quando você me canta com alegria e por amor está sempre acima do bem e do mal. Sou sua exorcista. Liberto seus demônios interiores. Sou sua extroversão. Liberto seus recalques e seus temores. Sou a soltura de sua franga, Mesmo que você seja heterossexual, por alguns minutos faço você esquecer seu gênero, como os incontáveis que me tornam universal. Sou sua manifestação corporal, Seu relaxamento mental, sua descarga emocional, sua integração social, seu êxtase total. Sou o alimento de seu espírito, todas as embriaguezes, assim as mundas como as imundas conduzem ao nirvana, todos seus rótulos em esprit de corps. Sou a mais divina expressão da arte humana.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

AS CEREJAS DO BOLO

Texto  de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 



MEU TIPO DE MULHER

O que você espera, Penélope Charmosa? Ela finge que não quer, Que não gosta, Querendo, Gostando, Seu Imperador Romano que viria em 700 anos já foi largado nos tempos pretéritos de outros homens, como livros que nunca foram lidos, Ela decide consultar os oráculos. É recebida, Mesmo sendo consulente mulher, Sem pagar taxa, E ainda ganha o direito de pomancia, Sem ter que pagar sobretaxa, O que você espera encontrar, Penélope Charmosa? Um vilão como Tião Gavião sem ter uma quadrilha da morte para te proteger? A pitonisa profetisa: Você é uma guerreira que luta sozinha, Mas quem agora comandará sua boleia não é pessoa conhecida de sua Esparta, Que sim outro vindouro de Ítaca, por nome Odisseu. Penélope oferece um sacrifício aos deuses: suas imagens ao estrategista do cavalo de madeira, Algumas despidas de quaisquer pluviais solenes, Suas curvas deformam o olhar do pretendente escolhido, A beleza de seu semblante diminui Helena de Troia, Seu caráter e conduta nem se fala, Odisseu retribui a oferenda com odes à la Alceu de Mitilene: Aqui vejo minha bela, Sentada num cais de mármore, Serena como águas de rosa, Ambas todas azuis e tranquilas como lagos suíços, Aberta às paixões, Tímida, Mas experiente, Ela se mantém fiel e austera num pélago de vagas aspirações de um amor que espera anos a fio. Odisseu quer ouvir sua voz, A Sibila concede, Suas palavras são breves e meigas, Enfim, a sacerdotisa Pítia dá o oráculo dos deuses que falam através dela: Dez anos estivestes casada, E outros dez esperastes, Há qualquer coisa de melancólico nestes dias juninos, Mas no vigésimo sexto chega o barco que te levará para Ítaca para sempre.




LAVRAS NOVAS


Antes de saber que você existia, Já te esperava, Golpeava o destino, E magicava nas regiões inexploradas que se percorre só em sonhos, Ao te encontrar, Via o mundo se doar, Vieram os pores de sol e os luares de outra natureza que dissimulavam a brevidade da morte, Caminhavam na terra fria e no chão macio que tinham névoa de saudade no olhar, E numa toada próxima de uma oração, Acompanhavam a meia-luz crepuscular e as ruas esvaziadas de pernas que deixavam um aroma de incenso no ar, E à ceia, Flores sempre-vivas fizeram lume, Nos tornaram como o céu, Onde sobre o negrume, De escuridão que pede calma, Ardia o sereno círio das estrelas, Que mantinham-se acesas, E traziam da mata os gnomos, Que abandonavam seus deveres com as árvores e as roseiras que lhes cabiam, Para guardar nossos primeiros sonos, Tal qual a lua prateando nossos caminhos e compartilhando os crepes da noite, Ao silêncio do  fundo dos mares e do ventre materno, Rompido pelos ventos uivantes que faziam uma curva sobre nossas cabeças, Indo e vindo para não perder nossa felicidade até o raiar dos dias, Quando davam lugar às nossas melodias, Regando nossos cafés das manhãs que nos acordavam só com alegrias, Nos seguindo pelas montanhas verdejantes, Juntando-se ao som das águas das cachoeiras que do alto nos viam, Aproximando-nos de uma nova vida que não exigia nenhum penhor, Apenas nos convertia em cúmplices no amor.

 


O AMOR ESTÁ POR TODA PARTE

Dá arrepios do pé à cabeça, Surge quando nada mais se espera que aconteça, 

Sempre esteve escrito no céu, Cantado pelo vento, Doce como o mel, Livre como o pensamento, 

Nunca teve um antes, Nunca terá um depois, Eterniza os amantes, Platoniza uma relação a dois, 

Liberta corações acorrentados, Prende a razão na cela do sentimento, Desmancha prazeres indesejados,Traz de volta paixões esquecidas no tempo, 

Faz uma promessa de fidelidade, E recebe outra de volta, Redescobre a felicidade, E de sua mão jamais solta, 

Dorme com um rosto angelical, Olhar meigo e desconcertante, Acorda com uma voz jovial, Sorriso lindo e contagiante, 

Nunca teve um começo, Nunca terá um fim, Tem coração que bate do lado do avesso, Idade treze vezes maior que a de um querubim, 

Sempre será sentido no ar, Contado em prosa e verso, Profundo como o mar, Imenso como o universo, 

Dá calafrios da cabeça ao pé, Surge quando tudo o que sobrou é menos que a fé.




MONOCROMIA

É assim que quero que você me veja, Sou um pássaro que voa alto, E corta o solo numa rasante, Sem nunca precisar pousar, Sem nunca precisar plainar, E te busco em pleno ar, É assim que um homem como eu te almeja, Subo no pico de um penhasco e dou um salto, E você nunca me verá em queda livre vacilante, Nunca me verá com medo de me afogar, Não será suficiente para mim você me observar, Não será suficiente para mim você me enquadrar, Não será suficiente para mim você me fotografar, Não será suficiente para mim você me revelar, É assim que você quer que eu te veja, Você é um vento que sopra forte, Risca a noite com raios, Troveja e faz o céu estremecer, Ruge como uma tempestade de se enfurecer, E me encontra no vazio do meu querer, É assim a mulher que um homem deseja, Você salta do alto da vida para a morte, Nunca verei você fazer ensaios, Nunca verei você arrefecer, Não será suficiente para você um mundo sem mudança, Não será suficiente para você um mundo só de esperança, Não será suficiente para você um mundo que não avança, Não será suficiente para você um mundo sem andança, É assim que quero viver, É assim que eu quero que você viva por nós, Sou um sol que brilha para iluminar, Sem precisar arder, Sem precisar proteger, É assim o homem que uma mulher quer ter, É assim que o mundo quer nos ver a sós, Subindo até o último degrau até nos desequilibrarmos, Até escorregarmos, Até cairmos e nos despedaçarmos, Não me basta ser apenas um homem sobrevivente, Não me basta ser apenas um homem inteligente, Não me basta ser apenas um homem valente, Não me basta ser apenas um homem suficiente, É assim que quero minha mulher, É assim que quero que você me veja como uma miragem, Sou névoa de ansiedade para ver o dia raiar, Que cai da escuridão até a manhã orvalhar, Até o sol dissipar, É assim que você me quer, É assim que você quer registrar minha imagem, Na monocromia de seu olhar, E assim que você quer me amar, Não será suficiente para você não parar de fazer amor, Não será suficiente para você absorver todo meu calor, Não será suficiente para você me fartar com seu ardor, Não será suficiente para você fazer sexo com muita dor, É assim que você quer ser, É assim que você quer que eu te veja, Sou um cachorro vira lata longe de casa, E você nunca me verá voltar, Nunca me ouvirá ladrar, Nunca me verá mendigar, É assim que você quer me ter, É assim que uma mulher como você me almeja, Me jogo do alto de uma montanha sem ter asa, E você nunca me verá desmaiar, Nunca me verá acabar, Não será suficiente para mim pousar para o teu olhar, Não será suficiente para mim olhar para seu andar, Não será suficiente  para mim andar no seu caminhar, Não será suficiente para mim caminhar no seu lugar.



AMOR DOCE AMOR

Doce madrugada
Viajo cantando com as estrelas
Indo de encontro à minha amada
Levando rosas vermelhas
Doce alvorada
Recebe-me com céu ensolarado
Levando-me aos degraus da escada
Por onde descerá um anjo encantado
Doce meio-dia
Emociono-me com sorriso tão sincero
Enchendo meu coração de alegria
Dando-me mais meiguice que espero
Doce entardecer
Dirijo segurando a mão dela
Com um olhar lindo de morrer
Não sei qual feição é a mais bela
Doce noitada
Durmo com ela banhado pela lua
Com você já estou casada
E eternamente serei sua
Doce amanhecer
Acordo cantando com os passarinhos
Recostada no peito de meu benquerer
Extasiada de tantos carinhos
Doce dia
Em lua de mel com o amor de minha vida
Sempre sonhei que esse tempo chegaria
Para reconciliar minha alma sempre dividida
Doce tempo
Só agora Deus marcou nosso encontro
Sem jamais inquietar meu alento
Porque nascemos um para o outro
Doce amor
Louvado seja quem escolheu você para mim
A espera compensou e foi indolor
Agora estamos juntos até o fim




SÓ VOCÊ


Só você  foi capaz de me levar ao desespero para excomungar todo meu destempero, Cair de joelhos e me esfolar, Deixar o sangue para cada lágrima estancar, 

Agora faça de mim o que quiser, O que puder, Nem tudo o que eu desejar, Nem tudo o que você pode dar, 

Ontem fui o filho pródigo que saiu para esbanjar e voltou sem nada para ofertar, Desnudou-se e tremeu de frio, Rangeu todos os dentes para cada acesso febril, 

Outrora me mimaram e me melindraram,  Elevaram-me num pedestal para me endeusar, Deixaram o apogeu para cada prosélito aclamar,  

Agora tirem de mim o que quiserem, O que puderem, Quase nada do que sobrou, Quase nada do que sou, 

Hoje sou a ave queimada em ruínas sempre renascendo das próprias cinzas, Ainda de asas pesadas para poder voar, Escorrendo lágrimas para cada gota de sangue expurgar, 

Só você  foi capaz de não arredar o pé até renovar minha fé, Cair de joelhos para me fazer companhia, Compartilhar minha dor para desatar minha sangria, 


Agora deixe-me com o que mereço, Com o que careço, Com quase todo seu penhor, Com quase todo seu amor.  


CARTA DE AMOR

Sempre te amarei à feição do universo, Silente nas palavras e fulgurante no olhar, Inspiração para te escrever um verso, Incitação para te beijar, Sempre te amarei ao brilho de uma estrela, Com o calor intenso de uma gigante anil, Com o esplendor de uma supernova vermelha, Filetes luminescentes que escorrem de seu toque feminil, Sempre te amarei à luz do sol, Na toada de uma prece na meia-luz crepuscular, Na carícia da aurora ainda tenra sob o lençol, Na vontade de nunca mais te largar, Sempre te amarei à flor da terra, Iluminada pela lua que nos enamora, Acumpliciada com a paixão que nos encerra, Com um abraço que te aperta e um beijo que se demora.


SORTE 

Ô vida de uma figa, Será que preciso por um raminho de arruda por detrás da orelha? Para acabar com este fastio que me fatiga? Carregar esta mão fechada na minha pulseira? Ando cansado de derrotas, E agora estou prestes a perder algumas dessas pobres mulheres que se consideram felizes quando fracassados as levam às veredas das vergonhas, Preciso de um patuá para me ajudar a encontrar minha rota, Preciso encontrar meu trevo de quatro folhas, Ô vida dura, Será que preciso por um pé de coelho no meu chaveiro? Um espelho na porta junto com uma ferradura? Para um dia encontrar um amor verdadeiro, Ando cansado dos dias sem vencer, E agora estou prestes a perder algumas dessas noites em claro que se consideram felizes quando virtuais as levam às veredas das ilusões, Preciso da mão de Fátima para acreditar que alguém está a me escrever, Preciso bater na madeira para que ela mantenha as comunicações, Ô vida cheia de surpresa, Foi um elefante indiano que me permitiu ouvir sua voz? Foi um olho grego que me permitiu ter a certeza? De que ela me enviou seu retrato e disse que um dia quer me ver a sós?  Ando cheio de iniciativa, E agora estou prestes a ganhar alguns quilômetros dessas longas estradas que se consideram felizes quando apaixonados as levam às veredas das mudanças, Preciso de São Jorge para me ajudar a corresponder à sua expectativa, Preciso do Senhor do Bonfim para me ajudar a não perder as esperanças, Ô vida benfazeja, Foi o Senhor dos ventos que atendeu ao pedido de todo homem à procura da mulher ideal? Foi a joaninha que apareceu para a mulher que todo homem deseja? A mulher que traz consigo um olhar compenetrado sem igual, Ando cheio de sorte, E agora estou prestes a ganhar alguns beijos desses doces lábios que se consideram felizes quando o amor abre as portas que levam às veredas dos corações, Já não preciso fazer nenhuma promessa para amar esta mulher até a morte, Ô vida auspiciosa, acabastes com todas minhas lamentações.




PALINDROMIA E POLICROMIA



Hoje quero recordar de um único dia que nunca se perde no tempo, Lembrá-lo 13 anos depois, e ainda neste ano que termina com a dezena 13, pode dar um duplo azar se eu me mantiver apegado a crendices e ainda lembrar que foi numa sexta-feira, a menos que, neste momento de reflexão sobre minha presunção artística, sempre insegura com as seguidas recaídas de minha fé e sincretismos religiosos, eu me conserve um calculista, no sentido aritmético da palavra, e, parodiando o matemático Neil Sloane e inventando-lhe um gosto supersticioso, asseverar que os dois juntos, tal qual dois negativos somados, resultem em positivo.


Mas se eu fosse, de fato, afeito a estes agouros tirados de fatos puramente fortuitos e temesse que nossa diferença de 13 anos fosse mais um mal presságio, ainda assim eu procuraria racionalizar uma compensação na sua confissão de que sua idade era maior que o dobro desta diferença. E, abusando prazerosamente da redundância, na verdade, para mim já não fazia diferença se a diferença fosse de 13 ou 23. E para aumentar ainda mais o hiperbolismo, coincidentemente a soma dessas duas diferenças era sua verdadeira idade. Ao lembrar-me daquele dia, ainda conservo sua imagem monocrômica, mas agora quero acrescentar-lhe algumas cores e outras numerologias. Antes, porém, quero recordar a monocromia que lhe dediquei no ano 10 de nossa união:


É assim que quero que você me veja, Sou um pássaro que voa alto, E corta o solo numa rasante, Sem nunca precisar pousar, Sem nunca precisar plainar, E te busco em pleno ar, É assim que um homem como eu te almeja, Subo no pico de um penhasco e dou um salto, E você nunca me verá em queda livre vacilante, Nunca me verá com medo de me afogar, Não será suficiente para mim você me observar, Não será suficiente para mim você me enquadrar, Não será suficiente para mim você me fotografar, Não será suficiente para mim você me revelar, É assim que você quer que eu te veja, Você é um vento que sopra forte, Risca a noite com raios, Troveja e faz o céu estremecer, Ruge como uma tempestade de se enfurecer, E encontra no meu vazio o meu querer.


É assim a mulher que um homem deseja, Você salta do alto da vida para a morte, Nunca verei você fazer ensaios, Nunca verei você arrefecer, Não será suficiente para você um mundo sem mudança, Não será suficiente para você um mundo só de esperança, Não será suficiente para você um mundo que não avança, Não será suficiente para você um mundo sem andança, É assim que quero viver, É assim que eu quero que você viva por nós, Sou um sol que brilha para iluminar, Sem precisar arder, Sem precisar proteger, É assim o homem que uma mulher quer ter, É assim que o mundo quer nos ver a sós, Subindo até o último degrau até nos desequilibrarmos, Até escorregarmos, Até cairmos e nos despedaçarmos. 


Não me basta ser apenas um homem sobrevivente, Não me basta ser apenas um homem inteligente, Não me basta ser apenas um homem valente, Não me basta ser apenas um homem suficiente, É assim que quero minha mulher, É assim que quero que você me veja como uma miragem, Sou névoa de ansiedade para ver o dia raiar, Que cai da escuridão até a manhã orvalhar, Até o sol dissipar, É assim que você me quer, É assim que você quer registrar minha imagem, Na monocromia de seu olhar, E assim que você quer me amar, Não será suficiente para você não parar de fazer amor, Não será suficiente para você absorver todo meu calor, Não será suficiente para você me fartar com seu ardor, Não será suficiente para você fazer sexo com muita dor. 


É assim que você quer ser, É assim que você quer que eu te veja, Sou um cachorro vira lata longe de casa, E você nunca me verá voltar, Nunca me ouvirá ladrar, Nunca me verá mendigar, É assim que você quer me ter, É assim que uma mulher como você me almeja, Me jogo do alto de uma montanha sem ter asa, E você nunca me verá desmaiar, Nunca me verá acabar, Não será suficiente para mim pousar para o teu olhar, Não será suficiente para mim olhar para seu andar, Não será suficiente  para mim andar no seu caminhar, Não será suficiente para mim caminhar no seu lugar.


Nunca foi suficiente para você apenas me encontrar. Nunca foi suficiente para você saber que eu queria você para casar. Nunca foi fácil para você saber se estava apaixonada. Nunca foi fácil para você saber se nossas fantasias seriam materializadas. E você sempre teve razão ao dizer que eu era desde então até hoje mais maluco que você. Eu digo hoje para mim mesmo que este é um mundo muito doido para um sujeito tão anormal como eu à procura da mulher ideal. Este é o mundo dos que acreditam que 13 dá azar porque na última ceia de Jesus havia 13 pessoas e porque ele morreu numa sexta-feira. Eu compartilho minha maluquice com todos estes insanos, lembrando-lhes que Pilatos assumiu a procuradoria na Palestina no ano 26, dia de nosso aniversário, e foi exilado em Viena no ano 36, sua verdadeira idade quando te conheci. Os 10 anos que separaram sua idade verdadeira da irreal são os mesmos que separaram Valério e Marcelo da procuradoria de Pilatos.



Naquela sexta-feira 26 te recebi pela primeira vez com rosas vermelhas, a cor símbolo fundamental do principio da vida, com sua força, seu poder e seu brilho. Enquanto você as segurava, seus olhos castanhos as contemplavam com a profundeza de seu azul que nelas mergulhava sem encontrar qualquer obstáculo, perdendo-se até o infinito, como diante de uma perpétua fuga do imaterial. Enquanto você as admirava, palpitava dentro de mim impetuosidade, intensidade, paixão aguda até a estridência, a ardência do amarelo difícil de ser atenuado e que extravasa sempre dos limites em que o artista tenta encerrá-lo. E entre a sua espiritualidade azul e minha impulsividade amarela, reina hoje o verde das interferências cromáticas. As rosas vermelhas que lhe dei desabrocharam entre minhas folhas verdes.


No final das contas, somos malucos fora da curva porque nosso número 26 é mágico. É o número positivo que neutraliza dois números treze negativos. É o único número inteiro maior que um número elevado ao quadrado (5= 25) e, ao mesmo tempo, menor que um elevado ao cubo (33 = 27). O Rhombicuboctaedron inventado por Leonardo da Vinci tem 26 lados. Quando um cubo de 3x3x3 é montado a partir de vinte e sete unidades de cubos, 26 deles são partes visíveis das camadas exteriores dos cubos. Na base 10 de nossa matemática e da diferença de suas duas idades, o 26 é o menor número que representa a raiz quadrada de um palíndromo. A raiz quadrada do palíndromo 676 é 26.




TUDO O QUE VOCÊ QUISER
Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.  LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche) 

Toda uma vida vivida, Todo um trabalho de Sísifo redobrado, A pleno fulgor, Todos os amigos de semideuses, Todos os sois translúcidos e unidos, Ainda me dado a ver, Renascendo, São seus, Todas aquelas colossais águas, Descendo, Por sendas destorcidas, Do alto de cachoeiras para o infinito, Entre sortilégios tão indecifráveis, Quão eterno instante de ventura, Adorado seja, Devolvo ao seu olhar, Todos os luares correndo as horas sobre suspiros, Doces como prelúdios de harpa, Sobre a singeleza de seu corpo, Mais leve que uma folha de magnólia, Caído do céu na noite desfeita em estrelas, Lua de junho argêntea nos campos, Brancura de luz das manhãs silenciosas, Devolvo à sua lembrança, Todo frio susto que corre pelas minhas veias, Todo meu fogo que arde em febre sem se ver, Tudo que me acalma e me endoidece, Que me eleva e me abate, Te dou, Com o coração na mão.



OUT OF THE BLUE
 
Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Não sei de onde brotam tantas ideias, Inéditas, Súbitas e intrometidas, Só podem ser do conhecimento absoluto, De entrada franca, Com programação imprevisível, Ouse o terapeuta subtrair uma gota de seu conteúdo a algum sonho seu recorrente e perturbador, E ele inunda o minúsculo espaço deixado vazio com um mar que transborda seu inconsciente, Atreva-se a enxota-lo, E ele te emoldura num carrossel, Vem e Vai, E quando passa pelos seus olhos, É Sempre nada de nada do que faz sentido, E, às vezes, Com palavras simples assim vindas de uma mulher: Oh meu amor, Sou sua fada, Vindo do nadaCom todo fervor, Meu deus da sincronicidade, Que prepara misteriosos elementos psicóides na natureza para unir as partes estranhas umas às outras para me impressionar com coincidências, Por acaso você já me deu alguma ideia que não tenha sido por acaso? Porventura é você que faz um disco voador surgir e desaparecer do nada? Como se ele tivesse se perdido e entrou pela porta errada? E as ilusões? É você também quem as engendra? Como o espírito daquele homem  pelado que apareceu no banheiro de meu quarto? Será que ele apenas se esqueceu por uns instantes que está morto e resolveu tomar um bom banho de ducha que só se encontra num hotel cinco vezes estrelado? Ou tem ele consciência que faz parte do nada e, de vez em quando, passeia pelo mundo? Bem sei que o louco não sabe que é louco porque nunca conheceu a sanidade, E que o morto não sabe que está morto porque não sabe o que era antes de existir, Fico pensando nos sonhos que me levam a lugares onde nunca estive e para os quais nunca atinei, E depois eles coincidem com a realidade e me deixam, Quando nada, Atônito com as verdades que eles me revelam, Do presente, Do passado, E do futuro não tenho como provar, Para não faltar à verdade, A bordo de uma de suas casualidades, Um navio graneleiro chamado internet, Veio esta linda mulher que se senta ao meu lado, Como um mimo que um potentado manda a outro, E ela, parafraseando Graciliano Ramos e Lígia Fagundes Teles, Acende a fogueira, Mesmo cercada de ar forte demais, Meu fogo atiça, Me acolhe como uma brasa ardendo na infelicidade e na preguiça, Resolve meus problemas existenciais, e emenda:
Oh meu amor, Homem com alma de mulher, Grande intelectual filosofando sobre a existência, Quão difícil é acompanhá-lo em reflexões tão profundas, Encontrou ocasião para trocarmos impressões sobre a oportunidade da vida e sobre o potencial do espírito na transcendência possível a cada patamar evolutivo, E de minha parte, Você já sabe, Eu era uma rocha ressurgindo à flor das águas, E com gestos simples e admiráveis, Você apanhou-me como uma mosca fulgurante, Curioso de me examinar e de me amar, Sem nunca me perguntar quantos homens descarregaram suas frustrações entre minhas pernas, Entrou para minha vida factícia de 26 anos, Com todo seu ardor, Abandonando seu pequeno mundo preso a encruzilhadas, Sem medo de ter medo, Com a certeza de recomeçar onde tudo lhe era pouco conhecido, Oh meu amor, Não chame isto de sorte de bilhete de loteria, Nem de geomancia, É nada dos nadas para sua valentia, Você é meu contato imediato do terceiro grau, A minha vez na vida e outra na morte, Meu sonho revelador, Meu encosto redentor, Come my love, With your desire, Out of the blue, And into the fire.