quarta-feira, 27 de abril de 2022

CENTELHA DE AMOR


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Minha sensualidade é dissimulada, Espreguiçada, Minha seriedade é abrupta e esbatida, Suavizada, Minha devassidão é pontuada e cadenciada, Charmosa, Meu medo é trêmulo e estrambótico, Excêntrico, Minha volúpia é solta e desenvolta, Inquieta, Minha empolgação é ansiosa e contida, Reprimida, Minha sexualidade é enfeitiçada e prestidigitadora, Satânica, Meus pressentimentos são recalcitrantes e insistentes, Alarmantes, Meus perigos são perceptíveis e escancarados, Ameaçadores, Minhas advertências me oprimem, Berram dentro de mim, Clamo por afeição, Minha sensualidade urge e geme, Clamo por devoção, Meu Deus, Minha Nossa Senhora, Meu Jesus Cristo, Meu Santo Protetor, Meu Anjo Da Guarda, Meu Deus Sol, Minha Isis Ressuscitadora, Meu Horus Redentor, Minha Irmã Hator, Meu Daimon Interior, Dai-me uma centelha de amor, Fazei do amor pura religião, Dai-me uma centelha de amor, Abri-me a porta da libertação, Rezai por mim com fervor, Livrai-me dessa opressão, Dai-me uma centelha de amor, Fazei do amor pura obstinação, Dai-me uma centelha de amor, Acendei-me uma luz na escuridão, Afugentai de mim este temor, Conscientizai minha repressão, Dai-me uma centelha de amor, Fazei do amor uma só nação, Dai-me uma centelha de amor, Cortai as amarras do meu coração, Curai esta minha dor, Santificai minha regeneração, Dai-me uma centelha de amor, Fazei do amor pura benção, Dai-me uma centelha de amor, Fechai-me a porta da ilusão, Mostrai-me o disco voador, Benzei minha abdução, Dai-me uma centelha de amor, Fazei do amor pura revelação, Dai-me uma centelha de amor. 

SEM SABER POR QUÊ

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

As cartas da juventude se perderam, Mas ainda frui o prazer de nos vermos, Ao longe, A encenarmos ao som de lira, Ponteando as estanças de poesia mélica e elegíaca, Às vezes sofremos com o olhar, Às vezes sofremos com o sofrer, Gostar sempre gostamos, Mas nunca sabemos por quê, Tampouco há senhor, Que ensina seus servos, Que padecem o tormento de mal saber, Como bolos de véspera, E pães amanhecidos, Às vezes não sabemos se nossas feridas podem curar outras, Qual salsas águas do mar a cicatrizar pedra-lipes, Devem ser belos os cristais das vozes que nunca ouvimos, Pensativas as mentes quando estão a sós, Contemplativas quando, Diante do nada, Sentem-se esquecidas, Sem lágrimas nos olhos, Que se escondem como atrizes por trás das cortinas, Os contornos devem ser odes profundamente imagéticas, Podem ser afins as almas, Clonagens hibridizadas que chegaram ao fim, Gostar sem saber por quê deve ser assim, Somos temporãos e tardios, Somos tempolábeis, Gigantes vermelhas que se encolhem em anãs brancas, O choro contido sorrindo um sorriso triste, Ninfas que prescindem os casulos e crisalidam uma borboleta, Ódio escudeiro contra os vilões do amor.

EX UMBRIS FURTUM AD LUCEM

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 
É um  horror sentir estes baixos calões, Gatunos, Funkeiros, Como só este país pode criar, Joias superfaturadas para adentrar como sócio nas quadrilhas que assaltam residências, Seus advogados desonestos, De porta de cadeia, Levantam objeções a quaisquer propostas de moralização, E travam sobre os cadáveres das vítimas de seus clientes uma briga peito a peito pelos seus espólios, Um cortar de ferros e um ressaltar de sangue que espirra às faces dos mortos, Ficam com todos os despojos do diabo, As tropas policiais perseguem e roubam todos os ladrões cercados, Em meio aos escombros humanos, Surge uma donzela esquecida viva, E dela saem músicas, Que roubam e requintam a sensibilidade, Saem de linda mulher que rouba corações, São estas parcelas redivivas, Restos de um exemplo e de um nome, As que promovem a mais sólida e benéfica imortalidade àqueles que se finaram, Cortejados pela saudade e admiração de todos, A música também é roubada, Qualquer investigação que se faça vai roubar um bom tempo, Vai descobrir que as somas roubadas são muito mais elevadas, Roubam-me de uma de minhas demoiselles a brisa que doudeja indiscreta arregaçando o lenço à tão linda jovem que alegre passeia, E se diz, Ainda, Que a morte veio roubar-lhe os sofrimentos, Um infeliz acaso que roubou de uma merreca de felicidade uma pobre família, Roubam à saída dos bancos, Roubam um beijo à rosa perfumada, Aquela que não fala, Mas só rouba a fragrância que ela exala, A lei de Deus, Assim como a dos homens, Proíbe roubar, O açougueiro rouba no peso da carne, Mas os antigos egípcios não aligeiravam o alqueire, Me chamam de esquisitão, Que rouba-se às manifestações de apreço dos amigos que não tenho.


sexta-feira, 22 de abril de 2022

CAMPO DE MARTE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Se ai em baixo a vida lhe deu um salto, Jogue tudo que você tem para o alto, Recolha os braços desejosos de receber, Erga aos céus os que precisam agradecer, Não espere mais nada de mão beijada, Sua bem-aventurança está bem limitada, E não tarda para você vir para meu lado, Ouço daqui tudo que você tem me pedido, Dou-lhe somente o que me é permitido, São poucas as noites que lhe faço companhia, São todos os dias que outros aguardam vigília, Não espero pelo chamado de necessitados, Meus dias já são mais apressados, Você entenderá quando vier para meu lado, Se você já não aparece mais em meus sonhos, Abandone todos seus anos facilmente ganhos, Economize a língua com exclamação terminante, Gaste sua mente somente com o que é importante, Não espere que lhe entendam apenas pelo olhar, Seu trabalho braçal ainda está por começar, E não duvidará quando você vier para o meu lado, Vejo todos os lugares por onde você tem passado, Ajudo todos que lhe têm menosprezado e deixado, É próximo de você que eu me manifestaria se pudesse, É distante de você que guardo tudo que me aborrece, Não preciso que me digam quando deixar seu Marte, Meu coração sabe quando a prioridade se reparte, E logo você virá para meu lado.


sexta-feira, 8 de abril de 2022

SWINGING LONDON



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 
Olhamos para o alto, Para um céu azulado, Desanuviado, E em nossos olhos caem esparsos pingos de chuva num dia ensolarado, Olhamos à nossa direita, Para o outro lado do Atlântico, E em nossos ouvidos penetram descriminados tons negros, Preservamos suas cores em nosso íntimo, E trocamos suas almas pelas nossas, E a Londinium dos romanos, Nivelada ao chão pela rainha Boudica, Na década de 60 de dois mil anos atrás, Deixa agora, Nestes novos e gloriosos anos 60, De ser capital de um império, Para ser o centro da efervescência cultural e artística do mundo, Trocamos nossa rainha palaciana por uma modelista, Que deixou nossas pernas à vista, Nossas roupas com matizes mais vivas, Abandonamos nossas armas, E conquistamos todos os países com nossa moda e nossos costumes, Resgatamos da antiga ilha Grega de Delos, Santuário de Apolo e Ártemis, O elixir que mantém nossas mentes abertas à percepção do desconhecido, Do inusitado, Dando-nos o poder da criatividade e originalidade, Nos tornamos modernos, Descolados, E arrojados, Substituímos nossos banjos por guitarras elétricas, E revolucionamos a música, Pondo Mozart, Beethoven e Bach para dançar em seus túmulos, Escandalizamos nossos conservadores, Incluindo os pequenos carros Mini-Coopers na frota de táxis, E usando nossa bandeira para confeccionar calcinhas, O mundo nos olha e nos ouve, E em todos os seus sentidos vibra a cidade mais avant-garde do planeta, E lhe retribuímos a admiração, Dando-lhe de presente, Os Beatles, Os Rolling Stones, E o The Who, E Deus nos agradece.


quarta-feira, 6 de abril de 2022

AS GRAÇAS

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


Seus dedos não alcançam os meus, Mas os de Aglaia acariciam meus cabelos, Despem-me da sobrepeliz, Da estola, Rasgam o ritual do homem, Juntam-me às musas, Dirigem-me para o corpo de uma igreja sem paredes e tetos, Glorificam minha dança resplandecente, E nasce em mim o poder criativo, A intuição do intelecto, Que interroga porque tão alto mantém suas mãos inalcançáveis à minha dor, Mas as de Eufrosina suavizam minha angústia, Cobrem-me de auras, De cicios, Realizam os desígnios inacabados, Fazem de mim uma divindade, Libertam-me para o voo de um céu sem grades e poleiros, Consertam-me o corpo, a mente e o espírito aquebrantados, E voltam para mim a alegria de viver, A graça de existir, Que se compadece da distância que me separa de sua vontade, Mas a de Tália tira-me do isolamento, Desarma meu braço segurando a cabeça, Levanta-me da cadeira, Espalha minha prece pelo universo, Traz-me mais três irmãs, Melodia-me para a nudez de uma natureza sem fronteiras e ideologias, Abençoa-nos com suas duas mãos, E brota em mim o desejo de ser uma flor, De ser dada a alguém por amor, Que exala sua fragrância o mais longe possível para permear seu dedo invisível.