terça-feira, 17 de junho de 2025

CHARME



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)



Lá vem você de saia branca rodada
Passos acelerados e cadenciados
Olhos refletindo o sol no horizonte
Pestanas debruçando-se sobre a calçada
Deixando todos olhares extasiados
Voltando-se para onde seu sorriso aponte
Lábios descolando uma expressão espontânea
Uma mão na bainha contra o joelho
Outra no chapéu contra o lado que venta
Coteja flores com inveja momentânea
Maçãs do rosto com tom de vermelho
Cabelos esvoaçando em câmera lenta
Pescoço altivo envolto num lenço
Cabeça suavemente jogada para trás
Ombros balançando com os quadris
Respiração serena no ar denso
Mormaço que o frescor de seu hálito desfaz
Graça da ponta dos pés até a do nariz
Sobrancelhas e cílios decoram o que já é bonito
Exala fragrância na atmosfera ao passar
Deixa sua simpatia e suas curvas à mostra
Poses no andar que dominam o infinito
Faz uma rua inteira parar
É encantadora de frente e de costa




segunda-feira, 16 de junho de 2025

SOMOS TODOS BOLIVIANOS?

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.  LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Em meados de 1982 arrumei um emprego na empresa São Paulo Alpargatas S/A (SPASA). Foi logo após a ressaca brasileira por conta da eliminação pela Itália de Rossi na Copa do Mundo na Espanha. A SPASA era uma grande empresa, com muitas fábricas e, se minha memória não anda alzheimerando, tinha quase 20 mil empregados. Era também um grande cabide de empregos, bem maior que a Santista, mas perdia de longe para a Cotia Trading, de quem falarei na minha crônica intitulada NATASHA. Tenho quatro boas histórias sobre a SPASA. Eu deveria começar pela minha primeiríssima experiência pouco mais de um mês após minha admissão, uma crônica a qual dei o título de SÓCRATES NA TERRA DO BEIJA-FLOR, a ser postada em breve. As outras duas, a serem postadas ainda neste ano, chamam-se QUEM DÁ MAIS? e JACQUELINE. A SPASA tinha um departamento de exportação (DE), um luxuoso prostíbulo, com mais de 30 funcionários, incluindo as áreas de vendas e logística. O plantel do puteiro contava com os seguintes craques: um Gerente Geral, carioca malandro e porra loca que só enganava e coçava o saco o dia inteiro, com uma secretária arisca e escorregadia, que hoje escreve sobre telecomunicações com os mortos; um assessor, inglês recalcado, radicado e malcriado na Argentina, com problemas psicológicos muito mais graves que os meus; Gerentes de Divisões por produto, a maioria só com vocação para lambe-cús: Brim (ou Índigo), Jeans, Calçados, Artigos Esportivos e o resto. Fui contratado como  assistente desta divisão que, na falta de um nome protocolar, a batizei com este epíteto, o RESTO. Todo produto que exigia esforço herculaniano para ser exportado era abandonado nesse pseudo-departamento que se sustentava por duas vedetes: as famosas colchas de chenile e matelassê com a marca MADRIGAL, e as não menos célebres lonas e encerados com a marca LOCOMOTIVA. Antes de minha chegada à SPASA vendiam-se muitos encerados à Colômbia, graças a um acordo tarifário que o Brasil mantinha com aquele país, cuja capital, Bogotá, me proporcionou a emoção de escapar de assaltos duas vezes. Vendiam-se, também, muitas colchas de chenile crua ao Chile para serem lá tingidas e revendidas à Argentina, graças a outro acordo tarifário que o Chile mantinha com o país dos italianos carcamanos, que pensam que são ingleses, falam espanhol e têm uma inveja de morrer do Brasil. Os tais acordos tarifários acabaram, e as exportações de colchas e encerados zeraram. Todo o pessoal do pan-paneleiro, dos gerentes para cima, se interessava somente por negócios fáceis, com margem de lucro zero e até com prejuízo, especialmente para os EUA e a Europa Ocidental para onde eles podiam viajar e gozar de mordomias e regalias sem precisar fazer nenhum esforço de venda.  O Brasil não precisava exportar porque o mercado interno, protegido contra importações, era fechado, um CDF, e absorvia toda a produção doméstica, e esta era apenas uma das razões que levou o nosso país a ter uma inflação vergonhosa, mas real, de 30% ao mês em 1989. Na ditadura militar a corrupção corria solta, mas perdia de longe para a corrupção dos dias atuais. Corrupção no governo (uma força de expressão) federal, senado, câmara, STJ e praticamente todas as instâncias políticas. Sob o pretexto de promover o desenvolvimento, os militares se endividavam com dinheiro emprestado do FMI (e as propinas sobre empréstimos eram de 10% para cima – perguntem ao Delfim Neto). Para compensar o déficit interno e externo os milicos criaram uma série de subterfúgios para incentivar as exportações, todas em clara transgressão às práticas comercias reguladas pelo GATT(General Agreement on Tariffs and Trade – Acordo Geral Tarifário e Comercial), com sede na Suíça. Quem exportava tinha direito às seguintes ardilezas: isenção de ICMS, IPI e outros impostos, prêmios (descontos) de IPI e ICM que variavam de 10 a 30% sobre vendas no mercado interno, financiamentos à exportação a juros subsidiados, um sistema chamado Draw Back: para cada 3 dólares que uma empresa trazia para o Brasil por meio de exportação ela tinha direito a 1 dólar de importação. Se uma empresa conseguisse exportar 30 milhões de dólares em dez anos ela tinha direito a importar 10 milhões de dólares sem pagar impostos. As empresas não precisam esperar dez anos para ter acesso às importações que, normalmente, eram feitas no primeiro ano de vigência do programa. Muito bem, se o mercado interno absorvia toda a produção da SPASA por que ela se interessava em ter um DE? Resposta: Apenas para ter acesso a empréstimos com juros subsidiados (que podiam ser reaplicados no mercado financeiro), e às importações de máquinas e corantes no valor de US$ 200 milhões, sem pagar imposto, mesmo que para isso precisasse exportar US$ 600 milhões com preços abaixo do custo. Valia a pena. O que se exportava era menos que 5% das vendas no mercado interno. Naquela época os juros de mercado eram bem mais altos que os de hoje. Indústrias automobilísticas lucravam mais aplicando dinheiro em renda fixa do que produzindo e vendendo carros. Portanto o DE da SPASA, e de outras grandes empresas, era apenas um departamento suntuoso, um delicioso recanto de extravagâncias e ostentações, parecidas com aquelas que se pode ver no filme The Wolf of Wall Street, e sobre esta frascarice falarei mais no texto QUEM DÁ MAIS? Eu precisava dar duro dentro daquele puteiro. Tinha apenas 30 anos, 3 crianças para sustentar, ganhava bem menos que US$ 500, tinha que usar terno e gravata, falar inglês e espanhol fluentemente, aprender alemão e nunca ficar de costas para o panelão. Meu chefe nada entendia dos produtos que tínhamos que vender. Ele tinha sido mandado embora da Volkswagen e conseguiu entrar na SPASA via apadrinhamento, apenas porque ele tinha a mesma descendência estrangeira do chefão bon vivant. Tive que carregar o RESTO nas costas e consegui recuperá-lo. Mas a turma da panela tinha medo de mim. Porque eu trabalhava de verdade e eles tinham receio de que eu fizesse o que eles eram pagos para fazer e não faziam. Por isso não permitiam que eu viajasse para países do primeiro mundo onde eu poderia vender muito mais. Para o primeiro mundo só poderia viajar a turma da confraria dos sacos puxados, não para fazer vendas, mas apenas para passear e esbanjar: ficar em hotel de 5 estrelas, comer do bom e melhor e fazer turismo. 

Todo mês aparecia por lá um boliviano para comprar o famoso e popular tênis Kichute da divisão de Calçados e revende-los no atacado. Ele fazia muitos negócios na SPASA, mas só era recebido por subalternos. Nenhum gerente brasileiro subdesenvolvido aceitava se encontrar com um cliente boliviano subdesenvolvido. O boliviano mal terminara o curso primário e durante boa parte da vida adulta trabalhou como peão da indústria petrolífera americana, sempre pegando na massa, se sujando de petróleo o dia inteiro. Não sei como ele fez a transição de mero trabalhador braçal para um próspero distribuidor de produtos brasileiros na Bolívia. Ele comprava bastante mesmo. Tive a oportunidade de conhecê-lo e logo ele se interessou pelos meus encerados, e mais tarde também pelas minhas colchas de chenile. Os encerados tinham uma particularidade: eram produzidos somente nas cores verde e cáqui. Se alguém perguntasse por que cáqui a resposta era simples: a lona cáqui é para caminhões que só viajam por estradas de terra, barrentas e empoeiradas. Portanto a cor cáqui camuflava toda a sujeira que se acumulava no encerado. E a verde? Era para caminhões que trafegavam somente em estradas asfaltadas. Por que verde e não azul ou preto? Ninguém sabia responder. Este boliviano começou a comprar encerados e colchas demais para um país tão pobre como a Bolívia. Resolvi fazer-lhe uma visita para conhecer melhor seu negócio. Obviamente minha chefia me dava permissão imediata para ir à Bolívia. Ninguém da maçonaria alpargatiana se arriscaria a ir a um país do terceiro mundo. O boliviano me recebeu no aeroporto com sua Pajero da Mitsubishi, um carro que eu só veria no Brasil no século 21. Aquela SUV era super incrementada, de primeiro mundo. Imaginei que ele tivesse pago muito caro por ela, mas ele disse que foi baratinho, menos que o preço de um fusquinha. Mas como? De onde ele comprou um baita de um carro por uma pechincha. Ele explicou que na Bolívia você podia escolher o que quisesse: o modelo de carro, ano de fabricação, cor, etc, e entregava o pedido ao pessoal especializado na subtração de veículos alheios na  Venezuela, um país que naquela época faturava alto com exportação de petróleo e importava carros de várias partes do mundo. Para regularizar a situação do veículo bastava dar uma gorjeta a um inspetor do DETRAN boliviano. Então, lá estava eu, andando num belo carro surrupiado pela primeira vez em minha vida. Os encerados e as colchas de chenile eram entregues em Corumbá, fronteira do Brasil com a Bolívia. Em Corumbá, o boliviano colocava a carga num trem e seguia para Santa Cruz de La Sierra onde tinha um depósito a partir do qual distribuía a mercadoria por toda a Bolívia. A caminho do aeroporto para o hotel, perguntei se ele fazia algum tipo de seguro para levar a mercadoria até Santa Cruz, uma cidade que oferecia maconha e drogas aos transeuntes em todas as esquinas. Tranquilamente, ele respondeu que contratava seis pistoleiros: dois iam à frente do vagão, um de cada lado, dois na parte traseira, também um de cada lado, e  dois dentro do vagão. Quando o trem parava numa estação, os dois pistoleiros saíam de dentro do vagão e os seis mantinham suas metralhadoras apontadas para quem ousasse tentar assaltar o vagão. Fui conhecer seu depósito. Imenso, com uma grande quantidade de produtos estocados. Ainda não entendia como ele conseguia vender tanta coisa para um país tão pobre. Ele esclareceu que vendia também para os países vizinhos, principalmente para o Peru. Mas era quase impossível exportar para o Peru devido aos altos impostos de importação que lá eram cobrados. Ele me assegurou que isso não era empecilho. Ele e seus empregados iam ao Lago Titicaca do lado boliviano à noite, enchiam um barco de mercadoria, atravessam o lago e, em pouco tempo, já estavam no Peru, onde os compradores esperavam pelos produtos sem pagar nenhum imposto. Uma noite ele me levou para jantar. Eu queria matar uma curiosidade que me incomodava fazia tempo. Era sabido que 95% das estradas bolivianas eram de terra, mas ele comprava somente encerados verdes. Perguntei por quê. Ele me respondeu que os traficantes só compravam encerados verdes. Para quê? Para secar folhas de coca na mata. Helicópteros americanos do FBI sempre sobrevoavam as áreas de cultivo da coca. A lona verde se misturava à vegetação e dificultava a identificação das folhas que seriam transformadas no caríssimo pó branco. Após o jantar, ele quis me fazer um agrado. Ele queria me pagar para transar com meninas de 18 anos. Ele argumentou: 'Eu não posso te acompanhar porque tenho uma filha dessa idade, você me entende, não?' Constrangido com minha recusa, perguntou se eu estava gostando da Bolívia. Claro que estou. Sinto-me tão boliviano quanto brasileiro. 

domingo, 15 de junho de 2025

VOS DEMOISELLES

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


A Linda já tinha dado provas de que não era nada difícil convence-la a se entregar por inteira, Mas você levou uma semana toda fazendo planos para arrancar dela pouco mais que um beijo selinho que durou menos tempo que o ruído de um pulsar! 

Oh minha querida, Sempre tive meus longes de que, Mais dia, Menos dia, Uma viração do mar de acariciar o rosto doidejaria num dia ensolarado, Indiscreta arregaçando o lenço àquela formosa donzela que veio graciosamente ao meu encontro, De olhos dependurados e de ver, Conforme ajustado, E ensejou-me a limitar-me ao deleite de roubar um beijo àquela gérbera deslumbrante da cor do topázio! 

A outra de cor topázio, A Sílvia, De pavio curto com sua inatividade, Ainda lhe entregou de bandeja sua prima, Aquela morenaça, Sedenta por uma nova e melhor experiência, E você deixou-a na mão, Literalmente! 

Oh minha querida, Eu não poderia contemplar, Com nobres sentimentos, Mais do que as mãos da preciosa Sônia, Marcada por Deus com uma pinta singular que misturava beleza e mistério, Não de corpo, Mas de olho, Cravejado por um verdadeiro diamante, Uma Sírio que se erguia grandiosa no céu líquido das noites de verão, Acompanhada de esplendores, Ricamente adereçada em Órion, A estrela das estrelas, Deixando todas demais desoladas, E a mim ofuscado e fascinado por sua luz cinérea! 

Que maravilha, Querido! E o que dizer das duas Célias? Uma fria e fleumática como uma inglesa, A outra do tipo tuareguesa, Quanto mais amantes, Melhor a sua reputação, Ambas propícias a novas aventuras, E não duvido que com elas seria possível um ménage à trois, Como o trio que o Odilon formava com a tia e a sobrinha e que você dispensou! 

Oh minha querida, As divinas Célias, Mais do que um dobro, Um triunvirato fulguroso, O clarão de um farol que apanhou-me em cheio, Cegando-me momentaneamente, Levando-me ao sétimo céu, Num mês de setembro, Oh Célia, Anagrama de minha saudosa Alice, Que fazia o sol brilhar num dia chuvoso, Que fazia a primavera se adiantar num dia friorento! 

E que lembranças você acha que aquela carioquinha guardou de você sem você nunca tocá-la? 

Oh minha querida, A bela moreninha do Rio, Cujo nome 
era impronunciável de tão divino, Como falar e escrever o nome de Deus é proibido aos judeus, E cuja companhia naquela inesquecível viagem do centro ao extremo norte pareceu durar dias, Como uma  peregrinação da Galileia a Jerusalém na semana da Páscoa, Dando-me o privilégio de admirá-la como o Templo de Salomão, E por ter visto a Cidade Santa uma única vez já poderia morrer feliz, Sem precisar adentrar o Santo dos Santos! 

Oras, Meu querido beato, Aquela magrela de andar desengonçado, A Márcia, Te ensinou a beijar de verdade, E sua Deusa queria te abrir mais que os lábios, Mas você em nada contribuiu, E nem mesmo aceitou seu perdão por ela ter sido obrigada a lhe deixar uma única vez! 

Oh minha querida, A Márcia foi minha grande iniciação, Mas minha Deusa, Se quisesse, Poderia ter me ensinado outros rituais que habitam sua tentação, Mas ela preferiu preservar meu romantismo, Alimentou-me com palavras emblemáticas, E sua vivacidade feminina transformou-me num trovador, Estimulando-me a fazer declamações ao longo dos caminhos que trilhamos juntos! 


Oh como você é sentimental, Meu amor, Tantas jovens bonitas para um menino tão acanhadinho e tolinho! 


Oh minha querida, Não é preciso ser um matemático para fazer uma simples conta de somar, Não é necessário ser um pastor alemão para mostrar o sol a um homem cego, Não é preciso ser um predador para notar a teia de aranha que você tece, Olho para o céu e, Com clareza, Vejo o sol, A lua, As estrelas, Júpiter, Vênus e marte, Não é necessário um telescópio para você me amar!



sábado, 14 de junho de 2025

PENELOPE CHARMOSA EM QUADROS: SPIDER WALK



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. Foto de Cecilia Silveira Macedo com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Ela nada como uma profissional, mas não admite como tal, e apesar dela já ter mais de meio século de existência e todas as complicações que a idade avançada traz à saúde, ela ainda mantém esta invejável elasticidade, e não duvido que ela consegue fazer aquela cena da menina descendo a escada de costas como se fosse uma aranha no famoso filme O Exorcista na versão do diretor (veja a cena original do filme no vídeo abaixo). O mais espetacular é esta foto que ela tirou de si mesma, junto à enorme parede de vidro com vistas da varanda e do bosque do outro lado da rua, com reflexo simétrico na sala. Como ela conseguiu isso estando sozinha em casa? Esta foto merece uma música alegre e dançante da banda The K.C. & The Sunshine Band para a galera começar o fim de semana botando pra  quebrar e rebolar.




 





sexta-feira, 13 de junho de 2025

SEXTA-FEIRA 13, FELIZ COM MINHA FAMÍLIA E MEUS 'PETS', INCLUINDO UM BELO GATO PRETO CHAMADO MICHIGAN

Texto de autoria de ALCEU NATALI com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Sexta, 13, é um dia azarento. Um dia para Satanás regozijar seus olhos anticristãos e infernizar a vida de incautos de pouca fé. Um dia para ele festejar a heresia. Dizem os sabe-tudo do vaticano que o coisa-ruim se vale do fato de Jesus ter sido traído por um amigo e preso numa sexta-feira, logo após ter celebrado sua última ceia com 13 pessoas à mesa, e ser levado à morte. Não sou supersticioso mas, por via das dúvidas, tomo minhas precauções. Um oficial de justiça já apareceu um dia em casa, em plena sexta, 13, sem avisar. Amarro a cara assim que os primeiros raios de sol surgem no horizonte. Não se pode esbanjar bom humor cedo demais. Dá azar. E o tinhoso está atento. Felicidade se conquista dia após o dia. Só abro um largo sorriso depois do meio-dia. Toda manhã acordo espirrando. Não sei por que. Mas numa sexta, 13, cuido para que minha esposa fique ao meu lado o dia inteiro, pedindo a deus para me abençoar a cada esternutação. É essa bênção que evita que o espírito escape do corpo a cada espirro. Depois do café da manhã costumo soluçar. Isso, dizem, também é um orixá querendo me fazer de cavalo. Para expulsar o sapucaio, prendo a respiração pelo nariz, tomo um copo de água, enquanto minha mulher me dá um baita susto por trás, estourando uma enorme bexiga junto aos meus ouvidos. De manhã demoro para pegar no breu. Fico meio sonolento até às nove, e bocejo muito. Minha esposa entende muito de obsessão. Ela me pede para tampar a boca com a mão ao boquejar, senão o pé de gancho me entra pela goela. Interessante é que quando bocejo, ela boceja também. Ela também reclama que eu me coço demais e que, num dia como uma sexta, 13, isso é um mau presságio. O mafarrico pode provocar um bate boca feio com alguém. Sigo seu conselho e aguento a comichão até o dia acabar com minha mulher em minha cama. Lá o batibarba fala a linguagem do corpo. Quando me preparo para começar a trabalhar, primeiro dou uma cusparada nas mãos e as esfrego, para me dar força extra contra o infortúnio. A saliva tem um poder de cura mágico. Por isso meus gatos e cachorros vivem se lambendo. Minha mulher não é muito diferente. Basta ela machucar um dedo e já o enfia na boca. Tenho também algumas crises de tosse. Para contê-la tenho uma simpatia. Pego um fio de cabelo e o coloco num sanduíche com manteiga. Ofereço-o a um de meus cachorros e lhe digo: Coma bem seu cão, Que você seja sadio e eu são. Às vezes tenho câimbra e dói muito. Numa perigosa sexta, 13, carrego alguns ossos de animais. Eles protegem. Se a câimbra vem e não passa, deito por alguns minutos com um par de sapatos em cima do estômago. Só assim a dor vai embora. A má sorte de uma sexta, 13, venha de onde vier, pode ser, até certo ponto, controlada. Para não deixar a sorte escapar, mantenho os dedos cruzados em tudo que faço, até para soltar um gás. Se o mau humor me protege contra o azar a manhã inteira, assobiar numa sexta, 13, é pedir para o azucrim te empossar. Gosto de assobiar, mas não numa sexta, 13. Minhas cãs estão aumentando aritmeticamente. Todos os dias arranco os fios brancos, um por um. Nuna sexta, 13, só dou uma guaribada neles com graxa de sapato. Dizem que na sexta, 13, quanto mais fios de cabelos brancos se tira, mais eles se multiplicam geometricamente. Todos os dias aparo as unhas dos pés e das mãos. Meu vizinho me disse que numa sexta, 13, é preciso enterrar ou queimar as unhas cortadas porque se o beiçudo as encontra numa sexta, 13, ele arrepia para valer. Minha dona me pede para simplificar. Deixe para cortar as unhas no sábado, 14. Neste último dia útil da semana, no sexto número primo do mês, o famoso olho gordo ganha peso considerável. O que faço para sair de seu foco é ficar na moita, passar desapercebido, não falar absolutamente nada a meu respeito, muito menos chamar a atenção para algo que tenho e outros não têm, uma linda mulher, por exemplo. Assim que os últimos raios de sol abrem a noite para as estrelas começa a alegria. É chegada a hora do amor. Aqui em casa se faz amor todos os dias, mas sexta é especial. Dia para beliscar um queijinho mais maneiro e bebericar um bom vinho chileno de, no máximo, 30 reais. Depois, cama! Dizem que o demônio é muito chegado numa sacanagem. Ele está convidado a vir ao meu quarto numa sexta, 13, lá pelas 22 horas. Ele terá que se conformar em assistir. Ele pode esgotar seu arsenal de mutretas que não conseguirá participar. No batente superior da porta de meu quarto penduro réstias de alho e ferraduras. Nas paredes há crucifixos. Sei que são fetiches que afugentam somente vampiros e que o diabo tira de letra. Mas acima de minha cabeceira há dois posters irresistíveis: Um mostra Judas de costas, enforcado, sangrando pelo ânus, depois de ter sido estuprado por um fariseu. O outro mostra Jesus,  saindo andando de seu túmulo, e esperando-o do lado de fora Maria Madalena cheia de contentamento. E hoje é sexta,  13, mas também 26,  meu dia de sorte,  o dobro de 13.   Portanto, o diabo que se cuide.  

NOTAS DE RODAPÉ: Se você ouvir um gato preto espirrar na Itália, você terá uma maré de sorte. Gatos pretos são um símbolo de boa sorte no Japão e se alguém vê um gato preto cruzando seu caminho, ele diz " konnichiwa " e assume o controle de sua própria sorte.

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quinta-feira, 12 de junho de 2025

BEATRIX


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98
Se desejar, clique no link abaixo e leia o texto ao som de uma música apropriada para o mesmo


Quero entrar em seu coração
Facilite minha entrada
Quero deixar você machucada
Quero deixar seu choro contido de comoção
Ajude-me a enfiar minha espada
Para mim não vai doer nada
Olhe nos meus olhos sem compaixão
Olhe nos meus olhos com satisfação
Quero infligir-lhe terror
Quero que você nunca saiba o que é amor
Na minha ausência sinta desesperação
Na minha presença sinta veneração


Leve meu coração para sacrifício
Pago-lhe tudo com esse suplício
Barganhe-o por um afeto que nunca tive
Estanque seu batimento e o martirize


Quero invadir sua consciência
Facilite minha invasão
Quero levar você à depressão
Quero deixar seu pensamento pleno de demência
Ajude-me a aplicar minha injeção
Para mim não vai causar lesão
Olhe nos meus olhos sem complacência
Olhe nos meus olhos com intransigência
Quero infligir-lhe tédio
Quero que você acredite que não há remédio
Na minha falta sinta impotência
Na minha presença sinta onipotência


Leve minha mente para sacrifício
Pago-lhe tudo com esse suplício
Barganhe-a com a minha dependência
Roube minha identidade e minha inocência


Quero corromper seu espírito
Facilite minha corrupção
Quero negocia-la com um cafetão
Quero transformar seu corpo num eterno detrito
Ajude-me a incorporar meu obsessor
A mim não vai causar nenhuma dor
Olhe nos meus olhos sem conflito
Olhe nos meus olhos com delito
Quero instigar-lhe o suicídio
Quero que você nunca conheça o elísio
Na minha falta você é um aflito
Na minha presença você é um rito


Leve meu espírito para sacrifício
Pago-lhe tudo com esse suplício
Barganhe-o com outra alma penada
Desgrace-a com carma quando ela estiver encarnada


quarta-feira, 11 de junho de 2025

O QUE FAZER QUANDO O SOL ESTÁ FRIO DEMAIS - MISSÃO 'O TEMPO TEM PRESSA' - GALLERIA MELONELLA & DANAUS CHRYSIPPUS

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chines com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

- Chegamos! Estamos em Brindisi. Nosso convidado está acordando e, IMEDIATAMENTE, seguiremos pela Via Ápia. Assimilei, PRONTAMENTE, não apenas esta língua morta do século 21, mas também o senso de humor da nação do convidado. Para nosso sinal codificado, escolhi esta música de outra língua morta do final do século 20. A linguagem exótica ainda serve para o século 22. Gostaram?

- Você parece ter adotado a humanidade deste tempo com tanto fervor a ponto de escolher uma música para sincronizar sonhos, Non, Je Ne Regrette Rien do filme INCEPTION!

- Quase isso! Câmbio! Fui!


[Verses] Indenture made us bend then, In our folly, Draw their arms, Service on a station to Feltham, Roar the loudest, Notes for all, Seekers to the advantage, Stop being lovers, Don’t you know, [Chorus], Human reasoning, Yes, I grow some secret knowledge, Marjoram aurora borealis, There’s no more but change your myths, Our lips are the same yeah, There’s no need, Your terrible corroded cut heels, Won’t lend a knee to this [Verses] December mud is the last month, I’m awful sorry, Rosario, Tempers true to the running, Facing my last flood, Letting it show, Stumble and some nerve on, Back at the rest place, Hello it’s me [Chorus], There’s nothing to reckon, It’s not secret knowledge, Marjoram aurora borealis, There’s no more but change your myths, Our lips are the same yeah, There’s no need, Your terrible corroded cut heels, Won’t lend a knee to this, There’s no use, Your terrible corroded cut heels, Won’t lend a knee to this, There’s nothing to reckon, It’s not secret knowledge Marjoram aurora borealis, There’s no more but change your myths, Our lips are the same yeah, There’s no need, Your terrible corroded cut heels, Won’t lend a knee to this, There’s no use, Your terrible corroded cut heels, Won’t lend a knee to this

- O que é isso? Como vim parar aqui? Que lugar é este? Quem é você?  
- Calma, Danaus! Está tudo bem. Uma coisa de cada vez. Estamos caminhando pela Regina Viarum!
- Calma o quê! De repente me vejo num lugar estranho, com alguém que não conheço, dizendo nomes esquisitos. Isto só pode ser um sonho. Vamos lá, me diga que é um sonho, mesmo que seja um Lucid Dream!
-  Não é um sonho. Tudo aqui é real. Seu estado é vígil.
- Mas, afinal de contas, quem é você? Se parece comigo! É a minha cara!
- Eu estou bronzeada, mas você é tão branco que parece albino. Meu nome é Galleria.
- Para onde estamos indo?
- Para a capital do império.
-  Império?
- Sim, o império romano.
- E por que estamos usando túnicas para ir a Roma?
-  Porque é assim que eles se vestem lá!
- Você deve estar brincando comigo. Fui raptado por jihadistas ou estou sendo levado a um baile à fantasia?
- Gosto do seu senso de humor, mas isto não é brincadeira. Você vê algum carro circulando nesta via?
- Claro que não! Isso aqui é uma estrada para carroças. Aqui é uma região rural!
- Neste tempo não existem automóveis.
- Neste tempo? Que tempo?
- Acredito que estamos entre 60 e 120 da era comum ou, como diziam os antigos cristãos, entre 60 e 120 D.C. Depois te confirmo.
- Não é possível! Você está dizendo que viajei para o passado?
- Por que não? Você já viajou para o futuro, esqueceu?
- Ave Maria, isso já é demais para mim. Me diga de uma vez por todas. Por que fui trazido para cá?
- Estou realizando seu sonho.
- Sonho? Qual deles? Tenho tantos que nunca realizei!
- Pense no mais importante de todos!
- Ser um escritor famoso?
- Não! Vou te ajudar. Mulher híbrida te lembra algo?
- Não faço a mínima ideia!
- Está bem. Você se lembra, uma vez, de se ver, de repente, em meio a turistas guiados por um homem, todos caminhando ladeira acima, e subitamente um jovem urso, andando ereto a passos largos, ultrapassa o grupo, esbravejando, um tanto ameaçador?
- O quêêêêê? Você está se referindo àquele episódio maluco com ursos falantes na superfície e humanos clonados no subterrâneo? Como você sabe disso?
- Eu estava lá! Ano 2446 e.c.! Você até escreveu sobre isso no seu livro O CÍRCULO DE BACHIR!
- Caramba! Você sabe tudo sobre mim! Eu já nem lembrava disso!
- A viagem no tempo provoca estes lapsos de memória, mas você a recobra rapidamente.
- E o que você quis dizer com mulher híbrida?
- Lembra-se que lá no underground você quis entrar numa sala e uma clonada o proibiu, educadamente, mas disse que um dia você voltaria? E seu guia disse: 'Quem sabe você se encontre com uma híbrida quando voltar'!
- Sim lembro. Mas jamais voltei para aquele lugar, ou melhor, para aquele ano no futuro!
- Já voltou sim. A sala se abriu na sua mente e aqui está você, no passado, para realizar seu sonho! Eu sou a mulher híbrida!
- Impossível! Você é minha gêmea idêntica. Gêmeos idênticos só podem ser do mesmo sexo. Como você explica isso?
- Isso não é possível no seu tempo, mas no meu já é.
- Gêmea idêntica e híbrida ao mesmo tempo! Não faz sentido.
- Como dizem os alienígenas para os quais você costuma orar à noite quando está desesperado, isso é o que menos importa. Minha missão aqui não é te explicar o futuro, mas realizar seu sonho.
-  Afinal, que sonho é este?
- Antes preciso que você se lembre do motivo que o levou a viajar para o ano 2446 e.c. há muito tempo. Quer uma dica?
- Claro!
- Um seriado de ficção científica.
- The 400?
- Não, você não sonhou com isso.
- Taken?
- Também não.
- Não consigo lembrar. Talvez seja o efeito da viagem no tempo.
- Que tal Farscape?
- Meu Deus! Aquele seriado brega! Eu estava numa fase maluca, maluca como você. Eu assistia àquela porcaria e me entretinha! E ainda gravei todos os capítulos, acredita?
- Sim, eu sei. Conte o sonho que você teve com este seriado.
- Para quê? Você já o conhece?
- Neste momento há muita gente do meu tempo nos assistindo. Muitos não conhecem sua história. Conta o sonho para eles.
- Quer dizer que estou sendo vigiado, servindo de cobaia para vocês!
- Ao contrário. Muitos estão aprendendo com sua experiência. Logo você saberá como. Confie em mim, por favor.
- Você não fala como os clonados, sempre repetindo uma pergunta antes de respondê-la, fala?
- Nem tanto, mas tive que me adaptar ao seu modo de falar, obsoleto e estranhíssimo para nós do século 31.
- 31? Você disse que estava lá, no século 25!
- Viajei para o século 25 para acompanhar sua experiência com os clonados. Muito bem, agora, como vocês dizem, chega de conversa e conte seu sonho.
- Isto é bem excêntrico, mas tudo bem, já passei por coisa pior. Vamos lá, então. Eu sonhei justamente com o primeiro capítulo. Eu era um cover do astronauta americano John Robert Crichton, testando uma nova nave espacial, e acabei entrando numa ponte de Einstein-Rosen, o popular buraco de minhoca, e fui parar noutra galáxia, dentro de uma nave travando uma batalha com outra. A nave chamava-se Moya, uma nave-prisão viva, com uma tripulação de condenados pelo regime opressor dos chamados Pacificadores. Os condenados eram todos de planetas diferentes e falavam línguas diferentes, mas todos se entendiam graças a um dispositivo enfiado por robozinhos no calcanhar, permitindo que todos se comunicassem como se falassem a mesma língua. Assim que me viu, aquela morenaça de cara brava, a Oficial Aeryn Sun, uma Pacificadora renegada, me considerou um inimigo invasor e partiu para cima de mim para me matar. Eu pedia calma a ela, tentando explicar que assisti ao seriado e que eu era o John Crichton, mas ela não me entendia e queria me matar. Por sorte, aquele grandalhão, o Luxan Ka D’Argo, interveio e acionou o robozinho que instala o tradutor. Assim, pude me explicar e as coisas se acalmaram. O Luxan Ka D’Argo deu ordem para a nave cair fora dali. Ela deu uma arrancada assustadora. Num segundo saiu do ponto zero para a velocidade da luz. A gente simplesmente despareceu e reapareceu noutro lugar muito distante. A partir deste ponto, mais nada tem a ver com o seriado. A nave se aproximou de algo que parecia um planeta negro e pousou sobre ele. Todos desceram na sua superfície, eu, Aeryn Sun, Ka D´argo e aquela Delvian azulona chamada Pa’u Zotoh Zhaan. Não era um planeta. Era uma estrela anã moribunda, escura e salpicada de fagulhas vermelhas, bruxuleantes e definhando. Parecia uma fogueira apagada, só carvão com alguns pequenos focos de brasas piscando. Ka D´argo conduzia a incursão e decidiu que não havia mais nada a fazer ali. Todos voltaram para a nave e eu não fazia a mínima ideia do propósito de caminhar sobre a superfície de uma estrela morta. Todos foram dormir e me ofereceram um quarto. Entrei, fechei a porta e deitei. De repente, apareceu, pendurada no teto, uma faixa, daquelas plastificadas ou de pano que são exibidas em ruas para anunciar um evento ou para fazer algum tipo de propaganda. A faixa era longa e larga, e nela estava escrito: O QUE FAZER QUANDO O SOL ESTÁ FRIO DEMAIS. E assim terminou o sonho. Eu associei a mensagem àquela estrela agonizante. No entanto, o que ela significava? Por que é preciso saber o que fazer quando uma estrela está fria demais? O que significa um sol frio demais? Mesmo que ela fosse uma anã marrom, sua temperatura superficial seria, no mínimo, de 700 graus. Ninguém pode caminhar sobre um inferno como este. O que você acha?  
- A mensagem da faixa é, na verdade, uma metáfora que logo logo você vai entender. Você estava procurando por algo e conseguiu, em parte, mas não na sua plenitude. Então, resolvemos te presentear com algo com o qual você nem mesmo sonhou. Sabe o que vamos fazer em Roma?
- Me diga logo!
- Vamos nos encontrar com a mulher apressada, aquela que inventou a história mais bem contada nos anais da humanidade! Aquela que você tanto pesquisou!
- Sério? Mal posso acreditar. Isto é muito mais que um presente. É um privilégio sem precedentes! Nem em sonho imaginei que eu veria isso. Confesso que eu venderia minha alma ao diabo para viver neste tempo e ver esta mulher inventando a história meticulosamente. Estou muito emocionado e nem sei como agradecer,  Gal...
- Galleria. É por isso que chamei minha missão de O Tempo Tem Pressa.
- Devo agradecer a Deus?
- Agradeça aos humanos do século 31!
- Por que você a chama de mulher apressada?
- Você conhece a história a fundo. Nunca percebeu que ela tem a mania de usar frequentemente o advérbio IMEDIATAMENTE. Muitas das ações que ela descreve são sempre tomadas rapidamente, como se estivesse sempre com pressa.
- Nossa! Li tanto este livro e nunca  percebi isso. Interessante! E qual é o nome dela?
- Ela não diz, mas você vai descobrir.
- O que vamos fazer lá? Apenas conhecê-la? Dizer, olá, muito prazer, como vai a senhora?
- Não. Você vai acompanhar, passo a passo, todo o processo de elaboração da história.
- Meu Deus! Estou pasmo! Depois disso já posso morrer feliz. Como vai ser? Vamos simplesmente bater na porta dela e dizer: Olá, viemos de longe e gostaríamos de entrevistar a mulher apressada.
- Não. Ela está esperando por mim.
- Ela te conhece?
- Não. Eu fiz chegar aos ouvidos dela que há uma moça da palestina que tem informações privilegiadas sobre a história que ela vai escrever.
- Como você vai explicar a ela que tem estas informações privilegiadas?
- Vou dizer que sou filha de um general romano que serviu em toda a Palestina. Ele se casou com uma samaritana. Portanto, vou me apresentar como uma romana samaritana. Isto te lembra alguma coisa?
- Romana samaritana? Não sei. Mais uma pegadinha sua?
- Pense num sujeito talentoso que aparenta ser samaritano e que conta uma história sobre os bastidores do império romano!
- Escravos Talentosos! Puxa, você assistiu à minha palestra?
- Nós assistimos. Excelente trabalho de pesquisa!
- Como você vai explicar à mulher apressada que você sabe que ela planeja escrever uma história que moldará a moral de parte de meu mundo?
- Ela nunca esteve na Palestina e é por isso que comete erros de geografia. Ela depende de muitos informantes judeus que foram deportados como escravos para Roma, depois de serem derrotados na chamada Guerra dos Judeus em 70 e.c., e também de judeus da diáspora que, por livre e espontânea vontade, se mudaram para Roma, e trouxeram da Palestina informações que foram passadas de boca em boca, através do que vocês chamam de tradição oral. Se bem que, como você testemunhará, devemos dar mais valor à criatividade da mulher apressada do que crédito aos seus informantes. Eu sou uma informante especial porque estou sendo enviada por recomendação de um general romano!
- E como eu entro nesta história?
- Neste tempo, uma mulher não pode fazer uma longa viagem sozinha. Ela será conduzida pelo seu irmão gêmeo. Além disso, eu tenho comigo uma carta de referência escrita por um general e, por isso, estamos sendo escoltados por soldados.
- Não vejo nenhum soldado!
- Parte deles está 500 metros à nossa frente, e outra parte 500 metros atrás de nós.
- Você pretende dar sugestões sobre o que a mulher apressada deve escrever?
- Sim!
- Mas assim você vai mudar a história. Vai interferir no passado. Como fica o paradoxo?
- Nenhuma viagem no tempo, para o passado ou para o futuro, interfere na história. Você mesmo encontrou uma solução no seu texto O HOMEM SONHADO!
-  Você leu tudo o que escrevi! Sinto-me honrado. Mas O HOMEM SONHADO é um sonho e ficção!
- Não se preocupe como nós no futuro resolvemos o paradoxo da viagem no tempo. Concentre-se na mulher apressada. Sua aventura será fascinante!
- Por que eu fui escolhido? Sou um zé ninguém, apenas um curioso. No meu mundo há uma quantidade enorme de acadêmicos com um vasto conhecimento que faz me sentir um estudante do mobral. E também não entendo porque vocês estão empreendendo esta aventura só para me presentear, para realizar um sonho que nunca tive.
- Na verdade, é um de nossos projetos e decidimos levar alguém do século 21. Quer saber porquê? Vocês têm algumas máximas interessantes. Por exemplo: 'Pedi, e vos será concedido; buscai, e encontrareis; batei, e a porta será aberta para vós. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, se lhe abrirá'. Você bateu e a porta se abriu, buscou e encontrou. Você é muito estudioso. Vai a fundo. Leu muitos livros acadêmicos e, ao contrário de muitos catedráticos de seu tempo, você não tem medo de dizer a verdade! Seus textos CONTEXTO PARA UMA PARÁBOLA, ESCRAVOS TALENTOSOS e aquele que se parece com o nome da banda inglesa, THE JESUS AND MARY CHAIN, que você alterou para THE JESUS AND JOHN CHAIN, te credenciam a participar deste projeto. Mais perguntas?
- Estou extasiado! Sim tenho mais algumas perguntas. Onde ficaremos em Roma?
- A mulher apressada vai nos hospedar em sua casa.
- Ave Maria! Que loucura! Quanto tempo vai levar até a mulher terminar o livro. Temo que, de acordo com a teoria da relatividade de Einstein, eu volte mais novo e encontre meus familiares e amigos bem velhos ou até mortos.
- Lembre-se que a mulher é apressada, e a teoria de Einstein se aplica a viagens na velocidade da luz e sempre constante. E esse não é nosso caso. Mais perguntas?
- Falta muito para chegar?
- Deixamos Benevento e Taranto para trás há algum tempo. Já passamos por Cápua, mais da metade do caminho. Deve faltar uns 250 km.
- Como pode ser? Começamos a caminhar faz uns 5 minutos?
- Nós manipulamos o tempo. Vamos chegar antes do anoitecer. Agora deve ser 5 horas da tarde.
- Incrível! Já que você manipula o tempo, porque a gente não aterrissou direto em Roma?
- Já pensou você acordando da viagem na casa da mulher apressada, apavorado e perguntando: O que é isso? Como vim parar aqui? Que lugar é este? Quem é você?  Você iria assustar a mulher apressada e estragar todo o projeto. Além disso, antes de chegar à casa dela eu precisava te explicar tudo que venho te explicando até agora. Mais perguntas?
- A mulher apressada não vai estranhar ao ver um casal de gêmeos idênticos?
- Sim, ela vai, mas a curiosidade dela sobre o que tenho para informar fará com que esta questão fique em segundo plano. Mais perguntas?
- Que língua vamos falar?
- Já instalei na sua cabeça um dispositivo muito melhor do que aquele do robozinho de Farscape. A mulher apressada fala Grego Clássico, Grego Coiné, Latim, Hebraico, Sírio-Aramaico e Aramaico Samaritano. Estamos preparados para entender e falar qualquer uma dessas línguas. Aliás, estou o tempo todo falando na língua do meu século 31. Você me entende por causa do dispositivo. Mais perguntas?
- Sim, com que nomes vamos nos apresentar
- Vou me apresentar como Galleria Mellonella e você é Danaus Chrysippus, meu irmão gêmeo.
- Que nomes são estes? Em Latim?
- São nomes de borboletas.
- Borboletas? Por quê?
- Eu adoro as borboletas de seu tempo que não existem mais no meu século. Encontrei uma música do final do século 20 só com nomes de borboletas. Quer ouvir?
- Claro!
- Aperte o botão do vídeo na sua cintura e acompanhe a letra holográfica à sua frente.
- Nossa, sua tecnologia é da hora!
- Não estou usando tecnologia de meu tempo porque temos suporte alienígena e você não iria entender. Estou usando tecnologia do século 22, a mais próxima de sua capacidade para entender os avanços da humanidade. 



Hesperiidae
Papilionidae
Hyblaeoidae
Epiplemidae
Notodontidae
Nemeobiidae
Eupterotidae
Callidulidae

Dioptidae
Lymantriidae
Noctuidae
Endromidae
Oxytenidae
Lycaenidae
Argyresthiidae
Ctenuchidae

Nepticulidae
Hieroxestidae
Symmocidae
Blastobasidae
Heliozelidae
Limacodidae
Agonoxenidae
Compsoctenidae

Neopseustidae
Incurvariidae
Oecophoridae
Stenomidae
Thyrididae
Heliodinidae
Glyphipterigidae
Dudgeoneidae

terça-feira, 10 de junho de 2025

SIOBHAN RECEBE DEDICATÓRIA DE ANÔNIMO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.  


Na hora suave do nascer de mais um dia, A bolsa-d'água se rompeu, De súbito, Fui jorrado num mundo que eu desconhecia, Como a mim mesmo, Onde o inexorável prazo de permanência tem esta redundante validade, Entre alegrias e dissabores, E se neles não pude vislumbrar uma boa proporção, Achei em você, Espreguiçando e sorrindo sua graça descontraída, A única razão para não amofinar-me sobre o que fora antes de ser, Hão de levar-me os desígnios em sobras do tempo, Mas ainda não vou, Como a guerreira Arya que recebeu da bruxa Melisandre esta pergunta: O que dizemos ao Deus da Morte?, E Arya respondeu: Hoje não!, Não até te amar tudo o quanto posso, Se nossas vidas fossem incontáveis como as estrelas no universo, Eu faria arte com o acaso e sortilégios com a providência, E viajaria até a última galáxia, Para lhe trazer uma flor impensável, Tanto quanto é inigualável seu corpo abstraído alinhando-se com seu meigo olhar, E quando voltasse numa fração de eternidade, Encontraria sua beleza interior ainda ao meu lado, Mas como não somos donos de nossos destinos, E não sabemos se teríamos um ao outro se retornássemos de nossas mortes, Só podemos nutrir o amor presente, Aumentando-lhe as proeminências que acalmam, Endoidam, Elevam, Se entregam, E cantam esta sublime melodia, Que transcende de nós para fora do cosmos, Jamais diga agora ou nunca, Diga Sempre!





segunda-feira, 9 de junho de 2025

GUERREIRA DE MÃOS SAGRADAS

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Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Ela vive e luta de sol a sol, Sendo lhe dada ainda ver morrer o poente na boca da noite, Dando lugar a finas e incertas luzes que mal bruxuleiam pequeninas no céu da meia-luz crepuscular, E que calam tristezas e angústias como segredos, De lágrimas inquietas e preocupadas derramadas na solidão que os astros guardam nas altas horas, E qual mar revolto em ondas furiosas, Sacia a pleno a sede ardente dos justos e injustos, Sem nunca deixar passar-lhes na mesma idade, A felicidade em suas mãos, Mãos intrépidas e balsâmicas, Que seguraram o ódio e o terror, Deixando escorrer de seus olhos um tudo-nada de gotas de pranto contido, Mãos de anéis que obram as salvações de todos no mundo com temor e tremor, Orando todas madrugadas com fervor, Procurando silenciar o bem que na sua alma mora, E as ameaças e os perigos que outras não podem suportar, Mas que Deus está a observar, E se Deus estava preparado para regozijar seus olhos à distância, Foi-lhe mais aprazível ceder-se de perto à coragem desta guerreira de espírito desarmado que jamais lhe implorou com seu clamor.