quinta-feira, 11 de maio de 2023

DEUS


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Faria de tudo para deixar de ser ladrão, Deixar de ser mentiroso, Multiplicaria meus pedidos de perdão, E cometeria os mesmos erros de novo,
 
Esquecer-me-ia de você nos bons tempos, Riria dos crentes, Atrairia para mim outros tormentos, Choraria, tremeria e rangeria os dentes,
 
Então à noite me apegaria a você, Até as estrelas pararem de brilhar, Vararia a madrugada clamando por você, Até minha última lágrima secar,
 
Faria de tudo para deixar de ser odiado, Deixar de ser maldoso, Imploraria ao mundo para ser perdoado, E me revoltaria com seu amor silencioso,
 
Lembrar-me-ia de você nos maus tempos, Faria mais promessa, Provocaria no próximo outros lamentos, Arrepender-me-ia sem pressa,
 
Então à noite me entregaria a você, Até a terra parar de girar, Ficaria ajoelhado diante de você, Até meu último soluço cessar,
 
Faria de tudo para voltar no tempo, Recomeçar a vida, Passaria pelo mesmo sofrimento, E não sairia do ponto de partida,
 
Inventaria você para lustrar meu ego, Pronunciaria seu nome em vão, Desvirtuaria o aleijado e o cego, Esquecer-me-ia da minha devoção,
 
Então à noite eu jogaria praga em você, Até a lua da meia noite minguar, Sonharia o tempo todo reclamando de você, Até minha última cólera se saciar,
 
Faria de tudo para provar sua inexistência, Lançar minha teoria, Proclamaria a infalibilidade da ciência, Orgulhar-me-ia de minha sabedoria,
 
Anunciaria ao mundo sua morte, Atribuiria tudo ao acaso, Abandonaria tudo à sua própria sorte, Sentiria muita dor pelo meu descaso,
 
Então à noite desejaria ser você, Até o universo morrer e renascer, Recriar-te-ia novamente à minha imagem, Até um dia te conhecer.