quarta-feira, 4 de setembro de 2024

O SENTIMENTO MAIS PURO

 


Este é mais um belo escrito de meu amigo AustMathr sobre o qual quero fazer apenas um comentário e não uma análise. Perguntei ao AustMathr de onde ele tirou a ideia para escrever este texto, sabendo que ele a extrai de seu próprio intelecto, se inspira numa música, sempre na melodia e nunca na letra, numa pintura, num sonho e até numa palavra solitária que surge do nada. Então, ele me disse que foi de um filme que assistiu há cerca de 25 anos, chamado CITY HALL, que significa PREFEITURA, e que no Brasil foi lançado com o nome de CONSPIRAÇÃO NO ALTO ESCALÃO. Neste filme, Al Pacino faz o papel de John Papas, prefeito de New York, e John Cusack é Kevin Calhoun, o vice-prefeito. John Papas tem boas intenções e grandes ambições: chegar à presidência dos EUA. Kevin é um jovem sulista e idealista e tem uma enorme admiração por John Papas. Mas, como o filme mostra, ao longo de seu mandato, o prefeito se desvia do caminho correto e deixa Kevin decepcionado. John procura consolar Kevin dizendo-lhe que desde quando era jovem ele também era idealista, e que sempre teve o sonho de um dia levar este idealismo à Casa Branca. Resignado com a única alternativa de ter que abandonar a política, ele revela a Kevin que um dos antigos prefeitos dizia que se um pardal morresse no Central Park ele era responsável. O jovem Kevin ficou comovido com esta frase, e AustMathr também, e ele pensou: já houve um tempo em New York em que havia políticos tão íntegros e responsáveis a ponto de assumirem a culpa pela morte de um pássaro no maior parque da cidade! E em nossos tempos atuais, onde estamos, como eles são numa grande metrópole como São Paulo, a terceira maior do mundo depois de Tokyo e New York? AustMathr jamais se prestaria a fazer comentários sobre políticos corruptos. Ele costuma dizer que é muito cômodo sentar confortavelmente numa cadeira diante de um computador em casa, na redação de um jornal ou de uma revista e nas plataformas das redes sociais e passar o tempo todo criticando os políticos, sem tirar a bunda da cadeira, arregaçar as mangas e fazer alguma coisa para ajudar a consertar o que está errado na cidade ou no país. Ele se perguntou, e o pássaro, o que ele acha disso? AustMathr preferiu dar voz ao bichinho de penas, abriu mão de seu cérebro, embora sua genialidade continue presente, deixou de lado qualquer sofisticação, qualquer eloquência complexa, e pensou com o coração, extravasando apenas seus mais puros sentimentos através do bico de um pardal. O resultado é um texto poético, curto, simples, leve e suave, sublime, com o toque mágico que AustMathr dá em tudo que escreve. O título, O SENTIMENTO MAIS PURO é perfeito. A ilustração que ele encontrou na internet parece ser o anverso do texto porque a pessoa anônima que a pintou a chama de A DIFICULDADE DE SE COMUNICAR COM UM PÁSSARO. A música escolhida não podia ser melhor. Ela embala a narrativa e soa como o coração do pássaro palpitando enquanto fala. Como AustMathr sempre diz, músicas e ilustrações não estão em cada texto por acaso. A música é a alma da imaginação e do sentimento e da qual ela se alimenta, e a ilustração são seus olhos. A pedido de AustMathr, eu assisti ao filme que está disponível na Amazon Prime Video, mas eu fiquei mais comovida com a poesia de AustMathr

Inglesa Luso-Chinesa

4 de Setembro de 2024   


O SENTIMENTO MAIS PURO

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


Meus descendentes báquicos da Ibéria, Realizaram o melhor sonho de minha vida, Pois logo depois do primeiro descobrimento embarcaram-me do velho mundo para este novo e paradisíaco, De onde se tira da natureza a tintura para dar o vermelho das miniaturas e iluminuras dos manuscritos que são mandados de volta só para falar destas belezas que tanto me encantam, E rouba-me esta terra, Mais do que a  alegria de aqui viver, O orgulho de ser tão bela, E nela eu bem estaria em meio a tanta formosura, Mas não sei viver sem você, E por sorte você acostumou-se com meu bruno-pardacento e meus sombrios tons ferrugíneos, E nem mesmo reparou no negro que recobre minha garganta e meu peito, E nos meus braços malhados de branco, Não falta o murmúrio dos mesmos ares que respiramos, Pelas vozes do tempo que passamos, E dos dias rotineiros, Que pertencemos um ao outro, Sem nos darmos conta, Sem intrometermos nossas experiências nas diferentes histórias que vivemos e contamos, Só me preocupa a maneira como você cuida dos seus, Pois se fossem verdadeiras as boas intenções e preocupações que alardeiam os que estão no comando, Será que eles se sentiriam responsáveis se um de seus pares morresse no parque de nossa cidade?