sexta-feira, 8 de novembro de 2024

TALITA CUMI - HOMENAGEM ÀS MULHERES

TALITA CUMI  - HOMENAGEM AO DIA DA MULHER



 Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral
protegido pela Lei 9610/98. 

INTRODUÇÃO
 
TALITA CUMI é um texto que escrevi em 1991 para uma palestra que ministrei num Centro Espírita (CE), para um público de pouco mais de 100 pessoas. Eu não acredito em nenhum tipo de religião. Para mim deus é o universo, não como criador, mas insciente de si mesmo. Tendo lido uma quantidade enorme de livros acadêmicos sobre cristianismo, adquiridos em Londres, foi relativamente fácil entender não apenas como as histórias contidas no Novo Testamento foram escritas por diversas pessoas, mas, principalmente, como e por quê elas foram escritas. Que motivação as levaram a escrever tais histórias. Dizem que sou ateu, então pergunto: como um ateu pode dar palestras para cristãos espíritas? Vou chegar lá. Este CE fica ao lado da casa de meu irmão mais velho, e foi através dele que conheci esta instituição. Recebi um convite para conhecer este CE, lá entrei, fiz algumas amizades e passei a frequentá-lo. Logicamente, eu jamais compartilhei minhas convicções com meus amigos espiritualistas. O convidado jamais deve julgar as crenças de seu anfitrião. Eu não era apenas um curioso no espiritismo. Eu trabalhava na casa. Todos os anos eu entrava em favelas para fazer triagens de famílias que iriam receber cesta básica de alimentos todos os meses. Eu participava das distribuições, ajudava na cozinha para preparar a sopa para todos os favelados, saía para comprar ingredientes na feira e, no final do ano, na distribuição de natal, ajudava na compra de brinquedos e roupas para as crianças. Como eu estava muito bem de saúde e muito bem no meu trabalho, eu podia fazer contribuições financeiras também. Neste CE eu fiz um curso sobre a doutrina kardecista, participei de uma mesa de desobsessão durante dois anos, falava em público durante as sessões de cura, dava passe em pessoas e dava palestras, não sobre cristianismo ou sobre espiritualismo. Eu falava sobre gente famosa por sua elevada moral como Sócrates, Platão, Pitágoras, Joana D’Arc, Gandhi e muitas outras. Os dirigentes da casa me escalavam para dar uma palestra pública a cada 4, 5 ou 6 semanas, e sempre me avisavam com antecedência. Em meados de Fevereiro de 1991 fui escalado para dar uma palestra no dia 8 de Março, uma sexta-feira, dia de palestra pública. Enquanto pensava num tema, me dei conta que no dia 8 de Março se comemorava o Dia Internacional Da Mulher. Então pensei: Por que não fazer uma homenagem à mulher? Ela é sempre descriminada, tratada como objeto, como um mero animal de procriação e até assassinada por motivos torpes, como ciúmes. Como escreveu John Lennon: ‘A mulher é o negro do mundo, a escrava dos escravos’. Eu já tinha dado uma palestra sobre Joana D’Arc e precisava encontrar outra mulher de valor. Eis que um passarinho veio até meu ouvido e sussurrou: ‘Maria Madalena’. O quê? Uma mulher mítica, que os evangelhos até consideram uma prostituta? Seu passarinho, o senhor está querendo denegrir a imagem da mulher? ‘Não’, diz o passarinho, ‘conte a verdade’.  'Qual verdade?'  E o bichinho de penas, um sanhaço, não desistiu. ‘Esqueça seu ceticismo, pelo menos uma vez. Conte SUA verdade, SUA história sobre ela, lembrando que foi uma mulher quem escreveu o primeiro evangelho em Roma, aquela mesma que disse: ‘’Com toda a certeza Eu vos asseguro: onde quer que o Evangelho for pregado, por todo o mundo, será também proclamada a obra que esta mulher realizou, e isso para que ela seja sempre lembrada”. Você já parou para pensar o que esse público heterogêneo vem fazer naquele CE? Alguns vêm para passear, para arrumar um motivo para sair de casa à noite, mas muitos lá vão por necessidade, precisando de palavras de consolo, e não de seus conhecimentos. Pense bem’. O danado do azulão tinha lá suas razões. Está bem, passarinho, vai ser a primeira e a última vez que abro mão das minhas convicções. Levei uma semana para escrever este texto e mais duas para decorá-lo, dentro do carro a caminho e voltando do trabalho. Devo ter lido o texto em voz alta mais de 20 vezes, até que chegasse perto da perfeição, sem esquecer uma palavra sequer, para poder falar por uma hora seguida sem vacilar um único momento. Logicamente, para muitos o texto é muito floreado, brega e piegas, mas as mulheres adoraram. Foi como se eu tivesse incorporado o espírito de Maria Madalena e ela falasse ao público através de mim. Alguns homens, inclusive dirigentes da casa, torceram o nariz. Pois é, até mesmo num lugar onde se pretende fazer caridade há machistas e misóginos. A palestra inteira está publicada abaixo.  Postei abaixo também trailers e clips do ótimo filme MARIA MADALENA, estrelada por Rooney Mara, e Joaquin Phoenix no papel de Jesus.  Para quem estiver interessado neste assunto e sabe ler em inglês, recomendo o livro acadêmico IN MEMORY OF HER – A FEMINIST THEOLOGICAL RECONSTRUCTION OF CHRISTIAN ORIGINS,  de Elizabeth Schuller Fiorenza. Obs.: Eu não me gabo de ter feito caridade quando pude ou, ao contrário dos preceitos cristãos, eu deixo minha mão esquerda saber o que a direita faz. E não tenho vergonha de dizer que desde 2020 vivo de favores, principalmente de pessoas que nem conheço, e em 2021 tive que recorrer a Centros Espíritas para receber cestas básicas para minha família não passar fome.

O homem diz que somos todos pecadores e que devemos pagar por nossos pecados que nos marcam desde a nossa concepção. Os espiritualistas, também, se consideram todos pecadores, isto é, sempre que reencarnam significa que há algo a resgatar, dívidas de vidas passadas para pagar, carmas que precisam ser resolvidos ou dissolvidos ou, na melhor das hipóteses, uma nova lição a aprender e que contribua para o seu progresso espiritual. Seja qual for a religião, parece que os homens, de uma maneira geral, talvez ainda ressentidos como Tertuliano com o meu pecado original, ou talvez inspirados nos auspícios da pecadora redimida, decidiram que eu devo fazer dois resgates: um por ser pecadora como todos os seres humanos, e outro simplesmente por ser mulher.

O homem tem medo de lidar com seu lado sombrio porque o despertar da realidade podre e maléfica que ele é gera sentimentos de culpa e tensão e exige a difícil tarefa espiritual e psicológica que é a busca de autoconhecimento através de uma reforma íntima. A maneira mais comum com a qual os homens tentam lidar com o problema de suas imperfeições é simplesmente negar a sua existência, o que acaba deixando-os ainda piores, pois a tendência inconsciente é projetar essas imperfeições nos outros, vendo neles algo que realmente é uma parte deles mesmos. Assim, fazendo as outras pessoas carregarem para eles a projeção de seu lado sombrio, o conjunto de todos os seus defeitos que eles odeiam, eles reagem em relação a estas outras pessoas de um modo bem condizente, ou seja: passam a odiá-las, teme-las e descrimina-las. A projeção das imperfeições nas outras pessoas se dá a nível individual e coletivo e é a origem de toda a espécie de preconceitos, segregações e discriminações que existem no mundo. Neste processo, os gentios carregaram as projeções dos judeus da Palestina do tempo de Jesus. Da mesma forma, mais tarde, estes mesmos judeus carregaram as projeções dos cristãos e estes carregavam as projeções dos romanos dentro de arenas entregues às feras. Durante cerca de mil anos de trevas que caracterizaram a idade média, pessoas iluminadas, grandes inventores, gênios de todas as artes e ciências e sábios com ideias renovadoras carregaram a projeção da igreja cristã triunfante que, através da santa inquisição, levou um sem número de criaturas para as fogueiras em nome de Jesus. Na idade moderna, iniciada com os grandes descobrimentos de novas terras, os indígenas das Américas foram, imperdoavelmente, dizimados, carregando todas as projeções dos colonizadores britânicos, espanhóis e portugueses. Durante a Reforma e o Iluminismo os católicos carregaram as projeções dos protestantes e vice-versa. Os negros africanos carregaram as projeções dos brancos e, apesar de a escravidão ter sido oficialmente abolida no final do século 19, a raça negra continua carregando a projeção da raça branca. No século passado, a raça judia carregou as projeções dos nazistas. E eu sempre carreguei a projeção do homem.

O Deus do judaísmo e dos cristãos gostou desta ideia chamada escravidão e resolveu institui-la nas suas leis, endossando, no décimo mandamento, a exploração do homem pelo homem, e reservando à mulher uma posição muito especial junto aos bens do sexo forte: Não desejareis a casa de vosso próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu asno, nem nenhuma de todas as coisas que lhe pertencem. Deus, no entanto, justo como ele é, fez uma ressalva: Ele não permite aos homens cobiçarem as escravas dos outros, mas apenas suas próprias escravas! Os judeus copiaram muito dos costumes, da religião e até da magia egípcias, mas eles não se interessaram por algumas preciosidades desta fantástica civilização que foi a primeira na história da humanidade a pregar o dogma da existência de um Deus único, como, por exemplo, esta tão sublime: Deus é Pai e Mãe, é o Pai de todos os Pais e a Mãe de todas as Mães. Os egípcios estavam muito mais adiantados do que outras civilizações ricas da mesma época, mantendo usos e costumes semelhantes aos da moderna Europa. E o respeito para com as mulheres era tão grande que elas tinham ascendência sobre os homens. Não era uma mera influência que as mulheres possuíam e que frequentemente adquiriam, em caráter exclusivo, nos países mais arbitrários do oriente. E também não era uma importância política dada a elas através de acordos individuais. Era um direito reconhecido por lei, tanto na vida pública como na vida privada. Os egípcios sabiam que se as mulheres não fossem tratadas com respeito e não tivessem autonomia para exercerem uma influência na sociedade egípcia, o nível da opinião pública logo declinaria e os costumes e a moralidade dos homens passariam por sofrimentos. E ao reconhecer isto, eles delegavam às mulheres as mais respeitáveis incumbências diante da comunidade.

No tempo de vocês, o músico John Lennon, assassinado em 1980, ao reforçar o movimento feminista para provar que a mulher ainda tinha muitas conquistas a serem alcançadas, admitiu, através de suas canções, a brutalidade do homem dizendo: Já não sou tão cruel com a minha esposa e já não bato nela com fazia antes. Eu estou melhorando. Ele reconheceu o mal trato dado às mulheres ao escrever: A mulher é o negro do mundo, o escravo dos escravos. É claro que nos dias de vocês, em muitos países, a situação da mulher é melhor, ou talvez fosse mais prudente dizer menos pior do que já foi. Vocês já tiveram uma mulher governando uma nação de primeiro mundo e que já deteve a hegemonia mundial. Tiveram, também, uma mulher eleita presidente de uma nação muçulmana, onde a mulher, ainda, é considerada um objeto de propriedade do homem. Até no país desta língua latina e do quinto dos infernos vocês já têm várias mulheres assumindo cargos políticos do primeiro escalão da hierarquia. Em vários países, vocês já têm exemplos de mulheres assumindo cargos de liderança e dividindo poderes e direitos com os homens, embora saibam que ainda falta muita coisa a ser feita para a mulher ocupar o lugar que merece e é seu na sociedade. No campo religioso, embora recentemente as mulheres tenham sido ordenadas em algumas poucas denominações, seus papeis como sacerdotisas ou pastoras permanecem secundários em relação ao papel dos homens que continuam detendo as posições de maior autoridade nas igrejas. O papa só pode ser homem. E a liturgia de todas as religiões, ainda, se refere a Deus como pai e nunca como mãe. Tudo isso é uma herança que a cristandade recebeu de Paulo de Tarso, o fundador do cristianismo e seu bordão: mulher não tem vez.

Se todos meus ensinamentos a Jesus fossem seguidos na prática a condição da mulher nos dias de vocês seria bem diferente, como de resto a moralidade na humanidade teria alcançado um nível bem superior. Os misóginos de seus dias aprenderam a maltratar a mulher com outros misóginos antigos, como Tertuliano, que acreditavam que Deus criou o homem à sua imagem para depois afirmarem nas epístolas do novo testamento que a honra da criação das mulheres era, ao contrário, reservada apenas ao homem, inferindo que era do homem, e não de Deus, que a mulher, criatura secundária, era reflexo. Muitos misóginos andaram resgatando ideias retrógradas como as de Agostinho: Toda a iniciativa é masculina. Ou as de Aristóteles: A mulher é um macho que não deu certo e só pode viver na subordinação. A minha intervenção na mitologia cristã fez Jesus erguer a bandeira da emancipação da mulher, porque o filho veio para corrigir os erros do pai. O que vocês esperam de um homem que transforma a água em vinho, anunciando que todos devem ser iguais perante a sociedade: os pobres, os destituídos, os enfermos, os inválidos, os anciões, os estropiados, os lunáticos, os possessos; fazendo-se acompanhar por todas as espécies de pessoas: pecadores, cobradores de imposto, ladrões, assassinos, solteiros (as), casados (as), desquitados (as) e concubinados (as)? O que vocês esperam de alguém que recomenda a amar o nosso próximo, mas também nossos inimigos, nos alertando para nos reconciliarmos com nossos adversários o mais rápido possível? Enfim, o que vocês podem esperar da pessoa que lutou contra todas as estruturas opressivas, tanto morais como políticas, contra a introversão do judaísmo, dando, inclusive, aos fariseus e saduceus a chance de abrir a religião judaica para a sociedade greco-romana e permitindo a todos os chamados pagãos participarem, indistintamente, das mudanças estruturais que ele inaugurou numa época difícil, numa região turbulenta onde várias facções paramilitares disputavam o seu carisma enquanto ele se apartava de todos os sistemas políticos e perseverou, até a morte, na luta pela liberdade e igualdade entre os homens? Eu ajudei Jesus a acabar com a discriminação contra a mulher e coloca-la em condições de igualdade com o homem. Os próprios evangelhos canônicos da mitologia cristã, patrulhados pela igreja dominadora, dão pistas de que Jesus agiu em favor da mulher mais do que em favor do homem.

No meu tempo, mulher não participava da vida pública e tinha que ter as virtudes da heroína dos dias de vocês: ser boa mãe, boa esposa e boa dona de casa. Mulher na rua só com o rosto coberto. Diante dela se impunha um silêncio prudente, como prescreviam os rabinos: Aquele que conversa demasiadamente com mulher atrai o mal, negligencia os estudos das sagradas escrituras e acaba no inferno! Livres de uma vida em reclusão ficavam somente as princesas dos palácios e as mulheres do campo que tinham que dar duro no trabalho braçal da lavoura. Em tempo de guerra ou paz, vida ao ar livre era privilégio só dos homens. Mulheres ficavam só dentro de casa: as moças passavam o dia inteiro confinadas num cômodo escondido da casa, sem acesso a janelas, e as adultas tinham a porta externa da casa como fronteira com o mundo exterior. Entre os 12 e 14 anos, a menina passava do poder paterno para o marital e, para ser a propriedade de um novo dono, tinha, ainda, que pagar um imposto alto chamado dote. Mulher raramente podia pedir divórcio. Já os homens precisavam apenas alegar uma falta de pudor ou um simples temperamento desagradável da esposa, a vossa atual incompatibilidade de gênios. Homem pego em adultério só ficava meio envergonhado e constrangido com uma branda admoestação. Mulher pega em adultério era sumariamente condenada à morte por apedrejamento. Em caso de disputas judiciais, o testemunho de uma mulher jamais era aceito por causa da leviandade e imprudência de seu sexo. Portanto, em qualquer litígio, só o homem tinha razão. A mulher tinha uma impureza contagiosa: durante a menstruação e em caso de hemorragia ela deveria ficar afastada do convívio familiar por algumas semanas. Depois de um parto, quando a perda de sangue é maior e o perigo de contágio mais sério, o seu isolamento deveria durar 40 dias e, se a mulher desse a luz a uma menina, a impureza era considerada ameaçadora demais, portanto o isolamento era dobrado para 80 dias. As mulheres não precisavam fazer peregrinações religiosas a Jerusalém e não podiam participar das orações diárias, um direito que era exclusivo dos homens que costumavam erguer as mãos para o céu e rezar: Bendito seja Deus que não me fez nascer pagão nem mulher! As mulheres estavam proibidas de ler as sagradas escrituras no lar e nas sinagogas e quando apareciam nas assembleias religiosas não faziam parte do quorum necessário para a oração pública e eram isoladas numa tribuna no fundo do edifício para que a congregação não se sentisse desrespeitada com a presença delas. Até mesmo o brilho de notáveis mulheres da mitologia judaica como Sara, Raquel, Rebeca, Miriam, Lia, Débora, Judite, Éster e Susana foi ofuscado pela brutalidade do julgamento do famoso historiador contemporâneo de Jesus, Flavio Josefo, que sintetizou o estigma da mulher com estas palavras: Diz a lei que a mulher é inferior ao homem em todas as coisas. Por isso ela deve obedecer, não para ser violentada, mas para ser comandada porque foi ao homem que Deus deu o poder!

Apesar destas rigorosas restrições impostas pelo judaísmo, eu fiz com que a relação de Jesus com as mulheres contivesse um liberalismo espontâneo que desprezava os costumes puritanos e desafiava as convenções falidas num tempo e numa região onde os sexos opostos não podiam se misturar socialmente. O autor anônimo de um dos evangelhos e que recebeu o apelido de Lucas relata: Os doze acompanhavam Jesus assim como mulheres que tinham sido curadas de espíritos e doenças: Maria Madalena, da qual tinham saído sete demônios, Joana, a mulher de Cusa, o administrador de Herodes, Susana e várias outras que o assistiam com seus bens. Como se nota, o grupo de Jesus era formado por homens e mulheres e a presença maciça delas prova que Jesus não tinha nenhuma intenção de formar um movimento paramilitar contra os romanos. Há mulheres solteiras e casadas e são elas que sustentam o grupo com os bens materiais, mas elas não estão com Jesus só para prover os meios de subsistência. Jesus delega a elas poderes para comandar, aproveitando não somente a fibra, mas também a ternura feminina para acalmar o ânimo mais exaltado dos homens e manter a paz que era o seu lema principal. Jesus montou um grupo de missionários exóticos e excêntricos aos olhos dos outros, porque era composto de homens e mulheres que partiam com ele pelos caminhos, desprezando os costumes da época. A autoridade das mulheres é anunciada, simbolicamente, quando Jesus ressuscita a filha de Jairo e profere palavras que têm um significado que passa desapercebido de todos: Talita Cumi, diz Jesus, uma das raras frases mantidas no dialeto aramaico original nos evangelhos que foram redigidos em grego. A tradução é Levanta-te Menina! A filha de Jairo está no início da idade adulta, quando passará a ser chamada de mulher e poderá se preparar para casar. O significado mais profundo por detrás destas palavras é: Levanta-te Menina, torne-se uma mulher e atinja a emancipação pois eu lhe reservo um papel muito importante na minha atividade missionária!

Estas palavras foram inscritas nos distintivos das escolas e faculdades da Europa do século 19 e foram adotadas como uma espécie de grito de guerra do primeiro movimento de emancipação da mulher na história. A força e o significado destas palavras podem ser mais bem entendidos em contraste com um detalhe do episódio da multiplicação dos pães que também costuma passar desapercebido de vocês. No meio daquela multidão havia gente de todas as facções políticas e ordens religiosas, e aquele evangelista anônimo que recebeu o apelido de Mateus diz que foram alimentadas cerca de 5.000 pessoas, fora as crianças e mulheres e, acreditem se quiser, lá estavam, também, mulheres da alta nobreza romana. O apóstolo perguntou a Jesus como eles iriam alimentar todos aqueles homens. Notem que ele se refere aos homens e não a multidão e Jesus pediu, então, para mandar a multidão se sentar, mas não foi só isso. Ele mandou um recado enérgico aos homens em especial: Mandem os homens sentarem, mandem os Fariseus, os Saduceus e os Essênios sentarem. Mandem Simão e seus zelotes revolucionários sentarem. Mande Judas Iscariotes e seu bando de articuladores sedentos de agitação política e confrontação religiosa sentarem! Sutilmente, e de maneira quase imperceptível, os evangelistas deixaram registrados nos evangelhos, em capítulos separados que não guardam uma relação direta entre eles, a mensagem de Jesus para os homens e para as mulheres, através da antítese destas frases: Sentem-se Homens! Levanta-te Menina!

Além deste anúncio simbólico, vocês podem constatar a autoridade delegada às mulheres no sentido mais prático, prestando atenção nas mulheres mais íntimas de Jesus. Há um detalhe nelas que chega a vos intrigar: todas se chamam Maria: Maria, mãe de Jesus, Maria, irmã da mãe de Jesus, Maria, Irmã de Marta, Maria mãe de Tiago, Maria, Esposa de Cleopas, o administrador de Herodes e Maria Madalena. Os evangelhos apócrifos, que foram banidos pela igreja por serem considerados hereges, também vos ajudam com seu testemunho. O evangelho de Felipe diz: Eram três as que caminhavam constantemente com Jesus: Maria, sua mãe, Maria, a irmã de sua mãe e Maria, sua companheira. Naquela época, Maria já era um nome comum como em vossos dias. Vocês pensam que é mera coincidência o fato de que justamente as mulheres mais próximas de Jesus se chamassem Maria. O filósofo judeu Fílon da cidade de Alexandria, contemporâneo de Flavio Josefo, vos dá uma pista: toda vez que se pretendia dar autoridade a uma mulher, ela passava a ser chamada de Miriam porque esta mulher, de acordo com a lenda judaica, era a irmã de Moisés, uma sacerdotisa que tinha poderes até sobre os homens. Nos evangelhos escritos em grego, até os nomes próprios eram traduzidos. Cefas em aramaico significa rocha e traduzido para o grego torna-se Pedro. Joshua é um nome judaico que é traduzido como Josué e em grego torna-se Jesus. Messias em hebraico significa o ungido que em grego se diz Cristo, particípio passado do verbo crismar. Miriam traduzido para o grego vira Maria. Essas Marias são sempre mulheres privilegiadas ao lado de Jesus e Maria Madalena, em particular, mais ainda. Nos evangelhos apócrifos, a mulher de grande beleza e capacidade de amar não é mostrada como a prostituta que se arrependeu depois de conhecer Jesus. Maria Madalena é vista como uma líder ativa que recebeu instruções especiais, é elogiada mais que os outros apóstolos, fala como mulher de grande sabedoria, provoca rivalidade e ciúmes entre os homens e Pedro, em particular, se irrita com ela e tem medo que sua liderança no grupo seja ameaçada. O evangelho apócrifo de Felipe diz: Pedro exigia que Jesus silenciasse Maria Madalena mas foi censurado por Jesus imediatamente e a própria Maria admitiu a Jesus que ela nem ousava falar com Pedro porque ele tinha aversão às mulheres e lhe causava medo e hesitação e Jesus respondeu: Quem quer que o espírito tenha inspirado é devidamente autorizado a falar, seja num corpo de homem ou de mulher. Nesta mesma passagem, Mateus arremata a censura de Jesus a Pedro dizendo-lhe: Pedro, você sempre foi exaltado e se Jesus resolveu dignificar Maria Madalena, quem é você para rejeita-la? Maria não é simplesmente um nome. Maria é um título!

Eu fiz Jesus promover uma verdadeira subversão da hierarquia tradicional e injusta, favorecendo os mais desprezados entre os quais estavam incluídas as mulheres. Essa reviravolta social aparece nas palavras enérgicas de Jesus aos sumos-sacerdotes da classe governante: Os cobradores de impostos e as prostitutas chegarão ao reino dos céus antes de vocês! Jesus, no entanto, sempre se referia àquele reino que está dentro de vocês. Esta máxima de Jesus está exemplificada no episódio da unção de perfume por uma pecadora, quando Jesus escandaliza seus anfitriões fariseus com o perdão da mulher que pecou, mas demonstrou amor e, também, no caso da mulher que é elogiada por Jesus por ter derramado perfume em sua cabeça. Eu fiz Jesus transpor as barreiras preconceituosas contra as mulheres nas condições mais surpreendentes como no caso daquela abordagem desconcertante de uma samaritana, cismática, separada dos judeus por motivos religiosos e raciais, cinco vezes casada e vivendo em concubinagem. Jesus rompe aquela absurda tradição do silêncio imposto perante uma mulher e, contrariando todos os preconceitos rabínicos, ele conversa demoradamente com a samaritana, com aquela espiritualidade da descontração e de sua identificação com o sexo feminino. O desfecho da conversa, como vos relatam os evangelistas, é fascinante: E muitos samaritanos daquela cidade acreditam nele, por causa da palavra daquela mulher que dava testemunho, dizendo que Jesus sabia de tudo que se passava com ela! Jesus consegue, com minha ascendência moral, demolir mais um tabu: testemunhos de mulher nunca eram aceitos, mas eu ajudei Jesus a conquistar a simpatia e a confiança dos samaritanos através do testemunho de uma mulher.

Jesus aprendeu comigo a fazer o jogo da intimidade, da amizade pura e desinteressada, sem segundas intenções. A fazer o jogo das coisas que nascem a partir do prazer e do desejo de estar em companhia de pessoas e mulheres, em especial, que são tratadas com amor e ternura, de igual para igual com os homens, e não como uma subespécie, o que irritava profundamente os machistas da época. Jesus não defende a lei que a mulher surpreendida em adultério deva ser apedrejada. O perdão concedido à mulher adúltera e a desfeita de seus acusadores masculinos abalam o orgulho e o complexo de superioridade dos homens. A outra tradição absurda da mácula da impureza contagiosa da mulher é totalmente ultrapassada quando a mulher sofrendo de hemorragia obtém sua cura pela fé ao tocar o manto de Jesus. Jesus tem, também, bastante carinho com as mulheres mais despojadas, as viúvas que a lei protegia: ele devolve a vida do filho único de viúva de Naim e, ao invés dos ricos colocando as suas oferendas no tesouro do templo, é a pobre viúva das moedinhas que ele louva. Todas estas mulheres saem do confinamento de suas casas e acompanham Jesus da Galileia a Jerusalém, com satisfação, com os rostos descobertos, ganhando cada vez mais confiança ao lado de Jesus com quem, pela primeira vez, elas podem orar. Estas mulheres, aparentemente, não receberam um apelo específico e nem foram enviadas em missão como os doze apóstolos, mas acaba até fazendo sentido a ideia de que estas mulheres se tornaram mais próximas de Jesus do que os próprios apóstolos quando vocês analisarem o que aconteceu durante o flagelo de Jesus: os homens simplesmente desapareceram e, mais uma vez, entram em cena a fibra, a fidelidade e a solidariedade da mulher: elas acompanham Jesus na via dolorosa à distância, por imposição dos romanos, conforme relatam os evangelistas. Uma delas se aproxima de Jesus e lhe enxuga o rosto. Quatro 'Marias' comparecerem junto à cruz e lá permanecem sem arredar o pé até a hora derradeira. Depois elas se incubem de preparar o óleo e os bálsamos para ungir o cadáver para o sepultamento e, finalmente, até mesmo nas lendas da ressurreição, contrariando um costume judeu milenar, é uma mulher, Maria Madalena, que testemunha a ressurreição de Jesus, encarregando-se de anuncia-la aos discípulos masculinos que, com exceção de João que compareceu ao calvário, mantiveram-se distantes durante todo o suplício de Jesus, inclusive negando conhece-lo como fez Pedro.

Após a morte de Jesus, seus seguidores pareciam dar mostras de que minhas recomendações estavam sendo seguidas. Nos atos dos apóstolos, vocês encontram estas palavras: Não há judeu, nem gentio, nem escravo, nem homem livre; não há macho, nem fêmea, todos são iguais perante Jesus Cristo. E de fato, os primeiros núcleos de fiéis que se formam são compostos de muitas mulheres, inclusive a mãe de Jesus, e elas são sempre saudadas e elogiadas pelo espírito de colaboração e liderança, sem nenhum vínculo com qualquer espécie de função subalterna ou tarefa reservada, exclusivamente, ao meio feminino. No entanto, lamentavelmente, começam a surgir resistências internas contra o papel e a função das mulheres, provocando lutas inglórias dentro das comunidades e já numa das epístolas vocês podem ler as seguintes palavras de indignação: Eu não sou livre? Não sou um apóstolo? Nós todos não temos o direito de levar conosco uma mulher, uma irmã como faziam os outros apóstolos e os irmãos de Jesus e Pedro! (naquela época, companheira conjugal era chamada de irmã, à maneira dos meus ancestrais egípcios). Infelizmente, os misóginos são em maior número e triunfam, e eles vestem o cristianismo com a roupagem antiga do judaísmo com todos os seus dogmas e preconceitos e, já nas cartas dos apóstolos, vocês encontram: A mulher deve ficar calada na igreja, pois ela não tem permissão para falar. Ela deve permanecer submissa ao homem como ordena a lei: se ela quiser aprender alguma coisa, deve perguntar ao marido em casa. Assim como cristo é a cabeça da igreja, o homem é a cabeça da mulher. Ela não pode ensinar nada ao homem e nem ter autoridade sobre ele. Ela é facilmente seduzida e cai em transgressão. Portanto, ela só será salva na maternidade e na condição de se preservar com modéstia na fé, na caridade e na simplicidade. Esta última afirmação deve fazer vocês perguntarem-se o que aconteceu com a salvação através de Cristo que ficou reservada somente aos homens. Nem ao menos vos é dito o que acontece às mulheres que são incapazes, por uma razão ou outra, de terem filhos. Pela vida devotada que os homens obrigam a mulher a viver, obviamente, ela perde o direito de extravasar sua dor, sendo obrigada a ter fé, caridade e santidade constantes. E o que uma mulher faz quando fica zangada, ressentida, frustrada, irritada ou apenas exausta de dar o melhor de si mesma? Quem teve a responsabilidade pela criação de crianças pequenas sabe que é difícil estar sempre sendo um modelo de santidade e que não é possível aguentar o estresse diante da rotina de uma dona de casa, do cotidiano da maternidade e de um casamento falido.

Jesus entendia, perfeitamente, estes questionamentos indignados das mulheres, mas somente com ele, Jesus, a mulher daqueles tempos tinha liberdade de falar sobre estas amarguras abertamente. Quando Jesus está na casa de Marta, Maria, sua irmã, se põe a conversar com Jesus e Marta, então, reclama com Jesus de Maria por ela não estar ajudando-a nos afazeres de casa. Um judeu qualquer teria, imediatamente, ordenado a Maria para se por a trabalhar. Mas Jesus não era qualquer judeu, se é que ele era realmente judeu, e disse: Marta, você anda muito inquieta e se perturba com os afazeres de casa. Entretanto só uma coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada. Maria havia deixado de lado as tarefas cotidianas da mulher dona de casa por uns momentos para conversar com um homem sobre coisas que são mais importantes. Afinal, Jesus tinha coisas mais importantes para dizer às mulheres. Antes de morrer, parece que Jesus já pressentia que tudo o que ele quis fazer pelas mulheres seria abolido pelos seus próprios seguidores quando ele consola as mulheres dizendo: Mulher, não chore por mim, mas pelos seus filhos! Ele quis dizer Chore pelas gerações futuras porque você não imagina o que estar por vir. Ele profetizou a santa inquisição.

Eu ensinei Jesus a transcender o pensamento coletivo de sua época e os que vieram depois dele não conseguiram alcançar a consciência mais elevada que eu lhes dei e sempre permaneceram num nível inferior. É por isso que, após as bênçãos dos quatro evangelhos, o novo testamento termina com o livro Apocalipse, mostrando uma dualidade metafísica entre Deus e Satã, colocando Deus do lado do homem e identificando Satã com o sexo feminino. Com todo o respeito que se deve ter com todas as religiões do mundo, peço licença para dizer que seria uma covardia fazer qualquer crítica em relação ao tratamento dado às mulheres pelas religiões não cristãs depois da civilização egípcia da qual descendo porque nenhuma delas teve um líder que falasse do amor ao próximo e na igualdade entre homens e mulheres e entre todos os seres humanos como tiveram os fundadores da religião cristã, por isso, a parcela de responsabilidade dos cristãos é maior do que qualquer outra religião e o cristianismo acaba sendo alvo de mais críticas do que as outras religiões justamente porque ele se desenvolveu em torno da pessoa que teve ao seu lado uma mulher que forneceu-lhe uma receita cujos ingredientes principais, o amor, a justiça, a caridade e a igualdade entre os homens resistem e sobrevivem a todos os tipos de desvios e deturpações, tornando-se imortal e eterna. É uma receita sempre atual, que pode ser utilizada intacta, na sua fórmula original, em qualquer época e também de uma maneira mais proveitosa como vem fazendo a ciência nos seus recentes esforços para descobrir quem eu sou.

O inventor desta receita é uma pessoa que aprendeu comigo a não ter nenhum compromisso com as instituições humanas transitórias e frágeis, é uma pessoa que debate sobre o relacionamento de uma mulher com seus cinco maridos, mas que condena mais o adultério do caráter e do coração do que o adultério da carne. Uma pessoa que facilmente pode prescindir dos laços matrimoniais e, se quisesse, poderia até olhar para uma mulher como objeto de luxúria, mas é tão humano, no sentido literal da palavra, que entende e respeita a sensualidade feminina. Jesus não teme a companhia da mulher, nem de sua afetividade e nem dos sentimentos que ela desperta no homem. Ele se permite todo o tipo de relacionamento com a mulher, desde encontros singelos e cordiais até as amizades mais íntimas e comprometidas. Ele não se esquiva da intimidade feminina nem das demonstrações de amor e afeto que ela expressa.

Jesus é aquela pessoa que um dia vai a Bethânia, entra na casa de Lázaro, inclina-se no repouso das almofadas, com os pés para trás, prepara-se para a ceia em companhia de muitas pessoas que se apressam em recostar-se ao seu lado. Eu entro no recinto, carregando um jarro de alabastro, cheio de nardo, o perfume mais precioso e mais caro, feito de uma planta da Índia. Eu quebro o jarro e derramo todo o perfume na cabeça de Jesus e a casa inteira fica impregnada com o aroma do nardo exalado. Em seguida, num gesto considerado indecente para uma mulher daquela época, eu solto os meus cabelos e com eles enxugo os pés de Jesus. Todos os presentes na casa e Judas, em particular, protestam contra aquela minha atitude incomum, desperdiçando um perfume tão valioso, num gesto irresponsável e fútil. Judas alega que o perfume vale 300 denários e poderia ser usado para ajudar os pobres. Jesus adverte a todos que minha ação foi uma expressão do meu respeito por ele do tanto que ele aprendeu comigo, por isso ele faz objeções às críticas dirigidas a mim que pudessem envergonha-me por causa da minha autenticidade e destemor.

Trezentos denários eram muito dinheiro. Era o salário de quase um ano de trabalho, considerando-se que, na época, o salário de um dia era um denário. O que estaria acontecendo? Será que Jesus estava subvertendo a tradição de mais uma instituição humana passageira e injusta e acabando com a obrigação da mulher de pagar um dote para se casar? Será que eu fiquei tão feliz com algum tipo de iniciativa de Jesus e resolvi comemorar, despejando todo aquele valioso perfume sobre ele? A igreja e muitas pessoas religiosas envergonham-se disso e, certamente, reprovam, até com indignação, este tipo de especulação, mesmo que ela possa ser corroborada por algum tipo de referência ao antigo testamento. Eu lhes digo isso porque, como vocês sabem, os evangelistas recorriam, constantemente, a passagens do velho testamento para realçar a importância de alguma pessoa próxima de Jesus ou de algum acontecimento importante em sua vida. Frases e expressões até mesmo das bem-aventuranças foram copiadas do velho testamento: Os mansos herdarão a terra, Os que choram serão consolados, Os puros de coração, Os pobres de espírito foram extraídos do livro de Isaías e dos Salmos. E no episódio de Jesus na casa de Lázaro? Será que há alguma referência clara a alguma passagem do velho testamento?

Num dos vários livros do velho testamento, chamado o cântico dos cânticos, há uma introdução feita pela igreja no qual ela se preocupa em fazer uma advertência ao leitor: Apesar do tema amoroso, a linguagem desses poemas é sempre elevada e nobre e não tem nada de sensual, embora empregue certas expressões orientais que não estão muito de acordo com o nosso gosto. Só as almas já corrompidas poderão encontrar nestes poemas, objeto de escândalo. Este livro contém a canção de Salomão, que é uma liturgia matrimonial da dinastia do rei David, cantada num belo coro de vozes como acompanhamento das cerimônias de casamento. Nos versículos 11, 12 e 13 do capítulo 1, a noiva recita as seguintes palavras: Enquanto todos os presentes se aglomeravam em torno do rei, encostado no repouso das almofadas, o meu nardo exalou o seu perfume pois meu bem-amado é para mim como uma bolsa de mirra que repousa entre os meus seios.

Dizem os espiritualistas que neste planeta é muito difícil alguém alcançar a estrada que leva a verdadeira integridade moral sem encarnar como mulher, pois a mulher, mais do que o homem, sabe se resignar, fazer sacrifícios, tem mais capacidade de amar e perdoar e tem a coragem de dar sua própria vida para salvar a vida de um filho. Portanto, os encarnados como homens precisam se mexer, pois parece que eles têm um longo caminho a percorrer. A discussão com Judas e outros presentes na casa de Lázaro sobre a minha atitude foi encerrada com estas palavras de Jesus: Onde quer que sejam pregadas estas boas novas, que será em todo o mundo, será também em memória desta mulher pelo que ela fez aqui hoje. Portanto, nos vossos dias, não se deve recordar das boas novas de Jesus apenas como, habitualmente, se faz em todas as religiões cristãs, mas também prestando uma homenagem a todas as mulheres, como eu ensinei a Jesus, pois sempre que as boas novas forem lembradas, eu também devo ser lembrada por tudo que fiz por Jesus e seu pai não fez: a exaltação e a dignificação da mulher ao lado dos homens.

Quem sou eu? Eu dou a luz na dor e na angústia. Finjo que sofro a atração do meu marido e deixo-o pensar que ele é o meu senhor. Eu ignoro a Eva que sou. Não me importo por estar ainda viva, neste mundo, a sentença de Deus contra o meu sexo. Imponho-me como uma ousada. Sou a porta do diabo. Enganei o único quem Belzebu não conseguiu seduzir. Fui eu quem facilmente venceu o homem que é a imagem de Deus. Foi minha recompensa, a morte, que causou a morte do próprio filho de Deus. E mesmo assim, ainda cubro-me toda de ornamentos e túnicas de pele. Não é mesmo, Tertuliano?

Com toda a certeza Eu vos asseguro: onde quer que o Evangelho for pregado, por todo o mundo, será também proclamada a obra que esta mulher realizou, e isso para que ela seja sempre lembrada


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