Texto de autoria de Austmathr Viking Dublinense com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.
Esta poesia
encantadora, escrita por Austmathr, relata
fatos reais de sua infância a caminho da pré-adolescência em São
Paulo. Ele diz que era tão feliz que achava que vivia num mundo mágico, com sua
mente na mitológica Atlântida descrita por Platão em seus livros Timeu e Crítias.
O título, Hearts in Atlantis (Corações na
Atlântida – que significa Ilha de Atlas) é nome de um livro de Stephen King, e
que deu nome ao excelente filme homônimo, traduzido no Brasil como Lembranças de
Um Verão. A poesia de Austmathr é pura
magia, como aquela imaginada pelo grande filósofo grego. Muitos deploram
poesias com rimas, como essa de Austmathr, e as classificam como um gênero
piegas e até mesmo brega. Talvez, estas pessoas não devem ter gostado do que
Cora Coralina escreveu: ‘Poeta não é somente o que escreve. É aquele que
sente a poesia, se extasia sensível ao achado de uma rima à autenticidade de um
verso’. Talvez, eles deploram os belos sonetos rimados de Shakespeare e de Fernando Pessoa. Talvez, eles se
esquecem que poesia rimada é um conjunto de estrofes que ganhou musicalidade e
voz. Todas as melhores músicas já compostas, com raras exceções, jamais desfilam
palavras sem rimas. A poesia de Austmathr é pura arte, pura
magia. E das 6 estrofes deste poema, eu custo a acreditar que haja pessoas que não atinam para a maestria e a beleza
deste versos: ‘....Com asas de dragão eles alcançam as pipas nos céus de São
Paulo que saem das linhas dos carreteis que os meninos soltam durante todas as
férias de verão, Elas dividem as cores com o arco- íris
da palheta e da bonança, Que sempre se abre como um leque de esperança, Ora de
não crescer e de não amadurecer, Ora de prosperar e estrelar, mas não querendo andar ver o tempo
andar..., e esta estrofe inteira que já
valeria toda a poesia: ‘Que bom ser pequeno e já ter uma renda, Que cresce
com o que economizo dos trocados para a merenda, E com o que meus padrinhos me
dão como oferenda, Hoje vou assistir à matinê no Cine Vera e minha alma está
suspirando, Ela transpira nas mãos de minha namorada, E fica vermelha de
vergonha a cada entreolhada, Com um corpo astral, Ela se transporta para a tela
e encena seu turno na sentinela da cabana de escoteiro no matagal, Ela revela
tudo o que a maioridade não mostra, Amigos do peito e nenhum inimigo pelas
costas, Juramentos por tudo o que é sagrado, E nenhuma decepção por algo que
não foi honrado, Dedos mindinhos cruzados para ficar de bem, E nenhum
ressentimento negado nas palavras, mas que o coração adulto ainda retém’. A
ilustração é uma cena do filme. O personagem principal (Anthony Hopkins) diz: ‘...quando
a gente é criança temos tantos momentos felizes que achamos que vivemos num
lugar mágico....daí, crescemos, e nossos corações de partem também...’ Outro
personagem coadjuvante adulto (David Morse), diz no final do filme: ‘....Quando
a gente é criança, parece que um único dia parece uma eternidade, mas todos
estes anos passaram como num piscar de olhos...’ Em cada texto que escreve,
além de escolher a ilustração adequada, AustMathr sempre homenageia a música
britânica, a melhor do planeta, aqui com IT’S RAINING AGAIN do SUPERTRAMP, cuja
melodia se embala perfeitamente o texto, e palavras como ‘...Está chovendo
novamente....e estou perdendo um amigo...’ me sugere, para esta poesia, que
‘a infância está terminando e estou perdendo minha melhor amiga’. Quando
pode, AustMathr também homenageia o que há de melhor na música brasileira, aqui
com LINDO BALÃO AZUL de GUILHERME ARANTES. Esta música foi feita para um
programa infantil e ela cai como uma luva nesta maravilhosa poesia que fala
exatamente disso: a nossa inocência e felicidade na infância.
Gwendolyn Marie-Baxtor (vulga Inglesa Luso Chinesa)
20 de Setembro de 2023
Que bom estar protegido dentro do campo, Enquanto as nuvens fecham o céu com um manto, E minha alegria está só começando, Ontem minha mãe encerou o assoalho e meus botões estão deslizando, Eles ocupam todos os espaços como o carrossel Holandês, Como o mundaréu de barcos que entopem o cais do porto Marselhês, Com ouvidos de esguelho, Eles jogam ao som dessa música alta que sai do rádio perto da penteadeira e do espelho, Ela não incomoda o adulto de casa e nem o da vizinhança, Que sempre se põe a correr como criança, Ora sob a sombra para enxugar a testa e do calor se esconder, Ora sob jornal dobrado, Para cobrir a cabeça e para da chuva não sair molhado,
Que bom ser jovem demais, Não saber interpretar sinais, Não ter coração rasgado que precisa ser remendado, E nem sofrimento que precise de tempo para ser curado, Hoje meu pai me comprou um monte de bolinhas e meus olhos estão cintilando, Eles fosforeiam toda a escuridão, Como o relâmpago de neon, Que ouve o grito de acusado e com um trovão responde, Como os pirilampos no mato que se juntam à garotada no esconde-esconde, Com asas de dragão eles alcançam as pipas nos céus de São Paulo que saem das linhas dos carreteis que os meninos soltam durante todas as férias de verão, Elas dividem as cores com o arco-íris da palheta e da bonança, Que sempre se abre como um leque de esperança, Ora de não crescer e de não amadurecer, Ora de prosperar e estrelar, mas não querendo ver o tempo andar,
Que bom ter um açougueiro, Que me paga em dinheiro, O que sobra da leitura que meu pai recebe do jornaleiro, Amanhã vou pegar um ônibus até a Praça do Correio e meu coração está retumbando, Ele pode ser ouvido de longe, desde o Vale do Anhangabaú até o Largo Paiçandu. Com mãos ligeiras, Ele folheia toda as capas de vinil que as galerias da São João ostentam em suas disputadas prateleiras, Elas dão ao precioso acetato sonoro um encantador abrigo, E aumentam a coleção que monto com meu melhor amigo, Que nunca tem pressa e não usa relógios, nem para marcar o tempo de bola, da aula na escola ou do disco na vitrola, Nem para não perder o que passa na televisão, quem será o último a sair da cela do pião e a que horas soltarão o balão,
Que bom ter um açougueiro, Que me paga em dinheiro, O que sobra da leitura que meu pai recebe do jornaleiro, Amanhã vou pegar um ônibus até a Praça do Correio e meu coração está retumbando, Ele pode ser ouvido de longe, desde o Vale do Anhangabaú até o Largo Paiçandu. Com mãos ligeiras, Ele folheia toda as capas de vinil que as galerias da São João ostentam em suas disputadas prateleiras, Elas dão ao precioso acetato sonoro um encantador abrigo, E aumentam a coleção que monto com meu melhor amigo, Que nunca tem pressa e não usa relógios, nem para marcar o tempo de bola, da aula na escola ou do disco na vitrola, Nem para não perder o que passa na televisão, quem será o último a sair da cela do pião e a que horas soltarão o balão,
Que bom ser menor de idade, Não dormir preocupado com o dia que está por vir, Fazer de cada encontro uma nova amizade, Não ter necessidade de fingir ou de mentir, Ontem meu irmão rapelou todas as figurinhas no jogo do abafa e minha boca está aguando, Elas preenchem todos os retângulos vazios no meu álbum do Rin-Tin-Tin, E comemoram com rá-tim-bum e tampinhas fazendo tlim-tlim, Com faro de labrador, Elas sentem de longe a aproximação de um invasor, Ele não vem desafiar os locais e nem desertar o lugar de onde veio, Só está fazendo incursões diplomáticas em território alheio, Ora como um pacificador entre grupos que estão tão próximos um do outro e se melindram por tão pouco, Ora como um conciliador de diferença individual, Para o benefício geral,
Que bom ser pequeno e já ter uma renda, Que cresce com o que economizo dos trocados para a merenda, E com o que meus padrinhos me dão como oferenda, Hoje vou assistir à matinê no Cine Vera e minha alma está suspirando, Ela transpira nas mãos de minha namorada, E fica vermelha de vergonha a cada entreolhada, Com um corpo astral, Ela se transporta para a tela e encena seu turno na sentinela da cabana de escoteiro no matagal, Ela revela tudo o que a maioridade não mostra, Amigos do peito e nenhum inimigo pelas costas, Juramentos por tudo o que é sagrado, E nenhuma decepção por algo que não foi honrado, Dedos mindinhos cruzados para ficar de bem, E nenhum ressentimento negado nas palavras, mas que o coração ainda retém,
Que bom que as nuvens no céu estão se dissipando, Os raios que despencam do sol estão se infiltrando, E a minha alegria está aumentando, Amanhã vou ao Acre Clube no Jardim França e meu fôlego está tinindo, Ele esconde o ar da água doce e clorada, Estufa os pulmões e libera energia vitalizada, Com braços finos, mergulha bem fundo, Para apanhar uma moeda solitária e ganhar o mundo, Ela substitui os membros superiores pelas pernas grossas, Que se empenham para manter medalhas que já são nossas, Ora nos esportes dando um salto sobre o varal, E fazendo gols na peladinha de quintal, Ora nas divagações sobre a ingenuidade desse mundo mágico criado por deus, E sobre a felicidade perdida por aqueles que não tiveram sonhos como os meus.