domingo, 18 de agosto de 2024

O FAZEDOR DE CRUZ

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98


Desesperando-se da terra, Voltou-se para Deus, E a braços com todos seus sofrimentos, Estendeu-Lhe o direito na escuridão, Deu de mão ao mundo e suas aflições, Trocaria o guarda-roupa variado como toda fortuna por um vestido único e perpétuo de salvação, Adormeceu e sonhou com o sonho do barco pesqueiro, No qual o que ia na proa não era pescador, Era mais que um carpinteiro, Que fazia cruzes para os dominadores, E parecia um feiticeiro, Porque fazia-lhe delirar com imagens de gente e criaturas que só existiriam no futuro, Como se estivesse desafiando-lhe com uma enigmática trindade, E quando acordou do segundo sonho, Estando ainda a sonhar o primeiro, De súbito viu-se em desabalada carreira, Por um solo árido, Salpicado de outeiros com escassa vegetação, Sentindo-se uma ladra maltrapilha, Tendo as mãos sujas com coisas alheias, E a consciência molhada com sangue de outrem, E atrás de si dois de seus pares da mesma laia, Sedentos para por fim aos cem mil pecados dentro de seu coração, E apesar de seus largos passos, A distância de seus algozes diminuía, Até chegar o fim da linha que surgiu à sua frente com uma colina quase intransponível, E lá estava Deus, Soprando-lhe invisível ao topo, Um cimo assustador que fez seus verdugos darem meia volta e desaparecem no infinito, Mas a pecante não conteve seu impulso, Ultrapassou um círculo externo de mulheres agachadas e vestidas de negro, E depois outro interno de soldados de pé vestidos de escarlate, Que guardavam três miseráveis pregados em cruzes, Mas sua imperdoável intromissão a um ritual do poder, Custo-lhe uma chave de braço que prostrou-lhe no chão, Seguida de uma lança que atravessou suas costas e a cravou na terra, E antes de entregar seu espírito a Deus, Esforçou-se para erguer a cabeça, Para não morrer com aqueles condenados antes de olhá-los, E estando a noventa graus de sua visão, O do meio que tinha o rosto voltado para o leste, Virou-se para ela, E apesar da face desfigurada de flagelo, Reconhecia-lhe o fazedor de cruz, Que lá do alto, Fincou seus olhos nos dela, Despregou a mão esquerda da cruz, E com prego e sangue a estendeu para ela, Em reposta às suas súplicas nas noites solitárias, E enquanto o sol já caminhava para o oeste, Uma vez rompidos os liames do ceticismo que a prendiam à materialidade, Restou-lhe insípido, Ao acordar, O excedente de sua alma sobrevivente à esperança.


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