quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

UM PADRÃO DE SOLIDÃO


Texto de autoria de AUSTMATHR VIKING DUBLINENSE com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Já foram as duzentas maiores metrópoles deste lugar, Onde não vejo terras de minha terra, E mais outras centenas de povoações menores, Que cruzo como ruas nas cidades dos  mortos, Trazendo-me estrangeira por mais de 200 mil quilômetros de destinos, Comendo-os a passo largo, E aqui estou novamente, Que parece eternamente, Como se eterno fosse só uma palavra, Todos os dias de fazer e de não fazer, Levantando cedo e a culpa, Para não só minorar minha pena, Dando duro a manhã toda, Por fazer de mim pessoa estável, Mas sempre saindo-me uma nômade itinerante, Pegando estrada na hora do almoço, Nestes longos caminhos, De horas esquecidas, Que de sonhos ando acordando, Viajando 500 milhas, Fantasiando sua presença, Que sabe que estou longe, Desde o momento que uma aeronave estremeceu o céu e acordou seu isolamento, Até chegar à próxima urbe na hora do jantar, Conversando horas perdidas comigo, Até ferrar rápido no sono, Para o ritual do dia seguinte, Focada num trabalho de Sísifo, Que não é de sempre, Focada na direção, Ouvindo música por oito horas, Enquanto minha alma descansa em meu colo, E por onde passo, O passado não passa, Torna-se presente e profuso, E todos parecem me conhecer, Como se mais conhecem a geografia de Marte que os monumentos de seu país, Os ventos gerais, As paisagens monótonas de árvores que escondem pássaros, De canteiros centrais que escondem policiais, A neve que embaça e baixa a temperatura, E depois de mais um mês solar, As vias se esvaziam, Porque o dia 24 de Dezembro chegou, E vou pernoitar numa periferia onde já estive mais de uma vez, Onde as ruas estão desertas, Como se lá nunca houve vida, Onde o hotel parece abandonado, E como hóspede única, Faço minha ceia, Faço-me um brinde, Minto sozinha, Ouço ecos de mim, Epílogo de uma mulher morta, E logo deito-me no silêncio absoluto e sepulcral, Sublime sossego, Que atenua minha monofobia, Como se o mundo tivesse acabado, E eu a única sobrevivente, Resistindo aos meus próprios pensamentos, Ao inconformismo de gente que se tornou estranha com a vida pesada que levo e carrego desamparada, Mas amanhã é dia de partida, Para mais lida, Para mais uma distância física e emocional, Com desejo de jogar uma rede acima do céu para colher felicidade, Ansiando logo voltar para casa, Juntar minha solidão com a sua, O melhor afrodisíaco para quem quer continuar vivendo e gerando uma nova vida, Tão solitária como a nossa.