domingo, 24 de dezembro de 2023

ESTADOS DE NECESSIDADE


Texto de autoria de AUSTMATHR VIKING DUBLINENSE com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Magnífico texto metafórico de AustMathr, explorando os diferentes estados de necessidade previstos na jurisprudência. 
Gwendolyn Marie-Baxtor (vulga inglesa luso chinesa)
Londres, 24 de Dezembro de 2023

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As cordas se soltam, As bordas se desgarram, O vento sibilante atravessa frestas, Por entre ramas de mastros e velas, As águas salgadas são temperadas com soçobras e carnes cálidas, Um destroço flutua sob um corpo extenuado até a alma, Um desesperado manda-o para as profundas do inferno e retira-o do mundo, Deus tem braços longos o bastante para cingir permutas.


O aeroporto ficou para trás, O hotel está logo ali, O tráfego permanece preguiçosamente estático como a vegetação arbustiva do semiárido, mas barulhento como cancões do asfalto, Inúteis, Como as palavras que o padre escreve para um sermão que ninguém vai ouvir, Celerados cinzentos chegam à cabeça com seus cinzeis pela janela aberta, Brancuras de luz da manhã prateiam espíritos calmos, Põem medo e tiram o que se repõe, Repõem o terror e sobrepõem coisa a coisa, Deus permite que a morte se aproxime e parta em paz.


O canto dos pássaros alegrava a tarde, O que fez estridor tem gosto de cloro na boca, A muralha eletrificada é ultrapassada pelos limites das conveniências e das lamentações, Ainda se dialoga com o mundo, Uma obstinação impulsora ornamenta o salto para a vida, O pequeno corpo descansa nos braços do invasor, O grande vocifera um agressor, Deus é o divisor, Da terra drenada e da água espraiada.  


Cinzeis de rudes escultores sobem e descem, às cabeças, Às ocultas, Imprimem fisionomias  indignas de animais, As cordas se amarram, As bordas se apertam, A cama tem o macio grosso de veludos, Que nenhum lobo mate nela uma ovelha sequer, Que só leve tudo que não são suas crias, Deus poderia não estar aqui hoje, Mas havia alguém de plantão, E não viu necessidade, Apenas algo bem menor que fatalidade.  


Coração bate, Onde há silêncio e nenhuma gravidade, Consciência sonha, Sonhos dela e dele, Sonhos de dois mundos, Olhos fechados se abrem, Onde  a visão é turva e de curto alcance, Mente pensa, Pensamentos dela e dele, De duas inteligências, Ouvidos ouvem, Onde há ressonância e nenhuma agitação, Corpo sente, Sentimentos dela e dele, De dois estímulos, Lágrimas escorrerem, Onde há água e nenhum temor, Alma intui, Intuições dela e dele, De duas empatias, Espaço se expande, Onde há fardo e insegurança, Coração ama, Amor dela e dele, De duas criaturas, Uma corre risco de morte, E o homem decide por Deus. 



Meu mar, Hoje não pude te abraçar, As ilhas que tem fecham, Mesmo felizes como eu estava, Não furtaram às vistas suas preocupações, Em que mundo, Em qu'encosta tu t'escondes, Em quais águas tu t'embuças? O sol estava a pino, O céu puríssimo, E eles, Também, Mesmo plácidos como sua margem sem ondas, Inquietavam-se como duas crianças que correm e se cansam, Em Qu'espaço, Em qu'estrela tu t'esquentas, Em Qual firmamento tu t'enfias? De súbito, Me vi mergulhado nas trevas, Como sôfrega raiz, A procurar ali uma boa seiva, Onde o som do silêncio, É como sua profundeza, O ventre de sua mãe, Onde a luz da escuridão, É como nosso universo antes de nascer, Depois de morrer, Debrucei-me sobre este abismo do inexplicável, Demorei-me a divagar sem rumo, Perdido neste umbral intrincado, Como pude me transgredir? Mas como ainda existe gente boa nesta terra, Acordei, Como o homem desperta a cada alvorada e sai, Para o acaso da providência, Meu mar, Uma vez já te disse que jamais contaminei suas suaves ondulações salinas que me dão paz interior e que nunca sairão do lugar, E quero sempre para ti voltar, Antes da noite cair, Depois que mais cinzeis descorados batam às duas janelas, Depois que Deus me atravesse o perigo vermelho até o próximo sinal amarelo de alerta, Sobrevida e providência, Humana, Angelical, Divina, Ou como quer que a necessidade a chame.


Seu silêncio tem me torturado, Guarde um lugar para mim ao seu lado, Dá-me metade de seu sofrimento, Para preencher parte de meu coração que ficou vazia, Ajuda-me a estar preparado para o dia que eu precisar chorar por outro tanto quanto chorei por você, E Deus sabe que choramos por vocês como choramos por nós. Teu carrasco, acolhido como você foi, alegou estado territorial onde só pode haver um alfa. Não careceu despachá-lo para Deus. Só o devolvi para seu estado de necessidade.  


Ainda não doí em mim, Ainda não sei quão profundo um projetil pode viajar, Se pudesse faria um trato com Deus, E trocaria de lugar com ele, Desceria a ladeira correndo, Correndo as mãos de fogo, E Deus alçaria voo ao céu, Faria um loop, E cairia na terra como pombo volteador, Às vezes, O arqui-inimigo do altíssimo permite que a morte se aproxime ousada e parta assustada, com o risco de morte que assumiu.




REALEZA

Texto de autoria de AUSTMATHR VIKING DUBLINENSE com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


Enquanto ruge a ambição, Acima dela paira, O afiado gume de uma espada, Segura por um fio tênue, Pronto para se romper, E por fim a uma vida humana real, Onde cabem outras cem mil vidas, Cada uma delas com cem mil corações, E cada um deles com cem mil pecados, Prestígios cujas origens nunca são pedidas, Que ao simples toque de um dedo, Nadam em águas folheadas a ouro, E enquanto a terra treme, Porque o céu revolta-se contra tamanhos vícios, Comem solto, E depois enfiam o dedo na garganta, Para vomitarem toda água que encharca o estômago, E voltam a fartaram-se de raros petiscos, Vinhos inéditos, E esquisitas gulodices, Como reis esquecidos na sodomia, Vestidos de roxo e vermelho, Dormindo encostados ao pé das embaúbas, E enquanto vossos sonos são profundos, Outros lançam seus melhores pares contra suas melhores consortes, Mas como Deus dispõe o que o homem põe, Sábios lhe é enviado mais de uma vez, Mas são rejeitados, E vendidos como escravos, E uma vez libertados, Voltam de onde vieram para lançarem em terras férteis, Imaculadas sementes, De Igualdade, Liberdade, Fraternidade, E das ciências da alma humana.