Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral
protegido pela Lei 9610/98
Alienado e mortificado, Com este marasmo, De agravar meu
tédio, A atiçar-me pecados mortais, De gula, Preguiça e lascívia, Assalta-me o
fastio desta vida, Seguida por invisíveis passos de despotismo, Invisibilidade
embutida em habilidade, Que toma tudo que vê e não vejo, Como quem toma armas em
defesa de sua soberania, Seu toque é oculto, Usa do maior recurso do poder,
Diante de um único homem, A dependência, E sua criadora imaginação, Mas não tem
coração de ver-me tão só, Sei seu nome, Mas não sei quem é, O espaço aqui é
quase infinito, Mas sua sombra sempre justapõe-se à minha, Qual de nós dois
aqui é o mais fingido? Você com sua inacessível divindade? Ou eu com minha
carência de um toque humano? Vamos deixar nossos propósitos escapulirem? Quisera
ver outros rostos estranhos mesmo sem bondade, Quisera ver milagres de cera, de
ouro e de prata, Velas e painéis votivos, Trazidos por outras gentes como eu,
Faltos nessas redondezas, Dispenso suas bênçãos tomadas a cachorro, Sua piedade
de execrados como Judas, Seu insincero louvor que exclui a crítica, Ninguém come
do pão de seus paraísos celestiais, Ninguém bebe do sangue que jorra de seu único
filho, Isso mesmo, Vingue-se de minha insolência, Colocando ao meu lado outra de
minha espécie, Que não te obedece, Que subverte seus planos, Provoca sua ira
animal que sempre escondeu, E nos expulsa para um mundo mundano, Que
sempre vislumbrei através do passado recente, Não querendo ver minha existência
tão desperdiçada, Sempre procurando por uma pista, De como chegar a você,
Mulher, Rogue a mim a mesma praga que você rogou a ele, Jogue em mim mais de uma
vez este seu feitiço, Quero ser este toque mágico e feminino da mulher que você
é, Sal da terra que este deus não consegue saborear, Luz deste mundo que o
todo-poderoso não consegue apagar, Mágico toque feminino tirado de minha
costela, Mulher embutida no homem, Sem o qual o homem e sua humanidade seriam
insípidos, E deus um frustrado homossexual masculino.