quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

VOU PARA MARACANGALHA



Texto de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Meu Brasil, Brasileiro, Onde foi parar meu dinheiro? O que tanto você faz ai sentado em banco estrangeiro? Quando eu era criança, Gente fuleira era fariseu, As minas pissu gostavam de meia de seda na dança, Quem não fumava baseado era ateu, Quem não pegava nenhum balão, Na festa de São Pedro, Era pagão, Minha São Paulo, Italiana, Cadê minha grana? Quem tanto lá fora você sustenta, Enquanto o povão aqui dentro só aumenta e não se aguenta? Quando minha mãe ainda não era avó, Gilmar era nome de goleiro que não soltava bola, Didi folheava a redonda até cair seca no filó, Mané fazia de cada lateral um João, Pelé humilhava de alfa a omega de dar dó, E nos pingos de suor do adversário ele dava nó, Não tinha juiz que dava cartão verde para ladrão, Nem amarelo para quem comia angu sem fubá, Nem vermelho só para quem cantava minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, Minhas Minas Gerais, Tua mineira é demais, Minha idade não te dá conta mais, Só uma largou o queijo pelos meus temporais, Quando eu era adulto, Corrupto não tinha indulto, Nem prisão caseira, Nem tornozelo para tornozeleira, Meu Rio de Janeiro, Bicheiro, Cadê meu pagamento? O que você fez com os 10 reais que apostei no jumento? Quem ficou com o superfaturamento? Tô velho com voz de gralha, Vou para maracangalha, E só no dia que minha poesia se estraçalha, É que minha temperança vira uma fornalha, Minha Bahia, Mãe menininha, De todos os santos, Deixa eu ser seu andor e carregar seus encantos, Aqui no meu terreiro falta seu cheiro.

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