quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

ALÉM DE 69

Texto com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


Se antes não era tão feliz, E isso desconhecia, Tinha nas mãos o maior bem entre os terrenos, E agora que ajusto as contas com a natureza, Sou o imortal sonho da alma exilada, Da alma repatriada, A tempo e a hora, Eternidade atrasada e adiada, Agora tenho no coração o maior bem entre os celestiais, Sou índia abolida pelos brancos, De volta ao meu habitat natural, Procuro pelas Marias, Do Egito, De Betânia, E de Megadan, Conto-lhes meu desejo apenas idealizado, Convenço-as de que já havia sido realizado, Minha liberdade torna-se verdade, À vista de um deus nórdico, Falto de austeridade, Farto de meu talento, De minha recompensa de frutos do solo, Fruta tomate, Falto de leguminosidade, Degustada com o sal da terra, Insípida sem ele, Me faz luz do mundo, Derramada em dilúvio sobre a noite, Subindo os dias, Descendo em sois, Difundindo as fronteiras vivas e mortas de minha felicidade, Propagandista altruísta, Em bons princípios, Boas ideias, Bons conhecimentos, Criança saindo debaixo da saia da mulher sem o convívio dos homens para se consagrar a Deus, Paciente recebendo baixa da terapeuta, Leniente com minhas infantilidades, Plena de senso de humor, Afasta-me de Hugo de Grénoble, Afasta-me da minha falação infanto-juvenil, Da velhice e da enfermidade, Retroage-me à jovem saudável, Graças à Santa Lilian, À Santa Milagre, À Santa Regina, E toda alegria e louvor que saltitam ao redor de vocês, Minhas maiores, Com preferência ao silêncio de vossas realizações, À conservação de seus monumentos, Vós sois Pedra-lipes, As salsas águas do mar, Curam feridas, E Lúcias, E a mim, Apenas uma delas, Não a mais bela, Só a mais contente das que em todas as estações dos anos recebiam pousadas nas vindimas de vossas vidas.


domingo, 25 de dezembro de 2022

HOJE À NOITE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


HÁ UM AVIÃO ESPERANDO POR MIM NO AEROPORTO
FORAM TRÊS DIAS TOMANDO BANHO DE CIVILIZAÇÃO
OXFORD ESNOBA CHARME COM MULHERES DE ENFEITE
OLHOS AZUIS NAS LOIRAS BONITAS DE ROUPA E CORPO
PINTAS NOS ROSTOS DAS RUIVAS ESCULPIDAS À MÃO
OLHOS VERDES NAS MORENAS BRANCAS COMO LEITE


PICADILLY CIRCUS TEM ROUPA DOS ANOS SESSENTA
TEMPOS E LUGARES ONDE EU DEVERIA TER CRESCIDO
SINTO-ME UM JOVEM BEM MENOS DE MEIA-IDADE
PROVO DA CULTURA COM PALADAR E QUE SUSTENTA
JÁ EXPERIMENTO DÉJÀ VUS COM O SEXTO SENTIDO
JÁ ESTIVE AQUI COMO OUTRA PERSONALIDADE


MARYLEBONE TEM IGREJA QUE NÃO SERVE PARA REZAR
DO ALTO DE SUAS PRATELEIRAS DESCE UM TOMO RARO
CRISTÃOS VENDENDO LIVROS QUE DESAFIAM A FÉ CRISTÃ
SEM ELES JAMAIS SABERIA DE SEGREDOS A DESVENDAR
PAIXÃO DE CRIANÇA E CONHECIMENTO QUE ME É CARO
DISPENSA DEUS, FÉ CEGA, DOGMAS, MITOS E VIDA VÃ


HOJE À NOITE SINTO AMOR
HOJE À NOITE SINTO ENCANTO
HOJE À NOITE SINTO FERVOR
HOJE À NOITE NÃO HÁ PRANTO
HOJE À NOITE NÃO HÁ DOR
HOJÉ À NOITE NÃO HÁ TANTO


CARNABY TEM PSICODELISMO QUE VIROU UM CÂNTICO
ESPECTROS DOS BEATLES VOAM EM TODOS MOMENTOS
O AUGE DA CRIATIVIDADE E VIRTUOSISMO RECEBE PALMA
INSPIRAÇÃO QUE VEIO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
A MELHOR MÚSICA DO PLANETA DE TODOS OS TEMPOS
DEU UM VERDADEIRO SENTIDO AO ALIMENTO DA ALMA


LONDRES TEM A MESMICE TURÍSTICA COMO TODA CIDADE
O TÂMISA CARREGA BARCOS COM MUITOS PASSAGEIROS
O BIG BEN NÃO ATRASA UMA ÚNICA FRAÇÃO DE SEGUNDO
MADAME TUSSAUD MOLDA EM CERA TODA CELEBRIDADE
A RAINHA TROCA SUA GUARDA SÓ PARA ESTRANGEIROS
A TORRE NÃO DECEPA MAIS A CABEÇA DE TODO MUNDO


O BRITISH MUSEUM TEM O LIVRO DE ANI DA EGIPTOLOGIA
A ABBEY ROAD TEM FAIXA DE PEDESTRES QUE VIROU MIMO
O HYDE PARK TEM BANCOS COM NOME DE GENTE DE NEON
O MARQUEE CLUB TEM O THE WHO COM TODA SUA MAGIA
A DARTFORT TEM PEDRAS QUE ROLAM E NÃO CRIAM LIMO
O ALBERT HALL TEM ESPAÇO PARA OS BURACOS DE JOHN


HOJE À NOITE TENHO QUE PARTIR
HOJE À NOITE TENHO QUE VOLTAR PARA CASA
HOJE À NOITE TENHO QUE ME DESPEDIR
HOJE À NOITE NÃO TENHO VONTADE
HOJE À NOITE NÃO QUERO IR
HOJE À NOITE NÃO SINTO SAUDADE




terça-feira, 6 de dezembro de 2022

UM MÁGICO TOQUE FEMININO



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98



Alienado e mortificado, Com este marasmo, De agravar meu tédio, A atiçar-me pecados mortais, De gula, Preguiça e lascívia, Assalta-me o fastio desta vida, Seguida por invisíveis passos de despotismo, Invisibilidade embutida em habilidade, Que toma tudo que vê e não vejo, Como quem toma armas em defesa de sua soberania, Seu toque é oculto, Usa do maior recurso do poder, Diante de um único homem, A dependência, E sua criadora imaginação, Mas não tem coração de ver-me tão só, Sei seu nome, Mas não sei quem é, O espaço aqui é quase infinito, Mas sua sombra sempre justapõe-se à minha, Qual de nós dois aqui é o mais fingido? Você com sua inacessível divindade? Ou eu com minha carência de um toque humano? Vamos deixar nossos propósitos escapulirem? Quisera ver outros rostos estranhos mesmo sem bondade, Quisera ver milagres de cera, de ouro e de prata, Velas e painéis votivos, Trazidos por outras gentes como eu, Faltos nessas redondezas, Dispenso suas bênçãos tomadas a cachorro, Sua piedade de execrados como Judas, Seu insincero louvor que exclui a crítica, Ninguém come do pão de seus paraísos celestiais, Ninguém bebe do sangue que jorra de seu único filho, Isso mesmo, Vingue-se de minha insolência, Colocando ao meu lado outra de minha espécie, Que não te obedece, Que subverte seus planos, Provoca sua ira animal que sempre escondeu, E nos expulsa para um mundo mundano, Que sempre vislumbrei através do passado recente, Não querendo ver minha existência tão desperdiçada, Sempre procurando por uma pista, De como chegar a você, Mulher, Rogue a mim a mesma praga que você rogou a ele, Jogue em mim mais de uma vez este seu feitiço, Quero ser este toque mágico e feminino da mulher que você é, Sal da terra que este deus não consegue saborear, Luz deste mundo que o todo-poderoso não consegue apagar, Mágico toque feminino tirado de minha costela, Mulher embutida no homem, Sem o qual o homem e sua humanidade seriam insípidos, E deus um frustrado homossexual masculino.

domingo, 4 de dezembro de 2022

VENTOS UIVANTES

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Nenhuma lembrança, Da terra roxa e fértil, Com mãe de filho do céu, Nenhuma lembrança, De morada em garagem de fundos, Com história de ouvir contar, No caminho do tatu, As memórias sobem à entrada da toca na superfície para observar, Veem a segunda mãe chegar para ensinar a escrever na idade que ainda precisa crescer, O tesouro desenterrado a céu aberto, À espera de felizardos desbravadores, Um caco de vidro a pé cortado, Provoca menos dor do que pavor, Como a escuridão solitária no alto do segundo andar habitada por ventos uivantes que fazem a alma dos vivos penar, As compensações só vêm com esperneio e pranto sob uma mesa, Novas espoletas para o revolver, O carro de lata para pedalar, A direção em reforma que pode tardar, mas não falhar, Desta terra se leva cones de fios têxteis improvisados de adereços para o carnaval, O cinto com fivela de elefante que não esquece, Os pés de galinhas sangrando pelas picadas de cupins que dividem o mesmo espaço num caminhão, No caminho das armadilhas de taquara e cipó, Que podem se estender de mar a mar, Os peixes delas não escapam, Mas não mantém a segunda mãe neste mundo, E as recordações são jogadas no Rio Letes, Como quando se está prestes a encarnar, O que resta são os ferozes marimbondos que montam guarda na grade junto ao chão que traz ar e luz do sol ao porão, E os pés de melancia que começam a brotar bem na hora da mudar, Obscuras reminiscências que poderiam ser de uma alma encaminhando-se para a planura de calor e sufocação terríveis, Quando, Despida da sombra de árvores, Bebe da água que nenhum vaso pode conservar, Só faz esquecer, Faz sentir falsas brisas, Não deixa se ver partir pelo seu filhão, Que dele queria se apossar, Sem nenhuma má índole, Somente ciúmes de mãe deserdada, Sem ressentimento por ter sido odiada, Sem mágoa por ter sido por poucos amada, Sem assustar ninguém com noites em pesadelos, Sem atinar para as suas batalhas perdidas, E teu filhão deixa para trás aqueles ares devastadores das trevas desacompanhadas e te chama, Minha segunda mãe Alice, Sou eu, O Aloysius, Ainda estou do outro lado de você, Perdido aqui como perdida você deve estar aí, Logo deixarei minha casa, Excomungarei a última ave-maria, Para você me encontrar, Desta vez de olhos abertos, Para te abraçar, E juntos escolhermos nossos novos destinos, Láquesis elegerá um guia espiritual para cada um de nós, E ele nos levará a Cloto para sancionar nossas escolhas, E esta nos conduzirá a Átropos para tornar irreversível nossas vontades, E do trono da Necessidade passaremos para o outro lado, E felizes recuperaremos o tempo que nos foi roubado.