sábado, 2 de novembro de 2024

DEUS SALVE A RAINHA MARY QUANT

Texto de autoria de Alceu Natali. Direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Quem não se vangloria da época em que viveu? A nossa é sempre a melhor de todas, do passado e do futuro. Eu tenho orgulho, brada Vespúcio. Sou da época das grandes navegações e descobri o vasto continente americano antes do pobre Colombo que se perdeu nas ilhas do Caribe. Hah hah, cagou-se de rir um esquimó! Cheguei na América 12 mil anos antes de você, atravessando o mar congelado, vindo da Ásia durante a última glaciação. Permitam-me um aparte, senhores, rumorejou Péricles. Sou de minha época! E daí? E daí que vos lhe pergunto quanto vocês dariam para ter vivido nos tempos de Sócrates e Platão? Estes nomes ecoaram e atraíram para o simpósio, sem trelho nem trebelho, impressionistas, vitorianos, trovadores, e toda sorte de epocais. Larguei todos à beira da altercação parecida com tagarelamento de mulheres as quais, não tenho dúvidas, meu colega Ergo Sum diria: Agora vai falar uma de cada vez, começando com a mais velh... Ah, se meu pai aqui estivesse, ele falaria de sua pauliceia européia e romântica, dos anos 40, tempo em que os rapazolas, mesmo os mais humildes, andavam de terno, gravata e chapéu, e sem esse indumento não podiam entrar num cinema. Desculpem-me, galera, com os primeiros hormônios em erupção e os bengalantes e craques de dominó. Eu tive o privilégio de chegar à adolescência em plenos e gloriosos anos 60 que deram início e atingiram o auge da criatividade, da liberdade, da magia e de todas as mais belas manifestações e expressões de cultura e arte as quais você pode dar qualquer nome, por exemplo: a dream come true, um sonho quase impossível mas que acaba, como John Lennon anunciou quando os Beatles se separaram. Foram seis anos de puro encantamento: de 1964 a 1969. Se você tinha entre 15 e 19 anos, como eu neste período, então você deve ter ouvido falar deste estado vigil ao qual o espírito se entrega enlevado. Se você viveu num país atingido em cheio por esta vara de condão de prestidigitação, então você pode ter estado bem perto ou até mesmo dentro deste arroubo. O centro desta nova onda foi uma estrela chamada música em torno da qual todos esplendores da juventude orbitavam. Mas não foi qualquer combinação de sons. Foi um ritmo único no mundo com a marca da originalidade, beleza e êxtase total. Veio de muito longe, do Reino Unido, que mal havia sacudido a terra de Vitória e logo veio aportar na terra das oportunidades. A América já tinha sua revolucionária solfa negra, que os ingleses tomaram emprestado e britanizaram, inconscientemente preparando um campo libertino e minado pronto para explodir, precisando apenas de um catalisador: os Beatles e seus conterrâneos invadiram o imenso reduto dos Yankees e, de roldão, o resto do mundo, e exceleram e quintessenciaram a pop music para sempre. Tudo que entrava no primeiro dos infernos rebatia aqui no quinto que tinha, e ainda tem, Sampa como o centro de tudo, onde tudo acontece. Sampa fervilhava com vários gêneros: bossa nova importada do Rio, tropicália da Bahia e jovem guarda da própria terra da garoa. Mas minha geração tinha ouvidos somente para o que era considerado cool and groovy (awesome and terrific nos dias atuais). Boys and Girls of the same feather flocked together. Todo santo sábado havia um baile na casa de alguém onde só rolava rock and roll. Realizar baladas todos os fins de semana não era, necessariamente, um pretexto só para transar. Não precisávamos de explicações sobre o momento mágico que vivíamos. Intuitivamente, os jovens marcavam encontros semanais para celebrar esta curta fase fascinante e inigualável de suas vidas, como num ritual fraterno, etéreo e transcendental. Estávamos diante de um fantástico psicodelismo, a manifestação da alma, vestidos a caráter, com as extravagantes e incrementadas roupas inglesas. Graças aos britânicos mais uma vez, as meninas vinham de minissaias, inventadas pela estilista Mary Quant (hallowed be thy name) em Londres. Ela recebeu a maior condecoração da Grã-Bretanha concedida a uma pessoa: o MBE - Membro do Império Britânico. É provável que o reverso da medalha tivesse a efígie da vagina real. Bem que as minas paulistanas mereciam um prêmio igualmente apoteótico. Elas nos agraciavam com a oportunidade de conhecer as cores de suas calcinhas e dos pelos pubianos das que nada usavam por baixo. Thy kingdom come to stay, Mary. Os garotos iam de calça Lee apertada, camisa bufante, colete, cinturão e bota de salto carrapeta. Tudo girava em torno da extraordinária música da Swinging London e adjacências. A mocidade reunia-se para confraternizar-se, ouvir música, dançar, beber e get high. Mas não se enganem: as meninas não eram nada ingênuas e tampouco promíscuas! No meio daquele frenesi rolava sexo apenas como sobremesa de um jantar. Entendeu? Acho que não. Música lenta colava os rostos e as coxas. O par não se tocava no rock ligeiro. Fazia coreografias estroboscópicas como as luzes que saiam das paredes e do teto cobertos de luz negra, como Jumping Jack Flashes. Numa mão um copo de cuba libre (rum com Coca-Cola), noutra um baseado da hora. Nada de acanhamento, rodeios e preliminares. O pessoal chegava e punha para quebrar com força total, com um petardo dos Rolling Stones. A turma entrava em transe, mas ninguém terminava a noite caindo pelas tabelas, e os garotões acompanhavam, cavalheirescamente, todas as pequenas de volta às suas casas. Não entendeu? Não te culpo por isso. Longe de mim alugar vosso tempo tentando resgatar o verdadeiro espírito da época que vivi. Como Doris Lessing escreveu, tentar reproduzir o ambiente moral de uma era é o mesmo que tentar reproduzir a qualidade de um sonho, pois nenhum tipo de comunicação é possível, a menos que outra pessoa tenha tido o mesmo sonho que você teve e disso você não poderá ter nenhuma prova ou garantia, mas somente confiança e fé. Eu e muitas pessoas tiveram o mesmo sonho. Se você não teve, lamento. Mas o espírito das minissaias você sacou. Não? Saquei mais do que você imagina, ironizou Picasso atrás de mim. De palheta de vulva pubis entendo mais do que qualquer sarapintado. Posso juntar todas estas nuances que você diz ter visto e muitas outras que você nem sonha ver, pincelá-las e aprisioná-las numa tela e dar a ela um nome como...de que época você disse que é? Dos anos 60. E qual é mesmo o nome de sua belle époque? Hum, pode ser psicodelismo. Que tal 60 tons de Psicassolismo? Ou, talvez, fique melhor Psicopubismo, anverso de Psicocubismo!




Get Off of My Cloud

The Rolling Stones

Track 7 on December’s Children (And Everybody’s)

Produced by

 

Andrew Loog Oldham

One of the earliest #1 hits of The Rolling Stones, “Get Off My Cloud” was released in November 1965 as a 7-inch single; in December of that year, it appeared on the Stones'… Read More

Sep. 25, 1962

 

 

Get Off of My Cloud Lyrics

[Verse 1]

I live on an apartment

On the ninety-ninth floor of my block

And I sit at home looking out the window

Imagining the world has stopped

Then in flies a guy

Who's all dressed up just like the Union Jack

Says, I've won five pounds

If I have his kind of detergent pack

 

[Chorus]

I said, "Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Don't hang around 'cause two's a crowd

On my cloud, baby"

 

[Verse 2]

The telephone is ringing

I say, "Hi, it's me, who is it there on the line?"

A voice says, "Hi, hello, how are you?"

“Well, I guess I'm doing fine“

“It's three AM, there's too much noise

Don't you people ever want to go to bed?

Just because you feel so good

Do you have to drive me out of my head?”


[Chorus]

I said, "Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Don't hang around 'cause two's a crowd

On my cloud, baby"

Yeah

 

[Verse 3]

I was sick and tired, fed up with this

So I decided to take a drive downtown

It was so very quiet and peaceful

There was nobody, not a soul around

I laid myself out

I was so tired and I started to dream

In the morning the parking tickets were just like flags

Stuck on my windscreen

 

[Chorus]

I said, "Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Don't hang around 'cause two's a crowd

On my cloud,"

 

[Outro]

Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Hey (Hey), you (You), get off of my cloud

Don't hang around, baby, two's a crowd

On my cloud

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