quarta-feira, 6 de abril de 2022

AS GRAÇAS

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


Seus dedos não alcançam os meus, Mas os de Aglaia acariciam meus cabelos, Despem-me da sobrepeliz, Da estola, Rasgam o ritual do homem, Juntam-me às musas, Dirigem-me para o corpo de uma igreja sem paredes e tetos, Glorificam minha dança resplandecente, E nasce em mim o poder criativo, A intuição do intelecto, Que interroga porque tão alto mantém suas mãos inalcançáveis à minha dor, Mas as de Eufrosina suavizam minha angústia, Cobrem-me de auras, De cicios, Realizam os desígnios inacabados, Fazem de mim uma divindade, Libertam-me para o voo de um céu sem grades e poleiros, Consertam-me o corpo, a mente e o espírito aquebrantados, E voltam para mim a alegria de viver, A graça de existir, Que se compadece da distância que me separa de sua vontade, Mas a de Tália tira-me do isolamento, Desarma meu braço segurando a cabeça, Levanta-me da cadeira, Espalha minha prece pelo universo, Traz-me mais três irmãs, Melodia-me para a nudez de uma natureza sem fronteiras e ideologias, Abençoa-nos com suas duas mãos, E brota em mim o desejo de ser uma flor, De ser dada a alguém por amor, Que exala sua fragrância o mais longe possível para permear seu dedo invisível.