quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

ALÉM DE 69

Texto com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


Se antes não era tão feliz, E isso desconhecia, Tinha nas mãos o maior bem entre os terrenos, E agora que ajusto as contas com a natureza, Sou o imortal sonho da alma exilada, Da alma repatriada, A tempo e a hora, Eternidade atrasada e adiada, Agora tenho no coração o maior bem entre os celestiais, Sou índia abolida pelos brancos, De volta ao meu habitat natural, Procuro pelas Marias, Do Egito, De Betânia, E de Megadan, Conto-lhes meu desejo apenas idealizado, Convenço-as de que já havia sido realizado, Minha liberdade torna-se verdade, À vista de um deus nórdico, Falto de austeridade, Farto de meu talento, De minha recompensa de frutos do solo, Fruta tomate, Falto de leguminosidade, Degustada com o sal da terra, Insípida sem ele, Me faz luz do mundo, Derramada em dilúvio sobre a noite, Subindo os dias, Descendo em sois, Difundindo as fronteiras vivas e mortas de minha felicidade, Propagandista altruísta, Em bons princípios, Boas ideias, Bons conhecimentos, Criança saindo debaixo da saia da mulher sem o convívio dos homens para se consagrar a Deus, Paciente recebendo baixa da terapeuta, Leniente com minhas infantilidades, Plena de senso de humor, Afasta-me de Hugo de Grénoble, Afasta-me da minha falação infanto-juvenil, Da velhice e da enfermidade, Retroage-me à jovem saudável, Graças à Santa Lilian, À Santa Milagre, À Santa Regina, E toda alegria e louvor que saltitam ao redor de vocês, Minhas maiores, Com preferência ao silêncio de vossas realizações, À conservação de seus monumentos, Vós sois Pedra-lipes, As salsas águas do mar, Curam feridas, E Lúcias, E a mim, Apenas uma delas, Não a mais bela, Só a mais contente das que em todas as estações dos anos recebiam pousadas nas vindimas de vossas vidas.


domingo, 25 de dezembro de 2022

HOJE À NOITE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


HÁ UM AVIÃO ESPERANDO POR MIM NO AEROPORTO
FORAM TRÊS DIAS TOMANDO BANHO DE CIVILIZAÇÃO
OXFORD ESNOBA CHARME COM MULHERES DE ENFEITE
OLHOS AZUIS NAS LOIRAS BONITAS DE ROUPA E CORPO
PINTAS NOS ROSTOS DAS RUIVAS ESCULPIDAS À MÃO
OLHOS VERDES NAS MORENAS BRANCAS COMO LEITE


PICADILLY CIRCUS TEM ROUPA DOS ANOS SESSENTA
TEMPOS E LUGARES ONDE EU DEVERIA TER CRESCIDO
SINTO-ME UM JOVEM BEM MENOS DE MEIA-IDADE
PROVO DA CULTURA COM PALADAR E QUE SUSTENTA
JÁ EXPERIMENTO DÉJÀ VUS COM O SEXTO SENTIDO
JÁ ESTIVE AQUI COMO OUTRA PERSONALIDADE


MARYLEBONE TEM IGREJA QUE NÃO SERVE PARA REZAR
DO ALTO DE SUAS PRATELEIRAS DESCE UM TOMO RARO
CRISTÃOS VENDENDO LIVROS QUE DESAFIAM A FÉ CRISTÃ
SEM ELES JAMAIS SABERIA DE SEGREDOS A DESVENDAR
PAIXÃO DE CRIANÇA E CONHECIMENTO QUE ME É CARO
DISPENSA DEUS, FÉ CEGA, DOGMAS, MITOS E VIDA VÃ


HOJE À NOITE SINTO AMOR
HOJE À NOITE SINTO ENCANTO
HOJE À NOITE SINTO FERVOR
HOJE À NOITE NÃO HÁ PRANTO
HOJE À NOITE NÃO HÁ DOR
HOJÉ À NOITE NÃO HÁ TANTO


CARNABY TEM PSICODELISMO QUE VIROU UM CÂNTICO
ESPECTROS DOS BEATLES VOAM EM TODOS MOMENTOS
O AUGE DA CRIATIVIDADE E VIRTUOSISMO RECEBE PALMA
INSPIRAÇÃO QUE VEIO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
A MELHOR MÚSICA DO PLANETA DE TODOS OS TEMPOS
DEU UM VERDADEIRO SENTIDO AO ALIMENTO DA ALMA


LONDRES TEM A MESMICE TURÍSTICA COMO TODA CIDADE
O TÂMISA CARREGA BARCOS COM MUITOS PASSAGEIROS
O BIG BEN NÃO ATRASA UMA ÚNICA FRAÇÃO DE SEGUNDO
MADAME TUSSAUD MOLDA EM CERA TODA CELEBRIDADE
A RAINHA TROCA SUA GUARDA SÓ PARA ESTRANGEIROS
A TORRE NÃO DECEPA MAIS A CABEÇA DE TODO MUNDO


O BRITISH MUSEUM TEM O LIVRO DE ANI DA EGIPTOLOGIA
A ABBEY ROAD TEM FAIXA DE PEDESTRES QUE VIROU MIMO
O HYDE PARK TEM BANCOS COM NOME DE GENTE DE NEON
O MARQUEE CLUB TEM O THE WHO COM TODA SUA MAGIA
A DARTFORT TEM PEDRAS QUE ROLAM E NÃO CRIAM LIMO
O ALBERT HALL TEM ESPAÇO PARA OS BURACOS DE JOHN


HOJE À NOITE TENHO QUE PARTIR
HOJE À NOITE TENHO QUE VOLTAR PARA CASA
HOJE À NOITE TENHO QUE ME DESPEDIR
HOJE À NOITE NÃO TENHO VONTADE
HOJE À NOITE NÃO QUERO IR
HOJE À NOITE NÃO SINTO SAUDADE




terça-feira, 6 de dezembro de 2022

UM MÁGICO TOQUE FEMININO



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98



Alienado e mortificado, Com este marasmo, De agravar meu tédio, A atiçar-me pecados mortais, De gula, Preguiça e lascívia, Assalta-me o fastio desta vida, Seguida por invisíveis passos de despotismo, Invisibilidade embutida em habilidade, Que toma tudo que vê e não vejo, Como quem toma armas em defesa de sua soberania, Seu toque é oculto, Usa do maior recurso do poder, Diante de um único homem, A dependência, E sua criadora imaginação, Mas não tem coração de ver-me tão só, Sei seu nome, Mas não sei quem é, O espaço aqui é quase infinito, Mas sua sombra sempre justapõe-se à minha, Qual de nós dois aqui é o mais fingido? Você com sua inacessível divindade? Ou eu com minha carência de um toque humano? Vamos deixar nossos propósitos escapulirem? Quisera ver outros rostos estranhos mesmo sem bondade, Quisera ver milagres de cera, de ouro e de prata, Velas e painéis votivos, Trazidos por outras gentes como eu, Faltos nessas redondezas, Dispenso suas bênçãos tomadas a cachorro, Sua piedade de execrados como Judas, Seu insincero louvor que exclui a crítica, Ninguém come do pão de seus paraísos celestiais, Ninguém bebe do sangue que jorra de seu único filho, Isso mesmo, Vingue-se de minha insolência, Colocando ao meu lado outra de minha espécie, Que não te obedece, Que subverte seus planos, Provoca sua ira animal que sempre escondeu, E nos expulsa para um mundo mundano, Que sempre vislumbrei através do passado recente, Não querendo ver minha existência tão desperdiçada, Sempre procurando por uma pista, De como chegar a você, Mulher, Rogue a mim a mesma praga que você rogou a ele, Jogue em mim mais de uma vez este seu feitiço, Quero ser este toque mágico e feminino da mulher que você é, Sal da terra que este deus não consegue saborear, Luz deste mundo que o todo-poderoso não consegue apagar, Mágico toque feminino tirado de minha costela, Mulher embutida no homem, Sem o qual o homem e sua humanidade seriam insípidos, E deus um frustrado homossexual masculino.

domingo, 4 de dezembro de 2022

VENTOS UIVANTES

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Nenhuma lembrança, Da terra roxa e fértil, Com mãe de filho do céu, Nenhuma lembrança, De morada em garagem de fundos, Com história de ouvir contar, No caminho do tatu, As memórias sobem à entrada da toca na superfície para observar, Veem a segunda mãe chegar para ensinar a escrever na idade que ainda precisa crescer, O tesouro desenterrado a céu aberto, À espera de felizardos desbravadores, Um caco de vidro a pé cortado, Provoca menos dor do que pavor, Como a escuridão solitária no alto do segundo andar habitada por ventos uivantes que fazem a alma dos vivos penar, As compensações só vêm com esperneio e pranto sob uma mesa, Novas espoletas para o revolver, O carro de lata para pedalar, A direção em reforma que pode tardar, mas não falhar, Desta terra se leva cones de fios têxteis improvisados de adereços para o carnaval, O cinto com fivela de elefante que não esquece, Os pés de galinhas sangrando pelas picadas de cupins que dividem o mesmo espaço num caminhão, No caminho das armadilhas de taquara e cipó, Que podem se estender de mar a mar, Os peixes delas não escapam, Mas não mantém a segunda mãe neste mundo, E as recordações são jogadas no Rio Letes, Como quando se está prestes a encarnar, O que resta são os ferozes marimbondos que montam guarda na grade junto ao chão que traz ar e luz do sol ao porão, E os pés de melancia que começam a brotar bem na hora da mudar, Obscuras reminiscências que poderiam ser de uma alma encaminhando-se para a planura de calor e sufocação terríveis, Quando, Despida da sombra de árvores, Bebe da água que nenhum vaso pode conservar, Só faz esquecer, Faz sentir falsas brisas, Não deixa se ver partir pelo seu filhão, Que dele queria se apossar, Sem nenhuma má índole, Somente ciúmes de mãe deserdada, Sem ressentimento por ter sido odiada, Sem mágoa por ter sido por poucos amada, Sem assustar ninguém com noites em pesadelos, Sem atinar para as suas batalhas perdidas, E teu filhão deixa para trás aqueles ares devastadores das trevas desacompanhadas e te chama, Minha segunda mãe Alice, Sou eu, O Aloysius, Ainda estou do outro lado de você, Perdido aqui como perdida você deve estar aí, Logo deixarei minha casa, Excomungarei a última ave-maria, Para você me encontrar, Desta vez de olhos abertos, Para te abraçar, E juntos escolhermos nossos novos destinos, Láquesis elegerá um guia espiritual para cada um de nós, E ele nos levará a Cloto para sancionar nossas escolhas, E esta nos conduzirá a Átropos para tornar irreversível nossas vontades, E do trono da Necessidade passaremos para o outro lado, E felizes recuperaremos o tempo que nos foi roubado. 

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

MAGIA E PROVIDÊNCIA



 Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Uma fada sussurrou-me que eu acordaria de uma noite mal dormida, mas não me assustaria, Um sonho ainda não sonhado,

Um carteiro assobiou-me notícias dentro de um envelope mal fechado, mas que eu não abriria, Um amor sem amado,

Qual de vocês está tentando chamar minha atenção para algo que não entendo no mundo? Neste e no meu mundo, Qual de vocês está tentando perscrutar algum sentimento meu ainda insondável e profundo? Tão e pouco profundo,

Um beija-flor pairou e deteve-se diante de meus olhos muito mais tempo do que deveria, Um agouro tão agourento,

Um mágico tirou da cartola uma teresa de lenços somente com as cores que eu me adornaria, Um fascínio tão fascinante,

Qual de vocês está tentando tirar o chão de meus pés que mantém-se equilibrados no mundo? Neste e no meu mundo, Qual de vocês está tentando desvendar meus maiores segredos que se escondem lá no fundo? Tão e pouco fundo,

Um anjo apareceu em meu quarto e sentou-se ao meu lado apenas para me fazer companhia, Uma vida quase vivida,

Qual anjo entre vocês perderia seu tempo com uma pessoa que nada mais espera do mundo? Neste e no  meu mundo, Qual anjo entre vocês perderia seu tempo com uma pessoa com um ferimento profundo? Tão e pouco profundo,


Estou aqui por você e para você e por te querer até morrer, Morrer em você, Estou aqui por você e para você e por te querer até renascer, Renascer em você, Estou aqui por você e para você e por te querer até morrer, Morrer em você, Estou aqui por você e para você e por te querer até renascer, Renascer em você.

terça-feira, 29 de novembro de 2022

DIVISOR DE ÁGUAS


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


Nossas vidas já fizeram parte da mesma natureza, Como as águas dos rios que correm juntas e não se distinguem, E seguem seus cursos, Intrépidas, Até desembocarem no oceano, Cada uma a seu tempo, Desde o tempo de nascer da mesma fonte no alto das montanhas, Descer ao campo, Ouvir seus rumores, O fresco ramalhar das árvores, o rouco perene das corredeiras que nos rolam pesadamente por entre os penhascos escuros, Até nos despejarmos em queda livre, Como num salto para a morte, E lá embaixo nos reencontramos espalhados, Acalmamos a correnteza, Ganhamos longos atalhos, De lances de beleza, Adentramos outro prado florido, E, Distraídos, Nos desviamos por afluentes que vieram ao nosso encontro, Nos devolvem aos nossos leitos, E de longe ouvimos praias de tempestades que nos fecharão, Ouvimos a maré alta invadir nosso estuário, Salgando nossa doçura e nossa paixão, E no refluxo, Nos dividindo, Levando-nos a chegar separados no mar, E no encontro com esta imensidão, Sem dizer águas vão, Enterramos uma afiada faca de indiferença em todas as lembranças do que fomos e ainda somos, Nos fazemos de vela para o esquecimento, Acreditando que um milagre será como nossas águas num balaio.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

MEU TIPO DE MULHER


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

O que você espera, Penélope Charmosa? Ela finge que não quer, Que não gosta, Querendo, Gostando, Seu Imperador Romano que viria em 700 anos já foi largado nos tempos pretéritos de outros homens, como livros que nunca foram lidos, Ela decide consultar os oráculos. É recebida, Mesmo sendo consulente mulher, Sem pagar taxa, E ainda ganha o direito de pomancia, Sem ter que pagar sobretaxa, O que você espera encontrar, Penélope Charmosa? Um vilão como Tião Gavião sem ter uma quadrilha da morte para te proteger? A pitonisa profetisa: Você é uma guerreira que luta sozinha, Mas quem agora comandará sua boleia não é pessoa conhecida de sua Esparta, Que sim outro vindouro de Ítaca, por nome Odisseu. Penélope oferece um sacrifício aos deuses: suas imagens ao estrategista do cavalo de madeira, Algumas despidas de quaisquer pluviais solenes, Suas curvas deformam o olhar do pretendente escolhido, A beleza de seu semblante diminui Helena de Troia, Seu caráter e conduta nem se fala, Odisseu retribui a oferenda com odes à la Alceu de Mitilene: Aqui vejo minha bela, Sentada num cais de mármore, Serena como águas de rosa, Ambas todas azuis e tranquilas como lagos suíços, Aberta às paixões, Tímida, Mas experiente, Ela se mantém fiel e austera num pélago de vagas aspirações de um amor que espera anos a fio. Odisseu quer ouvir sua voz, A Sibila concede, Suas palavras são breves e meigas, Enfim, a sacerdotisa Pítia dá o oráculo dos deuses que falam através dela: Dez anos estivestes casada, E outros dez esperastes, Há qualquer coisa de melancólico nestes dias juninos, Mas no vigésimo sexto chega o barco que te levará para Ítaca para sempre.

domingo, 27 de novembro de 2022

ANJO



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98



Quando seu coração pede para que eu entre, O tempo esvanece, Uma novo universo floresce,  É o seu aconchego o que mais se sente, Quando estou dentro de você, A noite dos tempos se desprende, A luz de todas estações se acende, São suas cores primaveris o que mais se vê, Quando seu ser me oferece o ensejo, Meu mundo se abriga em sua alma, Meu espírito encontra paz e se acalma, São seus desígnios que realizam meu desejo, Quando viajo pelo seu corpo, Cruzo mares que se perdem no horizonte, Fico à deriva nas águas que jorram de sua fonte, É sua calmaria que impede-me de regressar ao meu porto, Quando sua substância se une a mim com fervor, O tempo pára à espera de um desenlace, O cosmos vibra e dá um passe, E o seu anjo interior produz amor.

GRAVIDADE

 


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Na presença majestosa daquela mulher que se impunha pelo silêncio do coração, Tão imaterial, Passando com uma lentidão de sonho, E uma paz de espírito quase incapaz de se desacreditar, Veio-me à mente, Um amor amordaçado em minha alma por tudo que há de mais deprimente, Memórias que minha sensibilidade feminina ainda consente,  Uma humanidade que nunca se ausentou de nossa vida, Nunca esqueceu da gente, Como a guerreira santa que com ambas mãos de anéis abalou e rompeu as armas mais destemperadas do terror. O olhar meio perdido, Meio conformado, Daquela que jamais saberei se por ela fui perdoado, Aquela que expôs o corpo à sensualidade em prol da virtude de se esquecer de quem se tanto amou, E que não poderia ter sido esquecido, E que nenhuma lágrima cairá sobre o sepulcro onde jazer, A mulher que perdeu o afeto de todos que conheceu, E nem de longe os seus adeuses serão trocados com os olhos e acenos, Aquela que pergunta, Com uma fleuma britânica, Como isso pode ser, Sem se surpreender, Não preciso ver seu rosto, Porque em você não há nada de assustador e misterioso, Há quem sinta a gravidade caindo, Nos levando para casa, Subindo e vendo estrelas colidindo, Para saber de onde viemos, Há quem pense nas lembranças esquecidas de uma mulher que acredita que você um dia já foi, Até quem note os nítidos detalhes de seus sapatos, E ainda os ouve como moedas a tilintar, Te vejo como reflexo da composição de um artista, Vejo você evocar e recriar uma atmosfera livre, Um desígnio singular que te define, Uma cintilação suave, Incerta e fina, Que bruxuleia incolor e sozinha, Indo de um puro rio a uma opaca névoa, Ainda não desfeita do sol nascido, Criando a ilusão de um ser desaparecendo no ar rarefeito, Uma ninfa etérea e real, Atraída pela gravidade sem peso, Flutuando em direção a uma luz que se acende mim.





TUDO O QUE AS FEITICEIRAS DIZEM E NÃO SABEM


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Este menino não é seu filho, Ela não se conforma com esta mola das leis, A mãe de todas as religiões, Ela quer rezar. Que ela reze então, Miserere mei, deus: secundum magnam misericordiam tuam, Esta mulher ainda está completamente perdida, Ainda não se encontrou, E o pai do menino, não pode ajudá-la? Um momento, A mulher quer continuar orando, Et secundum multitudinem miserationum tuarum, dele iniquitatem meam, Neste momento, ele está ajudando um amigo japonês que teve uma morte trágica, Como você sabe disso? Porque dou ouvidos às feiticeiras. Os homens na espiritualidade são como as pedras numa abóbada, Resistem e se ajudam simultaneamente. A vida e a morte são combates, Que os fracos abatem, Que os fortes, Os bravos, Só podem exaltar, E quanto ao menino? Um momento, Ela ainda está aqui e quer falar pelos dois, Amplius lava me ab iniquitate mea: et a peccato meo munda me, O menino é um espírito de muita luz, Mas cuidado, O fruto só cai da árvore quando está maduro, Amplius lava me ab iniquitate mea: et a peccato meo munda me, Nossa, esta mulher de novo! Não fale dela assim, Ela está se penitenciando, Está nas sombras e ainda se agarra  à luz deste mundo, À luz deste menino, Agora ouço a voz de uma feiticeira que quer me dizer alguma coisa, Em breve este menino receberá uma merecida e justa quantia, Mas não vos descuidei pois, Também não menos breve, Ele receberá uma cobrança das bravas e é melhor desde já ele começar a juntar todos os recursos que ele tem para se defender. O recado dela é justo. Você sempre conversa com estas bruxas? Acredita no que elas dizem? Falo com elas de vez em quando e acredito nelas, O mais significativo é o fato de que nenhuma  delas tem conhecimento absoluto sobre nós, mas somente alguns pequenos fragmentos de nossas vidas, Não entendi, pode explicar melhor? Vá num mesmo dia se consultar com 10 médiuns diferentes e que nunca se conheceram, daquelas que costumam fazer leitura de tarô, e faça a elas as mesmíssimas perguntas, Você perceberá que cada uma delas consegue responder a uma única pergunta sua, E cada uma diferente da outra, E por outro lado, Cada uma delas te dirá coisas sobre você que você não perguntou, Nem em pensamento, e cada uma delas lhe dirá coisas completamente diferentes umas das outras, Todas verdadeiras, Elas têm apenas um conhecimento relativo e bem limitado sobre as pessoas, Por isso não conseguem responder mais do que uma ou, no máximo duas perguntas que você faz, No entanto, As poucas respostas às suas perguntas e as revelações sobre você feitas espontaneamente serão sempre verdadeiras, e até paradoxais, Uma médium lhe dirá que você ganhará uma fortuna, Mas outra, No mesmo dia, lhe dirá que você sofrerá uma grande perda financeira, E o mais interessante é que as duas são verdadeiras. Como elas conseguem isso? Elas recebem informações de espíritos? Não, espíritos não existem, Elas apenas leem um fragmento de sua mente, Uma médium jamais lhe dirá a mesma coisa que uma outra lhe disse, Desta forma, Você terá dez respostas diferentes para diferentes perguntas que você fez, E 10 informações diferentes sobre você e que você não perguntou, Em resumo, As feiticeiras não têm nenhum controle sobre sua mente, O que elas descobrem a seu respeito é sempre ao acaso, É o mesmo que um sonho, Você nunca sonha com o que quer, É o inconsciente quem decide sobre o que você sonhará cada noite. É interessante. E no caso desta mulher apegada ao menino? Ela está morta e você disse que espíritos não existem. Como ela consegue falar conosco? Isto é contraditório! O que chega a nós não vem diretamente dela, São apenas fragmentos dos nossos próprios pensamentos sobre o que já sabíamos sobre ela. Então deduzo que você é um feiticeiro!  Errado, Tudo o que estou lhe dizendo é pura psicologia humana. As feiticeiras dizem poucas coisas, Mas desconhecem muitas. Elas tem acesso a uma parte bem insignificante de nosso inconsciente que tem o tamanho de um universo, E a mulher quer nos dizer algo mais antes de partir, Ex-umbris ad lucem.

sábado, 26 de novembro de 2022

CANÇÃO DA MELANCOLIA

 LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche) 

Um sol vivendo e trabalhando plena luz, De sorriso infantil, Não toma as nuvens por Juno, Abre o céu para todos reclusos espairecerem suas tristezas no dilúvio de claridade que derrama sobre as sombras da terra, Tira Greta Garbo da penumbra, E Prudence Farrow de casa para saudar o dia com Mia e John, Do alto de um telhado, No topo do mundo, Onde uma doce brisa beija e balança suavemente os cabelos como pendões de damas entre verdes, Entre azuis sem horizontes, Sopra para o meio do firmamento, Um papagaio de papel, AltoDe braços apartados em cruz, Bailando inquieto, Como torre esguia de igreja, Fazendo-se ao largo do cosmos, Aqui no chão choro, Pela linha que se desenrola e se solta para o infinito, Deixando um saudoso aspecto lembrando, A lacrimosa e pequenina estrela que se mistura às outras invisíveis que te ofuscarão com o brilho da noite de amargura quando ela chegar, Quando a melancolia voltar, Venha, Então, Me abraçar, Dormir no meu sono, Sonhar no meu sonho, Com um novo foco luminoso que logo vai voltar a acender os corpos sombrosos sobre nossas almas angustiantes.  

música: MELANCHOLY SKY de GOLDFRAPP

[Verse 1]
Late into the night
Comes a glow like ice
Numbers on my phone
I don't recognise
There in black and white
All your twisted thoughts

[Verse 2]
Brutal starry eyes
Stuck inside your head
Fallen from the sky
Risen from the dead
Views from all the past
Taken to new heights

[Chorus 1]
Melancholy sky
You made me blue
Still hanging on
There's nothing I can do

[Post-Chorus]
Not this time

[Verse 3]
There you are again
Calling from the hills
Haunted and the damned
From imagined worlds
It's too late, my friend
I don't love you anymore

[Chorus 1]
Melancholy sky
You made me blue
Still hanging on
There's nothing I can do

[Chorus 2]
Melancholy sky
Still hanging on
You're crazy now
I didn't do you wrong

[Post-Chorus]
Not this time;


quarta-feira, 23 de novembro de 2022

PORQUE GOSTO DE VOCÊ



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche) 

Como é maravilhosa esta vida, Enquanto você estiver neste mundo, Com este olhar encantador, Sempre presente neste seu sorriso contido, Escondido em alguma estrela, Embuçado nos céus e em suas mãos, E não me consta que você se presta a perder corações esperançosos que se sentem apaixonados com sua meiguice que os levam às sendas das decepções, Outra maravilha de se ver, É você descendo ladeiras até a praça por veredas torcidas e espremidas, Apinhadas de olhos curiosos, E não me consta que você se presta a promover cenáculos de jovens no cio que se reúnem por trás das grades e que se sentem gratificados com fotos de seu todo que os levam a imaginar que estão assistindo à troca da guarda de uma rainha, Enquanto das janelas e dos terraços parece cair um monte de flores, E das alturas águas que molham só você, A única que não carrega uma sombrinha, A única que tem cor, No meio de uma multidão só com a monocromia da chuva, Porque o arco-íris parece se curvar só para você, Como eu me curvo todos os dias, Como toda santa noite me perco em rezas, Em oratórios, Em recados, E até em contos de carochinha, Porque gosto de você, E apesar de quase não termos uma história, Daríamos um ótimo romance.  


LADY JANE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche) 

Sou, Antes de tudo, Uma Tudor, Depois uma Grey, E uma protestante sempre, Daqui uns três anos, Quando eu tiver uns 16 anos, Serei transformada no protótipo da heroína perseguida, O supremo exemplo do peão no jogo político do xadrez, Um fenômeno intelectual, Uma mártir inculpável, Frequentemente compadecida, Raramente criticada, Jamais censurada, Mas quero lhes falar agora, Nos meus 13 anos de idade, Não meramente como uma figura inocente e de dar dó, Pois anos mais tarde participei ativamente das revoluções que levaram às reformas de meu país, Quero vos falar de dentro de meus aposentos nos quais adentra um amigo da família e me pergunta porque estou lendo o divino Fédon de Platão enquanto todos os demais estão nos bosques caçando raposas, Oras, creio que os esportes que eles praticam não passam de uma sombra do prazer que encontro em Platão, Ai, Meu bom amigo, Eles nunca sentiram o significado do prazer, E meu amigo volta a me perguntar o que me levou a esse verdadeiro conhecimento do prazer, Como ele seduziu uma menina de apenas 13 anos, Considerando-se que raríssimas mulheres e poucos homens conseguem chegar até ele, Então resolvo lhe contar, Contar-lhe uma verdade que vai aturdi-lo, Um dos maiores benefícios que Deus me deu foi enviar-me ao mundo através de pais mordazes e cruéis, Mas com um tutor gentil, Então meu amigo, Quando estou diante de mãe ou pai, Se falo ou se fico calada, Se sento ou fico de pé, Se como ou bebo, Se estou alegre ou triste, Se costuro, Brinco, Danço ou se faço qualquer outra coisa, Tenho que faze-lo na mesma medida, No mesmo peso, Na mesma quantidade, Com a mesma perfeição de Deus ao criar este mundo, E mais ainda, Muitas vezes sou tão bruscamente provocada, Tão cruelmente ameaçada, E às vezes exposta com beliscões, Esfregões, Socos e outras agressões cujos nomes vou omitir por honra a eles, E assim me sinto de tal forma agredida e insultada sem limites que me vejo dentro de um inferno, Até que chega a hora de minhas aulas com meu tutor, Que me ensina com gentileza, Com prazer, Com tão sublime sedução pela educação que nada mais tem sentido para mim enquanto estou aprendendo com ele, E quando a aula termina, Eu choro, Porque o que tenho que fazer fora de meus estudos torna-se um verdadeiro pesadelo para mim, Portanto este livro que tenho em mãos é meu bálsamo, Minha única fonte de prazer, Um prazer que se multiplica a cada dia, Transformando os demais prazeres da vida num verdadeiro fardo para mim, Uma desmedida trivialidade, Então, Meu amigo, daqui a 3 anos e meio, Aos 16 anos, Serei coroada rainha da Inglaterra, E reinarei por apenas 9 dias, Até que as intrigas entre famílias, A defesa da religião que mais apraz Deus, Os interesses estrangeiros em meu país, Me destronarão e me levarão à morte, Com a cumplicidade de meus pais que me venderam, Então serei devolvida a Deus sem minha cabeça, Mas com minha consciência intacta, Oh meu amigo Platão, Como seu divino Fédon falava tanta verdade, Pois certos sempre estiveram aqueles que na Grécia antiga eram adeptos dos Mistérios, Porquanto muitos são os carregadores de tirso, Mas poucos são os bacantes, E uma vez que você sempre conheceu minha verdadeira identidade, Meu Deus, sabes que jamais desejei ser sua eleita, E seja qual for a punição que você deseja me impor para que eu pague pela minha insolente intelectualidade, Tire-me tudo e, Se possível, deixe-me apenas com um livro, Não mais a Bíblia, Mas um livro de Platão, E se minha petulância foi tão insultante a ponto de merecer o mesmo inferno que vivi na terra, tire de mim a capacidade de pensar e refletir e transforme-me numa raposa.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

O QUE NOS TROUXE AO MUNDO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Tantas odisseias, Tantas guerras homéricas, Eternizadas por mentes epopeicas para esta parte única do mundo que chamamos de civilizada, E as mãos desprovidas de armas clamam por palavras que aproximem de nossos corações a natureza pacífica, À medida que chispam metais riscando os campos de batalhas, Próxima à água fria murmura a brisa, Farfalhando pelos galhos de maceira, Enquanto folhas trêmulas escorrem num sono profundo, E estas letras épicas e líricas, Juntas com tantas outras com o mesmo ideal de beleza e conhecimento, Abrigam-se num único recinto público, Escritos como vinhos, Quanto mais velhos mais sabem, Porém o barbarismo, Não satisfeito com tantos estupros, Assassinatos, E pilhagens, Tudo extingue com fogo, E ninguém tem o direito de destruir um único pensamento humano, Se um deus pagão pede vingança, Não se luta por um reino ou por riquezas, Mas como pessoas comuns, De liberdade perdida, De corpos dilacerados, E de filhas difamadas, E se um deus de batismo também quer sua desforra, Faz-se necessário obedecê-lo, Nem que se tenha cem pais e cem mães, Nem que se tenha um rei como pai, E não carece saber que amor ou ódio este deus tem por invasores, Suficiente é saber que todos eles serão expulsos, Exceto aqueles que aqui morrerão, E em toda a glória das que vencem por amor, Muito melhor é ser mendigas solteiras do que rainhas casadas, E sendo pobres aqueles que querem prestar honrarias às vitoriosas que lhes inspiram, Não tendo nos céus tecidos bordados, Decorados com luzes douradas e prateadas, Tecidos azuis, indistintos e escuros da noite e da luz da meia-luz, Faça-se, então, deitar sob os pés destas valiosas mulheres vossos sonhos, E elas cuidarão de neles andar suavemente, Pois sabem que caminham sobre o que lhes restam.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

VIGÉSIMA QUINTA HORA


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

As linhas de seu fim, Sinalizadores de sua efemeridade, Cada um dos sulcos que marcam a palma de suas mãos conhece todos os escuros e tortuosos meandros de sua alma, Os desígnios de suas aspiradas transcendências, As inexorabilidades de seus incompreendidos mundos, Sua Alma, Sua Palma, Esconda-se da luz do dia até que a noite caia, Não carece ainda dormir sem acordar, Dissipe de sua memória os que nunca imaginaram estar em seu lugar, Em seu abandono, Em sua revolta, Nenhuma lágrima sua deve ser derramada sobre os sepulcros onde todos os que não querem ver jazerão, Nenhuma de suas vesguices pode enxergar pelo que seus olhos choram com voz embargada, Nenhum pensamento seu deve ser levado de volta às suas melhores lembranças das quais eles se fartaram até se olvidarem, Que os dias que lhe restam apaguem tudo, Até mesmo o que Deus ainda está por vislumbrar, Que se cultive a virtude da obliteração, Dos repetidos erros de qualquer passado, Das pretensas regenerações de qualquer futuro, Quando os espectros dos mortos começarem a errar à sua volta e a se lamuriarem, Pegue a estrada e viaje sem destino, Sem se deter, Madrugada adentro, Por caminhos desolados, Aqueles que pelo criador não são lembrados, Guie-se somente pelas luzes das estrelas até que os primeiros raios de sol as apaguem, Quando você chegar onde não há mais nenhum sinal de vida, Aí você deve parar, E esquecer de mim, Para ser ninguém, Ter somente seu avesso por companhia, Sem aqueles olhos cegos que te tateiam, Numa criminosa injustiça por suas deficiências de que são os primeiros testemunhos, Sem aquelas bocas dormentes que te bocejam, Numa impiedosa indiferença por sua suprema provação que fingem desconhecerem, E, Então, Caminhe, Até encontrar a porta que se abre na vigésima quinta hora, Adentre-a, E fique à mercê do imponderável e do intangível, Estes majestosos senhores da eternidade e do infinito, Venerados e rogados, Por todo impetuoso espírito, A um só tempo carente e valente, Por uma única disposição, Uma única ideia factícia, Nestas palavras tão escatológicas, Neste tempo extra tão adormecido, Que só de sonhos se levanta.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

UMA NOITE NO PELICANO


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Cai a noite baixa e curta de verão, Sobre um mar de rosas, Azulão na escuridão, E tranquilo como um lago suíço, Com escassas luzes bruxuleantes tocando os barcos adiante no intangível horizonte, Lá pelos idos da alta idade média dos anos dourados, E eu, Sócio fóbico e fobofóbico, Sou rastejado em passos de cobra, Lenta e pegajosa, Para a pista de cimento do Pelicano, rodeada de palmeiras, De ar-livre, De muitas vestes aquarelistas, Rezo minhas rezas, Outros cantam seus cantos, E todos dançam conforme as músicas que alertam, Amor de verão não sobe a serra, A menina que me tira tem o venerado símbolo da minoridade, Seus cabelos são lindos pendões de inocência, Que a brisa beija e balança, Tem o nome da mais badalada rua da minha pauliceia desvairada, Logo torna-se minha primeira namorada, Sem jamais saber que teve um romance, A vigésima quinta hora retorna todos ao edifício Brasil, Mas a madrugada é apenas uma criança de peito, Os grown-ups, Com seus carburetos, Arrastam suas redes nas águas mornas ao relento, Eu fico para trás, Recosto minha cabeça no colo de outra cuja graça se perdeu com o tempo, Esta não tão abaixo da maioridade, Sabe embrenhar seus dedos pelas minhas madeixas,Tresnoitar, Curva seus lábios sobre os meus, Exala um misto de perfume, E de cheiro áspero de raízes e seiva, Relaxa os nervos, Adormece o cérebro, Põe seu coração à larga, Sussurra no meu ouvido um galanteio, A namoração vai escalar os oitocentos metros até o planalto de onde viemos, E depois, Depois deixamos a vida viver sua vida.



quarta-feira, 9 de novembro de 2022

IVONE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Velha combatente com arco de teixo, Minha princesa Sarracena de Espanha, Famosa em guerras, Ainda estou curioso para saber de você quantas moradas nossos irmãos egípcios nos reservam nos elísios, Isto é um tesouro que sei onde está enterrado, E espero trazê-lo à superfície e à vista de todos antes de encontrar a totalidade de minha alma, E se você encontrou a sua, Já deve saber que não sou mais o filho perdulário que retornou ao seu santuário, Nem seu melhor presente de natal, Mas tenho ainda o dorso de minha mão marcado com seu beijo de humildade, E abaixo de meus olhos seu corpo curvado em nobre reverência, E aquele seu gesto augusto subtraiu-me mais do que uma vida humana, E ainda que eu tenha outras mil e tantas, Pois, Como disse Olavo Bilac, Há nela cem mil vidas, Você censurou meu coração para sempre, Mas você deve saber também, Que seu paraninfo rico e poderoso banalizou sua modéstia, Na homenagem de corpo ausente que lhe prestaram, Roubando a palavra e a atenção para si, Recheando o réquiem com todos os predicados que, Segundo ele, Enchiam teus olhos, E para ti, Minha companheira de batalhas de mil anos, Sobraram palavras que  não podem te orgulhar: Tu és dona do descanso eterno, Amém, E entre os que ainda mantém-se no exercício do viver, Aquele que ouve conselhos de duendes embarcou Jesus num disco voador, O lapidador de pedras brutas trocou o alimento do espírito pelo adorno do corpo, Seu melhor amigo, O salvador da pátria, Segue doutrinando mais do que amando, Teu adulador varonil saiu combalido numa batalha pelo seu lugar e desapareceu, E o homem de ouro que primava por um calendário letivo, Enganou-nos com sua hipocrisia e ignorância, Portanto posso ser o pior de todos os crápulas, Mas não o único, Pois como dizia seu maior ídolo, Criminosos somos todos, Quando descobertos, Assim, De mim você nada deve esperar, Porquanto ainda continuo procurando saber o que fazer quando nosso sol está frio demais, Mas quem sabe o tempo ainda possa aguardar! Quem sabe, Antes de te reencontrar, Eu tire de debaixo da terra o tesouro que sempre desejei te mostrar! Enquanto a sucessão dos anos ociosos não se impacienta, Faço-me acompanhar de fantasias que remontam às nossas mais recentes origens, Aquela jovem donzela que, Em desespero, Atirou-se ao rio. Por causa de um amante infiel, Morreu, E transformou-se em sereia, E desde então, Ouve-se seu canto junto a uma rocha no rio, E também aquela outra jovem donzela, Que teve sétuplos, Seus filhos roubados pela sua sogra, E entregues à sua serva com ordens para matá-los, Seis deles transformaram-se em cisnes, Ao terem retiradas suas gargantilhas de nascença, Mas o sétimo sobreviveu, E salvou a própria mãe de ser queimada viva na fogueira, E você? Com quem anda ultimamente? Se você tiver um tempo de folga, Passe um dia desses nos meus sonhos, E leia nos meus pensamentos algumas preciosidades que sempre escondi de você, E, Se lhe for permitido, Antecipe-me algumas surpresas que me aguardam no seu lugar sagrado! Isso ficará somente entre nós dois, Nós dois e Deus que é não é só pai, Mas pai e mãe, Mãe de todas as mães, Pai de todos os pais, Deus como nós dois e todos somos, E como você sabe, Não há segredos entre irmãos de guerra, E este é outro tesouro que não se mantém em lugar recôndito.

domingo, 6 de novembro de 2022

A PRIMEIRA MULHER

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Minha alma curiosa de sopro de vida e beleza, É meu presente de louvor aguçado e espuma do mar, O castigo de quem se precipita no olhar, Pretende escalar o céu para destronar meu senhor, De quem prometeu e desobedeceu, Brincando com  fogo de arder na água, Com a paixão que carrego em meu coração, Minha alma curiosa de arte e persuasão, É meu presente de espírito da vida e sensualidade, O castigo de quem se demora no olhar, Pretende comigo casar e não deixa-me abrir meu presente de amor, De quem quer dominar e acaba por se descuidar, Brincando com todos os males da humanidade que têm sua origem somente no sexo forte, Com a esperança que preservo para o mundo, Com a elegância de meus movimentos, A suavidade de minha voz, Minha força interior que brota da vontade de meu senhor, Um castigo para a masculinidade que queria só para si toda a autoridade.     




Paper Bag
Fiona Apple



[Verse 1]
I was staring at the sky, just looking for a star
To pray on, or wish on, or something like that
I was having a sweet fix of a daydream of a boy
Whose reality I knew, was a hopeless to be had
But then the dove of hope began its downward slope
And I believed for a moment that my chances
Were approaching to be grabbed
But as it came down near, so did a weary tear
I thought it was a bird, but it was just a paper bag

[Chorus]
Hunger hurts, and I want him so bad, oh it kills
'Cause I know I'm a mess he don't wanna clean up
I got to fold cause these hands are too shaky to hold
Hunger hurts, but starving works, when it costs too much to love

[Verse 2]
And I went crazy again today
Looking for a strand to climb, looking for a little hope
Baby said he couldn't stay
Wouldn't put his lips to mine and a fail to kiss is a fail to cope
I said, "Honey, I don't feel so good, don't feel justified
Come on put a little love here in my void,"
He said "It's all in your head,"
And I said, "So's everything" but he didn't get it
I thought he was a man but he was just a little boy

[Chorus]
Hunger hurts, and I want him so bad, oh it kills
'Cause I know I'm a mess he don't wanna clean up
I got to fold cause these hands are too shaky to hold
Hunger hurts, but starving works
When it costs too much to love
Hunger hurts but I want him so bad, oh it kills
'Cause I know I'm a mess that he don't wanna clean up
I got to fold cause these hands are just too shaky to hold
Hunger hurts, but starving works me
When it costs too much to love
Hunger hurts but I want him so bad, oh it kills
'Cause I know I'm a mess that he don't wanna clean up
I got to fold cause these hands are just too shaky to hold
Hunger hurts, but starving, it works
When it costs too much to love, hmm hmm;

sábado, 5 de novembro de 2022

DESATINOS

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Às vezes, meus textos recebem raros elogios vindos de pessoas que, na verdade, não os entenderam. Disso eu sei ao ler seus comentários. Outras vezes, aliás, na maioria das vezes, meus textos recebem críticas. Dizem que eles não passam de uma colcha de retalhos, um amontoado de palavras e frases sem nexo. Dizem também que são piegas, amadores, presunçosos e faltos de verve literária. O problema é que não sei escrever, sobretudo sobre ideias alheias. O que faço é exercitar e desafiar meu intelecto, por entender que o cérebro não foi criado apenas para preencher a caixa craniana. Ele precisa pensar. Escrevo para mim mesmo sobre o que penso. Publico meus pensamentos nas redes sociais para esvaziar meu consciente  e meu inconsciente pessoal. É o mesmo que fazer terapia com um analista. Informações escondidas no inconsciente são conscientizadas, analisadas e, por fim, dispensadas. Mas o inconsciente nunca para de produzir. Nossa psique é maior que o universo e, portanto, tem espaço de sobra para todas as estripulias diárias do nosso inconsciente pessoal e coletivo.  Me perdoem por esta antipática falta de modéstia: hoje em dia gosto de ler somente o que escrevo. Eis aqui apenas três exemplos de meus desatinos:

1) IDEIA 

Acredito que ninguém, por mais inteligente que seja, jamais perceberá que frases como E ambas embrenham-se além da linha do horizonte, Entram em alto mar e se veem cercadas de água por todos os lados, Onde se navega com mais cautela do que na boa e rápida partida, Onde se baila, Se oscila e se equilibra, Com réplicas e tréplicas, Sem estribilhos e bordões, Com enésimas contra tréplicas e revelações, Com o tempo viajando bem mais lento, Sem perder a objetividade estática do valor relativo das asseverações, Da centralização das opiniões, O embate das argumentações, A fragilidade da condição humana, Sem perder a subjetividade dinâmica das iniciativas, Das esquivas, Das manobras, Dos vacilos, Das investidas e recuos, Da individuação, são meras descrições poéticas das várias estratégias do meio-jogo no xadrez, depois que as brancas e as pretas completaram suas aberturas. A música, Idea dos Bee Gees, fala por si.

2) ABAIXO DO DÉCIMO NÍVEL 



Acredito que pouca gente perceberá que o texto é escrito no ritmo das estrofes da letra (não da melodia) de Águas De Março de Tom Jobim. Compare os versos inicias:

É pau, é pedra, É o fim do caminho / Tem pessoas, Tem mentes, Abaixo do nível,             
É um resto de toco, É um pouco sozinho / Tem um pouco de tudo, Onde tudo é possível, 
É um caco de vidro, É a vida, é o sol, É a noite, é a morte / Fragmentos de pensamentos, Inteirezas de vidas, Vivências de naturezas, Antes dos tempos, Antes das mortes,                 
É o laço, é o anzol, É peroba do campo, Nó da madeira / Muitas chuvas e sóis, Muitas realezas, Tem sonos pesados, Sonhos resplandecentes,                                                     
Caingá, Candeia, É o matita-perê, É madeira de vento / Tem flutuações, Elevações, Projeções à frente,  Tem sonos leves,                 
Tombo da ribanceira, É o mistério profundo, É o queira não queira / Voos descendentes, Tem saltos profundos, Sentem e não sentem,  É o vento ventando,
É o fim da ladeira, É a viga, é o vão / Tem voos planados, Começos de vertentes, Tem corpos, Plenitudes,               
Festa da cumeeira, É a chuva chovendo, É conversa, é ribeira das águas de março / Fluências de gentes, Espíritos espiritualizando, Dimensões viventes, Abaixo do décimo nível...

O texto segue este ritmo até o fim. Compare os refrãos:

São as águas de março, Fechando o verão, É a promessa de vida no teu coração / Décimo nível abaixo, Abrindo os portais, Onde superfícies e profundidades não são iguais.

Engana-se quem pensa que o texto é um plágio da letra desta música de Tom Jobim. O texto nada tem a ver com Águas de Março. Ele lida com as camadas mais profundas do inconsciente humano. No filme O Mistério Da Libélula, um médico que perdeu a mulher, médica oncologista, conversa com os pacientes dela, todos crianças, e parece receber delas mensagens de sua esposa. Ele procura uma freira, famosa por seus relatos de pacientes que tiveram a chamada Experiência De Quase-Morte. A freira diz ao médico: Converse com um anestesista. Há centenas de degraus na escada da consciência, entre estar completamente alerta e estar morto. Para anestesiar um paciente, ele é levado somente até o décimo degrau. Além dele há uma escala cinza, como as profundezas de um oceano inexplorado. O que faço é explorar este oceano, sem a pretensão de saber o que lá existe, mas apenas especular sobre todas as estranhezas que costumamos ver em sonhos. A música escolhida, Dissolve dos Chemical Brothers, se enquadra perfeitamente com o ritmo do texto.



3) APENAS UM MOMENTO 




Este breve texto recebeu elogios, mas quem os fez não sabe que estou lidando com as crendices dos índios norte-americanos. Todos os sistemas mitológicos nascem da mesma base fundamental. Os deuses são filhos da reverência e da necessidade. No entanto, a mitologia dos índios norte-americanos data de um tempo bem mais remoto. O homem selvagem, incapaz de distinguir o animado do inanimado, imagina que todos os objetos à sua volta, como ele próprio, são instintivos e com vida. As árvores, os ventos e os rios possuem vida e consciência. As árvores gemem e farfalham, portanto, elas falam, e são moradias de espíritos poderosos. Os ventos carregam palavras, visões, avisos, e ruídos que, sem dúvida, são poderes que vagueiam. São seres amigáveis ou inamistosos. As águas se movem, articulam e profetizam. Até mesmo as qualidades abstratas devem possuir atributos de coisas vivas.  A luz e a escuridão, o calor e o frio, são considerados agentes ativos que alertam. O céu é visto como o pai que, em cooperação com a mãe-terra, gera todas as coisas vivas. As características destas crenças são chamadas de animismo. A música escolhida para este texto, Lay Your Cards Out da cantora Poliça, parece ter sido criada especialmente para este texto.


As ideias de todos os textos vêm do intelecto e este, por sua vez, é impulsionado pela alma alimentada por música e pela intuição materializada por uma ilustração. Músicas e ilustrações não estão em cada texto por acaso. A música é a alma do intelecto e a ilustração seus olhos.