Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98, complementado por Inglesa Luso Chinesa em Dezembro de 2024
Joe Citadino, Tivemos é um menino, Tem um nome citadino, O menino citadino, Que na verdade era do campo, Nada tinha de malicioso, E você sabe por que não, Ele tinha uma inteireza de graça de modesto anfitrião, Dissipada como a de um Timão de uma Atenas, Em rasgos de simplicidades e generosidades, Seu semblante exprimia uma alegria suprema quando você chegava, Em que alguns sonhadores, Como você, viam as portas abertas para um paraíso, E quando você partia qual de vocês dois mais sentia? Você não sabe. O menino citadino atingiu a maioridade e precisou de sua hospitalidade na cidade grande, Mas nunca recebeu de você a mesma recepção, Quão incompriensível e duro você imagina que isso foi para ele? Quão difícil foi para você explicar ele que você era muito doente! E é essa é uma da muitas maneiras que uma amizade pode terminar, Você nem mesmo sabia que era anormal, Se fosse hoje seria diferente, Mas hoje vocês tornaram-se pessoas diferentes
Havia um menino que gostava de sua amizade, Quando você partia ele sentia muita solidão, Muita saudade, Contava todos os dias do ano na mão, Até chegar a próxima natividade, Até que um dia teve que mudar de direção, Havia chegado sua maioridade, Precisava aprender uma nova lição, Mudou-se para sua cidade, Mas não teve de você a mesma recepção, Ele não tinha ideia de sua sofrida realidade, Vocês se perderam para a incompreensão, No lugar dele apareceu um homem inteligente, Que tinha ideias que você compartilhava, Ele era um pouco carente, E te procurava, Reclamava quando você estava ausente, Até que se acostumou com o que você mais gostava, Mesmo sua radical opinião inconveniente, Até que um dia deu sinais de que se esgotava, Te abandonou pela opinião de seu mais intimo parente, No lugar dele surgiu outro homem mais mediano, Que lhe deu cordas pela sua religião, Queria que você tornasse-se puritano, Tinha medo de sua inteligência espantosa, Sonhou que você era o enviado da ocasião, Encorajou-o a engajar-se numa empreitada que você tornou perigosa, Até que um dia você o assustou desafiando sua inabalável convicção, E você o deixou com seu fanatismo, Sua ignorância e sua muleta forçosa, No lugar dele surgiu uma mulher que lia sentimento, Que sempre lhe foi leal, Sempre ouvia seu lamento, Com uma humildade serviçal, Aguentava toda a prolixidez de seu pensamento, Sem jamais expor sua superioridade intelectual, Tinha pressentimento, Porque era especial, Antecipava acontecimento, Até que um dia se decepcionou com sua conduta imoral, E ignorou-o ao descobrir que você é um mau elemento.
ACHADOS E PERDIDOS
Costuma-se dizer que estamos só de passagem neste mundo, uma passagem infinitamente curta neste universo de trilhões ou muito mais de anos, e no qual nossa vida dura apenas um trilhonésimo ou muito mais de segundos. Não sabemos por que tudo é assim. Só temos uma única certeza: a morte. E não há excessões.
Costuma-se dizer, também, que a maioria das pessoas estão apenas de passagem em nossas vidas, excessão feita às famílias nucleares. Mas isso já deixou de ser uma certeza.
O Alceu só teve mulheres em sua vida. Não se trata de amantes. Falo de duas esposas e quatro filhas. Três delas já partiram, mas seguem vivas. Ninguém sabe onde elas se encontram. Nem o pai. Esposas são achadas. Filhos são criados e perdidos.
O Alceu perdeu seu pai em 1987. Só neste ano, mais dois se foram para sempre: sua mãe em Abril e seu irmão caçula em Maio. Sobrou apenas seu irmão mais velho que segue incomunicável por problemas de saúde.
Nos últimos seis anos dentro da casa do Alceu continua reinando a solidão e um tipo de solitude involuntária, A água da chuva compartilha tetos e assoalhos com sua pequena família, A mesa é racionada e dela só caem migalhas de alimento para cães, Os mais leais de todos, E que comem da mesma cesta básica que as instituições filantrópicas doam de vez em quando, Nenhuma noite dorme com as galinhas, E nenhuma manhã acorda com os galos, O resto dos dias são vívidos um de cada vez, 'Another day, Another dollar', Como dizem os americanos, Ou matar um leão por dia, Profissão dos brasileiros, 'Struggling to survive', Lá fora tem muita gente latente, Gente potente, Prováveis e praticáveis, Milhares permanecem indiferentes, Centenas são fogo de palha, 'Flashes in the pans', Outras dezenas são solidárias, Entre elas pencas fiéis, Parecem perpétuas, E isso pode levar ao erro de 'taking them for granted', E, Pior ainda, À cretinice de pensar: 'What a time to be alive!', É preciso cuidado, 'Never cross the line', Como eu digo: 'You're born and then you live, then you die, You get one try', Acham que eu preciso de um banho de religiosidade?, De espiritualidade?, De terapia?, Ok, Be my guest, I’ve got a lot of things I need to get off my chest, Todo mundo desaparecerá, Alguns persistirão até o fim da vida até se sentirem abusados, Há virgens de coração, Franciscanas de devoção, Morre um, Morre dois, Mas elas não te deixam para depois, Se elas o fazem uma única e última vez, É porque três estão morrendo, Inclusive elas, Conterrâneas minhas de um quarto, Donas de seus lares e de seus narizes, Não têm prato farto, Mas doam a quem doer, E lamentam a quem dói quando elas já não tem mais a oferecer, Homens da terra da ardósia tanto prometem e nada cumprem, Tanto tiram e nada devolvem, Então torço para que eles sejam felizes com tudo que eles não conceberam e nem pariram, Confesso que o Alceu já tomou o que não é dele e nunca devolveu, Eu já pari vidas, Mas nunca as roubei, Mulheres recatadas, Mitologicamente alcunhadas de escravas de Elias, De duvidosas belezas resplandecentes, Curtem tudo quanto é vintage e não são muito diferentes das devotas do santo de Assis, Sujeitos cools e caridosos, Têm limites que não podem ser ultrapassados, Caso contrário eles retroagem à infância, Brincam de esconde-esconde, Ficam de mal, Trancam a porta e nunca mais deixam você entrar, Eles estão certos: O Alceu, montou de cavalinho neles, Então, Eles ficaram sem opções e tiveram que dar um coice nas bolas do meu amigo, Tenho certeza que eles são gente boa, São um pouquinho, Só um pouquinho, parecidos com homens de cabelos de linho, Filantrópicos de mãos e bolsos cheios, Mas têm surtos fantasiosos e verídicos de manipulação e dissimulação e acabam jogando suas bondades no esgoto, Como o excedente de comida que os fartam e vai para o lixo, Na minha opinião, O Alceu achou que a bondade desses homens era cega e não precisava de ocasião, Ele errou, Como eu disse, 'Enough is enough', Gente com nomes de insetos e de uma modalidade esportiva muito praticada na minha terra, São, No mínimo, 'kind and willing': Quando podem, podem, Quando não podem, Não podem, Sem 'stalling', Mas jamais lhes peça amizade pra valer, Aqui fora, tem gente de toda laia, Adestradores de dragões são muito solícitos e prestativos, Mas taxativos quando se sentem abusados, Se mudam para outro lugar e se escondem atrás de uma parede de vidro, Esse tipo de esconderijo é um pouco infantil, Mas quase todos nós somos, Afinal somos animais humanos, Crianços crescidos, Sapiens e Minions, Tem gente bacana e, Digamos, Humilde e generosa, Mas essa gente acaba se dividindo entre suas duranguezas e suas pseudo intelectualidades que dispensam o que pensam estar abaixo de pseudo celebridades, Por falar em distinção, Não posso esquecer das esforçadas e louváveis mães de Ptolemeu XV Filópator Filómetor Cesarião (não me refiro às Cleópatras – só acho que elas têm um cacho com os pais do menino), Acho que dentro da casa do Alceu entram mais maldições do que rezas e vibrações, Mas também entra em sua vida o melhor amigo presencial que, Segundo um provérbio árabe, É sempre o primeiro a te visitar num hospital, Porém, Ninguém tem condições de ir a um nosocômio todos os dias, A não ser que você já lá está internado, Como o Alceu, Se vocês curtem somente gente virtual, Precisam conhecer pessoas de origem indígena, Não uma Yanomami que precisa de socorro e não de internet, Mas, Por exemplo, Uma Kaiowá, Elas não fazem apenas qualquer sacrifício por você, Elas morrem em teu lugar se for preciso, Mas se elas tiverem alguém para morrer na sua frente e se revoltarem com manipulação, Você não deve ficar na fila, Saia, Porque o mundo onde o Alceu viveu acabou, O Alceu dobrou o cabo da boa esperança e ancorou no porto de onde partiu, E esta mensagem é, 'So to speak, His farewell', E o que vamos fazer no tempo que nos resta? Pagar todas as contas, Religiosamente em dia, Pois nós pagamos para nascer, viver e morrer, E eu vou continuar por aqui, No lugar do Alceu, Até me exaurir.
Nós últimos 3 anos, 3 que faziam parte da quaternidade da cristandade do Alceu deixaram este mundo: Zen, Joe Citadino e Cilene, nesta ordem. O quarto, aquele sobre o qual Platão perguntou por que ele não apareceu, deve estar vivendo por aí, em algum lugar. Quaternidade Cristã parece não ser um frase correta. Até onde sei, o Salvador da Pátria, o quarto, e Cilene são/eram cristãos ferrenhos. Joe Citadino deveria ser também, mas Zen era ateu como o Alceu. A quaternidade da cristandade à qual o Alceu se refere são as 4 pessoas que ele pegou para Cristo. Não sobrou ninguém, ou melhor, há, ainda, o Salvador da Pátria, mas além de estar sumido ele jamais ergueria um dedo sequer pelo Alceu que tornou-se o Cristo de si mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário