sábado, 30 de novembro de 2024

VOCÊ FAZ FALTA AO MUNDO



DEDICADO A UMA AMIGA QUE TENTOU O SUICÍDIO, MAS NÃO CONSEGUIU E ENTROU EM PROFUNDA DEPRESSÃO

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

LADY JANE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche) 

Sou, Antes de tudo, Uma Tudor, Depois uma Grey, E uma protestante sempre, Daqui uns três anos, Quando eu tiver uns 16 anos, Serei transformada no protótipo da heroína perseguida, O supremo exemplo do peão no jogo político do xadrez, Um fenômeno intelectual, Uma mártir inculpável, Frequentemente compadecida, Raramente criticada, Jamais censurada, Mas quero lhes falar agora, Nos meus 13 anos de idade, Não meramente como uma figura inocente e de dar dó, Pois anos mais tarde participei ativamente das revoluções que levaram às reformas de meu país, Quero vos falar de dentro de meus aposentos nos quais adentra um amigo da família e me pergunta porque estou lendo o divino Fédon de Platão enquanto todos os demais estão nos bosques caçando raposas, Oras, creio que os esportes que eles praticam não passam de uma sombra do prazer que encontro em Platão, Ai, Meu bom amigo, Eles nunca sentiram o significado do prazer, E meu amigo volta a me perguntar o que me levou a esse verdadeiro conhecimento do prazer, Como ele seduziu uma menina de apenas 13 anos, Considerando-se que raríssimas mulheres e poucos homens conseguem chegar até ele, Então resolvo lhe contar, Contar-lhe uma verdade que vai aturdi-lo, Um dos maiores benefícios que Deus me deu foi enviar-me ao mundo através de pais mordazes e cruéis, Mas com um tutor gentil, Então meu amigo, Quando estou diante de mãe ou pai, Se falo ou se fico calada, Se sento ou fico de pé, Se como ou bebo, Se estou alegre ou triste, Se costuro, Brinco, Danço ou se faço qualquer outra coisa, Tenho que fazê-lo na mesma medida, No mesmo peso, Na mesma quantidade, Com a mesma perfeição de Deus ao criar este mundo, E mais ainda, Muitas vezes sou tão bruscamente provocada, Tão cruelmente ameaçada, E às vezes exposta com beliscões, Esfregões, Socos e outras agressões cujos nomes vou omitir por honra a eles, E assim me sinto de tal forma agredida e insultada sem limites que me vejo dentro de um inferno, Até que chega a hora de minhas aulas com meu tutor, Que me ensina com gentileza, Com prazer, Com tão sublime sedução pela educação que nada mais tem sentido para mim enquanto estou aprendendo com ele, E quando a aula termina, Eu choro, Porque o que tenho que fazer fora de meus estudos torna-se um verdadeiro pesadelo para mim, Portanto este livro que tenho em mãos é meu bálsamo, Minha única fonte de prazer, Um prazer que se multiplica a cada dia, Transformando os demais prazeres da vida num verdadeiro fardo para mim, Uma desmedida trivialidade, Então, Meu amigo, daqui a 3 anos e meio, Aos 16 anos, Serei coroada rainha da Inglaterra, E reinarei por apenas 9 dias, Até que as intrigas entre famílias, A defesa da religião que mais apraz Deus, Os interesses estrangeiros em meu país, Me destronarão e me levarão à morte, Com a cumplicidade de meus pais que me venderam, Então serei devolvida a Deus sem minha cabeça, Mas com minha consciência intacta, Oh meu amigo Platão, Como seu divino Fédon falava tanta verdade, Pois certos sempre estiveram aqueles que na Grécia antiga eram adeptos dos Mistérios, Porquanto muitos são os carregadores de tirso, Mas poucos são os bacantes, E uma vez que você sempre conheceu minha verdadeira identidade, Meu Deus, Sabes que jamais desejei ser sua eleita, E seja qual for a punição que você deseja me impor para que eu pague pela minha insolente intelectualidade, Tire-me tudo e, Se possível, deixe-me apenas com um livro, Não mais a Bíblia, Mas um livro de Platão, E se minha petulância foi tão insultante a ponto de merecer o mesmo inferno que vivi na terra, tire de mim a capacidade de pensar e refletir e transforme-me numa raposa.

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

O RISCO DA FÊNIX

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

ESCRITO EM 2019

Em meados do último mês de Abril de 2019, Kuriac voltou a fazer contato. Ele é um colega do antigo ginásio que não vejo há mais de meio século. Ele parece viver numa das estrelas Gliese, a mais de 50 anos luz do nosso planeta, me enviando mensagens por radiotelescópio que, de acordo com as leis da astrofísica, demoram milênios para chegar. Tudo que ele me escreve tem cheiro de bolor do passado, mas como o tempo é relativo, o teor de suas missivas versa sobre o nosso presente e são recebidas em tempo real. Kuriac me pergunta qual foi meu diagnóstico depois de uma quimioterapia de 16 semanas. Em Agosto de 2018, quando lhe disse que estava com câncer e seria submetido a uma cirurgia para retirar um tumor de 6 cm, ele emputeceu.'Mas que notícia desgraçada!' Ele acompanhou meu calvário somente à distância, de Agosto até agora, uótizapando com minha mulher, a guerreira Cecília, como ele a chama, lembrando-me de Antígona de Sófocles, reverenciada por Werner Jaeger em Paidéia: A Formação do Homem Grego, um livro que recomendei a ele. Quando lhe disse que Shakespeare se inspirou em Antígona para escrever Romeu e Julieta ele se interessou, não pela história de amor incondicional. Ele quer e vai filosofar e dissecar questões de desobediência civil, de desafio às autoridades. No mês do meu aniversário, a notícia que recebi foi menos furibunda. Minha oncologista confirmou que o nódulo no pulmão, acusado pela recente tomografia computadorizada, não é maligno, nem mesmo requer biópsia. Apenas acompanhamento com exames de praxe de tempos em tempos. 'Mas que notícia maravilhosa,' ele exclamou, 'alegrou meu sábado. Parabéns para você e para a Cecília que segurou com galhardia essa barra a seu lado!' Eu já me preparava para o inevitável e fiz uma viagem do espírito, como Gao Xingjian em A Montanha da Alma. Será que minha próxima tomografia irá revogar minha pena de morte, como no caso de Gao que foi, erroneamente, diagnosticado com câncer no pulmão? Espero que o carcinoma me conceda a manumissão definitiva. Enquanto meu atestado de alforria não for assinado, com firma reconhecida em cartório, não ouso sair por aí fogueteando. Há sempre o risco de dar chabu. Kuriac virtualizou na última idade. O malledeto não veio me visitar no hospital como prometera. Diz um ditado árabe que a primeira pessoa que vem lhe saudar num nosocômio é sempre seu melhor amigo. Você acredita no adágio americano 'A friend in need is a friend indeed?' Será que o verdadeiro amigo realmente aparece quando nos encontramos em dificuldades? Minhas experiências com esta máxima trazem mais dúvidas do que certezas, no que diz respeito à estima entre pessoas do mesmo sexo. Aliás, achei muito engraçado o que falou Oscar, o Mão Santa do basquete, numa entrevista a um programa esportivo: 'Não existe amizade entre homem e mulher, a menos que um dos dois seja feio demais.' Será? Bem, não me presto a esperar por um Godot de Samuel Backett. Não levo jeito para a inércia de Estragon e nem para a inquietação de Vladimir. Parafraseando Eça de Queirós, como não tenho mania francesa e burguesa de jogar as farinhas de regiões e raças no mesmo saco da civilização, quebrei a monotonia abominável do teto do meu quarto cancroide relendo algumas peças de minha juventude: Five Finger Exercise de Peter Shaffer, The Kitchen de Arnold Wesker e The Hamlet of Stepney Green de Bernard Kops. Danem-se os provérbios! Viva a verdade firme e assegurada, de que não pode se duvidar, princípio primeiro do cartesianismo! Ave Cogito, Ergo Sum! Salve a dupla Napoleon Solo e Illya Kuryakin! Kuriac nunca veio à minha casa. Cansei de convidá-lo para um papo e algumas taças de vinho. Eu entendo e respeito sua relutância em aquiescer aos meus convites. Talvez um encontro face to face desguarnecesse nossa solidão licomaníaca, nossas horas de entre lobo e cão, após nossas fadigas cotidianas da luz do dia, quando começamos a arquitetar pensamentos perversos e uivar nossos cogitos. Expor nossas velhas carcaças poderia inibir o que os nossos inconscientes liberam nas altas horas sem permissão. Para ciciar vícios basta esta plataforma. São tesouros escondidos do mundo, exceto dos hackers que abundam nas redes sociais e das grandes potencias espiãs que violam a privacidade de todos internautas. Num rendez-vous tetê-à-tetê nossos olhares poderiam descuidar nossos segredos guardados a medo. Melhor permanecermos os estrangeiros de Albert Camus. Somos agentes ultrassecretos, cada um cuidando de sua rotação, um da terra, outro da lua, e o sol é para todos, conforme Harper Lee expõe de maneira brilhante no seu livro To Kill A Mockingbird. Kuriac considerou boas minhas novas, mas, no meu entender, elas ainda são interinas, por isso não esperei receber alvíssaras. Kuriac, no entanto, deu o meu caso cancerígeno por encerrado e propôs-me a volta à normalidade, muito diferente da definição daquele beneditino apocalítico no livro O Nome Da Rosa de Umberto Eco, segundo o qual 'normal é a preservação do conhecimento e não a busca do mesmo, pois não existe progresso na história do conhecimento, mas meramente uma contínua e sublime recapitulação.' Kuriac quer o retorno à vida na sua plenitude, às ironias, e ainda aconselha: 'Sorria muito, sorria sempre, mesmo que seja com sarcasmo, com desdém. Cultue a disposição sombria do espírito ao escárnio. A misantropia se enternece.' Sobre quais aversões podemos falar? Não podemos ter uma conversa menos filosófica do que humana do tipo Xenophon: Conversations With Socrates: Socrates’ Defence, Memoirs Of Socrates, The Dinner-Party, The Estate Manager? Não, ainda não podemos. Kuriac tem na mão e na alma o retorno ao ordenamento moral: 'A excitação pela luxúria não deve ser tratada com amor, e sim com toda a volúpia e despudor, num frenesi animalesco da carne uivante no cio doentio.' E, em seguida, retoma a fraternidade: 'Vou tomar um vinho branco em homenagem à sua saúde!' Não devo te agradecer, Kuriac, em respeito à parrésia dos gregos, lembra-se? Para, pelo menos, celebrar a sua solicitude e o meu euangélion provisório, esforço-me por alegrar-me com esta pilhéria: 'O que faço com o caixão que minha sogra me enviou de presente?' A resposta veio em segundos: 'Mete ela dentro e joga no incinerador, depois espalhe as cinzas ao vento. Mas sempre há o risco da Fênix!'


TUDO O QUE AS FEITICEIRAS DIZEM E NÃO SABEM


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Este menino não é seu filho, Ela não se conforma com esta mola das leis, A mãe de todas as religiões, Ela quer rezar. Que ela reze então, Miserere mei, deus: secundum magnam misericordiam tuam, Esta mulher ainda está completamente perdida, Ainda não se encontrou, E o pai do menino, não pode ajudá-la? Um momento, A mulher quer continuar orando, Et secundum multitudinem miserationum tuarum, dele iniquitatem meam, Neste momento, ele está ajudando um amigo japonês que teve uma morte trágica, Como você sabe disso? Porque dou ouvidos às feiticeiras. Os homens na espiritualidade são como as pedras numa abóbada, Resistem e se ajudam simultaneamente. A vida e a morte são combates, Que os fracos abatem, Que os fortes, Os bravos, Só podem exaltar, E quanto ao menino? Um momento, Ela ainda está aqui e quer falar pelos dois, Amplius lava me ab iniquitate mea: et a peccato meo munda me, O menino é um espírito de muita luz, Mas cuidado, O fruto só cai da árvore quando está maduro, Amplius lava me ab iniquitate mea: et a peccato meo munda me, Nossa, esta mulher de novo! Não fale dela assim, Ela está se penitenciando, Está nas sombras e ainda se agarra  à luz deste mundo, À luz deste menino, Agora ouço a voz de uma feiticeira que quer me dizer alguma coisa, Em breve este menino receberá uma merecida e justa quantia, Mas não vos descuidei pois, Também não menos breve, Ele receberá uma cobrança das bravas e é melhor desde já ele começar a juntar todos os recursos que ele tem para se defender. O recado dela é justo. Você sempre conversa com estas bruxas? Acredita no que elas dizem? Falo com elas de vez em quando e acredito nelas, O mais significativo é o fato de que nenhuma  delas tem conhecimento absoluto sobre nós, mas somente alguns pequenos fragmentos de nossas vidas, Não entendi, pode explicar melhor? Vá num mesmo dia se consultar com 10 médiuns diferentes e que nunca se conheceram, daquelas que costumam fazer leitura de tarô, e faça a elas as mesmíssimas perguntas, Você perceberá que cada uma delas consegue responder a uma única pergunta sua, E cada uma diferente da outra, E por outro lado, Cada uma delas te dirá coisas sobre você que você não perguntou, Nem em pensamento, e cada uma delas lhe dirá coisas completamente diferentes umas das outras, Todas verdadeiras, Elas têm apenas um conhecimento relativo e bem limitado sobre as pessoas, Por isso não conseguem responder mais do que uma ou, no máximo duas perguntas que você faz, No entanto, As poucas respostas às suas perguntas e as revelações sobre você feitas espontaneamente serão sempre verdadeiras, e até paradoxais, Uma médium lhe dirá que você ganhará uma fortuna, Mas outra, No mesmo dia, lhe dirá que você sofrerá uma grande perda financeira, E o mais interessante é que as duas são verdadeiras. Como elas conseguem isso? Elas recebem informações de espíritos? Não, espíritos não existem, Elas apenas leem um fragmento de sua mente, Uma médium jamais lhe dirá a mesma coisa que uma outra lhe disse, Desta forma, Você terá dez respostas diferentes para diferentes perguntas que você fez, E 10 informações diferentes sobre você e que você não perguntou, Em resumo, As feiticeiras não têm nenhum controle sobre sua mente, O que elas descobrem a seu respeito é sempre ao acaso, É o mesmo que um sonho, Você nunca sonha com o que quer, É o inconsciente quem decide sobre o que você sonhará cada noite. É interessante. E no caso desta mulher apegada ao menino? Ela está morta e você disse que espíritos não existem. Como ela consegue falar conosco? Isto é contraditório! O que chega a nós não vem diretamente dela, São apenas fragmentos dos nossos próprios pensamentos sobre o que já sabíamos sobre ela. Então deduzo que você é um feiticeiro!  Errado, Tudo o que estou lhe dizendo é pura psicologia humana. As feiticeiras dizem poucas coisas, Mas desconhecem muitas. Elas tem acesso a uma parte bem insignificante de nosso inconsciente que tem o tamanho de um universo, E a mulher quer nos dizer algo mais antes de partir, Ex-umbris ad lucem.


SALOME



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Aurora da religião
Deus fêmeo
Egeu berço da civilização
Áspide e o feminino gêmeo

Sapiência eminente
Rosto de mulher
Cabelo de serpente
Do Éden a Lúcifer

Luz do conhecimento à humanidade
Fim da ignorância manipuladora
Medusa guardiã e protetora
Afugenta toda a maldade

Ananta domina meu tempo e a minha imensidão
Kundalini interioriza minha alma varonil
Per-uatchet dá luz à minha criação
Nehushtan proteja-me contra o veneno viril
Seraph fertiliza meu solo e torna-me angelical
Apep quer lançar-me no caos e na obscuridade
Khumbaba quer amedrontar-me no matagal
Ouroboros morde a cauda das duas e me dá eternidade

Ad te clamamus
Exules filii Evae
Ad te suspiramos
Gementes et flentes
In hac lacrimarum valle

Ariadne, Cessair, Eumenides, Kurukulla, Sophia, Uncegila, Radha, Matangi, Brighid, Luna, Maat, Ambika, Beltia, Daena, Themis, Pandora, Nerthus, Sarasvati, Ragnell, Minerva, Hecate, Demeter, Hel, Surabhi, Iris, Kamala, Machig Lapodron, Horae, Astarte, Danu, Eumonia, Tellus Mater, Aditi, Lakshmi, Dorge, Marcha, Kwan Yin, Oshun, Nemesis, Sheela Na Gig, Tiamat, Varjayogini, Cailleach, Artemis, Dzalarhons, Dakini, Neith, Bona Dea, Tara, Hestia, Zoe, Isis, Amaterasu, Lilith, Cybele, Modron, Ereshkigal, Oya, Hathor, Sekmet, Innana, Ukemochi, Kawadi, Angerboda

Tua sunt ubera
Vino redolentia
Candor superat
Lac et Lília
Odor flores vincit
Et balsama

O clemens, o pia,
O dulcis Maria 





Kore, Nymphe
Meter, Maia


Salome, Rabbetna Salome, Baalet Salome, Tanit Salome, Anaitis Salome, Astarte Salome, Dercerto Salome, Astoreth Salome, Mylitta Salome, Athara Salome, Elissa Salome, Tiratha Salome, Rabbetna Salome, Baalet Salome, Tanit Salome, Anaitis Salome, Astarte Salome, Dercerto Salome, Astoreth Salome, Mylitta Salome, Athara Salome, Elissa Salome, Tiratha Salome, Rabbetna Salome, Baalet...

I have kissed thy mouth, Jokanaan, There was a bitter taste of blood, I have tasted thy lips, Jokanaan, There was a gorgeous taste of love, I have seen thine eyes, Jokanaan, Full of rage and fearful scorn, I have kissed thine eyes, Jokanaan, Never shalt thou see me more, I have touched thy hair, Jokanaan, Black as the cedar shades of Lebanon, I have stroked thy hair, Jokanaan, The moon hid his face from the sun, I have desired thy body, Jokanaan, White as the mountains of Judae, I have clawed thy body, Jokanaan, In the dream whereupon you lay, Now I hold thy head, Jokanaan, In my palm there is thy blood, Why dost thou lift thine eyes, Jokanaan, My chastity could have been your love.

Salome, Rabbetna Salome, Baalet Salome, Tanit Salome, Anaitis Salome, Astarte Salome, Dercerto Salome, Astoreth Salome, Mylitta Salome, Athara Salome, Elissa Salome, Tiratha Salome, Rabbetna Salome, Baalet Salome, Tanit Salome, Anaitis Salome, Astarte Salome, Dercerto Salome, Astoreth Salome, Mylitta Salome, Athara...

I have kissed thy mouth, Jokanaan, There was a bitter taste of blood, I have tasted thy lips, Jokanaan, There was a gorgeous taste of love, I have seen thine eyes, Jokanaan, Full of rage and fearful scorn, I have kissed thine eyes, Jokanaan, Never shalt thou see me more, I have touched thy hair, Jokanaan, Black as the cedar shades of Lebanon, I have stroked thy hair, Jokanaan, The moon hid his face from the sun, I have desired thy body, Jokanaan, White as the mountains of Judae, I have clawed thy body, Jokanaan, In the dream whereupon you lay, Now I hold thy head, Jokanaan, In my palm there is thy blood, Why dost thou lift thine eyes, Jokanaan, My chastity could have been your love.

MARIA BRASILEIRA DO MUNDO INTEIRO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Neste texto, Alceu homenageia o que há de melhor na música brasileira, aqui com MARIA SOLIDÁRIA de BETO GUEDES.

Maria que é a Maria, É cheia de graça, Cheia de raça, É Madalena, É mãe e tia, É Mariana, É Ana Bolena, Tem corpo que arrepia, Não tem quem não ama, Casada ou solteira, Solidária e companheira, Morre esposa traída, E de seu ventre sai uma rainha, Mulher destemida, Mais poderosa que o rei no xadrez, Lava, passa e cozinha, Não há doce que ainda não fez, Doce de amendoim que o menino roubou, Grita pede, moleque, que te dou, É bonita e valente, Não tem medo do sertão, Não tem medo do que não sente, Luta com o coração, Reza Ave-Maria, Compadecida, É quase negra como Nossa Senhora Aparecida, É a Maria judia, Que inventou o banho-maria, A gororoba com coco ralado, Que ficou mais mole que seu nome, Miriam soberana do hebraico modificado, Que em grego virou Maria, Cobiçada por todo homem, Por toda Maria, Que não vai com as outras, Tem sua ideia factícia, Alma pura como poucas, Ajuda todos os seus, É a preferida de Deus, Brilha no céu, Como Três-Marias, Cada uma com seu véu, Abençoando todas as romarias, Dança no ar enquanto trabalha e canta, Lança sob o luar seu charme enquanto a noite avança, E sob o sol, Sua meiguice que nos encanta, É Maria do futebol, Alegria do povo, É Maria de todos nós, Que desafia quem nasceu primeiro, Pingo D'água sem nós, Nem a galinha nem o ovo, É Maria brasileira do mundo inteiro.






quarta-feira, 27 de novembro de 2024

INTUIÇÃO E MAGIA

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 




Solitário e perdido em pensamentos, balançando na rede de quatro chinelos, Sob pouca luz deitada pelo lampião, O jardim de inverno vê a noite cair com o mesmo viço das tenras primaveras de meu espírito, Os últimos raios de sol ainda ouvem o canto dos pássaros que mistura-se ao murmúrio das ondas lavando a praia, Uma repentina viração atravessa as persianas a lufadas brandas e acaricia-me o corpo, E nela viaja uma voz celestial e arredia que toca minha  alma, Tirando presságios do canto do eterno feminino, E sai à ligeireza no feitio misterioso, No feitio do crepúsculo Nortumbriano, Rumo ao norte, Onde não sei seu nome, Onde nunca vi seu rosto, E saio a procurá-la nos lugares que não frequenta, Dos quais vive longe e não tem companhias, Mas ninguém atina com a descrição de onde de súbito passou tão fascinante cantar como se tivesse sido subtraído de seu lar, E abandonam-me na multidão para folhear milhões de faces até meus olhos se encontrarem com os dela, Sem precisar pedir-lhe para produzir sons melodiosos e encantados, Pois reconheço-a pelo seu encanto que chegou pelos céus, Atravessando oceanos, Levando-me a perde-la de vista, Até embrenhar-me noutra multidão da qual vivo longe, Que não frequento, E surpreendo-me com a companhia de sua voz que ecoa pelo ar, Trazendo-me de volta ao meu remanso, Onde não há sol para partir, Apenas jardins de flores para juntar sedas-azul e guanambis, Zumbidos de abelhas e silenciosos mares de unções, E uma suave aragem que se demora até o anoitecer das estrelas, Com seu rosto e seu nome nela impregnados, E seu canto inebriado na funda contemplação da arte de causar emoção,  Brilhando-me o  êxtase em todo seu esplendor.






WITH THE DECISION TO DOUBLE UP PHYSAS' ARMY TO 100 BILLIONS, MORE TROOP LEADERS OF ONE BILLION EACH WERE PRODUCED FROM CLONES OF THE THREE MARYS

 



terça-feira, 26 de novembro de 2024

CA(N)GAÇO (TRECHO DO LIVRO VALE DA AMOREIRA)

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Volta e meia a morte é confundida com uma pessoa que na verdade a odeia e se Tilly soubesse desses odds and sods, esses baratos afins da morte, naquele dia lúgubre ele permaneceria parado e calmo e depois prosseguiria tranquilamente, como fez aquele franzino cabra bom, cabras às direitas, e que, ao atravessar a caatinga, inadvertidamente cruzou o caminho de Lampião e foi tomado por um jagunço, um cangaceiro manso, e se viu cercado pelo bando maldito. Mas o sujeito era mesmo cabra do colhão roxo e não se intimidou com as ameaças de Virgulino. Não o desafiou e nem o desrespeitou, mas também não fez concessões à sua neutralidade e desengajamento por isso foi logo condenado a morrer antes da hora.
Sai correndo, seu cabra da peste, e não olha pra trás. Vamos ver até onde você consegue chegar, exclamou Lampião.
Os cangaceiros começaram a armar os gatilhos e o sujeito miúdo se pôs a caminhar lentamente, a passos curtos e pernas atracadas, sem hesitar e sem esboçar qualquer gesto com a cabeça ou com os braços. Andava como se já estivesse morto apreciando a paisagem desolada do jardim do éden do sertão nordestino e como se algumas balas varando seu corpo não fizessem qualquer diferença. Ainda com o condenado bem ao alcance das espingardas, Lampião, meio escabreado, levantou a mão e gritou para todos:
Deixa-o ir embora! Este é cabra-macho e vai ser cria nossa!
É difícil precisar se Tilly era cria ou refém do medo. Ele tinha saído mais cedo do trabalho para sacar um benefício em dinheiro. Deu partida no carro, subiu a rampa da garagem, alcançou a rua, virou a direita e logo chegou na avenida principal que se encontrava com o trânsito completamente parado devido à enorme quantidade de veículos. Tilly foi se espremendo e se enfiando até entrar pela faixa reservada para ônibus e logo deu o sinal de seta para a esquerda esperando que alguém lhe desse passagem para a pista do meio. Tilly estava comprimido entre ônibus e o de trás começou a buzinar incessantemente.
Esse trânsito maluco deixa todo mundo cada vez mais nervoso. Esse cara pensa que buzinando vai fazer os carros andarem, resmungou Tilly.
O trafego permanecia preguiçosamente estático como a vegetação arbustiva do semiárido, mas barulhento como maritacas fazendo coro, e quando andava era insuficiente para abrir uma brecha por onde Tilly pudesse deixar o território dos coletivos, brutamontes impacientes. E para piorar, aquele que fungava no seu cangote resolveu cravar o dedo na buzina e espalhar por toda redondeza a presença insignificante de Tilly com um ruído espalhafatoso, feito um cancão do asfalto, a voz da mata sem cor. Tilly olhou no espelho retrovisor e percebeu que não só o motorista, mas várias pessoas com as cabeças para fora das janelas esbravejavam alucinadamente contra ele.
Esses caras são gozados. Acham que tudo está parado por minha causa e que eu tenho que sair da frente deles decolando como um helicóptero, desdenhou Tilly.
De repente, várias pessoas desceram do ônibus ao mesmo tempo, lançaram-se em direção de Tilly, envolveram seu carro, arrancaram-no para fora, vociferaram contra ele e o ameaçaram em uníssono. Tilly, quase sujando as calças, não entendeu bulhufas e tratou de se desvencilhar dos agarrões, cutucões e empurrões e saiu numa desabalada carreira avenida abaixo, largando tudo para trás, como um doido varrido agonizando em meio a um ataque de pânico, exigindo o máximo de suas pernas ligeiras e mantendo os braços ocupados como duas asas recolhidas e alternando cotoveladas e socos no ar para manter o corpo em equilíbrio, o que não lhe permitia tapar os ouvidos para silenciar os disparos ardidos que esperava queimar seu corpo e para emudecer o angustiante barulho tal qual o grito infinito da natureza de Munch e que ainda estremecia a atmosfera desde o buzinaço ensurdecedor daquele condutor apressado. E não podia também tapar os olhos para esconder o vexame, mas tampouco necessitava fazê-lo para ganhar o dom de mântis de Tirésias, pois, embora não pudesse prever se sairia desta vivo, sabia onde queria chegar e como. Ele não corria numa mata branca onde um projétil espoletado viaja livre e impune nas extensas planícies interplanálticas e trespassa com facilidade as cadavéricas e deprimentes árvores de troncos tortuosos e folhas perdidas. Tilly corria pela mata descorada feita de altos maciços de pedra e dispostos na forma de intrincados labirintos saturados de transeuntes em constante movimento de vaivém o que dificultava uma perseguição corpo a corpo e um tiro a queima-roupa. Bastava Tilly fazer o quadrilátero perfeito para voltar ao seu local de trabalho e lá chegar quase desfalecido, desabar num sofá e ser logo acudido pelos seus companheiros preocupados e ansiosos para saber o que aconteceu.
Um bando de assassinos levou meu carro lá na avenida e tentou me linchar, balbuciou Tilly antes de desmaiar.
Tilly foi levado a um hospital onde foi apenas sedado e, no mesmo dia, recebeu alta. Seus colegas foram até o local do incidente e para surpresa deles, o carro de Tilly continuava no meio da via pública, com o motor ligado e portas abertas, sem estorvar ninguém, pois naquela hora o engarrafamento encontrara vazão e o transito fluía normalmente. Um comerciante local ainda permanecia na calçada observando o veículo desde a hora do incidente e foi ele quem explicou para os companheiros de Tilly o que se passara.
Não foi nada não. Foi um pessoal que fretou alguns ônibus para ir ao enterro de um amigo que foi assassinado e eles estavam meio de cabeça quente e descontaram no rapaz só porque ele entrou com seu carro no meio do cortejo fúnebre.
Talvez fosse melhor para Tilly se a dona morte se descuidasse e o levasse, mesmo que fosse de susto, assim ele não teria que continuar levando essa vida ordinária, popularmente chamada de cheia de altos e baixos, com bons e maus momentos se revezando.
Mas, afinal de contas, todos vocês não vivem de outra forma senão com esses intermitentes ups and downs, esses sobe-e-desce, como autênticos camaleões surfando numa montanha russa e quando seus anjos da guarda já não dão mais conta vocês jogam a culpa na minha prima fatalidade, retrucou a morte.


O OLHAR DA COMUNHÃO


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche) 
É sublime estar sempre esperando por você, É feitiço que o tempo todo você nunca esteve longe de mim, Porque é este encantamento que nos faz sentir distantes, Porque é este encantamento que nos faz sussurrar orações à noite, Nos faz temer estar dentro de um momento mágico sem perceber que ele é real, Nos dá medo de que um dia ele acabe como se fosse uma fantasia passageira, Me dá o medo ingênuo de que você um dia vá embora, E leve consigo a fascinação que contagia nosso mundo, Porque são esses muitos instantes felizes que nos fazem pensar que vivemos num lugar foram do comum, Nos tornam tão importantes, Como todos aqueles que têm alguém esperando, E se a alegria que me contamina me impele a lhe dizer algo singular, Não será diferente daquilo que todos tocados pelo mesmo sentimento já perceberam, Que a vida nos destinou esta ocasião tão preciosa, Nos tornando tão especiais no mundo, Comungando nos olhares encantados, De tempos abençoados, Perseguidos pelo medo de sermos tão felizes, Celebrando a vida que sempre esperou por nós, Tendo-nos ao seu lado o tempo todo, Compartilhando a mesma magia, O mesmo sonho, Murmurando as mesmas preces, Todas ouvidas, Todas atendidas, Sob o olhar celestial de quem ao nosso redor consegue ver a felicidade sempre fazendo-se acompanhar pelo amor que move este mundo mágico.



PRIVILÉGIO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


Ainda que eu tivesse toda a riqueza do mundo, e não soubesse que você existisse, não entenderia de onde viria tanto desprazer por uma fortuna conjurando em minha perdição meus erros e uma paixão que poderia ser ardente, ainda que eu ouvisse as vozes incógnitas, e não tivesse ouvidos para você, eles jamais se prestariam a cupidos servidores, não se atreveriam contra o céu, e não beijariam a mão à deusa dos amores, ainda que eu fosse um semideus maior que Bach, e não tivesse o privilégio de gostar mais de você, minha vida teria menos sentido ainda e o universo choraria mais bilhões de vezes com nossa cansativa busca de seus inexoráveis mistérios, quando eu era menino, e você ainda não era, minha alma, sem-ventura, pouco aceitava, já ansiava mais que silêncio e prece, já desejava fugir-me para encontrar alguém que te criasse, logo que acabei com as coisas de menino, e você veio à luz, cheguei à meia idade com um resto de irresponsabilidade menina, um perdedor em quem ninguém apostaria, não invejo os que esqueceram a cor das primeiras calças que vestiram, não atino com as de ontem que ainda hoje enfio, sem meu amor por você aqui já não mais estaria.

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

O QUE FALTA NO REINO DOS CÉUS


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Era uma tarde de inverno. Da janela via-se o céu azulado, mas lá fora estava gelado. Oras, pensei, aqui não cai neve, as mãos sem luvas não congelam, e do estacionamento a qualquer estabelecimento o vento frio que aumenta a sensação térmica não é tão torturante como o que sopra na região dos grandes lagos em Janeiro. Eu me preparava para sair quando a TV anunciou o excelente filme Reino dos Céus, que aqui no Brasil saiu como Cruzada. Resolvi ficar em casa e fui muito feliz com minha decisão. Depois da sessão de cinema, resolvi ouvir música e selecionei a gloriosa versão do Chandeen da canção In Power We EntrusThe Love Adocated do Dead Can Dance. Foi estranho como essa canção me levou imediatamente de volta ao filme que eu acabara de assistir e, mais estranho ainda, foi o que me veio à mente: Eu sempre vejo a cultura como uma mulher indefesa à mercê dos machistas. Às vezes sou cristão, às vezes não. Às vezes simplesmente ignoro um ataque dos misóginos, ou, então, me limito a retribuir suas agressões ao sexo frágil com uma homenagem à transcendência humana. Porém, às vezes, eu também atiro minhas pérolas aos porcos e aos cães. E esse é o grande risco que corro aqui. Antigamente, os porcos só pisoteavam nossas preciosidades, hoje eles as roubam. Lembrei-me, então, do filme Cruzada que acabara de assistir, e das atrocidades que se praticaram na terra santa em nome de deus em tempos longínquos. Esquecendo-se de mim e dos homens, tentei extrair daquela brutalidade alguma beleza inata ao ser humano quando este cavalga completamente nu e sem nenhum estandarte ideológico. Então, tentei transformar em palavras tudo o que minha alma sentia: A beleza se avista onde o oceano se confunde com o firmamento, De longe, vozes humanas a saúdam com brados efusivos, O som lhe chega aos delicados ouvidos, E ela o acolhe com ternura, Suaviza sua avidez e seu tom, E o sopra de volta com a brisa que o trouxe com brandura, As vozes humanas retumbam em coro e com mais ardor, A beleza cerra seus olhos, Relaxa a sua fronte, Descontrai seu sorriso, E se deixa embalar pelo som mundano e eufórico, As vozes assomassem-se, E a elas se juntam mais graves e agudos, Mais êxtase e clamor, A beleza se mantém impassível e atenta, Ouve e se acalenta, As vozes humanas se exaltam, Vão além dos limites da linha do horizonte, A beleza as traz de volta ao mirante, E graciosamente se move em suas direções como uma nuvem entregue às monções, As vozes sentem suas gentis pulsações, Percebem que ela emana meiguice à distância, É mais bela do que aparentava lá no fundo do céu, É o seu olhar que carrega sorrisos contagiantes, São seus lábios que sussurram como meninas dos olhos irradiantes, São as maçãs de seu rosto que exalam fragrância etérea, São seus cabelos que dão contornos à sua feição singela, É o seu semblante plácido que dá expressão à sua beleza, As vozes humanas emudecem, E se arrebatam com tão doce criatura, A beleza contagiada pelo calor humano, Baila ao redor das vozes, As envolve com afagos que chegam à alma, Seu olhar resplandece, E infunde mais luz tênue ao sol poente, Seus gestos delicados encantam as águas do mar, E se elevam até a lua crescente, Sua boca toca as vozes humanas, E as enche de carinho jamais recebido antes, Seus cabelos se desfraldam ao relento do entardecer, Sua leveza se esgueira suavemente até o novo amanhecer, E as vozes humanas embargadas, Soluçam e balbuciam, A beleza lhes toca os lábios com dedos singelos, E deixa seu silêncio comovente penetrar em suas entranhas, Até que elas descubram seu reino interior, Até que ela exteriorize toda sua celestial subserviência ao amor.



sábado, 23 de novembro de 2024

UM MÁGICO TOQUE FEMININO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Alienado e mortificado, Com este marasmo, De agravar meu tédio, A atiçar-me pecados mortais, De gula, Preguiça e lascívia, Assalta-me o fastio desta vida, Seguida por invisíveis passos de despotismo, Invisibilidade embutida em habilidade, Que toma tudo que vê e não vejo, Como quem toma armas em defesa de sua soberania, Seu toque é oculto, Usa do maior recurso do poder, Diante de um único homem, A dependência, E sua criadora imaginação, Mas não tem coração de ver-me tão só, Sei seu nome, Mas não sei quem é, O espaço aqui é quase infinito, Mas sua sombra sempre justapõe-se à minha, Qual de nós dois aqui é o mais fingido? Você com sua inacessível divindade? Ou eu com minha carência de um toque humano? Vamos deixar nossos propósitos escapulirem? Quisera ver outros rostos estranhos mesmo sem bondade, Quisera ver milagres de cera, de ouro e de prata, Velas e painéis votivos, Trazidos por outras gentes como eu, Faltos nessas redondezas, Dispenso suas bênçãos tomadas a cachorro, Sua piedade de execrados como Judas, Seu insincero louvor que exclui a crítica, Ninguém come do pão de seus paraísos celestiais, Ninguém bebe do sangue que jorra de seu único filho, Isso mesmo, Vingue-se de minha insolência, Colocando ao meu lado outra de minha espécie, Que não te obedece, Que subverte seus planos, Provoca sua ira animal que sempre escondeu, E nos expulsa para um mundo mundano, Que sempre vislumbrei através do passado recente, Não querendo ver minha existência tão desperdiçada, Sempre procurando por uma pista, De como chegar a você, Mulher, Rogue a mim a mesma praga que você rogou a ele, Jogue em mim mais de uma vez este seu feitiço, Quero ser este toque mágico e feminino da mulher que você é, Sal da terra que este deus não consegue saborear, Luz deste mundo que o todo-poderoso não consegue apagar, Mágico toque feminino tirado de minha costela, Mulher embutida no homem, Sem o qual o homem e sua humanidade seriam insípidos, E deus um frustrado homossexual masculino.

EM NOME DA MÃE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche) 

Você tem seu vodu, Iemanjá, Deus dará, E bramanismo hindu, Eu tenho o espírito santo enchendo-me de luz, E meu pai abandonando-me morto numa cruz, Nós temos nosso tinhoso, Candomblé, Se deus quiser, E sincretismo religioso, Eles têm o espírito santo triarcando no império romano, E o pai deles unificando o poder ocidental no vaticano, Ela tem sua Javé, Zeus, Pelo amor de deus, E xangô alafim-eché, Ele tem o espírito santificado por satã, E o pai dele em conchavo com leviatã, Deus tem seu ogum, Visigodos, Cada um para si e ele para todos, E filho nenhum, O espírito tem barbarizado tudo que é impureza, E o santo dele catequizado tudo que é natureza, O filho tem sua fêmea, Buda, Deus nos acuda, E alma gêmea, A santíssima trindade tem deus somente como pai, E a raça negra e a mulher como mãe que vem e vai.


O PRIMEIRO ENCONTRO DE ONEDIN COM DONA MYSTIQUE (TRECHO ORIGINAL DO LIVRO VALE DA AMOREIRA)

Texto de autoria de Alceu Natali com 

direito autoral protegido pela Lei 9610/98



...e o famoso Platão, por exemplo, era homossexual. Toda Atenas sabia e ele não estava nem aí.

O que é que o senhor está dizendo, moço? Onde já se viu um seguidor e mártir do Nosso Senhor ser chamado de bicha! O senhor está ofendendo a mim e a Deus, sabia? Onde é que o senhor está com a cabeça?

Nada surpreendia Onedin, mas esta inesperada observação da Sra. Mystique exigiu dele alguns segundos extras de reflexão. Os olhos múlti direcionais de Onedin percorreram rapidamente a sala à procura de algum livro sobre a Grécia clássica, mas nada encontraram. Onedin pensa: Esta mulher não pode ser uma espírita enrustida senão ela era teria dito que Platão foi um precursor e não um seguidor ou um mártir do Mestre. Será que ela é uma daquelas católicas pseudólogas inconscientes a ponto de confundir Santo Antão com Platão? Seria bem mais simples e até útil se Onedin usasse um pouco de sua memória críptica e explicasse à Sra. Mystique que talvez ela estivesse se referindo àquele santo que iniciou o movimento dos anacoretas e que séculos depois foi fonte de inspiração para os mosteiros Beneditinos. Mas, ao invés disso, Onedin preferiu justificar uma implausível homossexualidade de Platão dentro do contexto desavisado da Sra. Mystique. Onedin não se importava se alguém confundisse as pessoas. O que ele não admitia era alguém duvidar e ainda se ofender com suas afirmações.

Perdão, minha senhora, jamais passou pela minha cabeça a ideia de denegrir a imagem do nosso venerável São Platão, o candidato a apóstolo. Eu explico para a senhora. O Mestre tinha um grupo de amigos mais íntimos chamados os 12 apóstolos, e tinha também um grupo de seguidores menos chegados, mas fieis, chamados os 12 suplentes e...

...Espera um pouco. Eu nunca ouvi falar nestes 12 suplentes! E o que eles têm a ver com o fato de Platão ser bicha?

Tem tudo a ver. Eu te explico. Os 12 suplentes eram seguidores devotos que aspiravam entrar no grupo dos 12 Apóstolos para poder desfrutar da divina companhia do Mestre e de suas parábolas do arco da velha, mas eles não ganhavam o suficiente para chegar a tal posto. Eles não ganhavam como os suplentes da nossa câmara que para substituir os titulares em férias faturam em apenas um mês uma grana que a senhora levaria uns vinte anos para juntar. Para entrar no círculo de amizades do Mestre era preciso ter cacife, mas, com exceção de São Platão que abriu mão de seus escravos e de sua vida aristocrática em Atenas para ser apenas um carregador de tirso em meio às poucas bacantes na Galileia, esses suplentes eram todos uns pés rapados!

Ah essa não! Isso já é demais! Desde quando o Nosso Senhor cobrava pela sua amizade? O senhor já está passando dos limites!

De forma nenhuma! Isso era coisa do Judas. Ou a senhora já se esqueceu que ele era o tesoureiro do grupo e um grande trambiqueiro?

Mas o Nosso Senhor jamais teria permitido que Judas ludibriasse seus companheiros!

Claro que não! Mas ele não tinha conhecimento das falcatruas de Judas, tanto é que até ele foi vítima daquele salafrário e acabou sendo traído por ele e foi vendido aos Romanos por trinta paus, lembra-se?

É mesmo!

A bem da lógica, era a Sra. Mystique quem precisava de um tempo extra para refletir sobre todas essas asneiras de Onedin. Uma pessoa normal esperava que a Sra. Mystique encerrasse a conversa e colocasse Onedin para fora de sua casa. Mas aquilo que os humanos chamam de normal é muito mais relativo do que o tempo.

Mas, me diga uma coisa. Como o senhor sabe que o Platão era veado?

Bem, como eu lhe disse, Platão era um dos 12 suplementes e, juntamente com os 12 apóstolos, um dos 24 seguidores do Mestre. Como ele era o último da fila na ordem de preferência do Mestre, era chamado de 24.

Ah, não! Isso já é demais! 24, o veado no jogo do bicho? Moço, o Senhor já está querendo me fazer rir com coisa séria. Como é que poderia existir jogo do bicho naquela época?

Oras bolas, a senhora não sabe?

Não sei o quê?

Que os contraventores do jogo do bicho se inspiraram no sistema hierárquico dos 12 apóstolos e dos 12 suplentes baseado em números e nomes de animais!

Não diga!

Digo sim! Eu conheço tudo sobre o significado de toda essa bicharada.

Agora, o senhor me deixou curiosa. Fala-me aí, quem era quem nesta hierarquia.

Eu bem que gostaria Sra. Mystique, mas tenho outro compromisso. Teremos que deixar isso para outro dia.

Agora, Onedin queria se livrar da pessoa quem ele pensou ser sua melhor pista para desvendar o misterioso crime passional, mas mal sabia ele que ela seria a peça chave do quebra-cabeça legado por Tilly. Se ele se libertasse dela e voltasse a encontrá-la, e ele voltaria a se encontrar com ela mais vezes até dar uma explicação sobre todos os animais de sua perigosa improvisação, ele não teria dificuldades para aceitar a irrogação da pecha de embusteiro com esta história do jogo do bicho em tempos longínquos com a mesma cordialidade que Murphy aceitou a de pessimista, pois seu otimismo congênito destituiu-o da noção de defeito e lisonjeio, mas ele estaria preparado para dar uma explicação convincente e mais absurda do que esta história, pois cedo ou tarde, rezam os ditames do juízo humano, a senhora Mystique cairia em si ou alguém faria isso por ela, e sua razão seria naturalmente restituída à normalidade. Porém, a Sra. Mystique não era daquelas pessoas que gostam de mágicas, aquelas que sabem que tudo não passa de um truque, mas que sentem um enorme prazer em serem enganadas. A senhora Mystique não nasceu e nem se tornou doida. Como a maioria das pessoas, ela precisava ser alienada, pois só assim é possível continuar vivendo. Onedin não precisou se esmerar para esquivar-se dela, afinal ela não era tão matreira como o coisa à toa, e seu hálito enxofrado se amalgamava com o cheiro de mofo do ambiente e formava uma rara atmosfera catinguenta, mas exorcizante.

Ah, vamos lá, moço, o senhor é um verdadeiro artista de cidade grande. Me dá uma canja, vai. Fale-me só alguns nomezinhos.

Está bem, mas só alguns nomes porque já estou atrasado. O número 1 era Pedro, o avestruz, aquela rocha sobre a qual o Mestre disse que iria edificar sua igreja.

Mas por quê avestruz?

Porque ele era covarde. Ele negou o Mestre três vezes. Agiu como uma avestruz que enterra a cabeça na areia para não enfrentar o perigo e a adversidade. A senhora lembra daquela letra do Paul que diz: 'Me used to be angry young man, Me hiding me head in the sand'? É a mesma coisa.

Nossa que interessante! Não entendo inglês, mas acho que agora estou começando a ligar as coisas. Posso dar um palpite?

Claro!

Eu já sei quem é o número 2, a águia. É João!

A senhora sabe que eu também sempre pensei que João fosse a águia até o dia que eu estudei este código secreto do entourage do Mestre e descobri que, na verdade, João é o 7, o carneiro.

Essa eu não entendi. E aquilo que a gente aprendeu no catecismo sobre os quatro evangelistas serem representados por animais, Marcos, o leão, Mateus, a fera com rosto de homem, Lucas, o touro e João, a águia?

São apenas interpretações artísticas da igreja tardia. Não tem nada a ver com o código secreto dos apóstolos.

Mas, então, fizeram estas representações com base em quê?

Foi com base nos próprios evangelhos. Dizem o seguinte: João é a águia porque sua narrativa começa no céu, com o verbo eterno que desce à terra e se faz carne. Marcos começa falando de João Batista, uma voz que clama no deserto como um leão que urra. Lucas é um boi porque este é um animal de sacrifício no templo e a narrativa sobre a pregação de Jesus de Lucas começa no templo. Mateus é, na verdade, apenas um ser humano e sua narrativa começa com a genealogia humana de Jesus.

Puxa vida, o senhor sabe tanta coisa! Também não é para menos. Um jornalista do Legislado Baixo! Aqui no Vale e ainda na minha casa, me entrevistando! Sinto-me lisonjeada com sua presença e deslumbrada com tanto conhecimento que estou adquirindo com o senhor.

Imagina. Eu que não estou acostumado com tanto elogio assim.

Muito obrigada, moço. O senhor pode me dizer por quê João era o carneiro?

O evangelho diz que João era o apóstolo favorito do Mestre. Ele o amava. João foi o único apóstolo que esteve presente na crucificação, sempre junto à mãe do Mestre. E do alto da cruz o Mestre disse para sua mãe: 'Mulher, eis o teu filho!' E disse para João: 'Eis a tua mãe!' O Mestre era conhecido como o cordeiro de Deus, por isso, seu apóstolo favorito teve a honra de substituir o Mestre e passar a ser chamado por um nome correspondente: o carneiro!”

Se, por acaso, a senhora Mystique perguntasse que bicho João foi antes da crucificação, Onedin já estava com a resposta na ponta da língua.

Meu Deus, que coisa linda! Olha só, fiquei toda arrepiada.

Bem, agora preciso ir mesmo.

Por favor, só mais um nome. Eu prometo que será o último hoje, tá bom?

Está bem, só mais um.

Quem era o número três, o burro?

Eu acho que a senhora vai ficar tão surpresa quanto eu quando fiquei sabendo. Era o Pedro.

O Pedro de novo? Não entendi.

Era outro apelido que ele recebeu do Mestre, porque, além de covarde, ele era meio burro, meio porra louca, se a senhora me permite. Fazia as coisas sem pensar. Há várias passagens no evangelho que atestam sua impulsividade. Naquele episódio do Mestre andando sobre as águas, Pedro pediu para ir ao encontro dele e o Mestre pediu para que ele viesse. O burro desceu do barco, achando que iria andar sobre as águas e afundou. O Mestre, sempre paciente, lhe perguntou educadamente: 'Onde está sua fé?' Mas eu acho que ele devia estar se perguntado: 'Meu pai, terias tu colocado o cérebro deste burro no lugar por onde saem as fezes'? Tem também a noite em que o Mestre foi preso. Quando o soldado se aproximou para levá-lo, Pedro se precipitou e cortou a orelha dele com uma espada, arrumou a maior confusão e o Monte das Oliveiras quase virou um banho de sangue e teve nego que precisou sair correndo pelado.

Nossa! Olha que eu já li os evangelhos várias vezes e nunca tinha prestado atenção nestes detalhes.

Até mesmo depois da ressurreição, eu acho que o Mestre tirou uma com a cara dele.

Ah, não acredito.

Bem, se a senhora leu os evangelhos tantas vezes como disse, veja o Capítulo 21 de João. Lá diz que na terceira aparição que o Mestre fez aos apóstolos após a ressurreição, eles haviam acabado de comer e o Mestre fez a Pedro a mesma pergunta três vezes: 'Você me ama mais do que os outros'? E Pedro deu ao Mestre a mesma resposta três vezes: 'Sim, Mestre. O Senhor sabe que eu te amo'. Mas, nas três vezes, o Mestre deu a mesma réplica: 'Vá dar comida aos carneiros'. Na terceira vez, Pedro ficou até meio aborrecido e disse: 'Mestre, você conhece todas as coisas. Você sabe que eu te amo'.

Virgem Maria, esta eu preciso conferir. Não é que eu duvido do senhor, por favor não se ofenda, mas preciso ler isso de novo e descobrir como eu não percebi esse tipo de gozação antes. Mas, pensando bem, será que o Nosso Senhor não estaria testando Pedro por causa daquelas três vezes que ele o negou?

Faz sentido. Talvez o Mestre quisesse apenas constatar que Pedro era covarde e burro, mas não mentiroso.

Moço, agora estou me dando conta de uma coisa. Se Pedro ocupa 2 dos 24 números do jogo, alguém vai ficar sem número. Como o senhor explica isso?

Onedin tinha explicação para tudo. Ele não só provaria que nenhum dos 24 integrantes ficaria sem número, como também elevaria a quantidade deles acima dos 24 sem aumentar a quantidade de animais.

A senhora me dá licença, mas eu tenho que ir mesmo, mas eu retorno. Eu preciso ir porque não acho justo deixar meus amigos e convivas se iludindo com a opulência da cidade grande depois de eu ter conhecido esta pequena e simplória cidade do interior que recebe estranhos em seus lares de braços abertos e ainda retribuem suas súbitas aparições com largos sorrisos em seus rostos. A senhora não perde por esperar! Este seu humilde entrevistador há de aqui regressar em breve como o melhor aprendiz da homossexualidade que esta amoreira cheia de amores mil jamais viu...