Água
calma, espraiada ao sabor da cor do céu brigadeiro, do mar profundo em dia
translúcido, espelha a esmeralda das encostas, a safira do firmamento límpido,
o dourado do sol alto, o arco-íris da bonança, dando reflexos multicoloridos à
vida submersa, à que brota na superfície, à que se ergue às alturas, à que
prolifera neste paraíso, e teu silêncio é rompido pelo distante espocar de
nuvens esparsas que se uniram para gotejar, cada pingo rufando silencioso,
águas do empíreo com as águas da terra, espargindo o doce sobre a graça, o
espírito e a vivacidade, em harmonia e comunhão, cada um deixando-se tocar e se
penetrar, aumentando e diminuindo o volume, orquestrando o entorno revezado e
concomitante, miúdo e torrencial, abrandando com o vento austero que arregaça
as ondas, rugindo com grandiosidade e elegância, donas do mundo que enfrentam a
lua e por ela não recuam, mas se impõem e aquietam-se quando lhes apraz, então
surgem seus contornos graciosos, de expressão severa e bela, para experimentar
os ares do continente a desfraldarem seus cabelos, caminhar pelos prados
verdejantes a encantarem-se com seus movimentos, pelas ribeiras sombrias a
revelarem seus mistérios, pelos bosques passarinhados a juntarem-se ao seu
canto, e a ele também me junto para cantar-lhe uma canção de amor impossível,
mas esperançoso, entre o meu mundo e o seu, entre a terra e o mar, o mito e a
realidade, cercado de enigmas que só o coração pode desvendar, de simplicidade
que você é capaz de entender, de paixão que você é capaz de sentir, que vem de
um lugar antigo que traz saudade, que tem águas transportando casais enamorados
por entre as edificações, que nos convida a valsar, a relembrar os tempos de
cavalheirismo, e como é lindo vê-la embalar-se ao som envolvente, descontrair
seus lábios carnudos e descerrar um largo sorriso, rodopiar e rodar sua saia
alegremente ainda que por poucos segundos, e como é sublime e lastimoso vê-la
valer-se deste instante de felicidade para abrir sua voz e entoar sua
despedida.
sábado, 15 de abril de 2023
AQUELA QUE VEM COM A MARÉ
Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/9
Assinar:
Postagens (Atom)