sexta-feira, 23 de agosto de 2024

EX UMBRIS AD LUCEM

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


Aurora da humanidade, Céu chamuscado de rosa migra para o azul, Destino incerto, Mas inadiável, Seus caminhos desconhecidos e amedrontados, Porém a serem trilhados, Sem poderem ser detidos, E sob o peso de um cobalto assustado e anuviado, Transtornado num brasido coberto de cinzas, A voz humanada soa pela primeira vez, Entoando cânticos clementes, Esperançosos e lastimosos, Uma núncia do porvir, Cercada de sinistras retumbâncias de contratempo, Despertando todos arcanjos, Preparando-se para um inevitável embate entre o bem e o mal, O mal como a ausência do bem, O bem como filho do mal, E este se faz acompanhar pelas trevas, Estas em maior número que a luz, E sempre serão, Arrastando tudo que brilha para o abismo do infinito incógnito, E a luz atraída para longe de sua fonte primordial, Brilha solitária entre lusco e fusco e você caminhará pela escuridão, Acompanhada de invisíveis anjos combalidos em batalha, Sem medo porque ela te conduzirá à luz perpétua. 

Te decet hymnus Deus, in terra, et tibi reddetur votum in paradisum. Exaudi orationem meam, ad te omnis caro veniet. Requiem æternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis. Requiem æternam dona eis, Domine et lux perpetua luceat eis. In memoria æterna erit iustus, ab auditione mala non timebi, Absolve, Domine, animas omnium fidelium defunctorum ab omni vinculo delictorum et gratia tua illis succurente mereantur evadere iudicium ultionis, et lucis æternae beatitudine perfrui. Lux aeterna luceat eis, Domine. Cum Sanctis tuis in aeternum: quia pius es. Requiem æternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis. Libera me, Domine, de morte æterna, in die illa tremenda: Quando cœli movendi sunt et terra. Dum veneris iudicare sæculum per ignem. Tremens factus sum ego, et timeo, dum discussio venerit, atque ventura ira. Quando cœli movendi sunt et terra. Dies illa, dies iræ, calamitatis et miseriæ, dies magna et amara valde. Dum veneris iudicare sæculum per ignem. Requiem æternam dona eis, Domine: et lux perpetua luceat eis. Ex umbris ad lucem.

APENAS LIXO


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98Se desejar, clique no link abaixo e leia o texto ao som de uma música apropriada para o mesmo
Deve ser porque escrevi um livro premiado, Porque tenho uma coluna num jornal de alta circulação, E porque tenho um blogue numa editora, Reservo-me a imbecilidade de me antipatizar com os textos dos outros sem nunca tê-los lido, Como se minha ridícula presunção jamais tenha sido tomada a contento, Tal como água benta, Não tem aí um sino que toque somente à minha alma? Um almocreve que possa chicotear minha bestialidade e apressar meu trote? Alguém que possa beijar as costas de minhas mãos? Alguém que possa engolir comigo o ranho que escorre de meu nariz e a pseudo intelectualidade que vaza de meu ânus? 

Talvez sejam as roupas extravagantes que você não usa, As cores do arco-íris que não enfeitam seus cabelos, As drogas inócuas que lhe causam efeito nocebo.
Deve ser porque sou menina nascida em berço esplêndido, E porque ganhei um emprego público de alta remuneração, E porque com dinheiro fácil enriqueci e montei meu próprio negócio, Reservo-me a fria indiferença de não lhe fazer uma única pergunta e nunca olhar em seus olhos quando você conversa comigo, Como se minha falsa amizade não lhe tocasse a alma, Tal como seu sarcasmo fere a minha, Você não trabalha desde a aurora até a primeira hora de um novo dia? Não esconde sua história e seu mundo numa estrela disfarçada nos céus? Não tem aversão à ilegalidade e a ela inteira se embuça em seus andrajos? Não arranca os dentes de seu filho com um soco quando ele lhe levanta a voz? 

Talvez sejam as músicas que você não ouve, Os filmes aos quais você não assiste, E os livros que você não lê.
Deve ser minha grande lista de desafetos, Meu desprezo por todos os meus contemporâneos, Minha desobrigação de expressar minha opinião sobre as unanimidades, Como se alguém se importasse com o que falo, Como se eu soubesse escrever tão bem como eles, Como se eles soubessem que eu existo, Não tem aí uma sirene que alardeia minha entoação espiritual, Meu etéreo valor? Não tem aí um suinocultor que me passe de porca a porqueira? Alguém que possa lamber as solas de meus pés? Alguém que possa curtir comigo a catinga que exala do meu sovaco e o auto endeusamento vomitado de minha boca? 

Deve ser porque as fábricas pararam de produzir desconfiômetros, As farmácias pararam de vender semancóis, As drogas nocivas que lhe causam efeito paulo coelho.
Mas quem você pensa que sou? Do tipo que se casa apenas por interesse? Que cobra dízimos de gratidão pelos amigos que te dou? Que exibe ao mundo todo a celebridade que me tornei? Reservo-me o sorriso artificial ao seu chato senso de humor e de nunca admitir em você qualquer valor cultural que sobrepuje minha riqueza material, Como se minha forçada hospitalidade não ferisse seu orgulho, Tal como sua autenticidade fere o meu, Você não gosta de aparecer com seu ridículo e pretenso conhecimento sobre tudo que se passa no mundo? Não se rebaixa uma única vez para que os outros se sobressaiam? Não enaltece meus predicados e nunca me liga para saber como estou? Não se toca com meu menosprezo à sua pobre existência? 

Deve ser os adornos de mau gosto que você não usa, Os dias preguiçosos nas loucuras e manias que você não viveu, As oportunidades que você nunca desperdiçou.
Deve ser porque não pertenço à turma que pré aprova minhas opiniões, Porque não me esforço para gostar de alguém só por amizade ou interesse, Porque não leio um livro só porque não gostei da cor de sua capa, Como se um mundaréu de gente inteligente espera ávida pela minha próxima resenha, Como se não me pergunto se alguém está lendo o que escrevo, Como se eu fosse um gênio com sua característica excentricidade, Não tem aí mais espaço para minha grandeza excessiva? Não tem aí uma terra fofa para eu miná-la como uma toupeira? Alguém que possa beijar o chão que piso? Alguém que possa coçar comigo a caspa que abunda meus cabelos e a comiserada arrogância enroscada em meus pentelhos? 
Deve ser porque somos todos carentes, Todos dependentes, Lixos levados pelos ventos.