sexta-feira, 2 de agosto de 2024

AOS PAIROS

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Sempre entreparo, Hesito sobre que satisfação posso ter, Alheia à realidade que no sambaqui do outro lado da estrela polar cai no esquecimento e não me resolve, Ainda procuro estar no melhor dos mundos, Detenho-me, Aos pairos entre a África e a Índia, Entre vir do hemisfério norte nidificar em meu torrão, Em buracos, Nos barrancos, Em ocos de paus, E apenas fazer flores, Quinquilharias e até ninhos, Em todas habitações humanas, Onde quer que elas estejam, Impacienta-me a demora do sol baixar sob o horizonte, E apressada lá vou chamar as luas de Júpiter, De Saturno e de outras terras que ainda não me enxergam, Por este universo afora, E quando a escuridão me envolve, Solto seus braços, Salto em queda livre pelo vórtice de um sonho que pertence a outrem, Até chegar ao fosso que se fecha ao redor de minha aura, Ao longo de minhas estradas da vida percorridas, E do alto você surge como o grande espelho que reflete sua imagem perdida, Com esta mulher de longo, Abraçados num bailado por horas esquecidas, Esta mulher suspensa no ar, Como se você tivesse mãos invisíveis que me seguram acima do chão, E os meus mais descomunais de todos os esforços, Com os olhos e ouvidos, Mal conseguem o mais leve movimento, A câmera mais lenta, Tudo paira, Como uma névoa sutil acima dos pântanos, No seu tempo misterioso que parece estancar a noite, No seu silêncio de extensão indefinida que parece deter a alma de todas as gerações mortas, Assim, Indiferente à felicidade, E conformada com o indeterminismo de sua existência, Sinto a aproximação de inexoráveis abutres, A sobrevoar-me lentamente, A farejar-me o corpo de uma cor, A daltonizar minha consciência.

ALÉM DOS 70

Texto de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


Se antes não era tão feliz, E isso desconhecia, Tinha nas mãos o maior bem entre os terrenos, E agora que ajusto as contas com a natureza, Sou o imortal sonho da alma exilada, Da alma repatriada, A tempo e a hora, Eternidade atrasada e adiada, Agora tenho no coração o maior bem entre os celestiais, Sou índia abolida pelos brancos, De volta ao meu habitat natural, Procuro pelas Marias, Do Egito, De Betânia, E de Megadan, Conto-lhes meu desejo apenas idealizado, Convenço-as de que já havia sido realizado, Minha liberdade torna-se verdade, À vista de um deus nórdico, Falto de austeridade, Farto de meu talento, De minha recompensa de frutos do solo, Fruta tomate, Falto de leguminosidade, Degustada com o sal da terra, Insípida sem ele, Me faz luz do mundo, Derramada em dilúvio sobre a noite, Subindo os dias, Descendo em sois, Difundindo as fronteiras vivas e mortas de minha felicidade, Propagandista altruísta, Em bons princípios, Boas ideias, Bons conhecimentos, Criança saindo debaixo da saia da mulher sem o convívio dos homens para se consagrar a Deus, Paciente recebendo baixa da terapeuta, Leniente com minhas infantilidades, Plena de senso de humor, Afasta-me de Hugo de Grénoble, Afasta-me da minha falação infanto-juvenil, Da velhice e da enfermidade, Retroage-me à jovem saudável, Graças à Santa Lilian, À Santa Milagre, À Santa Regina, E toda alegria e louvor que saltitam ao redor de vocês, Minhas maiores, Com preferência ao silêncio de vossas realizações, À conservação de seus monumentos, Vós sois Pedra-lipes, As salsas águas do mar, Curam feridas, E Lúcias, E a mim, Apenas uma delas, Não a mais bela, Só a mais contente das que em todas as estações dos anos recebiam pousadas nas vindimas de vossas vidas.


UPPERS AND DOWNERS, EITHER WAY BLOOD FLOWS

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela 

A intrauterina veio ao mundo, Viu-se a menina crescer para a puberdade, Para uma maior idade, Para além da terceira e última, Viu-se o corpo definhar-se até o arqueamento entre pele e osso, O espelho mostrava-lhe as cãs, As rugas, A velhice que lhe negou a eternidade, Ela foi levando-a, Mas foi ela quem a levou, Se moribunda fosse a sentiria fugindo-lhe, Ela respirava submarina, Bêntica, Terra acima, Raramente nas grandes altitudes, Na sua existência couberam cem mil delas, E em cada uma cem mil depressões, Há muitos sinais dela nas matas e nos ares, E ela, Tal qual cientista, Tentou encontrar recursos para prolonga-la, E a medo de ver-se nela abreviada, Seu cachorrinho durou cerca de doze anos, Mais ou menos no limite de um automóvel bem rodado, Mas mui, Mui bilionésimamente menos que uma estrela, A linda jovem, Rosto e madeixas da mais alva porcelana, Queria ter escrito sobre Santo Antão, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Afastou-se da igreja por falta de vocação, Que tinha para um palco iluminado, E vivia vestida de dourado, Para ser a palhaça das ilusões perdidas de Orestes Barbosa, Nas suas origens passou de agricultora para pastora de ovelhas, Sua dura luta lhe encareceu dia a dia, Levando-a de cadela de comboieiro, Por muito tempo foi como o café da economia nacional, Por pouco a resgatadora de rebanho que se perde. A leitura e a cantoria tornou-se tudo para ela, Virou artista e deu luz aos espetáculos sem decoração, Mornos e desbotados, Quanto primor em seu quadro! Quanta vitalidade! Quanto desprezo pelo sedentarismo no cotidiano! Pela finura de seus traços, Pela fama e lisonja, Seu gênio revelou-se presa fácil à boêmia, Descambou para a estroinice, E apesar de amar ao delírio esta conduta airada, E de ser o que se chama nos homens um pé de mulher de boas e generosas fortunas corporais, Nereida, Dríada, Oréada, Napeia, Coleante, Oceânide, Nunca deixou de ir em certas épocas do ano passar algumas horas nos seus sonhos de casamento de raposa, De filhas do sol e netas da lua, De ficar com a mãe de São Pedro, Dada em droga, Sem lenço, Nem documento, Sem endereço, Desconhecida como pedra que rola e não cria limo, Dada em lembranças de in-fólios somente em pensamentos que adormeciam as noites, Sussurros sedativos que aprofundavam a inquebrantável imobilidade de sua disposição para terminar o que começou, Uppers and Downers, Either way her blood flows,  And so does life, Going on flowing within and without her,