terça-feira, 30 de abril de 2024

FLUIDEZ

 

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)
 
 
 

Um envelope leve como fio de seda e folha de magnólia, borboleteia no ar, carregado de mensageiros da alma, cambalhotando ao sabor do vento inquieto que o ergue em beleza, e  descai-o numa rasante, rodopia dentro de uma caixa de correio e arremete, deslizando, estabanado, resvalando nas teias de pensamentos que encontra pelo caminho à deriva no céu de rosas, refletindo milhões de sóis, e um deles desce à superfície, abaixo d’água, como miragem da lua iluminando veredas, feito lanterna de fulgor azul tremulante, lá do alto mar até a praia, e aqui da nascente do riacho até o rio caudaloso, põe minha mente a flutuar correnteza abaixo, na companhia de um pássaro que não sabe nadar, desarmando todos os aforismos, rendendo-me ao vazio onde nada parece ser real, onde nada faz sentido, onde os movimentos e as emoções não têm a mesma forma, onde tudo é seguro e fluindo da paz, que do amanhã nada se sabe, que da morte não se morre, que minhas preciosas posses já não me consomem mais, ouço o pássaro cantar que sabe o que é ser impalpável, sentir-se como se desde sempre estivesse desencarnado, e ele me alça num voo que meu inconsciente jamais sonhou, me transcende, me transporta para fora do meu ser, de meu isolamento e da minha alienação, para um despertar de meu espírito, uma conexão mágica e em êxtase, transformando-me num habitué das odisseias astrais, põe minha busca no lugar certo, fico um pouco perplexo, mas arrebatado e verdadeiro, com minha vida pregressa despoluída e em contato com o centro regulador de meu universo interior, fervilhando estrelas mil a engastar-me dentro de incontáveis e longínquas galáxias, que de perto resplandecem meigas luzes de candeias, dando-me uma sensação de unidade indivisível, uma singular entidade cósmica, tornando-me mais autêntico e autoconfiante, ligando-me a algo que está muito além do que tenho sido, e é neste além que vai parar um envelope de fluidez



segunda-feira, 29 de abril de 2024

VOS DEMOISELLES

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


A Linda já tinha dado provas de que não era nada difícil convence-la a se entregar por inteira, Mas você levou uma semana toda fazendo planos para arrancar dela pouco mais que um beijo selinho que durou menos tempo que o ruído de um pulsar! 

Oh minha querida, Sempre tive meus longes de que, Mais dia, Menos dia, Uma viração do mar de acariciar o rosto doidejaria num dia ensolarado, Indiscreta arregaçando o lenço àquela formosa donzela que veio graciosamente ao meu encontro, De olhos dependurados e de ver, Conforme ajustado, E ensejou-me a limitar-me ao deleite de roubar um beijo àquela gérbera deslumbrante da cor do topázio! 

A outra de cor topázio, A Sílvia, De pavio curto com sua inatividade, Ainda lhe entregou de bandeja sua prima, Aquela morenaça, Sedenta por uma nova e melhor experiência, E você deixou-a na mão, Literalmente! 

Oh minha querida, Eu não poderia contemplar, Com nobres sentimentos, Mais do que as mãos da preciosa Sônia, Marcada por Deus com uma pinta singular que misturava beleza e mistério, Não de corpo, Mas de olho, Cravejado por um verdadeiro diamante, Uma Sírio que se erguia grandiosa no céu líquido das noites de verão, Acompanhada de esplendores, Ricamente adereçada em Órion, A estrela das estrelas, Deixando todas demais desoladas, E a mim ofuscado e fascinado por sua luz cinérea! 

Que maravilha, Querido! E o que dizer das duas Célias? Uma fria e fleumática como uma inglesa, A outra do tipo tuareguesa, Quanto mais amantes, Melhor a sua reputação, Ambas propícias a novas aventuras, E não duvido que com elas seria possível um ménage à trois, Como o trio que o Odilon formava com a tia e a sobrinha e que você dispensou! 

Oh minha querida, As divinas Célias, Mais do que um dobro, Um triunvirato fulguroso, O clarão de um farol que apanhou-me em cheio, Cegando-me momentaneamente, Levando-me ao sétimo céu, Num mês de setembro, Oh Célia, Anagrama de minha saudosa Alice, Que fazia o sol brilhar num dia chuvoso, Que fazia a primavera se adiantar num dia friorento! 

E que lembranças você acha que aquela carioquinha guardou de você sem você nunca tocá-la? 

Oh minha querida, A bela moreninha do Rio, Cujo nome 
era impronunciável de tão divino, Como falar e escrever o nome de Deus é proibido aos judeus, E cuja companhia naquela inesquecível viagem do centro ao extremo norte pareceu durar dias, Como uma  peregrinação da Galileia a Jerusalém na semana da Páscoa, Dando-me o privilégio de admirá-la como o Templo de Salomão, E por ter visto a Cidade Santa uma única vez já poderia morrer feliz, Sem precisar adentrar o Santo dos Santos! 

Oras, Meu querido beato, Aquela magrela de andar desengonçado, A Márcia, Te ensinou a beijar de verdade, E sua Deusa queria te abrir mais que os lábios, Mas você em nada contribuiu, E nem mesmo aceitou seu perdão por ela ter sido obrigada a lhe deixar uma única vez! 

Oh minha querida, A Márcia foi minha grande iniciação, Mas minha Deusa, Se quisesse, Poderia ter me ensinado outros rituais que habitam sua tentação, Mas ela preferiu preservar meu romantismo, Alimentou-me com palavras emblemáticas, E sua vivacidade feminina transformou-me num trovador, Estimulando-me a fazer declamações ao longo dos caminhos que trilhamos juntos! 


Oh como você é sentimental, Meu amor, Tantas jovens bonitas para um menino tão acanhadinho e tolinho! 


Oh minha querida, Não é preciso ser um matemático para fazer uma simples conta de somar, Não é necessário ser um pastor alemão para mostrar o sol a um homem cego, Não é preciso ser um predador para notar a teia de aranha que você tece, Olho para o céu e, Com clareza, Vejo o sol, A lua, As estrelas, Júpiter, Vênus e marte, Não é necessário um telescópio para você me amar!



sábado, 27 de abril de 2024

O JOGO DA EXISTÊNCIA E DA PROJEÇÃO

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)




Faça uma só pessoa de seus atos e de sua consciência, Desligue-a, Nenhum poder consegue religar a corrente de suas ideias e dos seus acontecimentos, Isso é presença de espírito, Relaxe sua mente e flutue inconsciência abaixo, Isso ainda não é morrer, Afaste-se de todos os pensamentos e renda-se ao nada, Isso é resplandecer, Sinta a profundidade da essência abaixo do décimo nível da consciência, Essa é a verdadeira existência, Entenda que o amor é tudo e todos, Isso é sapiência, Descubra que a ignorância e o ódio podem chorar seus mortos, Isto é crença, Veja e ouça as cores de seus sonhos, Isso não é desemparo, Jogue o jogo da existência até o fim de seu começo, Não abandone-o pelo meio, Isso é se completar, Visite um zoológico humano do Nepal para ver como é um inferno astral, Isso é contenção de radicalismo, Invoque alienígenas por telepatia e seja transportado para a Palestina e o Himalaia, Isso é desafio ao conhecimento, Roube algumas coisas com sua invisibilidade noutra dimensão e você não consegue levar nada de volta para a sua, Isso é sua matéria perdendo sua materialidade, Visite um bem-amado morto refazendo-se e revivendo num hospital longe do mar, Isso é poder acreditar, Enfrente os demônios de igual para igual em seus redutos e receba a ameaça mortal de levar um aplique na sua coluna vertebral e escape com náuseas sem vender sua alma, Isso é desafiar dogmas, Desça de elevador do alto da montanha onde fala quem não deveria até o subterrâneo do futuro onde quem se espera falar repete suas perguntas, Isso é transcender, Descuide-se à beira do precipício e prove da morte que um dia chegará em queda livre, Isso é se libertar, Estenda sua mão direita suplicando salvação e receba uma esquerda banhada de sangue pelo prego, Isso é morrer por fora, Leve para seu sonho uma lembrança doentia do passado e agonize com o sofrimento no presente, Isso é morrer por dentro, Entre num teatro que não existe mais e veja a mão de um bebê na caixa de presente que lhe fora dada ser-lhe tomada para o ritual das cabras, Isso é revelação, Visite uma casa desconhecida onde nunca esteve e conte para sua moradora ausente, Isso é despertar, Visite o consultório de uma psicóloga e traga de volta seu paciente fugitivo que você não conheceu, Isto é comungar com o universo, Visite uma cidade no chão onde você nunca esteve e descubra o que há para se esconder, Isto é atender a um chamamento, Visite uma cidade acima do chão onde você nunca esteve e descubra que nada há para se esconder, Isto é pedir para ser chamado, Ouça alguém que morreu muito cedo dizer que estaria morto sete anos mais tarde, Isto é não se conformar, Saia de um auditório através da porta de uma igreja e assista uma imitação artística criar algo inédito para você, Isto é mágica no ar, Entre num casarão através do tempo e veja um verdadeiro artista lhe antecipar algo inédito para o mundo, Isto é mágica na sua mão, Ouça a melhor música de sua autoria ser tocada por quatros instrumentos com apenas um par de mãos, Isto é ir além da idealização, Saia de uma batalha sangrenta pela porta do fundo e entre numa trégua celestial pela porta da frente, Isto é se perdoar, Pergunte a uma galinha porque ela se frita para servir de alimento ao seu galo por amor, Isto é para meditar antes de morrer, Dê aos seus sonhos continuidade de um seriado e descubra que tudo está ao alcance de sua vontade, Isto é se superar, Seja um cientista, Seja um artista, Seja um sonhador, Seja um anarquista, Isso é ser deus.


segunda-feira, 22 de abril de 2024

ENCARNAÇÃO

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.  LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)
Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.  LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Adiemus, Adiemus!
Aproximem-se todos
Vocês que são da Itália e de Portugal
Querem filhos franceses ou brasileiros?
Abram os olhos porque vocês já estão no paraíso
Abençoada seja esta terra que vos acolheu


Adiemus, Adiemus!
Entrem numa casa de espanhola sem a filha saber
Perguntem às mães, às avós e aos seus cães vivos e mortos
Querem ilusionismos houdinianos ou cândidas adivinhações?
Mantenham os olhos fechados porque vocês estão dentro de um sonho
Abençoado seja este sono que vos repousa


Adiemus, Adiemus!
Ousem intrometer-se num enterro da aristocracia negra em Paris
Peçam para deportar vosso caixão do velho para o novo mundo
Querem filhos submissos ou libertos?
Abram os olhos porque a escravidão foi abolida
Abençoada seja esta miscigenação que vos contemplou 


Adiemus, Adiemus!
Pasmem com o veludo púrpuro que forra todas as paredes
Digam adeus às aulas de balé e língua estrangeira
Querem filhos de reis ou de trabalhadores?
Fechem os olhos para os que vos deserdaram 
Abençoados sejam os que a vós se irmanaram


Adiemus, Adiemus!
Cantem com mãos erguidas ao céu
Façam estalar todas as castanholas das ciganas espanholas
Querem dançar flamenco e baião ao mesmo tempo?
Abram os olhos para o verde exuberante
Abençoado seja o amarelo de nossas bandeiras 


Adiemus, Adiemus!
Deixem os céus tempestuosos
Venham para os solos férteis
Seus filhos são todos estrangeiros
Embarquem nos mesmos navios negreiros
E aportem na água, na terra e no fogo prometido aos mortais


domingo, 21 de abril de 2024

PURPLE HAZE

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                                                                                           Texto de autoria de AustMathr com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

I'm calisthenic, You're my Lucy in the Sky with Diamonds, My heroin, My tight leash has been released, Freed rein to my imagination, My social phobia and my shyness gone without a shrink, Now I inhale your purple haze, And mix it with mine, I reject all types of dilutions and overflow the canvas where you, Painter, Try to cloister me together with other nuances, I can make you a tameless beast, Make you travel to the next high, Cross the rabble that surrounds you, Bordered by flowering ins and outs, Jaunty on the wings of ferraginous kaleidoscope eyes, That's my gleaming yellow, That rapes your white corolla, Intensifies your crimson, Sharpens your dark red tending to violet, Blinds you like a flow of metal in fusion, All your heliotropes of fading suns, I can make you me ill, For you my nose stretches out, My hump doubles up, My belly swells up, My clothes multicolor, My utterance shakes and screeches, For you I'm a fake hero, With all the flashy braggadocio behaviour and senseless acts of a fool, Crafty and snaky, With no dignity, I can be your clown in the midst of any loneliness, Any multitude.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

STONED MEDLEY

Texto de autoria de AustMathr Viking Dublinense com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche);

Minhas ideias e pensamentos ocorrem ao acaso, Agem com indiferença e descaso, São muito convenientes e vêm a propósito, Elas referem a minha mente ao achado e à perda do meu juízo, Um desacerto infeliz, Com tremendo azar, Li o jornal hoje, Meu amor, Uma mulher morreu por um bala perdida no Rio, Embora a notícia fosse tão triste, Tive que sorrir, Meu amor, Antes ela do que uma embrionária democracia, Esta porra é como uma joia perdida, Uma carta extraviada, Humanidade pervertida, Gente viciada, Amizade destruída, Como um navio irrecuperável, Tudo sem esperança, Demência terminal, Aquela mulher era extremamente apaixonada por baladas, Navegava aflita pela internet, Num lugar distante, Privada de fortuna, Doía-lhe fundo a perda de seu marido, Doía-lhe fundo a falta de um macho ou fêmea, Era como extravio de documentos e dinheiro, Como aniquilamento de vida e matéria, Deixando de ganhar uma batalha, Um jogo, Uma oportunidade, Foi danação da alma, Seu credor sofre prejuízos em consequência da concreta diminuição do patrimônio dela, Pela cessação de lucros que os dois deviam ter recebido, Vi a foto de outra mulher no jornal hoje, Meu amor, Ela teve o corpo violentado até a morte, Ela não percebeu que o homem era um psicopata, Muita gente a conhecia, Mas ninguém tinha certeza se ela era esposa de algum juiz do STJ, Diligenciava inutilmente eleger-se senadora, Aos 40 anos, Diante da desolação paterna, Provocada pela orfandade, Procurava o suicídio, Com o que podia amealhar podia empreender a montagem de seu próprio negócio, Suas pupilas negras, Mortas e vivas na perdição, Pareciam pássaros dentirrostros exercitando as asas para voar, Você viu a insana fantasia dessa mulher, De arriscar-se num mar com vela e remo? De experimentar quatro roscas num parafuso e nenhum servir? É o coisa-à-toa quem instiga as boas almas para o mal, As felicidades oferecidas por ele não deveriam causar desejo à mulher, O tinhoso procurou seduzir o mitológico Jesus, Mas ele instaurou uma desautorizada ação de despejo do tinhoso em pleno deserto, O que ocorreu com aquela mulher foi uma medida da flutuação dos resultados das medidas iteradas de uma grandeza realizada por um processo isento de vício, Afinal, Quem se presta a indicar a conexão entre diversas corrupções, Porque estão presentes em mais de uma e são de natureza tal que seria improvável que diferentes corruptores pudessem nelas incorrer independentemente? Eles são excêntricos sistêmicos existentes nas graduações, Como nos círculos astronômicos, Por não serem coincidentes os centros dos círculos e das suas graduações, Eles são uma aproximação modular de diferença entre o limite de uma corrupção e o valor que se aceita para corromper, Assisti a um filme hoje, Meu amor, O governo brasileiro acabara de se moralizar, Muita gente deixou a sala do cinema, Mas eu precisava ver até o fim, Porque já tinha lido o livro, Como eu gosto de te deixar turned in, Meu amor!, O que aconteceu com aquela mulher foi um deslize que se comete num cálculo aproximado quando se efetua um arredondamento, Pois no julgamento de uma hipótese estatística, Ela rejeitou a hipótese por sendo ela verdadeira, Portanto, De primeira gravidade, Hoje acordei às cinco da matina, Meu amor, Me arrastei até o banheiro, Desci para queimar um pacau, Era cedo demais para curtir sozinho, Voltei logo para a cama, Mas você ainda roncava, Então tomei um azulzinho maravilha, Fiz um 5 contra 1, Você resmungou alguma coisa, Fiz a cobra cuspir e dormi novamente, O que ocorreu com aquela mulher foi que, No julgamento de uma hipótese estatística, Ela rejeitou a hipótese por sendo ela falsa, Portanto, De segunda gravidade, Pense na média dos valores absolutos de um conjunto de erros acidentais, Num desvio padrão de um conjunto de erros acidentais, Vou ver o noticiário hoje à noite, Meu amor, Haverá trilhões desviados dos cofres públicos, E embora será incalculável a quantidade de notas, Eles contarão uma por uma, Então eles saberão quanto mais dinheiro será necessário para exaurir a nação, Quando isto está presente numa corrupção mas não em outra, Se permite reconhece-las como independentes, Decorre de um vício num processo de medida, Não tendo, Por isso, Caráter aleatório, É constante, Pode ser um engano cometido pela mídia na abordagem original, Pode ser um piolho, Jamais vou cair no erro de te deixar turned off, Meu amor. 


MONOCROMIA DOS CÂNTAROS DE CRISTAIS




Texto de autoria de AustMathr com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.


É assim que quero que você me veja, Sou um pássaro que voa alto, E corta o solo numa rasante, Sem nunca precisar pousar, Sem nunca precisar plainar, E te arrebato em pleno ar, 

É assim que um homem como eu te almeja, Escalo até  o pico de um penhasco e me jogo no abismo, E você nunca me verá vacilando em queda livre, Nunca verá meus olhos com medo de se esborrachar, 

Não será suficiente para mim você me observar, Não será suficiente para mim você me enquadrar, Não será suficiente para mim você me fotografar, Não será suficiente para mim você me revelar, 

É assim que você quer que eu te veja, Você é um vento que sopra forte, Risca a noite com raios, Troveja e faz o céu estremecer, Ruge como uma tempestade de se enfurecer, E acerta em cheio o vazio de me querer, 

É assim a mulher que um homem deseja, Você salta do alto da vida para a morte, E nunca verei você fazer ensaios, Nunca verei você arrefecer, 

Não será suficiente para você um mundo sem mudança, Não será suficiente para você uma vida só de esperança, Não será suficiente para você um presente que não avança, Não será suficiente para você um futuro que não se alcança, 

É assim que quero viver, É assim que eu quero que você viva por nós, Sou um sol que brilha para iluminar, Sem precisar arder, Sem precisar proteger, É assim o homem que uma mulher quer ter, É assim que o mundo quer nos ver a sós, Subindo até o último degrau até nos desequilibrarmos, Até escorregarmos, Até cairmos e nos despedaçarmos, 

Não me basta ser apenas um homem sobrevivente, Não me basta ser apenas um animal inteligente, Não me basta apenas parecer valente, Não me basta  apenas te ser suficiente, 

É assim que quero minha mulher, É assim que quero que você me veja como uma miragem, Sou névoa de ansiedade para ver o dia raiar, Que cai da escuridão até a manhã orvalhar, Até o sol dissipar, 

É assim que você me quer, É assim que você quer registrar minha imagem, Na monocromia de seu olhar, É assim que você quer me amar, 

Não será suficiente para você não parar de fazer amor, Não será suficiente para você absorver todo meu calor, Não será suficiente para você me fartar com seu ardor, Não será suficiente para você fazer muito sexo mesmo com muita dor, 

É assim que você quer ser, É assim que você quer que eu te veja, Sou um cachorro vira lata longe da casa que me enxotou, E você nunca me verá voltar, Nunca me ouvirá ladrar, Nunca me verá mendigar, 

É assim que você quer me ter, É assim que uma mulher como você me almeja, Mergulho até o fundo do mar, E você  nunca me verá desmaiar, Nunca me verá me afogar, 

Não será suficiente para mim posar para o teu olhar, Não será suficiente para mim olhar para seu andar, Não será suficiente  para mim andar no seu caminhar, Não será suficiente para mim caminhar no seu lugar.

Somos cântaros de cristais, Quebramos fácil demais, A monocromia de nossos atos inconsequentes, Não desbotará as cores que ainda recobrem nossas almas incandecentes.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

O QUE FALTA NO REINO DOS CÉUS


Texto de autoria de AustMathr com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Era uma tarde de inverno. Da janela via-se o céu azulado, mas lá fora estava gelado. Oras, pensei, aqui não cai neve, as mãos sem luvas não congelam, e do estacionamento a qualquer estabelecimento o vento frio que aumenta a sensação térmica não é tão torturante como o que sopra na região dos grandes lagos em Janeiro. Eu me preparava para sair quando a TV anunciou o excelente filme Reino dos Céus, que aqui no Brasil saiu como Cruzada. Resolvi ficar em casa e fui muito feliz com minha decisão. Depois da sessão de cinema, resolvi ouvir música e selecionei a gloriosa versão do Chandeen da canção In Power We EntrusThe Love Adocated do Dead Can Dance. Foi estranho como essa canção me levou imediatamente de volta ao filme que eu acabara de assistir e, mais estranho ainda, foi o que me veio à mente: Eu sempre vejo a cultura como uma mulher indefesa à mercê dos machistas. Às vezes sou cristão, às vezes não. Às vezes simplesmente ignoro um ataque dos misóginos, ou, então, me limito a retribuir suas agressões ao sexo frágil com uma homenagem à transcendência humana. Porém, às vezes, eu também atiro minhas pérolas aos porcos e aos cães. E esse é o grande risco que corro aqui. Antigamente, os porcos só pisoteavam nossas preciosidades, hoje eles as roubam. Lembrei-me, então, do filme Cruzada que acabara de assistir, e das atrocidades que se praticaram na terra santa em nome de deus em tempos longínquos. Esquecendo-se de mim e dos homens, tentei extrair daquela brutalidade alguma beleza inata ao ser humano quando este cavalga completamente nu e sem nenhum estandarte ideológico. Então, tentei transformar em palavras tudo o que minha alma sentia: A beleza se avista onde o oceano se confunde com o firmamento, De longe, vozes humanas a saúdam com brados efusivos, O som lhe chega aos delicados ouvidos, E ela o acolhe com ternura, Suaviza sua avidez e seu tom, E o sopra de volta com a brisa que o trouxe com brandura, As vozes humanas retumbam em coro e com mais ardor, A beleza cerra seus olhos, Relaxa a sua fronte, Descontrai seu sorriso, E se deixa embalar pelo som mundano e eufórico, As vozes assomassem-se, E a elas se juntam mais graves e agudos, Mais êxtase e clamor, A beleza se mantém impassível e atenta, Ouve e se acalenta, As vozes humanas se exaltam, Vão além dos limites da linha do horizonte, A beleza as traz de volta ao mirante, E graciosamente se move em suas direções como uma nuvem entregue às monções, As vozes sentem suas gentis pulsações, Percebem que ela emana meiguice à distância, É mais bela do que aparentava lá no fundo do céu, É o seu olhar que carrega sorrisos contagiantes, São seus lábios que sussurram como meninas dos olhos irradiantes, São as maçãs de seu rosto que exalam fragrância etérea, São seus cabelos que dão contornos à sua feição singela, É o seu semblante plácido que dá expressão à sua beleza, As vozes humanas emudecem, E se arrebatam com tão doce criatura, A beleza contagiada pelo calor humano, Baila ao redor das vozes, As envolve com afagos que chegam à alma, Seu olhar resplandece, E infunde mais luz tênue ao sol poente, Seus gestos delicados encantam as águas do mar, E se elevam até a lua crescente, Sua boca toca as vozes humanas, E as enche de carinho jamais recebido antes, Seus cabelos se desfraldam ao relento do entardecer, Sua leveza se esgueira suavemente até o novo amanhecer, E as vozes humanas embargadas, Soluçam e balbuciam, A beleza lhes toca os lábios com dedos singelos, E deixa seu silêncio comovente penetrar em suas entranhas, Até que elas descubram seu reino interior, Até que ela exteriorize toda sua celestial subserviência ao amor.



sábado, 6 de abril de 2024

GUERREIRA DE MÃOS SAGRADAS

Texto de autoria de AustMathr Viking Dublinense com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Ela vive e luta de sol a sol, Sendo lhe dada ainda ver morrer o poente na boca da noite, Dando lugar a finabs e incertas luzes que mal bruxuleiam pequeninas no céu da meia-luz crepuscular, E que calam tristezas e angústias como segredos, De lágrimas inquietas e preocupadas derramadas na solidão que os astros guardam nas altas horas, E qual mar revolto em ondas furiosas, Sacia a pleno a sede ardente dos justos e injustos, Sem nunca deixar passar-lhes na mesma idade, A felicidade em suas mãos, Mãos intrépidas e balsâmicas, Que seguraram o ódio e o terror, Deixando escorrer de seus olhos um tudo-nada de gotas de pranto contido, Mãos de anéis que obram as salvações de todos no mundo com temor e tremor, Orando todas madrugadas com fervor, Procurando silenciar o bem que na sua alma mora, E as ameaças e os perigos que outras não podem suportar, Mas que Deus está a observar, E se Deus estava preparado para regozijar seus olhos à distância, Foi-lhe mais aprazível ceder-se de perto à coragem desta guerreira de espírito desarmado que jamais lhe pediu para seu clamor.

terça-feira, 2 de abril de 2024

A COLHEITA DE PERSÉFONE NO MUNDO


Texto de autoria de AustMathr Viking Dublinense com direito autoral protegido pela Lei 9610/98
A aglutinação não exala perfume nem se dobra ao vento, Tem voracidade por sangradura que se impregna no ar sem brisa, O alvoroço não está nos prados alinhados, Mas em intricados e sinuosos caminhos de pedras, Para se ouvir o ofego da única flor é preciso apartar-se da algazarra animalesca e olhar do alto, A movimentação abaixo é lenta, ardilosa e sorrateira, Pontuando o sofrimento da divindade que veste carne humana, Resignada com o destino imposto pela sua própria criação, Arrasta-se pesadamente sob escárnio mundano e lamentação celestial, Cresce a indignação pelo impensável e implacável, Assomam-se e elevam-se as lamurias à altura de um cadafalso, Prostradas e ultrajadas sua glória e onipresença, Rende-se às garras de seus algozes e ao canto consolador dos que lhe acompanham na dor e no silêncio, Mãe nossa que estais no mundo, Purificado seja vosso martírio, Voltai a nós vosso poder, Longe da terra e próximo das alturas, Para vossas pétalas arrancadas aos pares, Duplas vibrações de mirra e aloés, Para vosso broto desnudo e exposto à humilhação, Um bálsamo de nardo da Índia onde fostes ungida por mãos santificadas, Para vosso último suspiro de solidão e abandono, Nossa boa vontade para vos receber na paz que cultivastes nos jardins do universo, E assim está consumada vossa colheita neste orbe.


ABAIXO DO DÉCIMO NÍVEL


Texto de autoria de AustMathr Viking Dublinense com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Tem pessoas, Tem mentes, Abaixo do nível, Tem um pouco de tudo, Onde tudo é possível, Fragmentos de pensamentos, Inteirezas de vidas, Vivências de naturezas, Antes dos tempos, Antes das mortes, Muitas chuvas e sóis, Muitas realezas, Tem sonos pesados, Sonhos resplandecentes, Tem flutuações, Elevações, Projeções à frente, Tem sonos leves, Voos descendentes, Tem saltos profundos, Sentem e não sentem, Tem voos planados, Começos de vertentes, Tem corpos, Plenitudes, Fluências de gentes, Espíritos espiritualizando, Dimensões viventes, Abaixo do décimo nível, Aprofundam os inconscientes, Tem aterragens, Solidezes, Andanças constantes, Entes sem pressa, Mentes conscientes, Tem seres vígeis, Seres oníricos, Noites, Dias, Os todos empíricos, Tem flores dos desconhecidos, Abaixo do nível, Comoções nas revelações, Onde tudo é possível, Tem femininos, Masculinos, Machas, Machos, Tem voos pairando, Pensamentos pensando, Sem cachas, Sem cachos, Tem cognições, Absolutismos substituindo, Ovos cósmicos, Rebentos expandindo, Tem mártires, Primórdios, Começos de caos, Explosões de  estrelas, Supernovas de naus, Visitantes involuntárias, Tem ideias mudadas, Onde tudo funciona, Onde são amadas, Amadas, Tem decisões, Conexões, Fêmeas, Fêmeos, Tem muito de tudo, Ovos cósmicos gêmeos, Décimo nível abaixo abrindo os portais, Onde superfícies e profundidades não são iguais, Tem Evas, Pessoas, Adãos, Dionísios, Maçãs nas bocas, Tem expulsões dos Elísios, Décimo nível abaixo abrindo os portais, Onde superfícies e profundidades não são iguais, Pessoas, Mentes, Abaixo do nível, Um pouco de tudo, Onde tudo é possível, Tem decisões, Conexões, Fêmeas, Fêmeos, Horizontes de eventos, Buracos negros trigêmeos, Décimo nível abaixo abrindo os portais, Onde superfícies e profundidades não são iguais, Pessoas, Mentes, Abaixo, Níveis, Poucos, Tudo, Possíveis, Fragmentos, Pensamentos, Vidas, Naturezas, Tempos, Mortes, Chuvas, Sóis, Realezas, Décimo nível abaixo abrindo os portais, Onde superfícies e profundidades não são iguais.