terça-feira, 7 de maio de 2024

ESSAS COISAS ACONTECEM



Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


Eu sou apátrida. Nasci na Faixa de Gaza depois que ela foi tomada dos palestinos pelos israelenses em 1967. Minha mãe é judia, da família Ben Stein, e era uma agiota nas ruas de Tel Aviv. Meu pai é palestino, da família Bin Salim, e ganhava a vida fabricando bombas caseiras. Quando eu era adolescente, imigramos para o Brasil e fixamos residência no bairro do Bom Retiro em São Paulo. Lá minha mãe montou uma agência de viagem e prosperou como doleira. Meu pai montou um esquema de contrabando com fiscais e também enriqueceu. Meus pais sempre tiveram muitas divergências religiosas, por isso não entendo por que eles se casaram. A opulência fácil neste paraíso de ladrões subiu-lhes à cabeça, e eles acabaram se separando, de seus acordos conjugais e de suas tradições seculares. Minha mãe abandonou o judaísmo e entrou para a igreja universal do reino de deus. Ela se tornou a tesoureira do bispo, conhecido pelo jargão 'ou dá ou desce', e hoje ela tem casas em Miami, Paris e Roma, mas continua morando em São Paulo, no bairro do Morumbi. Meu pai, muito machista, descontrolou-se um pouco com o divórcio pedido pela minha mãe. Entregou-se à bebida, perdeu tudo o que tinha, abandonou o islamismo e se tornou pai de santo. Mas ele teve muita sorte. Fez um trabalho milagroso para um cliente endinheirado no terreiro de umbanda onde trabalhava e, por gratidão, este cliente o apresentou ao autor da icônica frase ‘se o estrupo é inevitável, relaxe e goze’, de quem era amigo. Meu pai ganhou a confiança do ‘rouba, mas faz’, e tornou-se o administrador de suas contas bancárias internacionais. Hoje meu pai vive tão bem quanto minha mãe. Tem casas nas Ilhas Jersey, Genebra e Ilhas Cayman. Desde que os meus pais se separaram eu sempre morei com minha mãe. Eu puxei mais o lado judeu do que o muçulmano. Como eu entendo as línguas e as culturas destas duas raças semitas fui escolhida e treinada para ser espiã no Oriente Médio, mas minha escolha se deveu mais à minha mediunidade, minha capacidade de fazer projeções astrais. Desde então sou obrigada a sair do meu corpo quase todas as noites em missões pelo mundo afora. Ainda sou uma jovem mulher, mas pareço ter mais de 50. Estou envelhecida e traumatizada. Minha dor física e moral começou no dia em que eu descobri que era paranormal quando era apenas uma adolescente e ainda morava na Faixa de Gaza. Meu pai trabalhava até de madrugada fazendo bombas caseiras para os suicidas do Hamas, e uma noite houve um acidente em casa:  uma bomba explodiu num dos cômodos e tudo foi para os ares. Eu fui arremessada às nuvens, mas daí comecei a perceber que eu não caía, mas flutuava e voava. Pensei que eu estivesse sonhando. Lá de cima vi minha casa no chão, uma enorme fogueira, entulho sobre entulho. Comecei a planar e a descer como um aeromodelo e quando aterrissei na minha casa ainda em chamas fiquei apavorada ao ver meus pais estropiados e quase sem vida. O pior ainda estava por vir. Num canto em meio aos escombros, onde fora meu quarto, vi meu próprio corpo todo ensanguentado. Surtei. Estava chocada, mas não sentia nenhuma dor. Vi os carros de resgates levarem meus pais e meu corpo para o hospital. Enquanto estávamos os três numa UTI em estado grave, fiquei quase dois meses voando high and low, dia e noite. Quando todos nós melhoramos e saímos da UTI para quartos normais, sem saber como, consegui entrar no corpo e aí, sim, senti as dores e as sequelas daquela grande explosão. Quando todos nós recebemos alta, meu pai abandonou seu trabalho de revolucionário e resolveu trazer minha família para o Brasil. Eu contei esta história de sair do corpo somente para minha mãe e ela, como toda boa judia oportunista, teve uma ideia. Foi a Jerusalém e lá falou com um rabino de uma sinagoga poderosa ligada à polícia secreta israelense e lhe explicou tudo a meu respeito. Foi esse rabino que anos mais tarde me apresentou ao Mossad. O resto é uma longa história. Lembro-me do meu primeiro ano aqui no Brasil, em 1994, quando o Brasil foi campeão mundial de futebol. Os foguetórios nas ruas à noite arrancavam-me do sono profundo e me projetavam para fora de meu corpo. Era meu trauma da adolescência que curei com muita terapia e, finalmente, durante os treinamentos militares em Israel. Foi lá que dominei a técnica de sair e voltar para o corpo com disciplina. Raramente as polícias secretas, e muito menos a israelense, aceitam mulheres para espionagem astral. Eu só fui contratada porque além da minha astralidade tenho um dom raro que se assemelha com algo que apenas os alienígenas parecem ter chamado TRANSEUNCIA, algo parecido com o que nós chamamos de ubiquidade. Mas trauseuncia é um termo muito limitado para definir as muitas habilidades de quem a tem, como, por exemplo, fazer o tempo parar. Certamente, vocês devem estar se perguntando por que minha mãe me alistou num serviço militar tão perigoso como esse, ao invés de manter-me trabalhando com ela uma vez que ela já era milionária. Mas os judeus sempre ambicionam mais e minha mãe sabia que a espionagem astral paga uma grana preta, especialmente para alguém como eu, com um grau significativo de transeuncia. Minha mãe tinha em mente até mesmo criar uma agência de espionagem entre Brasil, Israel e EUA e duplicar sua riqueza. Minhas amigas me perguntam até hoje por que eu não apenas participei de algumas missões até juntar um bom dinheiro, cair fora e montar meu próprio negócio. Até uma judia espertalhona como minha mãe enganou-se. Espionagem astral é pior que a máfia. Quando você entra você nunca mais sai e se sair morre. Além disso, torna-se um vício. É como entrar para a política tupiniquim: você nunca mais consegue parar de roubar. O espaço astral é muito mais populoso que o mundo físico. Muito mais arriscado e ardiloso. Ao contrário do mundo físico onde há leis criadas por uma minoria de corruptos para enganar a maioria dos otários, no mundo astral não há ingênuos, exceção feita aos mortos,  e nem leis. É um lugar onde vale tudo. Um lugar de todos e, ao mesmo tempo, de ninguém. No espaço astral encontra-se com todo tipo de pessoas: espiãs como eu, gente comum que sai do corpo só para passear e até gente morta que não sabe que morreu. No começo de minha carreira de espiã astral, ainda com pouca experiência, cruzei com um sujeito aqui mesmo em São Paulo que queria saber onde ficava o Rio Anhangabaú. Expliquei a ele que o rio já havia sido soterrado e sobre ele passava uma avenida, mas ele achou que eu estava sacaneando. O sujeito parecia ter morrido havia mais de 150 anos e estava procurando o rio para tomar banho. Para me livrar dele tive que levá-lo até o rio Tietê e dizer a ele que era o rio Anhangabaú que havia sido alargado para permitir navegação fluvial. Por sorte, o espírito acreditou em mim e largou do meu pé. Saiu voando rápido em direção à marginal e de longe eu o vi saltando de cabeça lá de cima da ponte das bandeiras naquele esgoto a céu aberto. Alguns destes mortos estão realmente perdidinhos da silva e quando encontram alguém como eu que lhes dá atenção eles grudam e não largam. Certa vez parei em pleno voo para dar uma informação a um morto, mas ele não se deu por satisfeito, me seguiu até em casa e ficou zoando lá quase uma semana. Ainda bem que minha mãe conhece uns rabinos da cabala judaica que preparam um incenso que tem um fedor tão forte que espanta até espírito de barata da casa por mais de um ano. Quando comecei a trabalhar para o Mossad israelense automaticamente comecei a  prestar serviços para a CIA americana, porque este país, os EUA, trabalha arduamente para dominar o resto do mundo. O problema no espaço astral é que todo mundo acaba se conhecendo. Não demorou muito para minha fama como espiã astral se espalhar e logo fui procurada pelo Hezbollah libanês para fazer um trabalho contra Israel. Aceitei porque todo mundo é hipócrita, sem ideologia, e só age por interesse, dinheiro e poder. Afinal, tenho também meu lado paterno muçulmano e aprendi muito com a malandragem brasileira.  Não há nada de imoral em ser um agente duplo. Hoje sou muito mais que isso. De agente duplo passei a agente triplo, quádruplo, quíntuplo, sêxtuplo, sétuplo, óctuplo, nônuplo, décuplo e, para encurtar a história, já trabalhei para tantas polícias secretas e grupos terroristas que posso dizer que hoje sou uma agente cêntupla. Podem me chamar de mercenária. Dou preferência a quem paga mais. Não vejo nenhuma desonra nisso, porque o mundo é mercenário. No mundo físico, os cinco países que formam o conselho de segurança da ONU, EUA, Rússia, China, França e Inglaterra, são os campeões de vendas de armas por baixo do pano para fomentar guerras em países paupérrimos e que morrem de fome, como os africanos. Estes cinco países usam agentes autônomos para levarem suas armas aos países em guerra. Seus presidentes não querem sujar suas mãos em público e precisam de agentes secretos para fazer a sujeira. Se não há guerras, eles criam-nas porque suas indústrias bélicas não podem ficar ociosas e precisam manter os empregos de seus funcionários e o bem-estar de seu povo. Todos são matadores de aluguel. Quando o Aiatolá Khomeini do Irã expulsou os americanos, inventou-se uma guerra de fronteiras entre Irã e Iraque. Os Americanos colocaram Saddam no poder e lhe deram armas e poder para lutar contra os iranianos. Todos vendiam armas para Saddam: França, Inglaterra, Rússia e China. O Brasil vendeu armas (tanques e metralhadoras) para os dois lados, Irã e Iraque. Quando a ex União Soviética invadiu o Afeganistão, os americanos deram armas e apoio logístico a Al-Qaeda e ao Talibã para estes rebeldes lutarem contra os Russos. Os americanos já venderam armas para a Coréia do Norte e vários outros países que hoje são considerados seus inimigos. Tudo é uma questão de interesse momentâneo. Um amigo hoje pode tornar-se um inimigo amanhã. Tudo é uma questão de conveniência a serviço do poder. A China, por exemplo, se diz comunista, mas ela não tem ideologia nenhuma. Na Palestina, ela vende armas para os dois lados, israelenses e palestinos. A China pretende e vai dominar o mundo no futuro. No mundo astral não existe conselho de segurança. Lá tudo funciona na base do CADA UM PARA SI E DEUS PARA TODOS. Por falar em deus, agora vocês devem entender por que os alienígenas estão por aqui assistindo a toda esta balbúrdia no planeta terra. Por enquanto eles parecem estar neutros e se limitam a nos observar apenas a partir do plano astral. Quando eles entram no plano físico é somente para cruzar com humanos. Mas isso é história para outro dia. No plano astral trava-se uma guerra mais sangrenta que no plano físico. A maior parte da população astral é composta de espiões. Eu sofro demais com as contraespionagens. No plano astral a gente não morre. Para se manter vivo é preciso esconder o corpo no plano físico a sete chaves. Todos os países do mundo inteiro usam médiuns para descobrir onde se encontram escondidos os corpos físicos de pessoas em missão de espionagem com seus corpos astrais. Eles descobrem e matam estes espiões. Eu tenho um escudo contra estes médiuns que é a minha transeuncia. Mas se eles não conseguem te encontrar no plano físico, a contraespionagem te encontra no astral e se você é capturado o sofrimento pelo qual você passa é muito pior que a morte. É preferível morrer fisicamente do que ser detido durante uma missão no astral. A tortura é simplesmente indescritível. É muito parecida como, por exemplo, ser enterrada viva e permanecer dentro de um caixão debaixo da terra por décadas, viva, até seu corpo físico parar de funcionar. O que se pode fazer de ruim com o corpo astral é muito pior do que qualquer tipo de tortura imposta ao corpo físico. Os alienígenas sabem muito sobre isso. Numa ocasião, eu estava numa missão para a CIA americana e fui surpreendida e presa por um grupo da FLP (Frente de Libertação da Palestina). Eles iriam me torturar até eu revelar o segredo de minha missão. O que me salvou foi o fato de eu falar árabe e contar a eles o passado de meu pai como colaborador do Hamas. Às vezes nem mesmo a raça ou até a mesma a nacionalidade ajuda um espião astral a se livrar de uma tortura das bravas. Soube de um caso do grupo terrorista israelense Kahne Chai, também conhecido como Kachi, que sequestrou espiões judeus ortodoxos e não livrou a deles só por serem compatriotas. Ocorreu também um caso do grupo inglês MI5 interferir na espionagem da Scotland Yard. Há também cooperação entre grupos de espionagem de países diferentes por mera empatia, como o ETA espanhol e o IRA irlandês. E há também batalhas homéricas entre grupos de países que são inimigos mortais, como o Mujahideen indiano e o Jaish-e-Mohammed paquistanês. No plano astral estão acontecendo coisas que ninguém no mundo físico imagina. Há pessoas conspirando para reativar antigos grupos. A Gestapo da Alemanha Nazista, a KGB da União Soviética, o DOI-CODI da ditadura militar brasileira, o OVRA da Itália fascista, e até mesmo o Oprichniks do tempo do Ivan, o Terrível, da Rússia. Para encerrar, vou lhes contar o que de mais estarrecedor já me aconteceu durante uma  missão. Fui capturada por um disco voador. Não me perguntem como é um disco voador por dentro e nem como são os alienígenas. Se eu lhes contar, vocês irão achar que sou muito mais doida do que já estou. Muito bem, para satisfazer a curiosidade de vocês vou contar apenas uma coisinha simples, mas aterradora. Os alienígenas e suas naves que chamamos de disco voador são uma coisa só, mas não concreta. Parece-se mais com uma projeção, como o corpo astral do ser humano. Um amigo meu que foi capturado por eles lhes perguntou de onde eles são e, e eles responderam que não sabem. por isso, há quem diga que eles estão presos na dimensão astral da terra, e não sabem como sair.  Eles abduzem humanos no plano astral somente para descobrir uma maneira de sair de nossa gravidade e recuperar a noção de onde eles vieram. Eu não acredito nesta tese. Creio que eles me apanharam para investigar minha transeuncia. O problema é que eu sentia uma dor enorme enquanto eles me ezaminavam. Os filhos das mães simplesmente dividiram meu corpo astral em várias partes. Eu gritei de dor. Um deles olhou para mim e falou comigo só com o pensamento, daquela forma que conhecemos como telepatia: ‘Calma seu corpo físico permanece intacto’. E eu respondi: ‘Pode estar intacto, mas o que vocês estão fazendo com meu corpo astral dói pra cacete.’ Finalmente, o alienígena me tranquilizou: ‘A dor está está só na sua mente, mas agora acabou, e se você achar que seu corpo astral foi prejudicado nós lhe daremos um novo’. Isso é de dar um nó na cabeça, mas me deu também uma ideia e perguntei a ele: ‘Vocês não podem me transformar numa trauseunte em definitivo?’ O alienígena me olhou detidamente e disse: 'Isso já é possível em sua mente’. Para mim, a resposta foi um SIM. O alienígena me libertou e emendou: 'Neste universo onde vivemos há escolhas e possibilidades para todos os gostos. Noutros nem tanto'. Ninguém vai acreditar em mim, mas lhes digo que essas coisas realmente acontecendo o tempo todo. Talvez você acredite quando morrer e ficar perdido, vagando no espaço, pensando que está vivo. Os espiões astrais não mexem com os mortos porque, é óbvio, eles não têm mais o corpo físico e não servem para nada.