domingo, 27 de novembro de 2022

GRAVIDADE

 


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Na presença majestosa daquela mulher que se impunha pelo silêncio do coração, Tão imaterial, Passando com uma lentidão de sonho, E uma paz de espírito quase incapaz de se desacreditar, Veio-me à mente, Um amor amordaçado em minha alma por tudo que há de mais deprimente, Memórias que minha sensibilidade feminina ainda consente,  Uma humanidade que nunca se ausentou de nossa vida, Nunca esqueceu da gente, Como a guerreira santa que com ambas mãos de anéis abalou e rompeu as armas mais destemperadas do terror. O olhar meio perdido, Meio conformado, Daquela que jamais saberei se por ela fui perdoado, Aquela que expôs o corpo à sensualidade em prol da virtude de se esquecer de quem se tanto amou, E que não poderia ter sido esquecido, E que nenhuma lágrima cairá sobre o sepulcro onde jazer, A mulher que perdeu o afeto de todos que conheceu, E nem de longe os seus adeuses serão trocados com os olhos e acenos, Aquela que pergunta, Com uma fleuma britânica, Como isso pode ser, Sem se surpreender, Não preciso ver seu rosto, Porque em você não há nada de assustador e misterioso, Há quem sinta a gravidade caindo, Nos levando para casa, Subindo e vendo estrelas colidindo, Para saber de onde viemos, Há quem pense nas lembranças esquecidas de uma mulher que acredita que você um dia já foi, Até quem note os nítidos detalhes de seus sapatos, E ainda os ouve como moedas a tilintar, Te vejo como reflexo da composição de um artista, Vejo você evocar e recriar uma atmosfera livre, Um desígnio singular que te define, Uma cintilação suave, Incerta e fina, Que bruxuleia incolor e sozinha, Indo de um puro rio a uma opaca névoa, Ainda não desfeita do sol nascido, Criando a ilusão de um ser desaparecendo no ar rarefeito, Uma ninfa etérea e real, Atraída pela gravidade sem peso, Flutuando em direção a uma luz que se acende mim.





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