Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.
Bachir: Hoje temos gente nova no círculo. Apresente-se, Abulition!
Abuliton: Que saudade da noite em Perequê-Mirim, recostado no colchão, deitado sobre terreno chão, recebendo luz do corredor através da fresta da porta a Iluminar minhas Brumas de Avalon e atender ao meu desejo de paz podre por uma lua e o que sobrou num sol.
Bachir: Muito bom! Agora você, Maranta!
Maranta: Eu também. Sinto falta das noites de Comburiu, sentada à mesa, escrevendo, juntando letrinhas, como dizia Carlos Roberto Zen, que me trouxeram aqui hoje e me deram momentos de prazer, um presente do tempo que preciso devolver aos que amo e aos que sobrevivem.
As meninas da praia.
Phalaenopsis: Gostaria de fazer um aparte. Orlas da terra, em declive suave, ordinariamente cobertas de areia, e que confinam com o mar. Certa vez, um sujeito me disse que viver é tomar um bom vinho e lembrar o passado. Com a invasão carcinógena no meu aparelho digestor, onde minha degustação torna-se diluta, meus vinhos agora são dos mortos, enterrados no céu da boca. Saudoso nem sempre fui, mas das meninas não esqueço. Aqui estou, recostado no sofá, cabeça reclinada para trás, a escutar como quem presta ouvido às vozes que da cozinha me convidam para jantar, vozes longínquas às memórias que meus olhos cerrados estão a imaginar, cercados de um lado pela vastidão do oceano, no chão a maciez da areia para pés descalços, no alto o sol dourado cortado por algumas pipas coloridas que enfeitam o olhar, como os sorrisos de todas as meninas que cirandam sem parar, e riem desde a manhã até o fim do dia que elas nunca veem chegar, felicidade com as companhias que parece se eternizar. Elas não devem ter ouvido meus pensamentos prazenteiros, e não podem me despertar. Para onde foram? O que fizeram de todas aquelas lembranças? Espero que tenham ficado com a maior parte de minha alegria, e a menor de minha solidão. Espreguiço meu corpo dorido na poltrona surrada, olhos abertos ao infinito, a se perder como quem os fecha às ausências que querem se acercar, ausências desatinadas com os sentimentos que minha alma anestesiada está a preencher, cercada de um lado por lágrimas de sangue, no chão a terra dura para as mãos calejarem, no alto o sol a pino rabiscado por alguns pingos de chuva que refrescam o suor, como as obstinações das meninas, agora mulheres feitas, que trabalham sem parar, e perduram antes de o dia começar até o fim da noite que nunca as veem descansar. Uma missão com os deveres que parece predestinar. Não podem mais ficar, não podem mais ajudar, e quem tomará conta de todas aquelas crianças? Quem nos trará
mais bem-aventuranças? Quem herdará a maior parte de suas devoções? E nada do que
sobrou de suas desambições? Estes são pedaços da vida. Instantes momentos.
Zamioculcas: Os momentos não têm rosto. Só movimentos. Vejam a Poliça mergulhando os braços no vazio como a remar e a Pocahonta trazendo-os à tona a simular a ondulação das águas.
Beaucarnea: Momentos de entoação de quase plangentes leituras e escritas embalam o tardio despertar de uma verve literária que ainda pode vos seguir pelo pouco de vida que lhes restam. Tirem suas cartas e apostem em tudo que a saudade vos deixa no passado e invoca no presente. Escolham: arriscar e vadiar caindo aos pedaços à beira-mar de verão ou arrumar um emprego como vestidores de defuntos.
Momento
Dieffenbachia: Preciso de você um momento, Um momento de solidariedade, Para recostar-me sob as sombras das árvores que falam, gemem, farfalham e abrigam espíritos benevolentes, Preciso de você um momento, Um momento de amizade, Para soprar mais forte dentro de mim o vento pleno de palavras, visões, avisos, ruídos de forças que vagam, que atraem amigos e afastam os males, Preciso de você um momento, Um momento de fraternidade, Para me ungir com a água que se move, articula, profetiza e santifica, Preciso de você um momento, Um momento de adversidade, Para sentir frio, calor, estar na escuridão, encontrar luz e olhar para o céu todo pai que obra com a mãe terra no milagre da vida, Preciso de você um momento, Um momento de superioridade, Para comungar com o universo, sentir-me parte do todo, sentir-me deus, filho da reverência e da necessidade.
Bachir:Rudbechia,parece que você esbouçou levantar a mão. Quer dizer alguma coisa?
Rudbechia: É sobre mim, mas deixa pra lá, não é nada importante.
Bachir:Rudbechia, aqui tudo é importante. Conte sua história!