Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.
A menina inocente, Sem nenhum pecado capital, Acordou de repente, No meio da noite numa cidade universal, Plena de felicidade, Mas privada da visão beatífica do grande Criador, Por isso procurou, Mas não achou, O Cristo Redentor, A menina sem maldade, Perambulou, E se surpreendeu, Quando se deparou, Com o Coliseu, Seu espanto, Seu susto, Sua aflição, Se confundiram e se misturaram num sentimento amplo e justo, Com a euforia da multidão, Ovacionando os gladiadores, A menina sem comunhão, Sentiu cheiro de flores, As buscou, Rapidamente caminhou, E pensou, Estar chegando perto da Amazônia, Arregalou os olhos ao se deparar, Com os jardins suspensos da Babilônia, Com perfume âmbar, Seus mármores, Seus terraços, Seus horizontes, Se distinguiam e se harmonizavam com arranjos de árvores e sargaços, Trazidos do alto-mar para enfeitar as fontes, Imprimindo à paisagem uma expressão digna de um poeta, Uma beleza que sai das mãos do rude escultor e seu cinzel, A menina inquieta, Não perdeu os olhos para a majestosa torre de Babel, Ali tão próxima e rica em idiomas, Subiu ao cume, E o que ela viu pareciam dioramas, A quilômetros de distância divisou um lume, Que em todas as direções se movia, Que custou a adivinhar, Até que um anjo perdido no limbo lhe soprou que era o farol de Alexandria, Ela precisava lá chegar, Quem lhe dera houvesse um caminho ligando os dois pontos, Mas não existia uma muralha como a da China, Então teve que se deslocar pelo ar, Como nos livros de contos de fadas, Enquanto voava, Maravilhou-se ao olhar para baixo, E reviver a antiga Hiroshima, A menina ainda não batizada, Bem versada, Seguia costa-abaixo, Arvoava, E ansiava para conhecer a grande biblioteca das conquistas Macedônias, Da plêiade dos primeiros escritos que folheou com mãos emocionadas, Entre eles um principalmente se sobressaía, Os esboços dos inventos de Arquimedes, Que teriam mudado a história da humanidade, Sem cerimônias, Sem hesitação, E pernas apressadas, Mais uma vez a menina partia, Com humildade, Vou para onde me pedes, Sem o reconhecimento de Deus, Para o berço da civilização, Onde contemplo em Olímpia a estátua de Zeus, Em Éfeso o templo de Ártemis, Em Rodes as colossais pernas através das quais passava qualquer embarcação, A menina que nasceu antes do mito de Jesus, Continua sua jornada na caligem de Éris, Chega à terra Santa, Vislumbra o Templo de Salomão, Recebe um pouco de luz, E se acalanta, Ruma para o delta do Nilo, E lá não encontra as pirâmides de Gizé, Quase não se conforma com aquilo, E nas inundações do grande rio, Encontra sapé, E sêmeas, No lugar do vale dos reis, As torres gêmeas, Parecia um desvario, Mas ela percebe tudo, Sabe que está num espaço entre dois mundos que fundem suas propriedades e suas leis, A menina ainda com o pecado original, Sem remissão, Mantinha uma atitude normal, Sem insurreição, Plena de justiça, Ainda que lhe fosse negado o livre arbítrio, Por isso tentou, E encontrou, Um conquistador assírio, A menina sem imagem postiça, Vagou, E não fez estardalhaço, Quando se defrontou, Com o mausoléu de Halicarnasso, Sua curiosidade, Seu desprendimento, Seu destemor, Se confundiram e se misturaram num sentimento de totalidade e agradecimento, Com a possibilidade do amor, Voltando a dormir com o mesmo sonho que a acordou, Com poderes redobrados que não sabe onde pôr, E o que mais ganhou, Foi descobrir que tudo que é destruído, Pode ser visitado, Tudo que ainda existe, Vai ser destruído, Nada é de ninguém, Nada é seu, Nem quase nada, Nem quase tudo, O que morre é preservado num museu, Numa sala de veludo.