domingo, 2 de abril de 2023

IRINEIA

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

 
Deus te levou a salvo, Mulher de César, Amistosa e conciliadora, Por entre nuvens pacíficas, Soprou-lhe brandas aragens, E para você avermelhou a bonança de céus de rosa, Toda azul e tranquila como um lago suíço, E apagou as velas que ardiam espalhando sua livor mortis marmórea, Deixando-lhe na justa companhia de seu nome, Mas não me deixe, Não me deixe sair correndo do mundo, Não me deixe sair correndo para me salvar, Traga-me de volta em segurança só com seu olhar, O Deus cego te feriu, Mulher de rua, Humorada e zombeteira, Nos seios de tanto aroma, Roubou-me beijos de fogo de tanta vida, E para mim plumbeou um tempo de afogar a terra, Todo cinzento e vazio como a rua de um cemitério, E acendeu as velas que ardem espalhando tremulamente um azul desmaiado e funéreo, Deixando-me na justa companhia de meu pesar, Corra, Corra  para se afastar do perigo, Corra para a morte não te pegar, Ou ensina-me a não ter medo e ficar, Peça a seu Deus para te ajudar, A me convencer, A confiar e não evadir-me, A virar-me e arrastar-me, Resignadamente, Como um boi desfilando na passarela de um matadouro, Com o corpo meio robótico, Meio hipnotizado, Como um rato encantado pela sua flauta Hamelinista, Mas com a mente lúcida e a meditar, Se corro e não paro, Morro, E com medo sigo disparando e sustando, Sem saber para onde vou quando a existência cessar, Para a morte ou um sumiço, Que é pior que morrer para quem fica e procura, Como vivo te procurando, E me pergunto o que acontece, Para quem desaparece, Só perde você e nunca mais te verá? Fica sumido até morrer? Ou também procura como os que ficam? E se você só despareceu e um dia resolve voltar? Como quando durmo, Sonho, E sumo, E vou para lugares que não conheço, Onde posso te encontrar, E retorno ao meu mundo ao acordar?

O SENTIMENTO MAIS PURO

 



Este é mais um belo escrito de meu amigo Oxman sobre o qual quero fazer apenas um comentário e não uma análise. Embora eu tenha formação em literatura na faculdade de artes na Inglaterra, não sou escritora, nem crítica literária. Perguntei ao Oxman de onde ele tirou a ideia para escrever este texto, sabendo que ele a extrai de seu próprio intelecto, se inspira numa música, sempre na melodia e nunca na letra, numa pintura, num sonho e até numa palavra solitária que surge do nada. Então, ele me disse que foi de um filme que assistiu há cerca de 25 anos, chamado CITY HALL, que significa PREFEITURA, e que no Brasil foi lançado com o nome de CONSPIRAÇÃO NO ALTO ESCALÃO. Neste filme, Al Pacino faz o papel de John Papas, prefeito de New York, e John Cusack é Kevin Calhoun, o vice-prefeito. John Papas tem boas intenções e grandes ambições: chegar à presidência dos EUA. Kevin é um jovem sulista e idealista e tem uma enorme admiração por John Papas. Mas, como o filme mostra, ao longo de seu mandato, o prefeito se desvia do caminho correto e deixa Kevin decepcionado. John procura consolar Kevin dizendo-lhe que desde quando era jovem ele também era idealista, e que sempre teve o sonho de um dia levar este idealismo à Casa Branca. Resignado com a única alternativa de ter que abandonar a política, ele revela a Kevin que um dos antigos prefeitos dizia que se um pardal morresse no Central Park ele era responsável. O jovem Kevin ficou comovido com esta frase, e Oxman também, e ele pensou, então já houve um tempo em New York em que havia políticos tão íntegros e responsáveis a ponto de assumirem a culpa pela morte de um pássaro no maior parque da cidade! E em nossos tempos atuais, onde estamos, como eles são numa grande metrópole como São Paulo, a terceira maior do mundo depois de New York e Tokyo? Oxman jamais se prestaria a fazer comentários sobre políticos corruptos. Ele costuma dizer que é muito cômodo sentar confortavelmente numa cadeira diante de um computador em casa, na redação de um jornal ou de uma revista e nas plataformas das redes sociais e passar o tempo todo criticando os políticos, sem tirar a bunda da cadeira, arregaçar as mangas e fazer alguma coisa para ajudar a consertar o que está errado na cidade ou no país. Ele se perguntou, e o pássaro, o que ele acha disso? Oxman preferiu dar voz ao bichinho de penas, abriu mão de seu cérebro, embora sua genialidade continue presente, deixou de lado qualquer sofisticação, qualquer eloquência complexa, e pensou com o coração, extravasando apenas seus mais puros sentimentos através do bico de um pardal. O resultado é um texto poético, curto, simples, leve e suave, sublime, com o toque mágico que Oxman dá em tudo que escreve. O título, O SENTIMENTO MAIS PURO é perfeito. A ilustração que ele encontrou na internet parece ser o anverso do texto porque a pessoa anônima que a pintou a chama de A DIFICULDADE DE SE COMUNICAR COM UM PÁSSARO. A música escolhida não podia ser melhor. Ela embala a narrativa e soa como o coração do pássaro palpitando enquanto fala. Como Oxman sempre diz, músicas e ilustrações não estão em cada texto por acaso. A música é a alma da imaginação e do sentimento e da qual ela se alimenta, e a ilustração são seus olhos. A pedido de Oxman, eu assisti ao filme que está disponível na Amazon Prime Video, mas eu fiquei mais comovida com a poesia de Oxman. Mais uma vez, eu convido vocês a entrar no mundo das ideias de Oxman que estão muito além de nossa imaginação.

Gwendolyn Marie-Baxtor (vulga inglesa luso chinesa)

2 de Abril de 2023   


O SENTIMENTO MAIS PURO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 


Meus descendentes báquicos da Ibéria, Realizaram o melhor sonho de minha vida, Pois logo depois do primeiro descobrimento embarcaram-me do velho mundo para este novo e paradisíaco, De onde se tira da natureza a tintura para dar o vermelho das miniaturas e iluminuras dos manuscritos que são mandados de volta só para falar destas belezas que tanto me encantam, E rouba-me esta terra, Mais do que a vida, O orgulho de ser tão bela, E nela eu bem estaria em meio a tanta formosura, Mas não sei viver sem você, E por sorte você acostumou-se com meu bruno-pardacento e meus sombrios tons ferrugíneos, E nem mesmo reparou no negro que recobre minha garganta e meu peito, E nos meus braços malhados de branco, Não falta o murmúrio dos mesmos ares que respiramos, Pelas vozes do tempo que passamos, E dos dias rotineiros, Que pertencemos um ao outro, Sem nos darmos conta, Sem intrometermos nossas experiências nas diferentes histórias que vivemos e contamos, Só me preocupa a maneira como você cuida dos seus, Pois se fossem verdadeiras as boas intenções e preocupações que alardeiam os que estão no comando, Será que eles se sentiriam responsáveis se um de seus pares morresse no parque de nossa cidade?