Texto de autoria de AustMathr
Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei
9610/98
Desesperando-se da terra, Voltou-se para Deus, E a
braços com todos seus sofrimentos, Estendeu-Lhe o direito na escuridão, Deu de
mão ao mundo e suas aflições, Trocaria o guarda-roupa variado como toda fortuna
por um vestido único e perpétuo de salvação, Adormeceu e sonhou com o sonho do
barco pesqueiro, No qual o que ia na proa não era pescador, Era mais que um
carpinteiro, Que fazia cruzes para os dominadores, E parecia um feiticeiro,
Porque fazia-lhe delirar com imagens de gente e criaturas que só existiriam no
futuro, Como se estivesse desafiando-lhe com uma enigmática trindade, E quando
acordou do segundo sonho, Estando ainda a sonhar o primeiro, De súbito viu-se
em desabalada carreira, Por um solo árido, Salpicado de outeiros com escassa
vegetação, Sentindo-se uma ladra maltrapilha, Tendo as mãos sujas com coisas
alheias, E a consciência molhada com sangue de outrem, E atrás de si dois de
seus pares da mesma laia, Sedentos para por fim aos cem mil pecados dentro de
seu coração, E apesar de seus largos passos, A distância de seus algozes
diminuía, Até chegar o fim da linha que surgiu à sua frente com uma colina
quase intransponível, E lá estava Deus, Soprando-lhe invisível ao topo, Um cimo
assustador que fez seus verdugos darem meia volta e desaparecem no infinito,
Mas a pecante não conteve seu impulso, Ultrapassou um círculo externo de
mulheres agachadas e vestidas de negro, E depois outro interno de soldados de
pé vestidos de escarlate, Que guardavam três miseráveis pregados em cruzes, Mas
sua imperdoável intromissão a um ritual do poder, Custo-lhe uma chave de braço
que prostrou-lhe no chão, Seguida de uma lança que atravessou suas costas e a
cravou na terra, E antes de entregar seu espírito a Deus, Esforçou-se para
erguer a cabeça, Para não morrer com aqueles condenados antes de olhá-los, E
estando a noventa graus de sua visão, O do meio que tinha o rosto voltado para
o leste, Virou-se para ela, E apesar da face desfigurada de flagelo,
Reconhecia-lhe o fazedor de cruz, Que lá do alto, Fincou seus olhos nos dela,
Despregou a mão esquerda da cruz, E com prego e sangue a estendeu para ela, Em
reposta às suas súplicas nas noites solitárias, E enquanto o sol já caminhava
para o oeste, Uma vez rompidos os liames do ceticismo que a prendiam à
materialidade, Restou-lhe insípido, Ao acordar, O excedente de sua alma
sobrevivente à esperança.
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