Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.
Precisei de uma alma bastante amiga,
Para sair robustecido na fé e na crença, Deste impasse, Emprestei de nossa mãe
terra, Para penhorar meu amor, O céu veio nos buscar, E antes do sol nascer,
Elevou-nos, Brilhando telas, E exalando âmbares, Por amazonas cupidinosas,
Anti-ares, Apontando com seus arcos certeiros, Seus lindos seios cortados, Elas
são de nosso torrão, Estão em nossa bandeira, Continuamos hasteando,
Atravessando as estrelas, Flautas encantadas que afugentam todo perigo,
Atraíram-nos para as fantasias que pensávamos existir só no país das maravilhas,
Com nosso avanço pela galáxia, Entrevemos, De longe, Nosso sol, Como um pastor
sentado à borda de um tênue regato de gases e poeira, Como num braço de ribeiras
de várzeas, Aparecem-nos arabescos caprichosos, Românticos, E devaneios
poéticos, Eis ali os dois irmãos inseparáveis, Os filhos de Leda, A cabeça do
primeiro gêmeo, E os pés do segundo, Ambos guardados com absoluta felicidade
pelas mãos do guerreiro do centro, E nas extremidades vemos a princesa tecelã,
E o pastor de gado, Que se veem só uma vez por ano, E quando chega o dia,
Lançam-se de encontro um ao outro como num voo de águia, Parecendo vegetais
felizes, Mergulhando as sôfregas raízes, A procurar no solo ávidas seivas em
seus lábios, Eles, Assim como nós, Ao contrário do romancista que entra na
literatura com o pé direito, Têm os pés esquerdos de algo central, De algo
maior, E se apartam pé ante pé, Sem solércia, Sem Negaça, Até que o brilho de
seus olhos se reduzem ao som de um pulsar, E simplesmente sentem, Só com a
imaginação, Sem o coração, Que já fora de leão, E agora é um pequeno rei,
Mitológico, Do tempo da virgem Erígona, Seu pai Icário, E seu cão Maera, Aqueles
que se seguem, Ao clarão de belas supernovas, Faróis para todos navegantes do
universo, Como o piloto do navio de Menelau em sua expedição para reaver Helena
de Troia depois dela ter sido
levada por Páris, Como eu que tenho você, Mulher e amada ao pé de si, Que me faz
um homem feliz e completo, Te trago de volta, Correndo, Levando conosco uma
braçada de cosmos retardatários, Colhidos pelo caminho que trilhamos, Levados pela boa vontade de
nossos sonhos.