terça-feira, 12 de novembro de 2024

ET JEANNE, LA BONNE LORRAINE QU'ANLAIS BRÛLÈRENT Á ROUEN, OÙ SONT-ILS, OÙ, VIERGE SOUVRAINE? MAIS OÙ SONT LES NEIGES D´ANTAN?

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 



Há um enigmático amor, Que vem de Domremy, E que a mim nunca pertenceu, Nem a Neufchâteau, É sentimento incondicional que predispõe uma moça sem rosto a lutar por toda uma nação, Uma jovem que não se abriga em telha-vã, Nem se agacha no seu mantéu ao calor da lareira, Levanta-se, Resoluta, Contra o rechaço de Vancouleurs, Mas, pergunto, há pouco ela não bailava ainda pequena na relva pintada pelo artista?, E qual postulante a rei a enganaria em Chinon mesmo em tenra idade? Tal qual uma filha de Ana Bolena, Medo de atender a um chamamento não tem, Nem de morrer, E, ainda, Tal qual Elizabeth, Virgem será, Com a pátria se casará, Ela tem apenas 16 anos de idade e já é resiliente às armações onde os cerieiros católicos penduravam pavios para fazer velas a Deus e ao Diabo, Invulnerável aos seus desafios e conluios que pensavam que ela não os percebia, E que, Ao contrário, Começava a prever com sua precoce premonição de mulher menina apaixonada pela sua terra, E esta lhe é testemunhada a maior veneração, Desde o olhar inocente e arrebatador sempre a mirar do alto de uma colina, Entregue aos meigos pensamentos que  contrapõem, Por instantes, Os desgastes impostos pela incerteza de Poiteirs e seus mil interrogatórios, Não pelo mero prazer de duvidar por ela ser feminina, Mas por ambicionar convicções políticas, Nem sempre voltadas para o filho de deus menino cujo nome ela jamais pronunciou em oração, Exceto, três vezes nos seus momentos derradeiros coberto de fogo, Jesus! Jesus! Jesus!, Nome este que essa donzela leva consigo em estandarte ao lado de Maria de Tours a Blois, E tão cedo esse nosso mundinho perdido no universo a convocou, Para que os cuidados da ciência dos homens e a premonição de mulher de seus cuidados triunfassem em Orleans, Repartissem sua ternura com sua força, Impassível à seta que lhe atravessa a parte que ergue sua cabeça altiva, Para os sois de verão realizarem as glórias prometidas em seu coração, Num mundo que ainda lhe era de criança que ordenhava ovelhas, Mas agora com as viseiras de elmo feito diamante, Alevantando um pouco, Mais seguro, Para amortecer, Se pôs diante, Da forte e dura pedra de Jargeau lançada à sua face indefesa no chão, Enquanto  seus olhos ainda voltavam-se à contemplação de águas passadas e sossegadas, E admirando seu vulto sagrado, Meung-Sur-Loire e Beaugency compreenderam seu dever, Enquanto aquelas águas davam à paisagem um encanto de conto de fadas, Para que ela cumprisse em Rheims o que as vozes do conhecimento absoluto a inspiravam, Desde os tempos de fazer ciranda em volta das árvores, Sorrir nos folguedos das estações, De amor e destemor, Nos outonos e primaveras de guerra e paz, Na agitação de gente que ainda por aqui passa e deixa sinais, Como os que essa jovem não pintada atrai, E quanta coisa ela tem que deixar para trás? E quanto deste enigmático amor ela guarda para a glória de seus ancestrais? E quanto mais para a indiferença dos que um dia não a desejarão mais? Hoje a menina moça sem rosto traz esse misterioso amor, Que a Paris de futura luz resistiu-lhe com um dilúvio de sóis apagados, Um amor do qual só um é senhor, De espírito e corpo desarmados em Gien, Um senhor de tantas feições, Para as neves de inverno dificultarem sua devoção ignorada pelos seus próprios pares, Feições que resplandecem no breu sem fim, Ainda estremecem St. Pierre de Moustier, Vastidão que amedronta os olhos que aqui embaixo observam, As últimas e árduas batalhas pelas vidas em La Charitê-sur Loire e Lagny, Onde o filho daquele deus menino sempre amou, Foi traído, Como em Compiéngne, Onde a donzela perdeu a liberdade, Com as mesmas moedas que os judeus pagaram aos de sua raça e os franceses aos ingleses, Uma via cruxis que começa em Arras, E tão tarde para essa terra nos prometeram devolver aquele menino, Mas ele a acompanha em Beaulieu e Beaurevoir, Perpetuando nossa esperança de amor, Até seu fim em Roeun, Quando este inexplicável afeto ainda é de gente pequena que pastoreia ovelhas meninas, Que se entregam ao frescor de águas espraiadas, Dão ao vinho um sabor de festa de bodas, Cantam para os homens dançando em quadrilhas, Se embalam à luz do sol e à leveza da neve, Em tempos de amizade sem rancor, De flores no alto e no chão, na trégua e na regeneração, De lembranças de pessoas que por aqui nunca mais passarão, Como esse filho de deus pequenino desfigurado de igual veneração, E que coisas mais ele reserva para o futuro? E quanta dissidência ele evita para a vergonha de seus descendentes? E quantas mais para os que se arrependem tardiamente? Ontem o menino sem face concedeu o perdão, Que a vida mundana lhe negou, A mesma vida que esta menininha sacrificou, Para que eu hoje pudesse falar deste seu misterioso amor, Que a mim jamais pertencerá, Mas que dele hoje falo para nos fazer companhia na solidão, Pois lhes digo, Para conhecer La Pucelle de Lorena, Seus contemporâneos e pósteros teriam dado Versalhes, Paris,  São Denis, As torres de Notre Dome, E o campanário de sua sua Gália, E os estrangeiros dariam Taj Mahal, Roma, Santiago de Compostela e a Basílica de São Pedro, Os santuários de todo o mundo.


INGLESA TRYING ON CLOTHES FOR THE SERIES 'ORIONIS SPUR'

 


Loooooooooooooooooooooooooooooove!

[Verse 1]

"Show me, show me, show me how you do that trick

The one that makes me scream," she said

"The one that makes me laugh," she said

Threw her arms around my neck

"Show me how you do it, and I promise you

I promise that I'll run away with you

I'll run away with you"

 

[Verse 2]

Spinning on that dizzy edge

Kissed her face and kissed her head

Dreamed of all the different ways I had to make her glow

"Why are you so far away?" she said

"Why won't you ever know that I'm in love with you?

That I'm in love with you?"

 

[Pre-Chorus]

You, soft and only

You, lost and lonely

You, strange as angels

Dancing in the deepest oceans

Twisting in the water


[Chorus]

You're just like a dream

You're just like a dream


[Verse 3]
Daylight licked me into shape
I must have been asleep for days
And moving lips to breathe her name
I opened up my eyes
And found myself alone, alone
Alone above a raging sea
That stole the only girl I loved
And drowned her deep inside of me

[Outro]
You, soft and only
You, lost and lonely
You, just like heaven

QUANDO A SITUAÇÃO ESTÁ PERICLITANTE O VALENTE SEGUE ADIANTE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Às vezes a morte é muito precipitada com os valentões e preguiçosa com os cagões, mas nem sempre ela é assim. Nem sempre ela vem para ceifar vidas. Muitas vezes ela aparece apenas para fazer uma visita, tomar um café, bater um papo, agradecer a hospitalidade, esperar pelo irritante volte sempre e se despedir com o patético qualquer coisa, é só avisar. Às vezes o cagaço do bunda-mole lhe impõe uma humilhação que lhe renderia a alcunha de cabra frouxo se ele vivesse na terra do cangaço. Se o borrado soubesse dessas idiossincrasias da morte ele não sairia correndo em dias fatídicos e permaneceria calmo e parado como um cagarola fez na primeira hora de uma noite quando ele se encontrava abraçado com a namorada no ponto de ônibus e viu, à distância, se aproximando pela calçada, uma horda de desordeiros, chutando latas de lixos, escarrando, urinando nos postes, uivando como coiotes de porre e vomitando toda sorte de palavrões para os que iam e vinham a pé ou motorizados. Não demorou muito para aqueles vândalos do ânus da periferia chegar até ele e sua namorada e prensá-los contra a parede prenunciando um duplo estupro, mas com preliminares com requintes cáusticos:

E aí, meu, não vai apresentar a noivinha pra gente?

Solenemente, o cagão apresentou sua namorada ao chefe daqueles fariseus que, jocosamente, se inclinou, beijou a mão da moça, voltou-se para o cagão e lhe disse:

Mina joia, meu.

O metorusus agradeceu e apressou-se em apresentar a si mesmo e acrescentou que estudava no Ginásio do Prolongo e de lá viera a pé até a avenida para pegar o ônibus de volta para casa.

Espera aí! Conheço-te! Você é amigo da turma do sei lá de quem do Prolongo! Ei, patota, esse cara é dos nossos! Cacete, cadê a educação? Cumprimentem a noiva dele!

Aqueles fuleiros limparam o ranho e a baba com o dorso das mãos ensebadas, e um a um contaminou a delicada e suave pele da eleita do cagão, meneando as cabeças para frente, leve e seguidamente enquanto andavam de fasto, como se fossem súditos sem permissão para dar as costas a uma princesa antes de deixar o palácio.

Valeu, meu! Joia te encontrar e conhecer sua noivinha! Fica frio. Aqui, lá no Prolongo e nesse pedaço todo você está em casa! É só dar um toque. E não se esqueça da gente quando sair o casório!, despediu-se o Átila do bairro.

Quando a morte se depara com a pessoa errada, ela se toca, por assim dizer, se constrange com a mancada que deu e, ao querer se desculpar com agrados, acaba se complicando mais ainda e comete gafes como prometer que lhe avisará com antecedência quando sua hora estiver chegando. A pessoa errada neste caso pode ter sido a namorada do poltrão protegida pelo seu daimon. Só isso poderia explicar o engano esdrúxulo de ser reconhecido por alguém que o cagão nunca viu mais gordo e ainda ser associado à turma de um sujeito cujo apelido era tão difícil de entender e de guardar quanto o de um colega seu do mesmo Ginásio do Prolongo que disse ter sido transferido de uma escola com um nome tão cumprido e complicado cuja única parte inteligível era ligabuia.

Volta e meia a morte é confundida com uma pessoa que na verdade a odeia e se o covarde soubesse desses odds and sods, esses baratos afins da morte, naquele dia lúgubre ele permaneceria parado e calmo e depois prosseguiria tranquilamente, como fez aquele franzino cabra bom, cabras às direitas, e que, ao atravessar a caatinga, inadvertidamente cruzou o caminho de Lampião e foi tomado por um jagunço, um cangaceiro manso, e se viu cercado pelo bando maldito. Mas o sujeito era mesmo cabra do colhão roxo e não se intimidou com as ameaças de Virgulino. Não o desafiou e nem o desrespeitou, mas também não fez concessões à sua neutralidade e desengajamento por isso foi logo condenado a morrer antes da hora.

Sai correndo, seu cabra da peste, e não olha pra trás. Vamos ver até onde você consegue chegar, exclamou Lampião.

Os cangaceiros começaram a armar os gatilhos e o sujeito miúdo se pôs a caminhar lentamente, a passos curtos e pernas atracadas, sem hesitar e sem esboçar qualquer gesto com a cabeça ou com os braços. Andava como se já estivesse morto apreciando a paisagem desolada do jardim do éden do sertão nordestino e como se algumas balas varando seu corpo não fizessem qualquer diferença. Ainda com o condenado bem ao alcance das espingardas, Lampião, meio escabreado, levantou a mão e gritou para todos:

Deixa-o ir embora! Este é cabra-macho e vai ser cria nossa!

É difícil precisar se um cagão é cria ou refém do medo. Um dia o arregão saiu mais cedo do trabalho para sacar um benefício em dinheiro. Deu partida no carro, subiu a rampa da garagem, alcançou a rua, virou à direita e logo chegou na avenida principal que se encontrava com o trânsito completamente parado devido à enorme quantidade de veículos. O caguincha foi se espremendo e se enfiando até entrar pela faixa reservada para ônibus e logo deu o sinal de seta para a esquerda esperando que alguém lhe dessa passagem para a pista do meio. O cagolara estava comprimido entre ônibus e o de trás começou a buzinar incessantemente.

Esse trânsito maluco deixa todo mundo cada vez mais nervoso. Esse cara pensa que buzinando vai fazer os carros andarem, resmungou o caguinha.

O tráfego permanecia preguiçosamente estático como a vegetação arbustiva do semiárido, mas barulhento como maritacas fazendo coro, e quando andava era insuficiente para abrir uma brecha por onde o cagão pudesse deixar o território dos coletivos, brutamontes impacientes. E para piorar, aquele que fungava no seu cangote resolveu cravar o dedo na buzina e espalhar por toda redondeza a  presença insignificante do bundão com um ruído espalhafatoso, feito um cancão do asfalto, a voz da mata sem cor. O cagão olhou no espelho retrovisor e percebeu que não só o motorista, mas várias pessoas com as cabeças para fora das janelas esbravejavam alucinadamente contra ele.

Esses caras são gozados. Acham que tudo está parado por minha causa e que eu tenho que sair da frente deles decolando como um helicóptero, desdenhou o chorão.

De repente, várias pessoas desceram do ônibus ao mesmo tempo, lançaram-se em direção do fraote, envolveram seu carro, arrancaram-no para fora, vociferaram contra ele e o ameaçaram em uníssono. O cagão borrou as calças, não entendeu bulhufas e tratou de se desvencilhar dos agarrões, cutucões e empurrões e saiu numa desabalada carreira avenida abaixo, largando tudo para trás, como um doido varrido agonizando em meio a um ataque de pânico, exigindo o máximo de suas pernas ligeiras e mantendo os braços ocupados como duas asas recolhidas e alternando cotoveladas e socos no ar para manter o corpo em equilíbrio, o que não lhe permitia tapar os ouvidos para silenciar os disparos ardidos que esperava queimar seu corpo e para emudecer o angustiante barulho tal qual o  grito infinito da natureza de Munch e que ainda estremecia a atmosfera desde o buzinaço ensurdecedor daquele condutor apressado. E não podia também tapar os olhos para esconder o vexame, mas tampouco necessitava fazê-lo para ganhar o dom de mântis de Tirésias, pois, embora não pudesse prever se sairia desta vivo, sabia onde queria chegar e como. Ele não corria numa mata branca onde um projétil espoletado viaja livre e impune nas extensas planícies interplanálticas e trespassa com facilidade as cadavéricas e deprimentes árvores de troncos tortuosos e folhas perdidas. O cagão corria pela mata descorada feita de altos maciços de pedra e dispostos na forma de intrincados labirintos saturados de transeuntes em constante movimento de vaivém o que dificultava uma perseguição corpo a corpo e um tiro a queima-roupa. Bastava o medroso fazer o quadrilátero perfeito para voltar ao seu local de trabalho e lá chegar quase desfalecido, desabar num sofá e ser logo acudido pelos seus companheiros preocupados e ansiosos para saber o que aconteceu.

Um bando de assassinos levou meu carro lá na avenida e tentou me linchar, balbuciou o borrado antes de desmaiar.

Ele foi levado a um hospital onde foi apenas sedado e, no mesmo dia, recebeu alta. Seus colegas foram até o local do incidente e para surpresa deles, o carro do frouxo continuava no meio da via pública, com o motor ligado e portas abertas, sem estorvar ninguém, pois naquela hora o engarrafamento encontrara vazão e o trânsito fluía normalmente. Um comerciante local ainda permanecia na calçada observando o veículo desde a hora do incidente e foi ele quem explicou para os companheiros do cagão o que se passara.

Não foi nada não. Foi um pessoal que fretou alguns ônibus para ir ao enterro de um amigo que foi assassinado e eles estavam meio de cabeça quente e descontaram no rapaz só porque ele entrou com seu carro no meio do cortejo fúnebre.

 

When the going gets tough, the tough gets going, when the going gets rough, the tough gets rough

SUBLIME

Texto  de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

A beleza está sempre à mostra, Neste mundo de coração insensível, Nos olhos de quem a vê, De quem quer se comover, Nos olhos negros que brilham na noite cerrada, Que ofuscam o brilho das estrelas e fazem-nas recolherem-se mais cedo, Dividem com o sol o céu lápis-lazúli escondendo os corpos celestes que não pregam os olhos para espreitar os contornos graciosos esculpidos pela natureza, Dessa criatura de olhar sincero, Que não se incomoda do glamour esmeralda querer fazer-lhe companhia, De seus cabelos lisos serem encaracolados e receberem reflexos de cobre para agradar o astro rei, Não se incomoda destas palavras terem sido escritas para alguém que ainda estava por vir, E que me foi negada na vida apenas para me entristecer, E que agora são para você, Para quando você chegar, Toda minha rua te pressentir, Te cheirar no ar, Ouvir os ventos assobiarem em tom diferente para todos alertar, Ver as saias e os chapéus elegantes das senhoritas tremularem com a brisa que está a anunciar, As floreiras nas janelas exalarem perfume para exaltar nosso esprit de corps, Os toldos coloridos dos edifícios descerem e amalgamarem-se com os guarda-sois sobre as mesas nos calçadões, E lá estarei sentado junto a uma delas, Esperando você me convidar para namorar, Moça de pele de porcelana, De lábios moderados e amparados por mão delicada a expressar menos sensualidade do que ingenuidade.