O dia começa com o homem
poderoso debochado, Respondendo à carta do amigo preocupado, Ele compara o
inimigo ao homossexual eunuco e amante, O chama de inseguro e vacilante, Pálida
e doentia coalhada de leite de asno de sua dieta, Que tece como o bicho da seda ao estilo do péssimo poeta, E pergunta quem quebra uma borboleta numa roda,
Linda borboleta de maravilhosa fragilidade que não amola, Que o homem
poderoso ridiculariza comparando-a àquele que usa ruge vergonhoso, Que fede,
Ferroa, Zumbe e aporrinha o justo e o espirituoso, E o dia termina com a bonança
perturbada, Desbotadas as cores do arco-íris, Um tudo-nada afoga o sorriso, A
borboleta abre os olhos na manhã seguinte inquietada, Faz esvoaçarem no céu
todos os íbis, Transforma o amanhã num paraíso, A borboleta é aquebrantada sobre
uma roda, A maldade encontra seu bode expiatório, Os tudos-nadas festejam o
precipitado juízo, A borboleta fecha os olhos na noite que se incomoda, Faz suas
orações ultrapassarem o purgatório, Transforma todo escárnio e tortura em
paraíso, A tempestade volta a cair, A carga torna-se mais pesada, E o tudo-nada mais incisivo, A borboleta se desnuda toda para sair, E voltar com a alma
lavada, Transforma as intempéries num paraíso, O mundo está fora de alcance, A
vida mais carregada, E o tudo-nada mais preciso, A borboleta embala o berço para
que o tudo descanse, E o nada tenha sua esperança alimentada, Transforma toda
mazela num paraíso.