quinta-feira, 31 de março de 2022

SUBSTITUTOS


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 
Devemos esperar por vocês? Como Estragon e Vladimir de Samuel Beckett esperaram pelo amigo Godot por duas noites, Mas ele nunca apareceu, E mesmo assim os dois continuaram esperando por ele? Devemos esperar por vocês? Por quantas noites? Uma pelos gatos pardos? Outra pelos in-fólios sobre os quais adormecemos? E ainda outra quando a lua afasta os crepes da escuridão e prateia nossos caminhos às cegas? Devemos esperar por vocês? Como imagens estranhas que surgem ante nossos olhos fatigados de esperar? Como nuvens que vêm e vão, Esperando por um bem em vão? Como uma bela história de amor esperando pelo seu romancista? Devemos esperar por vocês? Por quantas vidas? Uma por nós mesmos, Outra pelos nossos sonhos, E ainda outra por nossas experiências de quase morte? Vocês podem substituir nosso deus? E com um breve facho de luz branca intensa e ofuscante nos dar uma paz de espírito duradoura? Vocês podem ser esteticistas que conseguem substituir a ideia de beleza à ideia de verdade e à ideia de bem? Vocês podem ser idealistas que conseguem substituir a ideia de ingenuidade à ideia de pragmatismo e à ideia de egoísmo? Vocês podem ser providenciais e conseguem substituir a ideia de estado de necessidade à ideia de culpa e à ideia de dolo? Vocês podem substituir nosso amor? Por qualquer alguém ou qualquer outra coisa que não nos cause mais dor, Embora esta rima possa ser um clichê até mesmo de onde vocês vêm? Vocês podem substituir nossa dor, Por qualquer alguém ou qualquer outra coisa, Com nosso penhor de reciprocidade que podemos conseguir com coração forte, Embora, Como Truman citou à Nossa Santa Teresa Ávila, Mais lágrimas são derramadas pelas súplicas atendidas do que pelas não atendidas?

terça-feira, 29 de março de 2022

PORQUE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Porque não podemos receber amor e não temos para dar, Perdemos a noção de quanto tempo dura uma dor, Porque não temos posse e amigo, mas temos uma vida para viver, Nosso lar é visto de longe como um pequeno covil que serve de abrigo, Porque somos ingênuos e verdadeiros e não revelamos nossos sacrifícios, Somos isolados por indiferença e por artifícios, Porque não precisamos de título de notoriedade para lustrar nosso ego e nossa vaidade, Escrevemos nossos pensamentos somente para quem vive à margem da sociedade, Porque não somos nada e não temos nada a perder e nem a ganhar, Podemos estar em qualquer lugar, Porque o mundo tem tanta beleza e a negligenciamos, Nos libertamos da escravidão dos valores humanos e com ela comungamos, Porque um marido só pensa na sua devoção à religiosidade, Deus não ameaça um casamento colocando-se no caminho de uma mulher de tanta beleza e pouca santidade, Porque Deus escreve certo por linhas tortas, Não interpretamos suas palavras e tampouco as transformamos no objeto de um culto de um desejo ardente, Que se antepõe a todos demais afetos do homem, Não endireitamos suas veredas e tampouco as transformamos na resignação a um destino previamente traçado, Que se antepõe ao nosso livre arbítrio e à nossa vontade de mudar.

segunda-feira, 28 de março de 2022

SONHOS COM ESTRELAS

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


Precisei de uma alma bastante amiga, Para sair robustecido na fé e na crença, Deste impasse, Emprestei de nossa mãe terra, Para penhorar meu amor, O céu veio nos buscar, E antes do sol nascer, Elevou-nos, Brilhando telas, E exalando âmbares, Por amazonas cupidinosas, Anti-ares, Apontando com seus arcos certeiros, Seus lindos seios cortados, Elas são de nosso torrão, Estão em nossa bandeira, Continuamos hasteando, Atravessando as estrelas, Flautas encantadas que afugentam todo perigo, Atraíram-nos para as fantasias que pensávamos existir só no país das maravilhas, Com nosso avanço pela galáxia, Entrevemos, De longe, Nosso sol, Como um pastor sentado à borda de um tênue regato de gases e poeira, Como num braço de ribeiras de várzeas, Aparecem-nos arabescos caprichosos, Românticos, E devaneios poéticos, Eis ali os dois irmãos inseparáveis, Os filhos de Leda, A cabeça do primeiro gêmeo, E os pés do segundo, Ambos guardados com absoluta felicidade pelas mãos do guerreiro do centro, E nas extremidades vemos a  princesa tecelã, E o pastor de gado, Que se veem só uma vez por ano, E quando chega o dia, Lançam-se de encontro um ao outro como num voo de águia, Parecendo vegetais felizes, Mergulhando as sôfregas raízes, A procurar no solo ávidas seivas em seus lábios, Eles, Assim como nós, Ao contrário do romancista que entra na literatura com o pé direito, Têm os pés esquerdos de algo central, De algo maior, E se apartam pé ante pé, Sem solércia, Sem Negaça, Até que o brilho de seus olhos se reduzem ao som de um pulsar, E simplesmente sentem, Só com a imaginação, Sem o coração, Que já fora de leão, E agora é um pequeno rei, Mitológico, Do tempo da virgem Erígona, Seu pai Icário, E seu cão Maera, Aqueles que se seguem, Ao clarão de belas supernovas, Faróis para todos navegantes do universo, Como o piloto do navio de Menelau em sua expedição para reaver Helena de Troia depois dela ter sido levada por Páris, Como eu que tenho você, Mulher e amada ao pé de si, Que me faz um homem feliz e completo, Te trago de volta, Correndo, Levando conosco uma braçada de cosmos retardatários, Colhidos pelo caminho que trilhamos, Levados pela boa vontade de nossos sonhos.

sábado, 26 de março de 2022

WOMEN IN BLACK

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Outside she dresses in mourning with diatomic derring-do, She is chic, Charming, Downright stunning, Inside she hides herself with no chromatic flamboyance, She is all mystery, All sortilege, All complexily adultery, She shows up in bizarre dreams some men have once in a blue moon, She is sinister with the left hand, Remote viewing with clairvoyant eyes, Magical with an intuitive mind, She lets her pleated skirt fall between her knees and feet, She is sharp, Scholarly, Erotically classy, She raises the lampshade skirt between her tighs and navel, She is bold, Crazy looking, And has a learnt by heart chat, A hasty man will not spare that woman wearing a nightgown-like dress, Available for love anywhere, Not even that both ways swinger with sunglasses and clad in rompers, Willing to win the body slipped in a suit with a head covered by a top hat, Outside she is impermeable and hangs on to black heat, She is steadfast, Almost inexpugnable, She deconstructs herself in colors, Inside she pierces through and radiates white light, She is loyal, Almost angelical, But does not discompose the monochromatic artifices, She is the very bizarre dreams some men have once in a lifetime and another in death, A sudden appearance, An enigmatic behavior, A surprising vanishing, She lowers her pleated skirt between her tights and shins, Knotty treatment, Stepping on, She rises the wrinkled skirt between her knees and groins, Remarkable restraint, Extroverted volition, Freed from compromise, She is fun, The oportunist man will not dismiss the exotic woman with a hat and transparent clothes, Standing by for a smart talk, Not even the teenager with braided hair, Ready to dovetail the one with a big bow tie on her frontal waist and with a look of oh, drive me crazy.


quarta-feira, 23 de março de 2022

NOSSAS MÃES

 MINHA HOMENAGEM AO POETA NATHAN DE CASTRO, MESTRE DOS SONETOS, MORTO EM 2014, AOS 60 ANOS
Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Mãe Alice, chega-lhe com lastro
Este poeta amigo e mestre do soneto
Junte-se ao orgulho de mãe Castro
E cantem seus versos em dueto

Na calada de eternas esperanças
Só os ecos de suas vozes respondem
Suspiradas de doces lembranças
Que as almas saudosas não escondem

Um céu mais poético nos espera
Um companheiro da arte da palavra
Em ti todo nosso louvor encerra

De seus quartetos se tira presságios
De Nossas Mães filhos da terra
De seus tercetos novos adágios

sexta-feira, 11 de março de 2022

PALINDROMIA E POLICROMIA


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


Hoje quero recordar de um único dia que nunca se perde no tempo, e por já ter passado não pode mais ser mudado, mas só recordado. Lembrá-lo 13 anos depois, e ainda neste ano que termina com a dezena 13, pode dar um duplo azar se eu me mantiver apegado a crendices e ainda lembrar que foi numa sexta-feira, a menos que, neste momento de reflexão sobre minha presunção artística, sempre insegura com as seguidas recaídas de minha fé e sincretismos religiosos, eu me conserve um calculista, no sentido aritmético da palavra, e, parodiando o matemático Neil Sloane e inventando-lhe um gosto supersticioso, asseverar que os dois juntos, tal qual dois negativos somados, resultem em positivo. 
Mas se eu fosse, de fato, afeito a estes agouros tirados de fatos puramente fortuitos e temesse que nossa diferença de 13 anos fosse mais um mal presságio, ainda assim eu procuraria racionalizar uma compensação na sua confissão de que sua idade era maior que o dobro desta diferença. E, abusando prazerosamente da redundância, na verdade, para mim já não fazia diferença se a diferença fosse de 13 ou 23. E para aumentar ainda mais o hiperbolismo, coincidentemente a soma dessas duas diferenças era sua verdadeira idade. Ao lembrar-me daquele dia, ainda conservo sua imagem monocrômica, mas agora quero acrescentar-lhe algumas cores e outras numerologias. Antes, porém, quero recordar a monocromia que lhe dediquei no ano 10 de nossa união:
É assim que quero que você me veja, Sou um pássaro que voa alto, E corta o solo numa rasante, Sem nunca precisar pousar, Sem nunca precisar plainar, E te busco em pleno ar, É assim que um homem como eu te almeja, Subo no pico de um penhasco e dou um salto, E você nunca me verá em queda livre vacilante, Nunca me verá com medo de me afogar, Não será suficiente para mim você me observar, Não será suficiente para mim você me enquadrar, Não será suficiente para mim você me fotografar, Não será suficiente para mim você me revelar, É assim que você quer que eu te veja, Você é um vento que sopra forte, Risca a noite com raios, Troveja e faz o céu estremecer, Ruge como uma tempestade de se enfurecer, E encontra no meu vazio o meu querer.



É assim a mulher que um homem deseja, Você salta do alto da vida para a morte, Nunca verei você fazer ensaios, Nunca verei você arrefecer, Não será suficiente para você um mundo sem mudança, Não será suficiente para você um mundo só de esperança, Não será suficiente para você um mundo que não avança, Não será suficiente para você um mundo sem andança, É assim que quero viver, É assim que eu quero que você viva por nós, Sou um sol que brilha para iluminar, Sem precisar arder, Sem precisar proteger, É assim o homem que uma mulher quer ter, É assim que o mundo quer nos ver a sós, Subindo até o último degrau até nos desequilibrarmos, Até escorregarmos, Até cairmos e nos despedaçarmos. 



Não me basta ser apenas um homem sobrevivente, Não me basta ser apenas um homem inteligente, Não me basta ser apenas um homem valente, Não me basta ser apenas um homem suficiente, É assim que quero minha mulher, É assim que quero que você me veja como uma miragem, Sou névoa de ansiedade para ver o dia raiar, Que cai da escuridão até a manhã orvalhar, Até o sol dissipar, É assim que você me quer, É assim que você quer registrar minha imagem, Na monocromia de seu olhar, E assim que você quer me amar, Não será suficiente para você não parar de fazer amor, Não será suficiente para você absorver todo meu calor, Não será suficiente para você me fartar com seu ardor, Não será suficiente para você fazer sexo com muita dor. 



É assim que você quer ser, É assim que você quer que eu te veja, Sou um cachorro vira lata longe de casa, E você nunca me verá voltar, Nunca me ouvirá ladrar, Nunca me verá mendigar, É assim que você quer me ter, É assim que uma mulher como você me almeja, Me jogo do alto de uma montanha sem ter asa, E você nunca me verá desmaiar, Nunca me verá acabar, Não será suficiente para mim pousar para o teu olhar, Não será suficiente para mim olhar para seu andar, Não será suficiente  para mim andar no seu caminhar, Não será suficiente para mim caminhar no seu lugar.




Nunca foi suficiente para você apenas me encontrar. Nunca foi suficiente para você saber que eu queria você para casar. Nunca foi fácil para você saber se estava apaixonada. Nunca foi fácil para você saber se nossas fantasias seriam materializadas. E você sempre teve razão ao dizer que eu era desde então até hoje mais maluco que você. Eu digo hoje para mim mesmo que este é um mundo muito doido para um sujeito tão anormal como eu à procura da mulher ideal. Este é o mundo dos que acreditam que 13 dá azar porque na última ceia de Jesus havia 13 pessoas e porque ele morreu numa sexta-feira. Eu compartilho minha maluquice com todos estes insanos, lembrando-lhes que Pilatos assumiu a procuradoria na Palestina no ano 26, dia de nosso aniversário, e foi exilado em Viena no ano 36, sua verdadeira idade quando te conheci. Os 10 anos que separaram sua idade verdadeira da irreal são os mesmos que separaram Valério e Marcelo da procuradoria de Pilatos.

Naquela sexta-feira 26 te recebi pela primeira vez com rosas vermelhas, a cor símbolo fundamental do principio da vida, com sua força, seu poder e seu brilho. Enquanto você as segurava, seus olhos castanhos as contemplavam com a profundeza de seu azul que nelas mergulhava sem encontrar qualquer obstáculo, perdendo-se até o infinito, como diante de uma perpétua fuga do imaterial. Enquanto você as admirava, palpitava dentro de mim impetuosidade, intensidade, paixão aguda até a estridência, a ardência do amarelo difícil de ser atenuado e que extravasa sempre dos limites em que o artista tenta encerrá-lo. E entre a sua espiritualidade azul e minha impulsividade amarela, reina hoje o verde das interferências cromáticas. As rosas vermelhas que lhe dei desabrocharam entre minhas folhas verdes.

No final das contas, somos malucos porque nosso número 26 é mágico. É o número positivo que neutraliza dois números treze negativos. É o único número inteiro maior que um número elevado ao quadrado (52 = 25) e, ao mesmo tempo, menor que um elevado ao cubo (33 = 27). O Rhombicuboctaedron inventado por Leonardo da Vinci tem 26 lados. Quando um cubo de 3x3x3 é montado a partir de vinte e sete unidades de cubos, 26 deles são partes visíveis das camadas exteriores dos cubos. Na base 10 de nossa matemática e da diferença de suas duas idades, o 26 é o menor número que representa a raiz quadrada de um palíndromo. A raiz quadrada do palíndromo 676 é 26.