domingo, 21 de julho de 2024

AS CEREJAS DO BOLO

Texto  de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 



MEU TIPO DE MULHER

O que você espera, Penélope Charmosa? Ela finge que não quer, Que não gosta, Querendo, Gostando, Seu Imperador Romano que viria em 700 anos já foi largado nos tempos pretéritos de outros homens, como livros que nunca foram lidos, Ela decide consultar os oráculos. É recebida, Mesmo sendo consulente mulher, Sem pagar taxa, E ainda ganha o direito de pomancia, Sem ter que pagar sobretaxa, O que você espera encontrar, Penélope Charmosa? Um vilão como Tião Gavião sem ter uma quadrilha da morte para te proteger? A pitonisa profetisa: Você é uma guerreira que luta sozinha, Mas quem agora comandará sua boleia não é pessoa conhecida de sua Esparta, Que sim outro vindouro de Ítaca, por nome Odisseu. Penélope oferece um sacrifício aos deuses: suas imagens ao estrategista do cavalo de madeira, Algumas despidas de quaisquer pluviais solenes, Suas curvas deformam o olhar do pretendente escolhido, A beleza de seu semblante diminui Helena de Troia, Seu caráter e conduta nem se fala, Odisseu retribui a oferenda com odes à la Alceu de Mitilene: Aqui vejo minha bela, Sentada num cais de mármore, Serena como águas de rosa, Ambas todas azuis e tranquilas como lagos suíços, Aberta às paixões, Tímida, Mas experiente, Ela se mantém fiel e austera num pélago de vagas aspirações de um amor que espera anos a fio. Odisseu quer ouvir sua voz, A Sibila concede, Suas palavras são breves e meigas, Enfim, a sacerdotisa Pítia dá o oráculo dos deuses que falam através dela: Dez anos estivestes casada, E outros dez esperastes, Há qualquer coisa de melancólico nestes dias juninos, Mas no vigésimo sexto chega o barco que te levará para Ítaca para sempre.




LAVRAS NOVAS


Antes de saber que você existia, Já te esperava, Golpeava o destino, E magicava nas regiões inexploradas que se percorre só em sonhos, Ao te encontrar, Via o mundo se doar, Vieram os pores de sol e os luares de outra natureza que dissimulavam a brevidade da morte, Caminhavam na terra fria e no chão macio que tinham névoa de saudade no olhar, E numa toada próxima de uma oração, Acompanhavam a meia-luz crepuscular e as ruas esvaziadas de pernas que deixavam um aroma de incenso no ar, E à ceia, Flores sempre-vivas fizeram lume, Nos tornaram como o céu, Onde sobre o negrume, De escuridão que pede calma, Ardia o sereno círio das estrelas, Que mantinham-se acesas, E traziam da mata os gnomos, Que abandonavam seus deveres com as árvores e as roseiras que lhes cabiam, Para guardar nossos primeiros sonos, Tal qual a lua prateando nossos caminhos e compartilhando os crepes da noite, Ao silêncio do  fundo dos mares e do ventre materno, Rompido pelos ventos uivantes que faziam uma curva sobre nossas cabeças, Indo e vindo para não perder nossa felicidade até o raiar dos dias, Quando davam lugar às nossas melodias, Regando nossos cafés das manhãs que nos acordavam só com alegrias, Nos seguindo pelas montanhas verdejantes, Juntando-se ao som das águas das cachoeiras que do alto nos viam, Aproximando-nos de uma nova vida que não exigia nenhum penhor, Apenas nos convertia em cúmplices no amor.

 


O AMOR ESTÁ POR TODA PARTE

Dá arrepios do pé à cabeça, Surge quando nada mais se espera que aconteça, 

Sempre esteve escrito no céu, Cantado pelo vento, Doce como o mel, Livre como o pensamento, 

Nunca teve um antes, Nunca terá um depois, Eterniza os amantes, Platoniza uma relação a dois, 

Liberta corações acorrentados, Prende a razão na cela do sentimento, Desmancha prazeres indesejados,Traz de volta paixões esquecidas no tempo, 

Faz uma promessa de fidelidade, E recebe outra de volta, Redescobre a felicidade, E de sua mão jamais solta, 

Dorme com um rosto angelical, Olhar meigo e desconcertante, Acorda com uma voz jovial, Sorriso lindo e contagiante, 

Nunca teve um começo, Nunca terá um fim, Tem coração que bate do lado do avesso, Idade treze vezes maior que a de um querubim, 

Sempre será sentido no ar, Contado em prosa e verso, Profundo como o mar, Imenso como o universo, 

Dá calafrios da cabeça ao pé, Surge quando tudo o que sobrou é menos que a fé.




MONOCROMIA

É assim que quero que você me veja, Sou um pássaro que voa alto, E corta o solo numa rasante, Sem nunca precisar pousar, Sem nunca precisar plainar, E te busco em pleno ar, É assim que um homem como eu te almeja, Subo no pico de um penhasco e dou um salto, E você nunca me verá em queda livre vacilante, Nunca me verá com medo de me afogar, Não será suficiente para mim você me observar, Não será suficiente para mim você me enquadrar, Não será suficiente para mim você me fotografar, Não será suficiente para mim você me revelar, É assim que você quer que eu te veja, Você é um vento que sopra forte, Risca a noite com raios, Troveja e faz o céu estremecer, Ruge como uma tempestade de se enfurecer, E me encontra no vazio do meu querer, É assim a mulher que um homem deseja, Você salta do alto da vida para a morte, Nunca verei você fazer ensaios, Nunca verei você arrefecer, Não será suficiente para você um mundo sem mudança, Não será suficiente para você um mundo só de esperança, Não será suficiente para você um mundo que não avança, Não será suficiente para você um mundo sem andança, É assim que quero viver, É assim que eu quero que você viva por nós, Sou um sol que brilha para iluminar, Sem precisar arder, Sem precisar proteger, É assim o homem que uma mulher quer ter, É assim que o mundo quer nos ver a sós, Subindo até o último degrau até nos desequilibrarmos, Até escorregarmos, Até cairmos e nos despedaçarmos, Não me basta ser apenas um homem sobrevivente, Não me basta ser apenas um homem inteligente, Não me basta ser apenas um homem valente, Não me basta ser apenas um homem suficiente, É assim que quero minha mulher, É assim que quero que você me veja como uma miragem, Sou névoa de ansiedade para ver o dia raiar, Que cai da escuridão até a manhã orvalhar, Até o sol dissipar, É assim que você me quer, É assim que você quer registrar minha imagem, Na monocromia de seu olhar, E assim que você quer me amar, Não será suficiente para você não parar de fazer amor, Não será suficiente para você absorver todo meu calor, Não será suficiente para você me fartar com seu ardor, Não será suficiente para você fazer sexo com muita dor, É assim que você quer ser, É assim que você quer que eu te veja, Sou um cachorro vira lata longe de casa, E você nunca me verá voltar, Nunca me ouvirá ladrar, Nunca me verá mendigar, É assim que você quer me ter, É assim que uma mulher como você me almeja, Me jogo do alto de uma montanha sem ter asa, E você nunca me verá desmaiar, Nunca me verá acabar, Não será suficiente para mim pousar para o teu olhar, Não será suficiente para mim olhar para seu andar, Não será suficiente  para mim andar no seu caminhar, Não será suficiente para mim caminhar no seu lugar.



AMOR DOCE AMOR

Doce madrugada
Viajo cantando com as estrelas
Indo de encontro à minha amada
Levando rosas vermelhas
Doce alvorada
Recebe-me com céu ensolarado
Levando-me aos degraus da escada
Por onde descerá um anjo encantado
Doce meio-dia
Emociono-me com sorriso tão sincero
Enchendo meu coração de alegria
Dando-me mais meiguice que espero
Doce entardecer
Dirijo segurando a mão dela
Com um olhar lindo de morrer
Não sei qual feição é a mais bela
Doce noitada
Durmo com ela banhado pela lua
Com você já estou casada
E eternamente serei sua
Doce amanhecer
Acordo cantando com os passarinhos
Recostada no peito de meu benquerer
Extasiada de tantos carinhos
Doce dia
Em lua de mel com o amor de minha vida
Sempre sonhei que esse tempo chegaria
Para reconciliar minha alma sempre dividida
Doce tempo
Só agora Deus marcou nosso encontro
Sem jamais inquietar meu alento
Porque nascemos um para o outro
Doce amor
Louvado seja quem escolheu você para mim
A espera compensou e foi indolor
Agora estamos juntos até o fim




SÓ VOCÊ


Só você  foi capaz de me levar ao desespero para excomungar todo meu destempero, Cair de joelhos e me esfolar, Deixar o sangue para cada lágrima estancar, 

Agora faça de mim o que quiser, O que puder, Nem tudo o que eu desejar, Nem tudo o que você pode dar, 

Ontem fui o filho pródigo que saiu para esbanjar e voltou sem nada para ofertar, Desnudou-se e tremeu de frio, Rangeu todos os dentes para cada acesso febril, 

Outrora me mimaram e me melindraram,  Elevaram-me num pedestal para me endeusar, Deixaram o apogeu para cada prosélito aclamar,  

Agora tirem de mim o que quiserem, O que puderem, Quase nada do que sobrou, Quase nada do que sou, 

Hoje sou a ave queimada em ruínas sempre renascendo das próprias cinzas, Ainda de asas pesadas para poder voar, Escorrendo lágrimas para cada gota de sangue expurgar, 

Só você  foi capaz de não arredar o pé até renovar minha fé, Cair de joelhos para me fazer companhia, Compartilhar minha dor para desatar minha sangria, 


Agora deixe-me com o que mereço, Com o que careço, Com quase todo seu penhor, Com quase todo seu amor.  


CARTA DE AMOR

Sempre te amarei à feição do universo, Silente nas palavras e fulgurante no olhar, Inspiração para te escrever um verso, Incitação para te beijar, Sempre te amarei ao brilho de uma estrela, Com o calor intenso de uma gigante anil, Com o esplendor de uma supernova vermelha, Filetes luminescentes que escorrem de seu toque feminil, Sempre te amarei à luz do sol, Na toada de uma prece na meia-luz crepuscular, Na carícia da aurora ainda tenra sob o lençol, Na vontade de nunca mais te largar, Sempre te amarei à flor da terra, Iluminada pela lua que nos enamora, Acumpliciada com a paixão que nos encerra, Com um abraço que te aperta e um beijo que se demora.


SORTE 

Ô vida de uma figa, Será que preciso por um raminho de arruda por detrás da orelha? Para acabar com este fastio que me fatiga? Carregar esta mão fechada na minha pulseira? Ando cansado de derrotas, E agora estou prestes a perder algumas dessas pobres mulheres que se consideram felizes quando fracassados as levam às veredas das vergonhas, Preciso de um patuá para me ajudar a encontrar minha rota, Preciso encontrar meu trevo de quatro folhas, Ô vida dura, Será que preciso por um pé de coelho no meu chaveiro? Um espelho na porta junto com uma ferradura? Para um dia encontrar um amor verdadeiro, Ando cansado dos dias sem vencer, E agora estou prestes a perder algumas dessas noites em claro que se consideram felizes quando virtuais as levam às veredas das ilusões, Preciso da mão de Fátima para acreditar que alguém está a me escrever, Preciso bater na madeira para que ela mantenha as comunicações, Ô vida cheia de surpresa, Foi um elefante indiano que me permitiu ouvir sua voz? Foi um olho grego que me permitiu ter a certeza? De que ela me enviou seu retrato e disse que um dia quer me ver a sós?  Ando cheio de iniciativa, E agora estou prestes a ganhar alguns quilômetros dessas longas estradas que se consideram felizes quando apaixonados as levam às veredas das mudanças, Preciso de São Jorge para me ajudar a corresponder à sua expectativa, Preciso do Senhor do Bonfim para me ajudar a não perder as esperanças, Ô vida benfazeja, Foi o Senhor dos ventos que atendeu ao pedido de todo homem à procura da mulher ideal? Foi a joaninha que apareceu para a mulher que todo homem deseja? A mulher que traz consigo um olhar compenetrado sem igual, Ando cheio de sorte, E agora estou prestes a ganhar alguns beijos desses doces lábios que se consideram felizes quando o amor abre as portas que levam às veredas dos corações, Já não preciso fazer nenhuma promessa para amar esta mulher até a morte, Ô vida auspiciosa, acabastes com todas minhas lamentações.




PALINDROMIA E POLICROMIA



Hoje quero recordar de um único dia que nunca se perde no tempo, Lembrá-lo 13 anos depois, e ainda neste ano que termina com a dezena 13, pode dar um duplo azar se eu me mantiver apegado a crendices e ainda lembrar que foi numa sexta-feira, a menos que, neste momento de reflexão sobre minha presunção artística, sempre insegura com as seguidas recaídas de minha fé e sincretismos religiosos, eu me conserve um calculista, no sentido aritmético da palavra, e, parodiando o matemático Neil Sloane e inventando-lhe um gosto supersticioso, asseverar que os dois juntos, tal qual dois negativos somados, resultem em positivo.


Mas se eu fosse, de fato, afeito a estes agouros tirados de fatos puramente fortuitos e temesse que nossa diferença de 13 anos fosse mais um mal presságio, ainda assim eu procuraria racionalizar uma compensação na sua confissão de que sua idade era maior que o dobro desta diferença. E, abusando prazerosamente da redundância, na verdade, para mim já não fazia diferença se a diferença fosse de 13 ou 23. E para aumentar ainda mais o hiperbolismo, coincidentemente a soma dessas duas diferenças era sua verdadeira idade. Ao lembrar-me daquele dia, ainda conservo sua imagem monocrômica, mas agora quero acrescentar-lhe algumas cores e outras numerologias. Antes, porém, quero recordar a monocromia que lhe dediquei no ano 10 de nossa união:


É assim que quero que você me veja, Sou um pássaro que voa alto, E corta o solo numa rasante, Sem nunca precisar pousar, Sem nunca precisar plainar, E te busco em pleno ar, É assim que um homem como eu te almeja, Subo no pico de um penhasco e dou um salto, E você nunca me verá em queda livre vacilante, Nunca me verá com medo de me afogar, Não será suficiente para mim você me observar, Não será suficiente para mim você me enquadrar, Não será suficiente para mim você me fotografar, Não será suficiente para mim você me revelar, É assim que você quer que eu te veja, Você é um vento que sopra forte, Risca a noite com raios, Troveja e faz o céu estremecer, Ruge como uma tempestade de se enfurecer, E encontra no meu vazio o meu querer.


É assim a mulher que um homem deseja, Você salta do alto da vida para a morte, Nunca verei você fazer ensaios, Nunca verei você arrefecer, Não será suficiente para você um mundo sem mudança, Não será suficiente para você um mundo só de esperança, Não será suficiente para você um mundo que não avança, Não será suficiente para você um mundo sem andança, É assim que quero viver, É assim que eu quero que você viva por nós, Sou um sol que brilha para iluminar, Sem precisar arder, Sem precisar proteger, É assim o homem que uma mulher quer ter, É assim que o mundo quer nos ver a sós, Subindo até o último degrau até nos desequilibrarmos, Até escorregarmos, Até cairmos e nos despedaçarmos. 


Não me basta ser apenas um homem sobrevivente, Não me basta ser apenas um homem inteligente, Não me basta ser apenas um homem valente, Não me basta ser apenas um homem suficiente, É assim que quero minha mulher, É assim que quero que você me veja como uma miragem, Sou névoa de ansiedade para ver o dia raiar, Que cai da escuridão até a manhã orvalhar, Até o sol dissipar, É assim que você me quer, É assim que você quer registrar minha imagem, Na monocromia de seu olhar, E assim que você quer me amar, Não será suficiente para você não parar de fazer amor, Não será suficiente para você absorver todo meu calor, Não será suficiente para você me fartar com seu ardor, Não será suficiente para você fazer sexo com muita dor. 


É assim que você quer ser, É assim que você quer que eu te veja, Sou um cachorro vira lata longe de casa, E você nunca me verá voltar, Nunca me ouvirá ladrar, Nunca me verá mendigar, É assim que você quer me ter, É assim que uma mulher como você me almeja, Me jogo do alto de uma montanha sem ter asa, E você nunca me verá desmaiar, Nunca me verá acabar, Não será suficiente para mim pousar para o teu olhar, Não será suficiente para mim olhar para seu andar, Não será suficiente  para mim andar no seu caminhar, Não será suficiente para mim caminhar no seu lugar.


Nunca foi suficiente para você apenas me encontrar. Nunca foi suficiente para você saber que eu queria você para casar. Nunca foi fácil para você saber se estava apaixonada. Nunca foi fácil para você saber se nossas fantasias seriam materializadas. E você sempre teve razão ao dizer que eu era desde então até hoje mais maluco que você. Eu digo hoje para mim mesmo que este é um mundo muito doido para um sujeito tão anormal como eu à procura da mulher ideal. Este é o mundo dos que acreditam que 13 dá azar porque na última ceia de Jesus havia 13 pessoas e porque ele morreu numa sexta-feira. Eu compartilho minha maluquice com todos estes insanos, lembrando-lhes que Pilatos assumiu a procuradoria na Palestina no ano 26, dia de nosso aniversário, e foi exilado em Viena no ano 36, sua verdadeira idade quando te conheci. Os 10 anos que separaram sua idade verdadeira da irreal são os mesmos que separaram Valério e Marcelo da procuradoria de Pilatos.



Naquela sexta-feira 26 te recebi pela primeira vez com rosas vermelhas, a cor símbolo fundamental do principio da vida, com sua força, seu poder e seu brilho. Enquanto você as segurava, seus olhos castanhos as contemplavam com a profundeza de seu azul que nelas mergulhava sem encontrar qualquer obstáculo, perdendo-se até o infinito, como diante de uma perpétua fuga do imaterial. Enquanto você as admirava, palpitava dentro de mim impetuosidade, intensidade, paixão aguda até a estridência, a ardência do amarelo difícil de ser atenuado e que extravasa sempre dos limites em que o artista tenta encerrá-lo. E entre a sua espiritualidade azul e minha impulsividade amarela, reina hoje o verde das interferências cromáticas. As rosas vermelhas que lhe dei desabrocharam entre minhas folhas verdes.


No final das contas, somos malucos fora da curva porque nosso número 26 é mágico. É o número positivo que neutraliza dois números treze negativos. É o único número inteiro maior que um número elevado ao quadrado (5= 25) e, ao mesmo tempo, menor que um elevado ao cubo (33 = 27). O Rhombicuboctaedron inventado por Leonardo da Vinci tem 26 lados. Quando um cubo de 3x3x3 é montado a partir de vinte e sete unidades de cubos, 26 deles são partes visíveis das camadas exteriores dos cubos. Na base 10 de nossa matemática e da diferença de suas duas idades, o 26 é o menor número que representa a raiz quadrada de um palíndromo. A raiz quadrada do palíndromo 676 é 26.




TUDO O QUE VOCÊ QUISER
Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.  LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche) 

Toda uma vida vivida, Todo um trabalho de Sísifo redobrado, A pleno fulgor, Todos os amigos de semideuses, Todos os sois translúcidos e unidos, Ainda me dado a ver, Renascendo, São seus, Todas aquelas colossais águas, Descendo, Por sendas destorcidas, Do alto de cachoeiras para o infinito, Entre sortilégios tão indecifráveis, Quão eterno instante de ventura, Adorado seja, Devolvo ao seu olhar, Todos os luares correndo as horas sobre suspiros, Doces como prelúdios de harpa, Sobre a singeleza de seu corpo, Mais leve que uma folha de magnólia, Caído do céu na noite desfeita em estrelas, Lua de junho argêntea nos campos, Brancura de luz das manhãs silenciosas, Devolvo à sua lembrança, Todo frio susto que corre pelas minhas veias, Todo meu fogo que arde em febre sem se ver, Tudo que me acalma e me endoidece, Que me eleva e me abate, Te dou, Com o coração na mão.



OUT OF THE BLUE
 
Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Não sei de onde brotam tantas ideias, Inéditas, Súbitas e intrometidas, Só podem ser do conhecimento absoluto, De entrada franca, Com programação imprevisível, Ouse o terapeuta subtrair uma gota de seu conteúdo a algum sonho seu recorrente e perturbador, E ele inunda o minúsculo espaço deixado vazio com um mar que transborda seu inconsciente, Atreva-se a enxota-lo, E ele te emoldura num carrossel, Vem e Vai, E quando passa pelos seus olhos, É Sempre nada de nada do que faz sentido, E, às vezes, Com palavras simples assim vindas de uma mulher: Oh meu amor, Sou sua fada, Vindo do nadaCom todo fervor, Meu deus da sincronicidade, Que prepara misteriosos elementos psicóides na natureza para unir as partes estranhas umas às outras para me impressionar com coincidências, Por acaso você já me deu alguma ideia que não tenha sido por acaso? Porventura é você que faz um disco voador surgir e desaparecer do nada? Como se ele tivesse se perdido e entrou pela porta errada? E as ilusões? É você também quem as engendra? Como o espírito daquele homem  pelado que apareceu no banheiro de meu quarto? Será que ele apenas se esqueceu por uns instantes que está morto e resolveu tomar um bom banho de ducha que só se encontra num hotel cinco vezes estrelado? Ou tem ele consciência que faz parte do nada e, de vez em quando, passeia pelo mundo? Bem sei que o louco não sabe que é louco porque nunca conheceu a sanidade, E que o morto não sabe que está morto porque não sabe o que era antes de existir, Fico pensando nos sonhos que me levam a lugares onde nunca estive e para os quais nunca atinei, E depois eles coincidem com a realidade e me deixam, Quando nada, Atônito com as verdades que eles me revelam, Do presente, Do passado, E do futuro não tenho como provar, Para não faltar à verdade, A bordo de uma de suas casualidades, Um navio graneleiro chamado internet, Veio esta linda mulher que se senta ao meu lado, Como um mimo que um potentado manda a outro, E ela, parafraseando Graciliano Ramos e Lígia Fagundes Teles, Acende a fogueira, Mesmo cercada de ar forte demais, Meu fogo atiça, Me acolhe como uma brasa ardendo na infelicidade e na preguiça, Resolve meus problemas existenciais, e emenda:
Oh meu amor, Homem com alma de mulher, Grande intelectual filosofando sobre a existência, Quão difícil é acompanhá-lo em reflexões tão profundas, Encontrou ocasião para trocarmos impressões sobre a oportunidade da vida e sobre o potencial do espírito na transcendência possível a cada patamar evolutivo, E de minha parte, Você já sabe, Eu era uma rocha ressurgindo à flor das águas, E com gestos simples e admiráveis, Você apanhou-me como uma mosca fulgurante, Curioso de me examinar e de me amar, Sem nunca me perguntar quantos homens descarregaram suas frustrações entre minhas pernas, Entrou para minha vida factícia de 26 anos, Com todo seu ardor, Abandonando seu pequeno mundo preso a encruzilhadas, Sem medo de ter medo, Com a certeza de recomeçar onde tudo lhe era pouco conhecido, Oh meu amor, Não chame isto de sorte de bilhete de loteria, Nem de geomancia, É nada dos nadas para sua valentia, Você é meu contato imediato do terceiro grau, A minha vez na vida e outra na morte, Meu sonho revelador, Meu encosto redentor, Come my love, With your desire, Out of the blue, And into the fire.


PRESENTES DE AMOR E O MITO DA MULHER APANHADA EM ADULTÉRIO

Texto  de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


No início dos anos 90, resolvi reler todos os diálogos de Platão que eu conhecera nos tempos de faculdade. Naquela ocasião, decidi ler, pela primeira vez, os diálogos considerados menores e de au
toria duvidosa: Hiparco, Os Rivais, Teágenes, Clitofonte, Minos e O Segundo Alcibíades. Este último tornou-se o meu favorito. Seu tema, a prece, contém, em muitas passagens, o espírito do platonismo e do estoicismo que pessoas anônimas usaram para escrever parte dos evangelhos cristãos. É muito bonito, por exemplo, a prece do poeta desconhecido que Sócrates aprova: Dá-nos, Zeus, os bens que pedimos e os que silenciamos, e afasta de nós os males, mesmo se o pedirmos por não sabermos que são males. No entanto, este diálogo não é de Platão. É de um admirador anônimo, escrito entre o século 3 e 4 antes da era comum.

Quem conhece os diálogos de Platão, logo percebe que O Segundo Alcibíades contém falhas nas associações e força argumentativas e ausência do habitual senso de humor com o qual o grande filósofo atenuava a investida dos questionamentos de seu mestre. O autor demonstra que conhece, profundamente, o estilo de Platão, no entanto, em várias passagens, a linguagem usada não é Platônica. O texto contém muitos erros de  estrutura e dicção. Em 151B, a frase grega é literalmente traduzida Eu ficaria feliz em ver-me aceitando, o que não é nada Platônico. Uma das provas de que o diálogo foi escrito muito tempo depois de Platão está na palavra grega usada para respondido em 149Bapokrithenai, enquanto Platão teria usado apokrinasthai. Outros exemplos: Em 148C, as palavras chronou oudenon parecem significar tempo passado em Grego e, certamente, não é Platônico (No livro de Aristóteles, Física, na passagem IV. 13.5 as palavras o parekon chronos significam tempo presente). Em 145D as palavras ana logon são usadas no genitivo na passagem 29C do livro Timeu de Platão, enquanto a frase Platônica normal para esta passagem é osautos.

Platão teve muitos imitadores e admiradores anônimos, mas este que escreveu o Segundo Alcibíades, é mais que isso. Como devemos entender uma pessoa que escreve uma obra magnífica, imitando seu ídolo, e prefere permanecer no anonimato ao invés de desfrutar da glória de um filósofo, mesmo que de um plagiador? Como devemos entender uma pessoa que encerra o diálogo com esta nobre máxima: Amão diz que prefere o culto discreto dos lacedemônios aos sacrifícios de todos os helenos reunidosem resposta às queixas dos Atenienses de sempre levarem a pior nas batalhas contra os Espartanos? Isto não é um plágio oportunista ou uma imitação barata. Isto é um presente de amor para a  posteridade.

Os maiores imitadores de Platão, no entanto, não foram meros e frustrados pretendentes a filósofos, mas, sobretudo, os cristãos. Boa parte das histórias e grandes máximas que aparecem nos evangelhos canônicos, conhecidos como Marcos, Mateus, Lucas e João, foram baseados nos diálogos de Platão e na cultura grega. Todas as pessoas que inventaram as histórias contidas nos evangelhos eram anônimas e inspiraram-se em várias fontes, principalmente a Grega, mormente a Platônica (muitos acadêmicos costumam dizer que o cristianismo é um neoplatonismo). Todos os evangelistas eram cultos, falavam Hebraico, Aramaico, Latim e Grego, e liam livros acessíveis somente à nobreza, como os diálogos de Platão. Eles fizeram uso da obra de Platão e de outros pensadores gregos para inventar o que hoje chamam de moral cristã. A igreja deu nomes aos autores destes evangelhos, mas quando aqui faço menção a qualquer um deles, não refiro-me a uma pessoa que existiu e cujo nome conhecemos. Quando digo João, refiro-me ao autor anônimo que escreveu o evangelho conhecido pela igreja Católica como sendo de São João.

Os autores anônimos dos evangelhos canônicos não tinham admiradores ou imitadores, mas concorrentes, anônimos também, e que escreviam seus próprios evangelhos, como várias pessoas de diferentes regiões fizeram ao longo de mais de um século. Como o conteúdo destes evangelhos concorrentes não atendiam aos interesses imediatos da igreja católica dominante, foram chamados de apócrifos e banidos, mas redescobertos nos tempos modernos. Para cada um dos quatro evangelhos canônicos existe, pelo menos, cinco apócrifos. O que os evangelhos canônicos mais tinham eram adulteradores,  dentro da própria igreja cristã que, por séculos, modificou as histórias dos evangelhos para atender aos seus proselitismos e manter seus fiéis sob rédeas  curtas. A maioria das adulterações é bem visível e até grotesca. No entanto, os autores originais e anônimos dos evangelhos eram bem criativos e inventavam histórias mirabolantes, intrigantes e, às vezes, até assustadoras e surpreendentes, comprometendo a imagem de seu ídolo mitológico que se tornou a figura central da maior religião da humanidade.

Há uma história famosa e interessante no evangelho de João, conhecida como A Mulher Apanhada Em Adultério, que requer atenção especial. Em qualquer bíblia de livrarias ou de hotéis e igrejas, está história aparece nos capítulos 7.53 a 8.11, mas o mundo acadêmico nem sequer a cita em seus estudos científicos da literatura cristã primitiva. Por quê? Porque, embora ela não seja diferente de outras histórias sobre Jesus encontradas nos evangelhos sinóticos (Marcos, Mateus e  Lucas), ela não foi escrita pelo autor original do evangelho de João. Ela tem muitos problemas como o Segundo Alcibíades que foi, erroneamente, atribuído a Platão.

Esta história não aparece em nenhum dos manuscritos unciais Gregos, a não ser num único conjunto deles, sendo os principais três manuscritos datados do século 4 da era comum, o Sinaiticus, Vaticanus e Freerianus, e um do século 9, o Koridethian. Um manuscrito uncial do século 8 e outro de século 9 omite esta história, deixando um espaço vazio onde ela outrora fora inserida, o que denota que já naquela época era considerada não autêntica. Além disso, vários manuscritos cursivos omitem a história, enquanto os manuscritos cursivos de Ferrar colocam esta história no evangelho de Lucas, entre o discurso apocalíptico do capítulo 21 e a abertura da história da paixão no capítulo 22. Outros a colocam no final do evangelho de João e outros depois do capítulo 7. O  mais interessante é que durante os primeiros mil anos da era cristã nenhum comentarista Grego fez qualquer menção a esta história. Na verdade, evidências desta história só aparecem nos manuscritos latinos e ocidentais, sendo o mais antigo deles o Códex Bezae do século 5.

Fora estas anomalias nos manuscritos unciais e cursivos da igreja, o que torna esta história uma invenção bem tardia é o fato de que seu autor comete os mesmos erros cometidos pelo autor do Segundo Alcibíades. A partícula grega de aparece 10 vezes nesta curta história e não é uma palavra característica de João. Ela aparece 202 vezes no evangelho inteiro, ao passo que João usa com a mesma frequência (195 vezes) a partícula grega oun. Para a palavra multidão, João usa o grego ochlos, mas nesta história, o inventor anônimo usa o grego laos. Em todo o evangelho, João chama os opositores de Jesus simplesmente de Os Judeus, mas nesta história eles são chamados de Escribas. Para a palavra cedo, João usa o grego proi (ver capítulos  18, 20 e 21 de João), mas nesta história a palavra grega usada é orthrou.

Se esta história não faz parte do evangelho, então de onde ela veio, com qual propósito foi criada e por que ela foi inserida justamente ali, entre os capítulos 7.52 e 8.11? Uma história parecida com esta foi mencionada pela primeira vez nas Constituições Apostólicas  dos séculos 3 e 4 da era comum, sem ser, no entanto, atribuída a nenhum evangelho. O Bispo cristão, Eusébio de Cesárea, que viveu do ano 260 a 339 da era comum, menciona em seu livro, A História da Igreja, que um tal de Papias relata uma outra história de uma mulher acusada de pecados perante Jesus e que estaria contida no Evangelho dos Hebreus. Eis as palavras de Eusébio no capítulo III, versículo 39: Papias também faz uso de evidências tiradas de 1 João e 1 Pedro, e relata a história de uma mulher falsamente acusada de muitos pecados perante Jesus. Esta história é encontrada no Evangelho dos Hebreus. Eusébio não associa ou compara esta 'outra história' de Papias à história contida em João 7.53 e 8.11, simplesmente porque no tempo de Eusébio, século 4 da era comum, a história da Mulher Apanhada Em Adultério não existia.



A exemplo do que fez o autor do Segundo Alcibíades, o autor da Mulher Apanhada Em Adultério nos legou outro presente de amor com a grande máxima: Que atire a primeira pedra quem não tiver nenhum pecado. Deixo para o leitor o desafio de dar respostas às três perguntas feitas no parágrafo anterior. Ofereço este texto como meu presente de amor para os carregadores de tirso que passaram a vida andando em círculos e aos bacantes que sempre caminharam em linha reta até a apoteose ou, conforme a versão cristã desta máxima de Platão, para os chamados que me fazem companhia no anonimato e para os escolhidos que se fazem acompanhar somente pelo estrelato