domingo, 11 de agosto de 2024
LANTERNA DE PIRILAMPOS
Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa, com direito autoral protegido pela Lei 9610/98
O
que você diz depois do olá? Esta é uma pergunta do médico e psiquiatra Eric
Berne. Muitas pessoas, sem assunto, invariavelmente, falam do tempo: Nossa, hoje está tão quente! Acho que vai chover de tarde! Outras, porém, só
têm um tema versado: falar mal do governo sem se engajar em nenhum movimento para
derrubá-lo: O
governo nos surrupiou, entre outras coisas, o assunto. O Brasil está sendo
destruído diante de nós e não podemos fazer nada! Existem
aquelas que, depois do olá e um pouco de canja, tagarelam sobre novelas,
futebol, celebridades, reality shows e outras unanimidades burras (gostou,
Nelson Rodrigues?) Há, ainda, gente pedante e mais maçante. Aquelas que gostam
de que se goste delas. Aquelas que precisam ser veneradas e invejadas pelo
pseudo domínio de tantos tópicos. Aquelas que sentem um prazer maior do que
sexo a dois e chocolate, masturbando-se com uma pretensa genialidade de irritar e espantar
todos os que elas pensam estar muito abaixo delas. Uma dessas pessoas, uma
mulher, resolve contar para uma amiga a história sobre um de seus bichos de
estimação que adoeceu - imagine se eu te encontro, te digo olá e, logo em
seguida, ponho-me a lhe dizer como na infância eu aprisionava vaga-lumes numa
garrafa para servir de lanterna. A amiga, resignada e educada, é obrigada a
ouvir. É impossível não pensar que a afetada sabe que ela discorre sobre algo
mais chato que o clima. Pior ainda, ela deve perceber que sua amiga não está
nem um pouco empolgada. Então, para exibir erudição, resolve enxertar o
monólogo com alguns termos eloquentes, daqueles explicados somente por
dicionários ou numa busca burra pelo Google. Mesmo assim, o argumento continua
tedioso, sem nenhuma importância, nem mesmo para o enfermo animal. Se faz, então,
necessário, dar mais valor a uma redação primária: Não só
minha família está preocupada. Muitos
amigos e conhecidos que acompanham minha vida me ligam para saber como está meu
xodó. A amiga migra
do desalento ao estouro do saco inflado. A mulher talentosa apela para a
prepotência: Você está atônita com minha crônica, prisioneira de minha
narrativa, mas calada, talvez por falta de clímax. Então, para sua alegria, lhe
digo que meu bichinho sarou e passa
bem - imagine eu lhe dizendo que minha arenga terminou assim: abri
a garrafa e devolvi todos os pirilampos à natureza. A amiga sente
um grande alívio, mas a mulher engenhosa não se dá por satisfeita e precisa
encerrar sua ladainha com chave de ouro (um pingente atrelado ao seu clitóris): Minha amiga, você assente mas,
ao contrário das outras, não se afasta progressivamente de mim por causa de minha exuberânia joycena. Se me vejo diante de uma mulher que parece ter tamanha
aptidão intelectual, digo olá e arrisco uma cafonice: A noite está linda hoje,
com tantas estrelas ao alcance dos olhos, mas me conformo com o pouco que vejo
porque o universo é grande demais para contemplações mais profundas. Se estou num dia de
sorte, a mulher me pergunta: Você acha que estamos sós nessa imensidão? Bingo, como
exclamam os americanos! Se somos os únicos neste universo então ele é um grande desperdício de
espaço. - Isto eu roubei do filme CONTATO. Mas, mesmo
com sorte, a mulher pode enveredar por outro caminho: É
impossível cobrir estas utópicas distâncias a não ser em sonhos. Cinquina, bella!Você assistiu ao filme A
ORIGEM? Sim, é muito bom. Ficção
futurista e factível. Ela está trelendo: Gosto de filmes que não dão quase nenhuma pista sobre como irão
terminar como, por exemplo, OS 12 MACACOS. Desarregaço a
cara feito bicho-careta, como John Lennon depois da famosa 'turma da arquibancada bate
palmas, dos camarotes chacoalha as jóias'. Ela me estende a
corda: Assisti a este
também. Outra boa ficção futurista, mas ainda inexequível. Ela é parca
como um ovo, uma fatia de pão e uma xícara de chá na refeição. Economiza nas
palavras e espera. Você não vai me perguntar se assisti a algum filme intrigante? Ela arregala os
olhos por espanto, como a jovem personagem Barbara Keeley, pasma com os pais
homossexuais do noivo no filme A GAIOLA DAS LOUCAS: Você é um
leva e traz, como aquela voz feminina do computador no filme ELA. Caramba!
Melhor virar o disco: Quer falar sobre o governo? Por que falar sobre algo que não temos? Me estrepei.
Nocaute técnico, de pé. Faço um jogo de pernas para mostrar que não senti o
golpe e digo-lhe que é sua vez de perguntar - e não é que ela pergunta!: Quando você era criança costumava
prender vaga-lumes dentro de uma garrafa e fazer dela uma lanterna? Caralho! Esta
mulher lê pensamentos!? Sim, todas as crianças de meu tempo faziam isso. Por que você me faz esta
pergunta? Ela responde
com outra: Você os deixava morrer na
garrafa ou devolvia-os à natureza ainda vivos? Não é mera
coincidência. A danada é paranormal mesmo. Não sei, às vezes deixávamos
eles morrerem. Você sabe, crianças são travessas, chegadas a malvadezas, não só
com vaga-lumes, mas também com outros insetos, pássaros e pequenos mamíferos. Eu, por exemplo, costumava caçar a borboleta Monarca,
amarrar uma linha na sua cauda e empiná-la como uma pipa. Ela voava alto, mas
logo caía com o peso da linha. Mas por que estamos falando sobre isto? Ela sorri: Não sei. Ela sabe e está me testando, mas não vou deixar o
assunto acabar assim, sem a ridícula catarse daquele bicho de estimação que
adoeceu e sarou: Também não sei, mas insisto: por que você me faz esta pergunta sobre
vaga-lumes? Neste
momento, seu olhar é meigo, doce e um tanto introspectivo: Todos nós somos vaga-lumes.
Temos nossas próprias luzes e nossos dias sombrios, mas não sou da espécie
Photuris, uma femme fatale, que mimetiza a luminescência de outros insetos
luminosos, não para atrai-los para um acasalamento, mas para come-los. A femme
fatale é predadora. Femme Fatale! Será que ela quer fazer de mim um femeado? Vou
cantar o canto do pássaro para trazer esta fêmea para junto de mim de novo: Mesmo que você fosse uma femme
fatale, morreria feliz ao seu lado, como morrem todos os machos de pirilampos
no acasalamento de verão, enquanto as fêmeas seguem vivendo até mais que dois
anos. Quanto à luz, a terra não a tem, é iluminada pelo sol, e todos os meses a
lua lhe acende uma vela na escuridão. A mulher não reage. É dócil. Não está interessada em
debate e confrontação de ideias. Ainda assim, amistosa, ela dá sequência ao
tema. Alguém disse que
somos o sal da terra e a luz do mundo. Gosto deste
intercâmbio cultural, mas não quero entrar no movediço terreno religioso, e ainda mantenho-me na antiguidade: Alguém perambula pelas ruas de Atenas, carregando uma lamparina, durante o
dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Ela não
hesita: Um pupilo de um dos pupilos do mais sábio daquela
cidade. Ela conhece a Grécia
clássica e abre as portas da minha trivialidade: Você gosta
dos filósofos daqueles tempos? De todos! E dos
dramaturgos? De todos! E dos historiadores? De
todos! Para quebrar
esta monotonia DE TODOS, volto para o nosso tempo com uma pergunta que exige um nome. Algum escritor contemporâneo
preferido? Ela poderia ter dito NENHUM, mas, pela primeira vez, ela faz
uma escolha: James Joyce. Meu autor
predileto, o maior de todos. A iniciativa é dela agora. Você está escrevendo alguma
coisa? Como ela pode
intuir isso? Eu sabia que ela tem percepção extrassensorial. Explico a ela que,
de fato, estou tentando escrever uma crônica, mas ainda estou em dúvida em
relação ao assunto. Quero fugir do lugar-comum,
daquela esdrúxula história sobre o animal de estimação. Peço a ela
para me sugerir um título. Ela diz que não precisa saber sobre o que quero
escrever, mas tem um nome apropriado: Lanterna de Pirilampos. Ela voltou
aos vaga-lumes e pergunto por quê: Porque temos luz própria aprisionada pelas maléficas e inconsequentes
garrafas das convenções que nós mesmos criamos. Ela tem razão e isso me encoraja a indagá-la sobre a
mulher do bicho de estimação: O que você acha de uma mulher
que diz que as pessoas costumam assentir, mas progressivamente se afastam
dela? Ela diz isso por arrogância ou por carência? A resposta
está na ponta da língua: Porque ela tem a todos e somente a si mesma, como aquele homem que se
apaixona por um sistema operacional de computador com uma encantadora voz
feminina. Indago-a vacilante: Isso se aplica a mim
também? Rapidamente ela
desfaz minha insegurança: Não, você tem a mim. Conquistei esta mulher, mas preciso ter certeza: Você
quer dizer como aquela voz feminina que
leva o internauta a divagar, 'ela é minha, mas não é só minha'? E você? Onde
entraria numa crônica com um nome desses, Lanterna de Pirilampos? Ela finaliza: Eu
não entro. Você me deixa livre na natureza, e saio por aí voando, e se você
quer ir para onde vou, me procure. Estarei te esperando, antes do
acasalamento de verão.
PHYSALAN
Texto de autoria de AUSTMATHR VIKING DUBLINENSE e INGLESA LUSO-CHINESA com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.
We are brothers in splendor, Why don’t we
get our hands and our love together in the open-air nights?, Where we all dwell,
Where my co-sisters are like water in your land, With tearful eyes deprived of
the twinkling of hanging lamps, Blinded by our Sapiranga peepers, Since the
invisible is not unreal, It is just the real unseen, Marvel with me your
great joy, Read my light and my two companions, Unveil my mother, Her smallness,
So generous to her offsprings, Encouraging me to confess to you, Like your moon
that hides one of its sides eternally, My dearest son keeps his fieriest edge
always turned towards me, The other two within my reach, Same as Venus and Mars
are to your arms, And my other four can surprise you with their burning frosts,
My flora rejects the threshold of the universe, While yours repels and is coated
with the exuberance of emeralds, Our beech sleeps in violet under a
bluish-purple sky, And your flora dawns in topaz looking out an ultra dazzling
horizon, Our lives are the same illuminated stages, Living in the same black
backgrounds in the pilasters of the proscenium arches.
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