quinta-feira, 28 de setembro de 2023

ALELUIA

Texto de autoria de Austmathr Viking Dublinense com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Eis aqui mais uma fantástica poesia de AustMathr. Em cada texto que escreve, ele sempre escolhe uma ilustração que possa sintetizar a mensagem do texto, e nesta a menina parece, com um toque mágico, liberar as tensões da alma ferida na escuridão. Lindo! AustMathr sempre homenageia a música britânica, a melhor do planeta, aqui com ENYA cantando ECHOES IN RAIN, ao vivo, e sempre que pode, ele homenageia também o que há de melhor na música brasileira, aqui com SOBRADINHO de SÁ E GUARABIRA.
Gwendolyn Marie-Baxtor (vulga Inglesa Luso Chinesa) 28 de Setembro de 2023

O que do mais carente grado para vencer mais esse intransponível obstáculo ainda posso receber? Mais um milagre? Posso travestir-me de madeira e de cera, Me oferecer a todos santos em cumprimento de mais promessas, As promessas de vida no meu coração de Tom Jobim? Coração é só coração, E o meu sentimento, Só vem com a imaginação de Fernando Pessoa? A vida é só vida, A minha, Tumultuosa e anelante, Verte, Mas atrás de minha fé, Trilhando ogros caminhos, Ensanguentados aos meus pés, Avultam, Arrastando-se pelo chão, Dois anjos alados, Esforçando-se para erguerem-se contra minhas tristezas e incertezas, Abençoando minha cabeça sentenciada a trabalhos forçados, Encrespando minhas liras de festões engrinaldadas, Esvoaçando com suas auras meu orgulho de grã diadema de bastas flores nos meus ombros, Quem me dera minha alma nunca se envenenasse de malevolência contra quem quer que seja, E antes fosse servindo a todos como pudesse, Através das desventuras do meu destino e de uma longa vida, Saindo destes dias melhor acompanhada, E Anoitecendo com ela sempre lavada.



segunda-feira, 25 de setembro de 2023

ACHADOS E PERDIDOS

 


Texto de autoria de Inglesa Luso-Chinesa 

Dentro da casa de Ormontowne continua reinando a solidão e um tipo de solitude involuntária, A água da chuva compartilha tetos e assoalhos com sua pequena família, A mesa é racionada e dela só caem migalhas de alimento para cães, Os mais leais de todos, E que comem da mesma cesta básica que as instituições filantrópicas doam de vez em quando, Nenhuma noite dorme com as galinhas, E nenhuma manhã acorda com os galos, O resto dos dias são vívidos um de cada vez, 'Another day, Another dollar', Como dizem os americanos, Ou matar um leão por dia, Profissão dos brasileiros,  'Struggling to survive', Lá fora tem muita gente latente, Gente potente, Prováveis e praticáveis, Milhares permanecem indiferentes, Centenas são fogo de palha, 'Flashes in the pans', Outras dezenas são solidárias, Entre elas pencas fiéis, Parecem perpétuas, E isso pode levar ao erro de 'taking them for granted', E, Pior ainda, À cretinice de pensar: 'What a time to be alive!', É preciso cuidado, 'Never cross the line', Como eu digo: 'You're born and then you live, then you die, You get one try', Acham que eu preciso de um banho de religiosidade?, De espiritualidade?, De terapia?, Ok, Be my guest, I’ve got a lot of things I need to get off my chest, Todo mundo desaparecerá, Alguns persistirão até o fim da vida até se sentirem abusados, Há virgens de coração, Franciscanas de devoção, Morre um, Morre dois, Mas elas não te deixam para depois, Se elas o fazem uma única e última vez, É porque três estão morrendo, Inclusive elas, Conterrâneas minhas de um quarto, Donas de seus lares e de seus narizes, Não têm prato farto, Mas doam a quem doer, E lamentam a quem dói quando elas já não tem mais a oferecer, Homens da terra da ardósia tanto prometem e nada cumprem, Tanto roubam e nada devolvem, Então torço para que eles sejam felizes com tudo que eles não conceberam e nem pariram, Confesso que Ormontowne já tomou o que não é dele e nunca devolveu, Eu já pari vidas, Mas nunca as roubei, Mulheres recatadas, Mitologicamente alcunhadas de escravas de Elias, De duvidosas belezas resplandecentes, Curtem tudo quanto é vintage e não são muito diferentes das devotas do santo de Assis, Sujeitos cools e caridosos, Têm limites que não podem ser ultrapassados, Caso contrário eles retroagem à infância, Brincam de esconde-esconde, Ficam de mal, Trancam a porta e nunca mais deixam você entrar, Eles estão certos: Ormontowne, Quem eu prefiro chamar de Oxman, Montou de cavalinho neles, Então, Eles ficaram sem opções e tiveram que dar um coice nas bolas do meu amigo, Tenho certeza que eles são gente boa, São um pouquinho, Só um pouquinho, parecidos com homens de cabelos de linho, Filantrópicos de mãos e bolsos cheios, Mas têm surtos fantasiosos de manipulação e dissimulação e acabam jogando suas bondades no esgoto, Como o excedente de comida que os fartam e vai para o lixo, Na minha opinião, Oxman achou que a bondade desses homens era cega e não precisava de ocasião, Ele errou, Como eu disse, 'Enough is enough', Gente com nomes de insetos e de uma modalidade esportiva muito praticada na minha terra, São, No mínimo, 'kind and willing': Quando podem, podem, Quando não podem, Não podem, Sem 'stalling', Mas jamais lhes peça amizade pra valer, Aqui fora, tem gente de toda laia, Adestradores de dragões são muito solícitos e prestativos, Mas taxativos quando se sentem abusados, Se mudam para outro lugar e se escondem atrás de uma parede de vidro, Esse tipo de esconderijo é um pouco infantil, Mas deixa pra lá, Somos todos humanos, Crianços crescidos, Sapiens e Minions, Tem gente bacana e, Digamos, Humilde e generosa, Mas essa gente acaba se dividindo entre suas duranguezas e suas pseudo intelectualidades que dispensam o que pensam estar abaixo de pseudo celebridades, Por falar em distinção, Não posso esquecer das  esforçadas e louváveis mães de Ptolemeu XV Filópator Filómetor Cesarião (não me refiro às Cleópatras – só acho que elas têm um cacho com os pais do menino), Acho que dentro da casa de Oxman entram mais maldições do que rezas e vibrações, Mas também entra em sua vida o melhor amigo presencial que, Segundo um provérbio árabe, É sempre o primeiro a te visitar num hospital, Porém, Ninguém tem condições de ir a um nosocômio todos os dias, A não ser que você já lá está internado, Como Oxman, Se vocês curtem somente gente virtual, Precisam conhecer pessoas de origem indígena, Não uma Yanomami que precisa de socorro e não de internet, Mas, Por exemplo, Uma Guarani Kaiowá, Elas não fazem apenas qualquer sacrifício por você, Elas morrem em teu lugar se for preciso, Mas se elas tiverem alguém para morrer na sua frente, Você não deve ficar na fila, Saia, Porque o mundo onde Oxman viveu até agora já acabou, Oxman dobrou o cabo da boa esperança e está próximo do porto de onde partiu, E esta mensagem é, 'So to speak, His farewell', E o que vamos fazer no tempo que nos resta? Pagar todas as contas, Religiosamente, Para morrer em dia, Eu vou continuar por aqui, No lugar de Oxman, Até me exaurir.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

HEARTS IN ATLANTIS

Texto de autoria de Austmathr Viking Dublinense com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Esta poesia encantadora, escrita por Austmathr, relata fatos reais de sua infância a caminho da pré-adolescência em São Paulo. Ele diz que era tão feliz que achava que vivia num mundo mágico, com sua mente na mitológica Atlântida descrita por Platão em seus livros Timeu e Crítias.  O título, Hearts in Atlantis (Corações na Atlântida – que significa Ilha de Atlas) é nome de um livro de Stephen King, e que deu nome ao excelente filme homônimo, traduzido no Brasil como Lembranças de Um Verão. A poesia de Austmathr é pura magia, como aquela imaginada pelo grande filósofo grego. Muitos deploram poesias com rimas, como essa de Austmathr, e as classificam como um gênero piegas e até mesmo brega. Talvez, estas pessoas não devem ter gostado do que Cora Coralina escreveu: ‘Poeta não é somente o que escreve. É aquele que sente a poesia, se extasia sensível ao achado de uma rima à autenticidade de um verso’. Talvez, eles deploram os belos sonetos rimados de Shakespeare e de Fernando Pessoa. Talvez, eles se esquecem que poesia rimada é um conjunto de estrofes que ganhou musicalidade e voz. Todas as melhores músicas já compostas, com raras exceções, jamais desfilam palavras sem rimas. A poesia de Austmathr é pura arte, pura magia. E das 6 estrofes deste poema, eu custo a acreditar que haja pessoas  que não atinam para a maestria e a beleza deste versos: ‘....Com asas de dragão eles alcançam as pipas nos céus de São Paulo que saem das linhas dos carreteis que os meninos soltam durante todas as férias de verão, Elas dividem as cores com o arco- íris da palheta e da bonança, Que sempre se abre como um leque de esperança, Ora de não crescer e de não amadurecer, Ora de prosperar e estrelar, mas não querendo andar ver o tempo andar..., e esta estrofe inteira que já valeria toda a poesia: ‘Que bom ser pequeno e já ter uma renda, Que cresce com o que economizo dos trocados para a merenda, E com o que meus padrinhos me dão como oferenda, Hoje vou assistir à matinê no Cine Vera e minha alma está suspirando, Ela transpira nas mãos de minha namorada, E fica vermelha de vergonha a cada entreolhada, Com um corpo astral, Ela se transporta para a tela e encena seu turno na sentinela da cabana de escoteiro no matagal, Ela revela tudo o que a maioridade não mostra, Amigos do peito e nenhum inimigo pelas costas, Juramentos por tudo o que é sagrado, E nenhuma decepção por algo que não foi honrado, Dedos mindinhos cruzados para ficar de bem, E nenhum ressentimento negado nas palavras, mas que o coração adulto ainda retém’. A ilustração é uma cena do filme. O personagem principal (Anthony Hopkins) diz: ‘...quando a gente é criança temos tantos momentos felizes que achamos que vivemos num lugar mágico....daí, crescemos, e nossos corações de partem também...’ Outro personagem coadjuvante adulto (David Morse), diz no final do filme: ‘....Quando a gente é criança, parece que um único dia parece uma eternidade, mas todos estes anos passaram como num piscar de olhos...’ Em cada texto que escreve, além de escolher a ilustração adequada, AustMathr sempre homenageia a música britânica, a melhor do planeta, aqui com IT’S RAINING AGAIN do SUPERTRAMP, cuja melodia se embala perfeitamente o texto, e palavras como ‘...Está chovendo novamente....e estou perdendo um amigo...’ me sugere, para esta poesia, que ‘a infância está terminando e estou perdendo minha melhor amiga’. Quando pode, AustMathr também homenageia o que há de melhor na música brasileira, aqui com LINDO BALÃO AZUL de GUILHERME ARANTES. Esta música foi feita para um programa infantil e ela cai como uma luva nesta maravilhosa poesia que fala exatamente disso: a nossa inocência e felicidade na infância.

Gwendolyn Marie-Baxtor (vulga Inglesa Luso Chinesa)

20 de Setembro de 2023


Que bom estar protegido dentro do campo, Enquanto as nuvens fecham o céu com um manto, E minha alegria está só começando, Ontem minha mãe encerou o assoalho e meus botões estão deslizando, Eles ocupam todos os espaços como o carrossel Holandês, Como o mundaréu de barcos que entopem o cais do porto Marselhês, Com ouvidos de esguelho, Eles jogam ao som dessa música alta que sai do rádio perto da penteadeira e do espelho, Ela não incomoda o adulto de casa e nem o da vizinhança, Que sempre se põe a correr como criança, Ora sob a sombra para enxugar a testa e do calor se esconder, Ora sob jornal dobrado, Para cobrir a cabeça e para da chuva não sair molhado, 

Que bom ser jovem demais, Não saber interpretar sinais, Não ter coração rasgado que precisa ser remendado, E nem sofrimento que precise de tempo para ser curado, Hoje meu pai me comprou um monte de bolinhas e meus olhos estão cintilando, Eles fosforeiam toda a escuridão, Como o relâmpago de neon, Que ouve o grito de acusado e com um trovão responde, Como os pirilampos no mato que se juntam à garotada no esconde-esconde, Com asas de dragão eles alcançam as pipas nos céus de São Paulo que saem das linhas dos carreteis que os meninos soltam durante todas as férias de verão, Elas dividem as cores com o arco-íris da palheta e da bonança, Que sempre se abre como um leque de esperança, Ora de não crescer e de não amadurecer, Ora de prosperar e estrelar, mas não querendo ver o tempo andar, 

Que bom ter um açougueiro, Que me paga em dinheiro, O que sobra da leitura que meu pai recebe do jornaleiro, Amanhã vou pegar um ônibus até a Praça do Correio e meu coração está retumbando, Ele pode ser ouvido de lon
ge, desde o Vale do Anhangabaú até o Largo Paiçandu. Com mãos ligeiras, Ele folheia toda as capas de vinil que as galerias da São João ostentam em suas disputadas prateleiras, Elas dão ao precioso acetato sonoro um encantador abrigo, E aumentam a coleção que monto com meu melhor amigo, Que nunca tem pressa e não usa relógios, nem para marcar o tempo de bola, da aula na escola ou do disco na vitrola, Nem para não perder o que passa na televisão, quem será o último a sair da cela do pião e a que horas soltarão o balão, 

Que bom ser menor de idade, Não dormir preocupado com o dia que está por vir, Fazer de cada encontro uma nova amizade, Não ter necessidade de fingir ou de mentir, Ontem meu irmão rapelou todas as figurinhas no jogo do abafa e minha boca está aguando, Elas preenchem todos os retângulos vazios no meu álbum do Rin-Tin-Tin, E comemoram com rá-tim-bum e tampinhas fazendo tlim-tlim, Com faro de labrador, Elas sentem de longe a aproximação de um invasor, Ele não vem desafiar os locais e nem desertar o lugar de onde veio, Só está fazendo incursões diplomáticas em território alheio, Ora como um pacificador entre grupos que estão tão próximos um do outro e se melindram por tão pouco, Ora como um conciliador de diferença individual, Para o benefício geral, 

Que bom ser pequeno e já ter uma renda, Que cresce com o que economizo dos trocados para a merenda, E com o que meus padrinhos me dão como oferenda, Hoje vou assistir à matinê no Cine Vera e minha alma está suspirando, Ela transpira nas mãos de minha namorada, E fica vermelha de vergonha a cada entreolhada, Com um corpo astral, Ela se transporta para a tela e encena seu turno na sentinela da cabana de escoteiro no matagal, Ela revela tudo o que a maioridade não mostra, Amigos do peito e nenhum inimigo pelas costas, Juramentos por tudo o que é sagrado, E nenhuma decepção por algo que não foi honrado, Dedos mindinhos cruzados para ficar de bem, E nenhum ressentimento negado nas palavras, mas que o coração ainda retém, 

Que bom que as nuvens no céu estão se dissipando, Os raios que despencam do sol estão se infiltrando, E a minha alegria está aumentando, Amanhã vou ao Acre Clube no Jardim França e meu fôlego está tinindo, Ele esconde o ar da água doce e clorada, Estufa os pulmões e libera energia vitalizada, Com braços finos, mergulha bem fundo, Para apanhar uma moeda solitária e ganhar o mundo, Ela substitui os membros superiores pelas pernas grossas, Que se empenham para manter medalhas que já são nossas, Ora nos esportes dando um salto sobre o varal, E fazendo gols na peladinha de quintal, Ora nas divagações sobre a ingenuidade desse mundo mágico criado por deus, E sobre a felicidade perdida por aqueles que não tiveram sonhos como os meus.



sexta-feira, 15 de setembro de 2023

INTUIÇÃO E MAGIA

Texto de autoria de AustMathr com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Em cada texto que escreve, além de escolher a ilustração adequada, AustMathr sempre homenageia a música britânica, a melhor do planeta, aqui com PRIMITIVE HEART de COCTEAU TWINS , e também o que há de melhor na música brasileira, aqui com DE VOLTA AO MEU ACONCHEGO de DOMINGUINHOS com ELBA RAMALHO 


Solitário e perdido em pensamentos, balançando na rede de quatro chinelos, Sob pouca luz deitada pelo lampião, O jardim de inverno vê a noite cair com o mesmo viço das tenras primaveras de meu espírito, Os últimos raios de sol ainda ouvem o canto dos pássaros que mistura-se ao murmúrio das ondas lavando a praia, Uma repentina viração atravessa as persianas a lufadas brandas e acaricia-me o corpo, E nela viaja uma voz celestial e arredia que toca minha  alma, Tirando presságios do canto do eterno feminino, E sai à ligeireza no feitio misterioso, No feitio do crepúsculo Nortumbriano, Rumo ao norte, Onde não sei seu nome, Onde nunca vi seu rosto, E saio a procurá-la nos lugares que não frequenta, Dos quais vive longe e não tem companhias, Mas ninguém atina com a descrição de onde de súbito passou tão fascinante cantar como se tivesse sido subtraído de seu lar, E abandonam-me na multidão para folhear milhões de faces até meus olhos se encontrarem com os dela, Sem precisar pedir-lhe para produzir sons melodiosos e encantados, Pois reconheço-a pelo seu encanto que chegou pelos céus, Atravessando oceanos, Levando-me a perde-la de vista, Até embrenhar-me noutra multidão da qual vivo longe, Que não frequento, E surpreendo-me com a companhia de sua voz que ecoa pelo ar, Trazendo-me de volta ao meu remanso, Onde não há sol para partir, Apenas jardins de flores para juntar sedas-azul e guanambis, Zumbidos de abelhas e silenciosos mares de unções, E uma suave aragem que se demora até o anoitecer das estrelas, Com seu rosto e seu nome nela impregnados, E seu canto inebriado na funda contemplação da arte de causar emoção,  Brilhando-me o  êxtase em todo seu esplendor.





quarta-feira, 13 de setembro de 2023

CÚMPLICES

Texto de autoria de AustMathr com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Em cada texto que escreve, além de escolher a ilustração adequada, AustMathr sempre homenageia a música britânica, a melhor do planeta, aqui com GIMME SHELTER da banda THE ROLLING STONES, e também o que há de melhor na música brasileira, aqui com ADMIRÁVEL GADO NOVO DE ZÉ RAMALHO.

Todos os dias têm seus momentos, Com suas momices, A fartura de nossas carnes prazem e sofrem em nossas próprias peles, A abstinência do nosso amor vive de tempos alitúrgicos, Oh Nosso Senhor, Ensina Teus servos, Que padecem o tormento da incerteza, Da indiferença, Que te agradecem pelo coração que não sente, E pelos olhos que não veem, Oh meu Deus, Largo é o Teu caminho que Te leva à perdição, Estreita é minha porta, Sitiada pela Sua Eva de seios gordos, Que se esfregam em meu rosto quando entro, O que Tu deixas penetrar, Sempre sai, Sob um signo feliz, Quando alguém vem ao Teu mundo, Pela lua nova, Alguém parte debaixo de um sinal mofino, Pelas expensas de Sua religião que recrudesce, À proporção que minguam os Seus bem-aventurados, Você nos deu uma hora para mais viver, Raramente perdoa os que não vivem o bastante, Você nos deu uma hora para mais matar, Raramente perdoa os que não matam o bastante, Você nos deu um sol que raia para todos de boa nascença, Uma chuva que derramas e inundas sobre todos Teus injustos, Oh meu Deus, Tenhais temperança, Fazemos de teu ódio pela humanidade nossa vingança, Oh minhas irmãs, De suas rajadas de furor, De suas tempestades da vida, Tiramos nossa bonança, Tiramos suas noites e suas auroras, E suas esperanças, Oh meus irmãos, Somos peixes que vivem sua própria vida, E ignoramos o curso das águas, Oh meu Deus, Olhe estas crianças, São elas que tiram de onde não depositam, E colhem o que não semeiam?, Oh minhas crianças, Não vos aflijais, A bala perdida é só um disparo, Vocês estão apenas a um tiro de distância.




MARIA BRASILEIRA DO MUNDO INTEIRO


Texto de autoria de AustMath com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Neste texto, AustMathr homenageia o que há de melhor na música brasileira, aqui com MARIA SOLIDÁRIA de BETO GUEDES.

Maria que é a Maria, É cheia de graça, Cheia de raça, É Madalena, É mãe e tia, É Mariana, É Ana Bolena, Tem corpo que arrepia, Não tem quem não ama, Casada ou solteira, Solidária e companheira, Morre esposa traída, E de seu ventre sai uma rainha, Mulher destemida, Mais poderosa que o rei no xadrez, Lava, passa e cozinha, Não há doce que ainda não fez, Doce de amendoim que o menino roubou, Grita pede, moleque, que te dou, É bonita e valente, Não tem medo do sertão, Não tem medo do que não sente, Luta com o coração, Reza Ave-Maria, Compadecida, É quase negra como Nossa Senhora Aparecida, É a Maria judia, Que inventou o banho-maria, A gororoba com coco ralado, Que ficou mais mole que seu nome, Miriam soberana do hebraico modificado, Que em grego virou Maria, Cobiçada por todo homem, Por toda Maria, Que não vai com as outras, Tem sua ideia factícia, Alma pura como poucas, Ajuda todos os seus, É a preferida de Deus, Brilha no céu, Como Três-Marias, Cada uma com seu véu, Abençoando todas as romarias, Dança no ar enquanto trabalha e canta, Lança sob o luar seu charme enquanto a noite avança, E sob o sol, Sua meiguice que nos encanta, É Maria do futebol, Alegria do povo, É Maria de todos nós, Que desafia quem nasceu primeiro, Pingo D'água sem nós, Nem a galinha nem o ovo, É Maria brasileira do mundo inteiro.





segunda-feira, 11 de setembro de 2023

MULHER BRASILEIRA



Texto de autoria de AustMathr com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


Em cada texto que escreve, além de escolher a ilustração adequada, AustMathr sempre homenageia a música britânica, a melhor do planeta, e também o que há de melhor na música brasileira, aqui com ROUPA NOVA cantando DONA.

Dona de todos os estrangeiros, Estigmatizada por todos seus brasileiros, Deles cuida como animais de estimação, Que se impõem pela força bruta e a submissão, Estes seus olhos às vezes claros e holandeses, Marejam-se a cada tristeza que precisa de lágrimas, Esta sua pele às vezes vestida da cor da terra, Aviva no seu semblante a severidade da brancura das japonesas, Dona de todos os admiradores, À mercê incauta de todos os aproveitadores, Em troca de sua beleza circunspecta e sua avassaladora meiguice, Violentada muito além da sandice, Estes seus lábios carnudos e com gosto de mel, Se contorcem a cada instante de fel, Estes seus cabelos lisos, Encaracolados e pixaim, Dão contornos à sua formosura que não tem fim, Você é alemã, Italiana, Espanhola e portuguesa, Você é índia, Negra, Mulata e sírio-libanesa, Você é brasileira, De caráter e sedução na mesma proporção, Faz o frágil sexo masculino de sua pátria, Nesciamente te enciumar, Te querer e  te tomar, E lhe tirar a vida torpemente apenas por não lhe pertencer !

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

A SALA DE VELUDO

Texto de autoria de AustMathr com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

AustMathr sempre homenageia a música britânica, a melhor do planeta, aqui com STILL LIFE da banda THE HORRORS, e também o que há de melhor na música brasileira, aqui com RITA LEE cantando JARDINS DA BABILÔNIA

A menina inocente, Sem nenhum pecado capital, Acordou de repente, No meio da noite numa cidade universal, Plena de felicidade, Mas privada da visão beatífica do grande Criador, Por isso procurou, Mas não achou, O Cristo Redentor, A menina sem maldade, Perambulou, E se surpreendeu, Quando se deparou, Com o Coliseu, Seu espanto, Seu susto, Sua aflição, Se confundiram e se misturaram num sentimento amplo e justo, Com a euforia da multidão, Ovacionando os gladiadores, A menina sem comunhão, Sentiu  cheiro de flores, As buscou, Rapidamente caminhou, E pensou, Estar chegando perto da Amazônia, Arregalou os olhos ao se deparar, Com os jardins suspensos da Babilônia, Com perfume âmbar, Seus mármores, Seus terraços, Seus horizontes, Se distinguiam e se harmonizavam com arranjos de árvores e sargaços, Trazidos do alto-mar para enfeitar as fontes, Imprimindo à paisagem uma expressão digna de um poeta, Uma beleza que  sai das mãos do rude escultor e seu cinzel, A menina inquieta, Não perdeu os olhos para a majestosa torre de Babel, Ali tão próxima e rica em idiomas, Subiu ao cume, E o que ela viu pareciam dioramas, A quilômetros de distância divisou um lume, Que em todas as direções se movia, Que custou a adivinhar, Até que um anjo perdido no limbo lhe soprou que era o farol de Alexandria, Ela precisava lá chegar, Quem lhe dera houvesse um caminho ligando os dois pontos, Mas não existia uma muralha como a da China, Então teve que se deslocar pelo ar, Como nos livros de contos de fadas, Enquanto voava, Maravilhou-se ao olhar para baixo, E reviver a antiga Hiroshima, A menina ainda  não batizada, Bem versada, Seguia costa-abaixo, Arvoava, E ansiava para conhecer a grande biblioteca das conquistas Macedônias, Da plêiade dos primeiros escritos que folheou com mãos emocionadas, Entre eles um principalmente se sobressaía, Os esboços dos inventos de Arquimedes, Que teriam mudado a história da humanidade, Sem cerimônias, Sem hesitação, E pernas apressadas, Mais uma vez a menina partia, Com humildade, Vou para onde me pedes, Sem o reconhecimento de Deus, Para o berço da civilização, Onde contemplo em Olímpia a estátua de Zeus, Em Éfeso o templo de Ártemis, Em Rodes as colossais pernas através das quais passava qualquer embarcação, A menina que nasceu antes do mito de Jesus, Continua sua jornada na caligem de Éris, Chega à terra Santa, Vislumbra o Templo de  Salomão, Recebe um pouco de luz, E se acalanta, Ruma para o delta do Nilo, E lá não encontra as pirâmides de Gizé, Quase não se conforma com aquilo, E nas inundações do grande rio, Encontra sapé, E sêmeas, No lugar do vale dos reis, As torres gêmeas, Parecia um desvario, Mas ela percebe tudo, Sabe que está num espaço entre dois mundos que fundem suas propriedades e suas leis, A menina ainda com o pecado original, Sem remissão, Mantinha uma atitude normal, Sem insurreição, Plena de justiça, Ainda que lhe fosse negado o livre arbítrio, Por isso tentou, E encontrou, Um conquistador assírio, A menina sem imagem postiça, Vagou, E não fez estardalhaço, Quando se defrontou, Com o mausoléu de Halicarnasso, Sua curiosidade, Seu desprendimento, Seu destemor, Se confundiram e se misturaram num sentimento de totalidade e agradecimento, Com a possibilidade do amor, Voltando a dormir com o mesmo sonho que a acordou, Com poderes redobrados que não sabe onde pôr, E o que mais ganhou, Foi descobrir que tudo que é destruído, Pode ser visitado, Tudo que ainda existe, Vai ser destruído, Nada é de ninguém, Nada é seu, Nem quase nada, Nem quase tudo, O que morre é preservado num museu, Numa sala de veludo.






terça-feira, 5 de setembro de 2023

CHARME



Texto de autoria de AustMath com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Neste texto, AustMathr homenageia o que há de melhor na música brasileira, aqui com CHEIA DE CHARME de GUILHERME ARANTES, e o que há de melhor na música americana, aqui com FALLING IN  LOVE de RANDY NEWMAN

Lá vem você de saia branca rodada
Passos acelerados e cadenciados
Olhos refletindo o sol no horizonte
Pestanas debruçando-se sobre a calçada
Deixando todos olhares extasiados
Voltando-se para onde seu sorriso aponte
Lábios descolando uma expressão espontânea
Uma mão na bainha contra o joelho
Outra no chapéu contra o lado que venta
Coteja flores com inveja momentânea
Maçãs do rosto com tom de vermelho
Cabelos esvoaçando em câmera lenta
Pescoço altivo envolto num lenço
Cabeça suavemente jogada para trás
Ombros balançando com os quadris
Respiração serena no ar denso
Mormaço que o frescor de seu hálito desfaz
Graça da ponta dos pés até a do nariz
Sobrancelhas e cílios decoram o que já é bonito
Exala fragrância na atmosfera ao passar
Deixa sua simpatia e suas curvas à mostra
Poses no andar que dominam o infinito
Faz uma rua inteira parar
É encantadora de frente e de costa



domingo, 3 de setembro de 2023

UPPERS AND DOWNERS, EITHER WAY BLOOD FLOWS

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

A intrauterina veio ao mundo, Viu-se a menina crescer para a puberdade, Para uma maior idade, Para além da terceira e última, Viu-se o corpo definhar-se até o arqueamento entre pele e osso, O espelho mostrava-lhe as cãs, As rugas, A velhice que lhe negou a eternidade, Ela foi levando-a, Mas foi ela quem a levou, Se moribunda fosse a sentiria fugindo-lhe, Ela respirava submarina, Bêntica, Terra acima, Raramente nas grandes altitudes, Na sua existência couberam cem mil delas, E em cada uma cem mil depressões, Há muitos sinais dela nas matas e nos ares, E ela, Tal qual cientista, Tentou encontrar recursos para prolonga-la, E a medo de ver-se nela abreviada, Seu cachorrinho durou cerca de doze anos, Mais ou menos no limite de um automóvel bem rodado, Mas mui, Mui bilionésimamente menos que uma estrela, A linda jovem, Rosto e madeixas da mais alva porcelana, Queria ter escrito sobre Santo Antão, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Afastou-se da igreja por falta de vocação, Que tinha para um palco iluminado, E vivia vestida de dourado, Para ser a palhaça das ilusões perdidas de Orestes Barbosa, Nas suas origens passou de agricultora para pastora de ovelhas, Sua dura luta lhe encareceu dia a dia, Levando-a de cadela de comboieiro, Por muito tempo foi como o café da economia nacional, Por pouco a resgatadora de rebanho que se perde. A leitura e a cantoria tornou-se tudo para ela, Virou artista e deu luz aos espetáculos sem decoração, Mornos e desbotados, Quanto primor em seu quadro! Quanta vitalidade! Quanto desprezo pelo sedentarismo no cotidiano! Pela finura de seus traços, Pela fama e lisonja, Seu gênio revelou-se presa fácil à boêmia, Descambou para a estroinice, E apesar de amar ao delírio esta conduta airada, E de ser o que se chama nos homens um pé de mulher de boas e generosas fortunas corporais, Nereida, Dríada, Oréada, Napeia, Coleante, Oceânide, Nunca deixou de ir em certas épocas do ano passar algumas horas nos seus sonhos de casamento de raposa, De filhas do sol e netas da lua, De ficar com a mãe de São Pedro, Dada em droga, Sem lenço, Nem documento, Sem endereço, Desconhecida como pedra que rola e não cria limo, Dada em lembranças de in-fólios somente em pensamentos que adormeciam as noites, Sussurros sedativos que aprofundavam a inquebrantável imobilidade de sua disposição para terminar o que começou, Uppers and Downers, Either way her blood flows,  And so does life, Going on flowing within and without her,