quarta-feira, 7 de agosto de 2024

DIVISOR DE ÁGUAS


Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


Nossas vidas já fizeram parte da mesma natureza, Como as águas dos rios que correm juntas e não se distinguem, E seguem seus cursos, Intrépidas, Até desembocarem no oceano, Cada uma a seu tempo, Desde o tempo de nascer da mesma fonte no alto das montanhas, Descer ao campo, Ouvir seus rumores, O fresco ramalhar das árvores, o rouco perene das corredeiras que nos rolam pesadamente por entre os penhascos escuros, Até nos despejarmos em queda livre, Como num salto para a morte, E lá embaixo nos reencontramos espalhados, Acalmamos a correnteza, Ganhamos longos atalhos, De lances de beleza, Adentramos outro prado florido, E, Distraídos, Nos desviamos por afluentes que vieram ao nosso encontro, Nos devolvem aos nossos leitos, E de longe ouvimos praias de tempestades que nos fecharão, Ouvimos a maré alta invadir nosso estuário, Salgando nossa doçura e nossa paixão, E no refluxo, Nos dividindo, Levando-nos a chegar separados no mar, E no encontro com esta imensidão, Sem dizer águas vão, Enterramos uma afiada faca de indiferença em todas as lembranças do que fomos e ainda somos, Nos fazemos de vela para o esquecimento, Acreditando que um milagre será como nossas águas num balaio.