quinta-feira, 19 de setembro de 2024

AN EYE ON THE BLINK OF AN EYE


Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Piso em ovos sem medo de me quebrar, Atravesso o braseiro sem medo de me queimar, Procuro o leão do dia para matar, E mais coelhos para meu único cajado acertar, Ando sobre águas sem medo de submergir, Em brancas nuvens sem medo de cair, Desafio a corda que foi roída pelo bamba, Desafio aquela talinga que só se arrisca com uma caçamba, Como o pão do diabo sem medo de me amassar, Como o pão com banha sem medo de me apaixonar, Tragam-me o cachorro grande perdido no mato para brigar, Tragam-me o cachorro que se mata de tanto gritar, Não desisto nem que a vaca tussa, Nem que a galinha fique dentuça, Cutuco a onça com vara verde e faço-a tremer, Viro uma onça a curta distância e ponho-a para correr, Já que estou no inferno nada me custa dar um abraço no capeta, Se um dia chegar ao céu nada me custará dar a deus uma gorjeta.

VOCÊ É UMA SEM NOÇÃO

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Nasço todos os dias, Realizada com tudo que sonho e não tenho, Não preciso dar o dito por não dito, Nem partir, Sempre chego, Mas chega desta eloquência fragmentada, Enganando-se de sofisticação, Inteligência mal resolvida, Como marida mal comida, Não sou homem, Mas solto minha franga, Não sou lésbica, Mas amulhero qualquer sapatão, Foi da negritude que bateu na cabeça boreal, E rebateu no pé austral, Desde criança, Que minha breguice infamemente salobra, Com uns longes cor de quinto dos infernos, Verde-amarela algumas vezes, Azulada outras, Consanguínea pelo lado de mãe maldosa e maliciosa, Recolheu a língua de palmo e meio, Abriu o verbo, Tornou-se ébano no requebro, E deixou marfim correr.


versão de mais de 6 minutos 

SE DEUS FOSSE COMO NÓS

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Ela caminha pela praia, Cabisbaixa, Nunca será tão doce a esta solitária a voz de um anjo, Em seu isolamento, Anda abatida, O olhar vazio e distante a esta espécie de conformismo indefeso, Às vezes ingênuo, E quase permanente, Ela desabafa com uma rara confidente que escreve um livro chamado Campo de Vênus, Humilha-se por não estar à altura da inteligência de quem ela gostaria de ser o grande amor, Tem medo de falar com ele, E por não ter coragem, O transforma num inimigo, Num sinônimo de ódio, A ser guardado pelo resto da vida, Ódio sadio, Ódio doentio, É agora seu escudo, Contra o vilão do amor, Detentor de um saber que só canta prazeres, E que, Dissimulado, Geme de ciúmes, Saber que tudo infama, Comete os sete pecados capitais, E a soberba de sua intelectualidade que está acima do que deus recrimina, E quanto maior o ódio, Mais aumenta seu temor, A ponto de agredir, Ofender, Mentir, Enganar a si mesma, E a confidente se põe a pensar, Num momento de revelar seu verdadeiro eu, Carregar sozinha angústias, Como se o mundo inteiro se debatesse dentro dela, Seria a última coisa que uma jovem nesta idade faria, E a confidente começa a ter novas ideias para seu livro, O jovem sábio, Que destrói corações apaixonados só com seu cérebro, Permanecerá no anonimato, Acredita mesmo que é muito inteligente, Mas ele cairá do pedestal, Ao ser-lhe revelada sua incapacidade para lidar com assuntos intelectivos, E pior ainda, Sua desastrosa coordenação motora, Será inseguro, Medroso, Prolixo, Exibido, Falso, Oportunista, Radical, Fofoqueiro, Um Bon Vivant, E à escuridão de uma vela apagada, O traste mais repugnante de toda humanidade, Que se escusa atrás de uma pseudo doença, E que, Enquanto teme pela existência de um deus lá em cima, Uma vez provada sua inexistência, Desejará ser o super-homem de Nietzsche, Mas atingirá o grau definitivo de sua inferioridade quando colocar em dúvida a fé em si mesmo e reduzir-se abaixo dela, Ela que é sombra e silhueta de sua pequenez que, Sem perceber, Descerá ao fundo de sua alma, O tornará mais solitário que a jovem desiludida, Mais mentiroso que ela, Que mentia só para si e para o seu amor perdido e odiado, Mas ele mentirá para o mundo inteiro, Até ser descoberto, Porquanto todos nós somos criminosos até sermos descobertos, E então será ele quem vai caminhar solitário por um deserto de sol escaldante, Cheio de remorsos, Como se estivesse num limbo, Nem céu, Nem inferno, Apenas num vazio terebrante, Na companhia de seus pensamentos torturantes, Mas a confidente precisa de uma purgação entre o ódio da moça decepcionada e a queda do rapaz talentoso, Uma das palavras-chave será a indiferença, Que machuca muito mais que o ódio, A outra, A outra começa a levá-la a pensar em mudar o nome do livro, E se deus fosse como nós? Todos carentes, Todos doentes, Todos dependentes, Todos deprimentes e cruéis, Mas ela morre antes de começar a escrever, E a jovem desencantada perde a oportunidade de uma desforra, Contra um crime que aos céus clama e a deus pede vingança, Oh que desgraça, Shakespeare! Sem esta catarse teatral da vida, Que ao lento cair do pano, Só nos deixa, Como objeto de meditação e fruto amargo, Uma interminável fila de interrogações! Por que deus não pode ser apenas um de nós?




segunda-feira, 16 de setembro de 2024

NO LIMITE


Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

A guerra das ruas invade o atendimento de emergência, Chove dor terebrante nas cabeceiras de macas, Os sangradouros despejam todos os defumados, Éteres perfumados e coágulos inodoros, Gateiros de gatos quebram o doce silêncio sepulcral e harmonioso da sesta de mortualhas, E com murmúrio marmóreo, Sem temor e nem deferência, Tiram das covas de medíocres valores, Os epitáfios, O ouro da boca e das mãos, As almas ainda não enterradas, Formam um cortejo rumo ao céu plácido e vulnerável, Rodopiam entrelaçando dedos e tornozelos, Para tapar buracos de ozônio, E dizem que isso é o mínimo que se pode fazer para o que está no limite da agonia não vá além do limite das forças do amor.


domingo, 15 de setembro de 2024

MILAGRE


Assista ao vídeo abaixo com a tela inteira e veja o hubble escolher uma pequena área do céu, dar alguns zooms até chegar aos confins de uma parte do universo observável (que o Hubble pode alcançar - outro telescópio 10 vezes mais potente que o Hubble já foi lançado no espaço)







Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


A vida é uma maravilha, A vida é um acidente, Porque a terra brilha, Acordo contente, Porque a terra dá voltas, E leva-me com ela, E leva escoltas, A lua que é sua vela, E seu rodopio de bailarina, Dançando a noite com o dia, Caminhando divina, Em torno de sua estrela guia, Na escuridão com Marte, E na claridade com Vênus, E meu sono me reparte, Com Fobos e Deimos, Só no nome o temor, Só na vida a morte, Até na morte o esplendor, Porque a vida é uma sorte, A vida é uma casualidade, Como todos os mundos, À mercê da eventualidade, Meros ruídos de fundos, O universo é uma maravilha, O universo é um acidente, Pequena luz que brilha, Na imensidão negra e vivente, As galáxias atracam-se, Aniquilam incontáveis sistemas, Os restos ajuntam-se, Voltam a ser as mesmas, Com todo esse barulhão, Com todo esse caos, O sol é um borbotão, Circundado por naus, Saturno anelado, Urano gigante do gelo, Netuno azulado, Júpiter grandioso apelo, A vida é breve, O universo expande, Meu sono é leve, Outro universo esconde, Continuo a bordo, Sem deus, religião e padre, Cada vez que acordo, É um novo milagre.

sábado, 14 de setembro de 2024

CONTO: DESTE LADO DA VIDA

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

O mundo inteiro passa por aqui todos os dias. De 5 a 6 vezes. A maioria não se lembra de nada. Muitos guardam alguns fragmentos de suas visitas e logo os esquecem. Outros se entusiasmam com o que retiveram em profundidade. Esforçam-se para recapitular suas experiências, mas estas acabam sendo relativizadas, e depois de um certo tempo eles desistem. Poucos são bem sucedidos, e conseguem dominar os caminhos que os trazem para cá. Eles são bem mais felizes que o resto do mundo, aliás, devo ressaltar, eles são os únicos seres humanos felizes. Eles vêm a este lugar com muita frequência, mas ainda podem ufanarem seus átomos em contentamento infinito se aprenderem a substituir, permanentemente, a vida ilusória que levam na superfície da terra, pelo esplendor indescritível e sem limites que podem vivenciar aqui. Eles podem se tornar deuses, e sempre que faço menção a este objeto de culto e desejo ardentes, que se antepõe a todos os demais, não resisto à tentação de florear um pouco sobre o sentimento de estar onde estou: Eles podem beber perfumes, na flor silvestre que embalsam os ares. Entre a maioria desventurada deste planeta, exceção feita a uma minoria que injustamente rouba do pobre para viver melhor, embora tenha nascido igualmente já condenada pela natureza, há aqueles vãos como sombras que passam, que consomem muitos anos aventurando ao incógnito suas fragilidades, entregando-se a utopias para iludir suas desgraças do cotidiano. Um exemplo, é um astrônomo alemão que diz estar prestes a descobrir como viajar na velocidade da luz. Na verdade ele quis dizer 99% da velocidade da luz, uma vez que ela é absoluta e ninguém conseguirá atingi-la em 100% com uma máquina. Ela percorre o espaço a quase 300 mil quilômetros por segundo. Este germânico anseia por uma futura odisseia à estrela Vega, situada a cerca de 25,3 anos-luz da terra. Não esqueçam vocês que ano-luz não é uma medida de tempo, mas de distância. Um ano-luz equivale a quase 10 trilhões de quilômetros. Este cientista calcula, com sua razão e sua exatidão, que levariam 3,6 anos-luz para chegar em Vega, deslocando-se a uma velocidade constante de 99% da luz. Vejam abaixo como se calcula o tempo de viagem a Vega:
 
 

 
 
 
antes de prosseguir, aqui vão algumas observações: a) Vega está a cerca de 25,3 anos-luz da terra, mas como se considera 99% da velocidade da luz, a distância aumenta para 25,6 anos-luz; b) As letras yrs são uma abreviação da palavra anos em inglês; c) O tempo real de viagem resultante desta equação é de 3,555, mas foi arredondado para 3,6 somente para facilitar o raciocínio. Se alguém chegasse a Vega, talvez descobrisse pouca coisa além do que já se conhece por meio de geringonças como o hubble. Por outro lado, o viajante poderia colher amostras do disco de poeira que circunda Vega. Isso ajudaria a comunidade científica a definir se este anel de poeira é um protótipo de planeta em formação ou apenas destroços de um possível planeta-anão que se chocou com a estrela. Uma vez terminada a missão Vega, o astronauta teria que viajar mais 3,6 anos-luz para retornar ao nosso planeta. De acordo com a comprovada Lei da Relatividade de Einstein, o tempo anda muito mais devagar para quem está em movimento constante na velocidade da luz em relação a uma pessoa  estática no solo. O cosmonauta passaria 7,2 anos viajando pelo espaço, mas, para quem está na terra, o tempo decorrido seria exatamente aquele calculado para uma viagem de ida e volta a Vega: 50,6 anos. Quando chegasse à terra, o astronauta teria envelhecido apenas 4 anos, mas nosso planeta teria avançado 50  anos no futuro. Os colegas de profissão do astronauta já teriam, possivelmente, morrido, e seria possível, também, que seus substitutos o surpreendessem com novas informações sobre Vega obtidas com super telescópios de última geração, muito superiores ao hubble, desenvolvidos nos últimos 50 anos, e que perderiam pouco para as observações de Vega feitas in loco. Conclui-se, portanto, que o cosmonauta gastaria mais de sete anos de sua vida trancado dentro de uma nave, sem ter o que fazer, a não  ser esperar, esperar e esperar, tendo como compensações apenas o fato de ter envelhecido somente 4 anos nos últimos 50, e poder desfrutar de um estilo de vida e de vantagens tecnológicas muito mais avançadas e emocionantes em seu lar antes dele ter partido para Vega. O retorno poderia ser considerado uma viagem no tempo, uma viagem à terra a 50 anos no futuro. No entanto, o conceito de viagem no tempo não seria muito adequado neste caso, porque não se trataria de uma viagem da terra para a terra, mas de uma viagem à terra a partir de outro sistema solar. Este cientista alemão poderia considerar uma viagem espacial muita mais útil para a ciência e justificar o altíssimo custo de uma odisseia interestelar. Por exemplo: visitar a estrela anã vermelha Gliese 1132, localizada a 39 anos-luz da terra, em torno da qual orbita um planeta rochoso, de tamanho similar ao nosso, descoberto por via indireta e batizado com o nome GJ 1132b. O cientista passaria pelo mesmo tédio capaz de levar à loucura: ficar  mais de 10 anos enclausurado numa espaçonave, sem nada para fazer, a não ser esperar, esperar e esperar, a menos que conseguissem coloca-lo em hibernação artificial comum até o seu destino final. Ao chegar em GJ 1132b, ele poderia se deparar com um planeta semelhante a Marte, sem vida, com muitas montanhas, rochas e com o que poderia ser antigos leitos de rios e bacias de oceanos. O cientista colheria rochas deste planeta e as traria de volta à terra. Daria melhores contribuições à ciência: novas evidências sobre como os planetas são formados e porque a vida não vinga em muitos deles, e a constatação de que qualquer tipo de estrela pode ter planetas à sua volta: anãs e gigantes vermelhas, anãs brancas (como será nosso sol daqui a 5 bilhões de anos), estrelas de nêutrons, sistemas estelares binários e até quaternários. Como no caso de uma viagem a Vega, o cientista envelheceria pouco e a terra muito, e ele seguiria vivendo num mundo muito diferente e, com certeza,  bem melhor que o mundo que ele conheceu, com  gente, atributos e tecnologias humanas que ele jamais imaginou. Um outro cientista, este americano, disse que está prestes a descobrir como viajar no tempo. Ele propõe um avanço de 500 anos no futuro da terra. Para realizar esta empreitada, ele terá que viajar na velocidade próxima da luz durante 7 anos. Todo este tempo preso numa nave espacial valerá a pena. Imagem o mundo que ele encontrará! Simplesmente fantástico! Tudo mudado! Ele verá coisas que nenhum sonho poderá lhe dar. Ele se sentirá como um dinossauro comparado aos novos seres humanos. Ele pode querer ficar, ao custo de um enorme esforço de adaptação. Mas eis o paradoxo: se ele voltar, ele terá envelhecido 7 anos e a terra 500 anos! Ele encontrará o mesmo mundo do futuro que ele levou 3,5 anos para conhecer. Portanto, a opção de ficar ou de voltar é a mesma: ele estará confinado ao nosso planeta 500 anos depois de ter empreendido esta viagem. Uma  viagem ao futuro não tem volta. Ele só poderia reverter esta situação se sua máquina viajasse para o passado também, mas isso parece improvável, por enquanto, porque, segundo a chamada teoria da Flecha do Tempo, este se movimenta sempre para frente, do passado para o futuro, não havendo possibilidade de regresso. A Lei da Relatividade de Einstein nos possibilita manter a questão em aberto, tanto para viagem ao futuro, quanto ao passado. Volto ao cientista americano. Não importa o que ele decida fazer, ficar no futuro de 500 anos à frente ou voltar para este mesmo futuro na viagem de retorno à terra. A experiência e as consequências serão inacreditáveis, pura magia. Existe algo mais fantástico que isso? Sim, existe! algo extraordinário, muito além da imaginação de deus, que torna a utopia realizável, algo corriqueiro. Vocês não precisam de nenhuma máquina. Não precisam passar pelas agruras de anos enclausurados dentro de qualquer aparato, sem ter o que fazer. Basta entrar em estado de Hibernação Consciente, a HC, diferente da Hibernação Artificial, a HA, que bloqueia e congela tudo, as funções vitais e a consciência, de tal forma que cessam os pensamentos e não é possível nem mesmo sonhar. No caso da HC, o corpo é congelado e anestesiado, mas a consciência permanece em funcionamento. Vocês continuam pensando o tempo todo. E como vocês devem saber, os pensamentos e tudo que eles vislumbram tornam-se muito mais aguçados quando a consciência se desvencilha do corpo, projetando-se para fora do cérebro. A clareza dos pensamentos pode ser comparada à diferença entre uma antiga TV de tubo em preto e branco e uma TV HD de LED. E o que acontece enquanto vocês estão em HC? Primeiro vou dar uma explicação do ponto de vista temporal. Estar em HC não vai torná-los imortais. Todos nós morreremos um dia, por enquanto. O que o HC proporciona é uma vida até 10 vezes mais longa que a normal. Em HC, o tempo também anda mais devagar, como na Teoria da Relatividade de Einstein, mas pode lhes parecer paradoxal: o corpo físico em HC vive muito menos que os pensamentos separados da massa encefálica, e para quem não sabe, o pensamento viaja a um velocidade infinitamente superior à velocidade da luz. Eis alguns exemplos bem simples. No nível mais baixo, o Nível 1, vocês permanecem em HC por apenas 14 minutos, mas seus pensamentos criam uma vida real em outra dimensão durante 1 semana. No Nível 2, vocês hibernam durante 15 dias, e vivem em pensamento por seis meses. O nível 3 é bem mais audacioso: vocês são colocados em HC durante quase um ano, 304 dias para ser mais preciso, e suas mentes criam vidas reais paralelas que duram 10 anos. O nível 4 não pode ser aplicado a humanos, por enquanto. Vocês teriam que ficar inertes durante 167 anos para viverem em pensamento por mais de 2 mil anos. Então vocês devem procurar um nível intermediário entre o 3 e o 4. Supondo que aquele cientista alemão do projeto Vega seja novo, com uns 20 anos no máximo, e imaginando que ele pudesse viver  até os 90 anos, uma idade bem factível no  estado de hibernação, ele poderia permanecer em HC durante 70 anos e gozar de um vida em pensamento, tão real quanto à que vivemos no estado físico, por 844 anos! E o que ocorre do ponto de vista existencial? Vocês tornam verdadeira uma frase encontrada na mitologia cristã: VÓS SOIS DEUSES. Vocês criam seus próprios mundos, suas estrelas, planetas, flora e fauna, rios, lagos, montanhas, mares e praias paradisíacas, cidades, edificações, logradouros públicos e qualquer coisa que lhes venham à mente. Imaginem tudo que existe de belo em nosso planeta e multiplique isso por quatrilhões de vezes. Vocês podem povoar suas cidades com pessoas conhecidas e desconhecidas, vivas ou mortas, parentes, amigos e inimigos. É claro que eles são apenas projeções de vossas mentes, mas em vossos mundos todos eles têm corpos físicos, conversam com vocês, interagem da maneira que vocês desejarem. Vocês os comandam, comandam tudo, assim como podem também conceder livre arbítrio para todos eles, dar a eles veículos, habitações, roupas, empregos, coisas mundanas e inimagináveis. Ninguém pode machucar vocês, a menos que vocês queiram. Tudo é criado apenas com vossos pensamentos, mas vocês têm corpos, podem se tocar, sentir fome e sede Se vocês estão com vontade de comer massa, num instante vocês criam um restaurante italiano que serve um vinho do tempo dos Beneditinos. Podem criar supermercados com todos alimentos que existem na terra e em outros planetas habitados. Nada pode atingir vocês. Nunca terão doenças, nunca precisarão trabalhar ou ter dinheiro. Para que se tudo que vos apraz pode ser criado só com a mente? Vocês podem se acidentar e sentirem dor somente se vocês se descuidarem de propósito só para relembrarem o que é o sofrimento esquecido na terra. Exemplo: vocês pisam em falso, ou tropeçam, escorregam, caem e quebram as pernas. Num instante vocês criam um hospital de primeiro mundo que troca suas pernas em frações de segundos. Aliás, vocês nem precisam de hospitais. Podem trocar as pernas quebradas por novas apenas com o pensamento. Ninguém consegue agredir ou matar vocês, a menos que vocês queiram e induzam pessoas a vos violentar. Se vocês morrem deste lado da vida, seus corpos físicos em HC despertam, como acordar de uma sonho. Para voltar para cá basta entrar em HC novamente. Se seus corpos físicos em HC morrem, algo muito difícil, seus pensamentos cessam, suas vidas aqui acabam. Em outras palavras, vocês morrem como todo nós morremos, por enquanto. Se qualquer coisa que vocês criaram tornarem-se monótonas, vocês podem modificá-las como e quando quiserem. Podem transformar um mar em deserto, um jardim numa floresta, rios em chuvas torrenciais, altos prédios em choupanas, pessoas em animas e vice-versa. Quando digo que vocês podem fazer de Deus uma simples marionete, não estou querendo ofender vossas crenças religiosas. Vocês podem romper todas as leis da física e do universo como as conhecemos. Podem eliminar a gravidade e por tudo a flutuar.  Com ou sem gravidade, vocês podem voar como pássaros, podem fazer o teto do céu noturno descer a 1 km da superfície de modo que as estrelas iluminem os poros de  suas peles sem cegá-los, podem fazer chover de baixo para cima, fazer animais falarem como humanos, dobrar ruas e avenidas no sentido vertical e mais um vez  no sentido horizontal para caminhar de ponta cabeça, podem iluminar os recintos de todas as habitações com arco-íris e auroras boreais. Se a salinidade dos mares não vos agrada, vocês podem fazer o sal desparecer, a densidade da água continua a mesma, vocês não afundam, e mesmo que afundassem, podem nadar por horas e dias debaixo da água como peixes, sem equipamentos de mergulho e tubos de oxigênio. Não existem limites para nada, e estou falando aqui somente das possibilidades que vocês possam conceber, mesmo que lhes parecem utópicas. Há outros milagres aqui que nem posso vos descrever, porque estão astronomicamente além de vossa compreensão. Há pessoas que descobriram este lado da vida e aqui criam seus mundos e vivem até cerca de 900 anos. Mesmo jovens casais, com filhos pequenos, estão vindo para cá. Isso mesmo, vocês não precisam vir sozinhos. Podem trazer suas famílias colocadas no estado HC. Pensem bem: todos nós vamos morrer. Chegar aos 90 anos ou mais na terra é um privilégio de poucos. Em estado HC, chegar aos 100 anos de idade é algo quase 100% certo. Vocês só morrem em estado HC se tiverem nascido com alguma doença congênita. Enquanto vocês estão no estado HC vocês não adoecem nunca. Se vamos morrer de um jeito ou de outro, por que dar duro no trabalho para sustentar uma família, se estafar, ser escravo do dinheiro, pagar contas, ser roubado por criminosos e governos, sofrer com as mazelas de nosso mundo, ver dois terços da população mundial vivendo na miséria, enfim, levar uma vida árdua e estressante que pode vos levar a uma morte prematura, um AVC ou enfarto, um câncer de mama ou de próstata. Deste lado da vida vocês são os senhorios e as pessoas que vocês criam não são, necessariamente, vossos escravos, mas ao contrário, complementações de vossa felicidade. E antes que eu esqueça, vocês podem fazer amor com homens e mulheres criados por vocês e ter orgasmos. Vocês podem engravidar e ter bebês, e se vocês não quiserem as crianças vocês podem simplesmente eliminá-las. Não se preocupem, vocês não estão matando seres humanos, mas apenas apagando projeções de vossas mentes. E então, o que vos parece? O que é melhor: viver no máximo uns 100 anos no  sofrimento e na dor ou quase mil anos num paraíso? Tudo o que estou lhes dizendo já vem acontecendo faz um bom tempo. A vida do lado de cá evoluiu muito. O estado HC foi aprimorado e passou a ser chamado VCC (Vida Congelada Consciente). Certamente todos vocês sabem que há muitas pessoas que pedem para congelar seus corpos quando elas morrerem, na esperança de serem ressuscitadas quando no futuro forem descobertas curas para as doenças que as levaram à morte, soluções para tudo o que levem os seres humanos à imortalidade. Elas fazem isso não para conhecer o futuro, mas apenas para tornarem-se imortais. A VCC já faz isso, mas com pessoas vivas. Elas podem permanecer em estado VCC por milhares de anos e, consequentemente, viver em pensamento por bilhões de anos. Ainda não foi possível conquistar a imortalidade do corpo físico, mas já se alcançou a imortalidade do pensamento. Vocês dirão que isto é contraditório, porque uma vez que a VCC não garante a imortalidade do corpo, então não se pode alcançar a imortalidade dos pensamentos, porque eles só podem emanar de corpos vivos, de consciências desprendidas de cérebros vivos. Além disso, vocês diriam, é impossível manter seres vivos eternamente no estado VCC, porque seria o mesmo que vencer a morte. Mas este é um segredo revelado somente àqueles que conseguem chegar a este lado da vida. nós já derrotamos a morte! Estão completamente enganados aqueles que possam pensar que escrevi este texto inspirada no filme A ORIGEM. Fui eu quem produziu este filme, inspirada na vida que levo aqui, e o meu filme limita-se a reproduzir nossas imaginações antes de eu conhecer este lado da vida. Agora, enquanto espero por vocês, tamanha é minha alegria por anunciar essas boas novas que não resisto à tentação de recorrer, mais uma vez, aos nossos antigos floreios: calo a paz como um sigilo pelo que sinto aqui, De suprema felicidade, ele é o silêncio e a prece que a alma pede durante meus eternos dias, enquanto aí onde vocês se encontram, numa vida ainda sofrível, à noite, lírio branco, os astros guardam segredos, dos beijos dados pelos namorados a medo e efêmero contentamento.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

ALICE


Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Pequena mãe órfã de um grande filho, De coração deportado, Você precisa saber que no meu mundo tornei-me apenas um maltrapilho, Com espírito aquebrantado, Minha indignação foi não ter vivenciado à plenitude todos os seus dias, Não só este estranho esquecimento é imperdoável, Mas até pode ser providencial e premeditado, Se Deus padeceu-me da moléstia que oblitera a memória, Então dê-me seus pequenos pés para calçá-los, Dê-me seus pequenos pés para beijá-los, Minha pequena tia engrandecida por uma nobre alma, De espírito inconformado, Na encruzilhada de nossos mundos só pude bater-lhe palma, Com contentamento deslembrado, Seu silêncio que parece ser eterno deve ter sido votado em prol de minha liberdade, Seu paradeiro, Revelai-me, Se quiser e puder, A seu tempo, Seu hospedeiro, Deixai-o ao seu discernimento, Você pode ter perdido a direção, Mas não se arrepende desta inexplicável danação, Agora tenho novos cadernos para você ensinar-me a escrever meu nome, Tenho novos cadernos para você gravar a lembrança que não some, Minha pequena avó órfã de um grande neto, De humildade sem igual, Perdi para o seu mundo nosso melhor e único afeto, De entrega incondicional,  Minha redenção só pode ser alcançada com suas deficiências de nascença, Com sua repentina e sinistra premonição, Consequência oportuna de um destino encoberto, Que foi, Em suma, A razão pela qual sua prostração ao chão em agradecimento, Congênita à grandeza de uma mulher corajosa e inseparável dela, Não podia querer estancar a morte no momento em que traga-se a dor, Degrada-se o temor, E subleva-se o amor, Então dê-me seu pequeno colo para me recostar porque ainda não passei de uma criança, Dê-me seu pequeno colo para cochilar porque ainda preciso sonhar com minha infância, Minha pequena irmã, Você precisa saber que ainda tenho dentro de mim sua última bênção, Tenho dentro de mim toda sua solidão.


quinta-feira, 12 de setembro de 2024

MAGIA EGÍPCIA

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

mais de um século tornou-se bê-á-bá, nos meios acadêmicos, e mais velho do que andar para frente, na linguagem popular, o fato de que a Bíblia – Antigo e Novo Testamentos – é apenas uma antologia de mitos compilados e reeditados pelos judeus. Aliás, os judeus nada inventaram. Eles apenas copiaram histórias das mitologias de civilizações mais antigas e mais avançadas que sempre os conquistaram e os escravizaram: Sumérios, Egípcios, Assírios, Babilônios, Persas, Gregos e Romanos. A Bíblia contém uma infinidade de nomes de pessoas que não existiram, com nomes que não são judaicos, pois foram plagiados das civilizações das quais os mitos foram copiados. Moisés é um deles. É uma corrupção do nome do faraó egípcio Ramsés, que significa Filho do Sol (Ra = sol, Mses = filho). O nome original, Mses, teve a vogal ´o´ acrescentada, para tornar a palavra pronunciável. Em português, acrescentaram também a vogal ´i´. Os judeus inventaram a história de que o povo hebraico foi escravizado pelos egípcios e que um judeu poderoso, chamado Mses (Moses ou Moisés), venceu os egípcios com seus poderes mágicos, libertou seu povo da escravidão e o levou à terra prometida por Deus. Mses, que significa apenas filho, não é nome de pessoa, nem na antiga civilização egípcia nem na judaica. Você poderia ser filho de alguém no nome, mas este era sempre composto, desde os tempos antigos até nossos dias. Exemplos:  Bartolomeu = Filho (bar) de (P)Tolomeu; Barrabás = Filho (Bar) do pai (Abbas); Paul McCartney = Paul, filho de (Mc) Cartney; Eric Von Brown = Eric, filho de (Von) Brown, etc. Certamente, por volta dos anos 500 antes da era comum, quando a Bíblia foi inventada, os judeus conheciam os egípcios e, certamente mais uma vez, eles deviam estar fascinados com os avanços morais e tecnológicos dos egípcios que, entre tantas maravilhas, já faziam testes de gravidez e sabiam, com 90% de acerto, se a criança seria menino ou menina. Para combater o complexo de inferioridade, nada melhor que inventar uma história de um povo paupérrimo em ideias e tecnologias  que vence uma civilização super-adiantada. O estigma desse complexo está bem expresso no mito de David e Golias. Os judeus dissidentes da ortodoxia farisaica e saduceia da nova era, que deram início a uma religião que, mais tarde se chamaria cristianismo, também acreditavam, inocentemente, que Moisés existiu e tinha poderes mágicos que aprendeu com os egípcios. Estevão, um dos personagens fictícios do novo testamento da Bíblia, diz no parágrafo 7, versículo 22 de Atos dos Apóstolos que Moisés era versado na sabedoria e magia dos egípcios e que suas palavras tinham um enorme poder, e que esse poder era exercido não apenas com palavras, mas também com um condão  mágico que foi usado na fuga para a terra santa, quando perseguido pela tropa egípcia e ficaram sem saída ao dar de encontro com o mar. Então, Moisés ergueu seu condão, pronunciou palavras mágicas, e as águas do mar se dividiram para dar passagem aos judeus. Os Egípcios os seguiram pelo leito seco do oceano e, assim  que os judeus acabaram de passar, com o mesmo poder mágico, Moisés fechou as águas do mar e afogou todo o exército egípcio! (leia o livro mitológico chamado Êxodos, capítulo 24, versículos 21 a 28).  Essa ideia de dividir as águas do mar é pura criatividade dos judeus para sustentar uma fantasia? Não, não é. é apenas mais um dos inúmeros plágios. Um papiro da décima oitava dinastia egípcia, do ano 1550 antes da era comum, conta uma história que data dos tempos das pirâmides de Quéops (há mais de 3 mil anos antes da era comum). Diz a história que, certo dia, o rei Seneferu estava triste e desanimado. Ele chamou os nobres de sua corte real para lhe alegrar, mas eles nada puderam fazer. Então o rei mandou chamar o sacerdote Tchaca tcha-em-ankh. Este sugeriu que o rei desse um passeio de barco no lago junto ao palácio, animando-o com as alegrias que ele teria ao ver a linda paisagem nas margens do lago. Além disso, o sacerdote pediu-lhe permissão para preparar a jornada, adornando o barco com vinte remos de ébano, banhados a ouro, vinte jovens virgens, de feições maravilhosas, cabelos ornamentados e quadris perfeitos. E ao invés de estarem com suas próprias vestimentas, estas jovens estariam emaranhadas em vinte redes.  Elas iriam remar e cantar ao mesmo tempo.  O rei aceitou o que o sacerdote lhe propôs. E, de fato, o rei alegrou-se muito com o  passeio de barco, enquanto as jovens virgens remavam e cantavam. De repente, uma delas deixou cair na água um ornamento de seus cabelos, feito de um novo tom de azul turquesa. Imediatamente, ela parou de remar, e assim fizeram as outras 19 virgens. Ela e as demais se recusavam a remar enquanto seu adorno não fosse recuperado. O rei, então, mais uma vez, pediu ajuda ao sacerdote Tchaca tcha-em-ankh, e este, ao chegar ao local onde o barco estava estacionado, proferiu palavras mágicas, as águas do lago se dividiram, permitindo que uma das remadoras descesse ao fundo e pegasse o paramento. Uma vez que o ornamento da jovem foi recolado aos seus cabelos, o sacerdote juntou as águas do lago, o passeio pelo lago prosseguiu e o rei voltou a alegrar-se.


quarta-feira, 11 de setembro de 2024

ASSIM FLUÍA A INSONDÁVEL RELATIVIDADE DO TEMPO



Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Não há nada mais mágico e revelador do que um sonho que te tira de uma vida sobreposta e te lança na dúvida entre morrer só com a lembrança e entregar-se ao conhecimento absoluto e extrair dele tudo que uma única vida sensorial jamais lhe dará. Na dúvida, perdemos tempo, desperdiçamos energia tentando encontrar um significado para a vida, mas ela é simplesmente tudo que acontece enquanto fazemos planos para ela. Para nós o tempo passa, mas na verdade ele só fica. Tenho as vozes dos anjos ressonando em minha mente, desvelando minha paixão e minha brandura. Tenho não apenas um único espelho da alma, mas dois, e quando acordo todas as manhãs meus olhos se abrem a se alinham, e entre eles é criada uma série interminável de reflexos, inebriantes, movendo-se uníssonos, sem terem consciência de si mesmos, luzes umas sob as outras, outras sob mais outras, mais outras sob o infinito. Nossas limitadas experiências não passam de uma projeção holográfica que sucede em algum lugar muito distante de tudo que nos cerca. Eu me belisco e sinto a dor, mas o beliscão reflete um processo paralelo que está muito distante da realidade. Tenho como provar que o mito da caverna de Platão não era uma simples metáfora. Sou capaz de aproximar-me da beira do horizonte de eventos das mais fantásticas ocorrências do universo, sem a preocupação de que estou tomando um caminho sem volta. Minha singularidade será apreendida só por mim, mas ficará estampada para sempre nesta vida ilusória. Não quero passar com o tempo. Quero ficar nele, com todas as minhas fantasias, e experimentar do que é feita a mágica no ar, do que são feitos os sonhos, do que é feito o tempo passar sem sair do lugar.



CONHECIMENTO ABSOLUTO


Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Carrego esta vida num fechar de olhos, Deixo para trás as angústias do mundo que se debatem dentro de mim, Acompanha-me no fundo de mim mesma a menina que todo poeta leva, A arquiteta inspirada e de fantasias desvairadas, Sem saber mais distinguir entre o que é real e não é, E quando as minhas visões coincidem com minha vida de olhos abertos, Mais verdades unem-se na minha imaginação e fora dela, Então sinto deus dentro de mim, Como embriaguez munda e imunda, Conduzindo-me às nirvânicas mais doces, Ao descanso do meu ser, À paz que calo com um segredo de amor feliz, Segredo revelado só para mim, E será sempre um erro de perspectiva querer explicar a vida de uma sonhadora pelas suas metáforas, Ou vice-versa, Pois as alegorias revelam meu eu profundo, E não minha vida, E será sempre um engano profundo de perspectiva querer explicar a essência de deus pela minha fé, Ou vice-versa, Pois sua inconsciência de si mesmo revela sua humanidade, E não sua existência, E juntos, Deus e eu, Nos iludimos acordados, Vivemos em toda plenitude adormecidos, Conhecemos mais gente que nosso planeta, Mais lugares que o universo, Mais felicidade que o paraíso promete.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

ORGULHO


Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Ela passou metade da vida com amor-próprio demasiado, Outra metade desatinando uma debilidade camuflada sob a influência das primeiras impressões, Aos poucos irrompendo, E de repente fulminada por uma síncope incubada que só esperava por um sinal da natureza, Como o recuo brusco e sinistro do mar se preparando para o arrebento de um tsunami, E por uma oportunidade matreira, Como o estouro de um champanhe com um diabo de garrafa chocando sua rolha, Ela foi encurralada nas cordas pela sua própria imagem refletida num espelho e esta lhe desferiu um gancho potente como um rojão de vara que se lançou aloprado da plataforma do seu estomago até bater no teto de sua cabeça, Envolvendo-a em completa penumbra e devastando a sua psique com a força de milhares de maremotos, Do que restou de sua personalidade desintegrada não se poderia esperar nem mesmo o renascer de frágeis siriris que voam abobalhados e cambaleando em todas as direções, Batendo cabeças e soltando asas, Em busca do calor do sol poente no entardecer dos dias de verão e encontram a morte abraçados na luz dos homens, Renegar o que mais amava, A música, Para colecionar insetos, Mostra que o que restou de sua mente era bem menos que cinzas, Paradoxalmente, As opiniões de seus terapeutas iam do grandioso, Como uma jovem inteligente e capaz de governar uma nação, Passando por uma normalidade casuisticamente normal, Como uma pessoa apta a exercer atividades civis, Porém não militares, Até chegar ao medíocre, Como uma adulta com dificuldade para lidar com questões intelectuais, Mas apta para desenvolver atividades manuais que exigissem boa coordenação motora, Medíocre porque na adolescência ela ganhou o apelido de catástrofe, um King Midas In Reverse dos Hollies, Pois tudo o que ela tocava virava pó, De onde se conclui que o último diagnóstico fazia dela um zero à esquerda, Mas prometo-lhe, Esta é a última vez que lhe faço uma promessa, Vou libertar você de suas amarras e tirar você de seu casulo, Como John Lennon convenceu Prudence a sair de seu quarto para brincar, Vou livrar você de todos os seus vícios, Como as mãos do médico te livraram de seu ventre materno, Vou romper todos os seus recifes, Para você voltar a nadar em mar aberto de novo, Vou livrar você de toda a sua demência, E você se lembrará do frescor do ar que carrega uma folha de outono, Vou tirar você de dentro dessa armadura, E você voltará a flamejar como fogo que queima todos os miasmas à sua volta, Vou tirar estas vendas de seu olhos, E você chegará sem medo ao outro lado da corda bamba, Vou te ajudar a cegar seu lado cortante, Seu lado censor, Com um bisturi que talha seu orgulho.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

AO REDOR

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DE MARIANA E BRUMADINHO

Encontrei um sanhaço morto em meu quintal, Azul acinzentado, Num dia ensolarado, Asas enfeitadas, Endurecidas, Recolhidas junto ao corpo, Era adulto, Não tinha sinais de violência, Deve ter morrido por envenenamento ou doença, Porquanto ninguém vê pássaro morrer de velhice, Velei-o por um tempo, Como uma mãe vela pelo filho que dorme, Dei-lhe um funeral digno, Coloquei flores à sua volta sobre a terra, E como um saltimbanco, O sol apontou todos seus raios para minha guirlanda, Silenciou todo espaço, E brilhou toda fauna na vizinhança, Entrei, Liguei a TV, Outra tragédia é anunciada, Gente morrida, Desaparecida, Coisas perdidas, E muitas lágrimas de sangue que já não cabem nos olhos, E só irão chocalhar nos pescoços de sobreviventes como as contas escuras das lágrimas de santas marias por não terem a quem recorrer, É calamidade, De grandes proporções, Dela falarão por vários dias, Até ser esquecida, Quando a terra estiver do outro lado do sol, E eu estiver do lado de cá para não me lembrar do que aconteceu por lá, A grama crescerá sobre a última morada de meu passarinho, E o cobrirá de eterno carinho, A terra voltará para onde estou, E não poderei evitar que ela me faça recordar o que daquela desgraça sobrou, Escassas vidas com pouco sonhos para sonhar, Confusas com tudo quanto se passa ao redor, Sem as doces cantigas dos namorados da beira dos rios, Ainda por muito tempo a tristeza andará penando em suas águas turvas, Cada vez que a lua completa uma volta em torno das noites, Tenho meus longes de que, Mais hoje, Mais amanhã, Terei meus dias pela proa com os que vieram ao mundo para nos alegrar e os que vieram só para nos enlutar.

domingo, 8 de setembro de 2024

OH! COMO?

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)



Hoje a vi com maquiagem em excesso, Cabelos pintados de verde e presos por muitas varetas multicoloridas, E ainda desbotadas, Cobertos  com um boné impossível, Tudo denunciando um gosto brega que não lhe combina,

Oh! Boné impossível? Como?

Não sei explicar, Nunca cobriu a cabeça nem com lenço, E a expressão de seu rosto não era propriamente de alegria ou exaltação, Mas de alienação mental, Ela fincou os olhos na ponta do nariz, Atarantando todos os sentimentos externos,

Oh! Olhos fincados na ponta do nariz? Como?

Não sei explicar, Tentei chamar sua atenção, Mas não ligou para mim, Estava é ocupada dando uma bola, baforando colunas salomônicas de fumaça,

Oh! Dando uma bola? Como?

Não sei explicar, Sempre foi extrovertida, Barulhenta, Gostou de cantar, De conversar pelos cafés, De passear entre o lobo e o cão nas ruas desertas, Mas agora está exagerando e se perdendo,

Oh! Entre o lobo e o cão? Como?

Não sei explicar,Ela sempre acordou cedo em dia de fazer, Nunca deixou de cumprir o dever, Já agora, Não sei mais, Está saindo da cama só depois das onze, 

Oh! Dia de fazer? Como?

Não sei explicar, Ela não diferencia mais a segunda do domingo, Leva a vida na base de semanas furadas todos os meses, Cansei de lhe pedir para largar os vícios e voltar à vida, Mas não adianta,

Oh! Semanas furadas? Como?

Não sei explicar, A verdade é que não a quero mais, E não vim aqui só para te contar, Vim também para tentar fazer um pé de alferes a você, Porque sempre gostei mais de você do que dela,

Oh! Pé de alferes? Como?

Não sei explicar, Quero dizer, Colorir nossa amizade, Sem compromisso, Por uns tempos, Juntar meu momento temporal com seu momento iluminado, Como num casamento de raposa, Que tal?

Oh! Casamento de raposa? Como?

Ei, Não tenha medo, Não sou do tipo de raposa querendo tomar conta de seu galinheiro, Não quero bagunçar sua vida como minha ex bagunçou a dela própria, Quero apenas experimentar, E se for importante para você, Podemos pensar em algo mais estável, Quem sabe um romance passageiro possa acabar indo das baixadas aos firmes, Depois dos firmes aos platôs, E, finalmente, dos platôs aos cimos serranos,

Oh! Aos firmes? Como?

Casando com você, E se você não quiser casar, Podemos simplesmente sair por aí sem destino, Casando somente a frieza de suas mesmas perguntas com seu frio de serra no mês dos frios que haverá pelo caminho,

Oh! Mês dos frios? Como?

Não sei explicar, Mas garanto-lhe que não são carnes em conservas ou defumadas, Vamos nessa, Minha inglesa fleumática? Ou seria minha  alemã sisuda e pensadora? Ou minha holandesa empreendedora e paciente? Ou será que vou me surpreender com uma espanhola ousada, Exaltada nas paixões, Ambiciosa  e aventureira?

Oh! Como? Que dom tenho eu de viver-te por tantas feições estrangeiradas e falar-te por tantas expressões desusadas?



AQUI ESTOU PARA TE AGRADECER

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)


As muitas horas nos mares apascentados com meu corpo e minha alma, As leituras à luz das palavras que calam os dogmas e transcendem a fé, As longas viagens nas mãos da liberdade que acolhem o peregrino, As árvores e seus rebentos que, congelados, frutificam pequenos paraísos, As pessoas incógnitas e os mundos do passado e do futuro que fabricam meus sonhos, As manhãs gloriosas das madrugadas apressadas que acordam minha paixão corpórea, As escolhas privilegiadas das artes musicadas que alimentam meu princípio espiritual, Os muitos deuses nas noites embaladas com meu choro e meu expurgo, Os escritos à sombra das incompreensões que desavistam as feridas e exasperam a humanidade, Os muitos erros às vistas da impunidade que indultam o forasteiro, Os pássaros e seus cantos silenciados que adotam grandes desajuizados, Os seres ocultos e os mundos do presente que preservam meus pesadelos, Os amanhãs esperançosos dos tempos fracassados que fortalecem minha obstinação, Os dias vividos das partes racionadas que me guiam por meio do medo.


sábado, 7 de setembro de 2024

JARDINEIRAS E PLANTADORES

Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.


Quando eu era jovem plantei três flores, Uma de cada vez, Uma de força nobre, Outra oriunda de uma cidade italiana, E uma última reveladora da verdadeira imagem de sua mãe, E a palavra mãe aqui é apenas uma força de expressão para realçar a parte mais fina e bela de uma planta, No entanto nunca soube como tratar bem de um jardim, Mesmo sem jamais deixar faltar-lhe adubo, Água e sol, E tendo, Ainda, Uma fiel jardineira indiferente a uma pintura de natureza morta, À celebridade de um vegetal raro, A um ornato qualquer capaz de dotar uma flor de mais beleza que sua própria, A um livro sobre seu oficio e seus ossos, Apenas as mãos calejadas de dedicação sobre estas lindezas, E eu, Ingenuamente, Sempre achei que elas pudessem ter sentimentos, Sempre tentei falar com elas, Como aqui nossa alma com o universo conversa e o homem compreende, Sempre esperei que elas me respondessem, E como é triste o silêncio delas, Qual rochedos imóveis e mudos aos brados das ondas, E, Como determina a lei natural, Sempre pensei que elas morressem antes dos humanos, Como o sol que morre na tarde e a natureza torna-se um poema santo, Mas, Hoje, Creio que possa ter errado, Como enganam as aparências, Pois muito moço fiquei doente, E minhas formosuras parecem ter enfermado com minha moléstia contagiosa, Falta de amor não sei se foi, Mas sei que as estremecia, Que talvez adoecia de sabe-las doentias, Apesar deste infortúnio, Continuei esforçando-me para preservar meu quintal fértil em três culturas variadas, Meus encantos cresceram e tornaram-se mais independentes e, Em pouco tempo, desabrocharam suas pétalas bonitas e delicadas, Tão frágeis a ponto de recear tocá-las, E machucá-las, De tão sensíveis, Medos sempre tive, Mas este se impregnou em mim quando percebi que minhas flores murchavam com minha aproximação, Talvez por eu ser um simples plantador, E não um jardineiro, E muito sofri com isso, Muito sonhei sentir de perto as agradáveis fragrâncias que elas exalavam, Então, Chegou uma época que, Com o agravamento do meu mal, Me vi forçado a partir, A afastar-me de meu jardim, Mas minha fiel jardineira lá permaneceu, Cuidando dele, E muito saudoso no meu exílio, Não podia mais prover água e sol às minhas flores, Mas, Na medida do possível, Sempre enviava-lhes fertilizantes, E no meu ostracismo involuntário, Gastava minhas madrugadas, Não a folgar por bares, Mas a refletir sobre a sensibilidade das flores, E em minhas horas de monólogos sublimes, Na companhia de lembranças penosas, Buscava consolação que as atenuassem, Atravessando as noites remoendo arrependimentos, E, Estranhamente, Enquanto meditava, À distância tinha um pressentimento de que minhas flores já não pesavam minha ausência, E desconheciam o amor que sempre tive por elas, Porque sempre amei tudo nelas, O coração, A beleza, A mocidade, A inocência e até o nome, E assim como agora escrevo como bálsamo para minha dor, Resolvi, No meu cativeiro, Plantar outra flor, Num pequeno canteiro, Que se desenvolveu além do meu controle, Como um pé de mostarda, E hoje, Ainda mais enfermo, Preciso de tantos cuidados quanto ela, E o pouco que restou de mim, Fica para ela, Um pouco de excremento animal, Água da chuva, E raios de sol que brilha contra nossa vontade, Mas quando durmo meu sono, Calmo e profundo como deveria, E não eterno como desejoso, Oro, Fervoroso, A todos os santos, Pelas minhas primeiras flores, Mas meus antigos sonhos dourados transformam-se em amargos pesadelos, E minha antiga vida, Um cântico de amor, Transformou-se numa triste toada, Visto que chegaram a todos meus sentidos a notícia de que minha morte foi anunciada no meu antigo jardim, E assim comecei a admitir que, Talvez, As flores consigam imaginar um ser humano morto antes delas, E Quem recebeu notícias de minha morte antes da hora, Não sabe que estou vivo, E eu também não sei se estão vivos ou mortos todos os que estão dentro e fora de meu antigo jardim, Então passei a crer que, De fato, Um ser humano pode morrer antes de uma flor, Pois já morri para minhas primeiras flores, Mas não para esta nova que plantei na minha expatriação, Que ainda vai crescer e tornar-se formosa como as outras, Porquanto sempre adorei flores, Para cercar-me de responsabilidade e zelo por um ser, Racional ou irracional, É por isso que plantei flores, É por isso que escrevo um livro de memórias no qual todos os personagens têm nomes de flores, As que já que morreram, Assim como já morri para as primas flores que semeei, Exceto para esta recente, Distante da flor de sua idade, E para quem provi uma jardineira fiel, E meu sonho agora é ensinar esta única flor, Que me vê vivo, E que transportei para um pequeno vaso, A ter afetos, A dialogar, A se deixar tocar, E até a amar como os humanos, E tentarei, Na medida que a natureza permitir, Não morrer antes dela emancipar-se, transformar-se em beleza e formosura, Dizem que todo mundo já foi uma flor pelo menos uma vez, Dizem também que já fui uma flor plantada num jardim, Que tive todos os devidos cuidados, E que não atinei para o desvelo de meu fiel jardineiro, Talvez porque, Sendo uma flor, Eu não tivesse afeto, E que não vi meu fiel jardineiro viver, E que, Mesmo sendo uma flor, Sabia que ele deixou de existir, E isso deve ser uma prova que a flor intui, Tem afeição, Mas não sabe se expressar aos humanos, Sei que jardineiros e jardineiras são sempre fieis, Dedicados e carinhosos, E que um plantador é mais dado ao trabalho braçal, Por isso, Anseio ser, Um dia, Um fiel jardineiro que rega uma flor com amor, Ou então voltar a ser uma flor para melhor entende-la e compartilhar minhas percepções com todas do gênero, Se minhas primeiras flores tivessem a mesma suscetibilidade, A mesma estima, Mesmo sendo um mero plantador convalescente, Elas saberiam que a felicidade brota de todos os reinos, Mineral, Vegetal e animal, Em solos e em tempos férteis e inférteis, Assim, Para a esta nova flor, Quero aprender a ser um jardineiro, E chorar da ingenuidade de achar que todas as flores, Todos os plantadores e todas as jardineiras podem conviver num mesmo jardim, Chorar da ingenuidade de pensar que todos precisam ficar sabendo quando morre uma flor, Do quanto se devota uma jardineira, O quanto trabalha e sofre um plantador.



It is the evening of the day
I sit and watch the children play
Smiling faces I can see but not for me
I sit and watch as tears go by

My riches can't buy everything
I want to hear the children sing
All I hear is the sound of rain falling on the ground
I sit and watch as tears go by

It is the evening of the day
I sit and watch the children play
Doin' things I used to do they think are new
I sit and watch as tears go by

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

SALTO AZUL EM ÁGUA VERDE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Minha homenagem à pequena cidade de Itobi, SP, onde passei os mais felizes Natais e Anos-Novos de minha infância e pré-adolescência. Dedicado aos meus padrinhos Antonio e Isabel, e meus primos Toninho, Maria da Penha, José Urbano(in memorium) e Ênia.

A estrada que leva a vastos horizontes, Aparentemente familiares, Mas de eternas singularidades, É longa e infindável, Deixa o infinito para trás, E cada vez que parece ir de encontro ao céu, Desce como Odisseu ao Hades, Mas para aprender com as almas, E não ser por elas sentenciado, E rapidamente ela retorna terra a terra, Ainda abrangendo num mar verdejante o ímpeto retilíneo da ânsia de chegar a algum lugar, E se chega, Quando se procura, Se desvia e se desce lentamente, Até o que parece ser um lago como o Aquerúsia, Por onde passam todos pecadores, E de onde saem todos os perdoados, E logo percebe-se que o paraíso não é diferente do  mundo, Com lugares ruins, Bons, Melhores, Especiais, E únicos, Como o mais sagrado de todos os santuários, Que pode ser adentrado somente pelo suprassumo dos homens num dia de arrependimento, Do bom e do melhor, Do ruim e do pior, Todos são comuns, E o homem comum deles se enfada e até padece, Mas o homem anormal e passional os engrandece, Com todos hiperbolismos orientais, E a rua principal torna-se tão interminável quanto a rodovia, Mas outras locações têm espírito mais que o comum das percepções humanas, Como o bar da esquina, Que marca o limite norte do local das delícias criado por deus, E que, Irônica e paradoxalmente, É mais santo que a igreja, No outro extremo, Delimitando a fronteira sul, E além dela parece existir um umbral, Literal, Sem almas vivas ou mortas, Ao contrário do que se acha além-bar, Uma trilha percorrida por bicicleta, Onde no meio do trajeto, Numa paragem de pomar de frutas negras, Farta-se dos pecados originais, Farta-se da vida, E depois busca-se o além que aterra, Lá na quietude do fim do caminho, E é novamente a partir do bar que se chega a outro rincão, No sentido leste, Subindo a mesma alameda larga e íngreme, Aquela que se abre subitamente como uma janela no meio do nada, E faz nascer, Milagrosamente, Uma pequena cidade que os olhos abertos na rota não alcançam, Uma cidade de paz lunar e eternidade, Que o homem incomum segue, A olhos fechados, Arrastado para um abismo, Este outro recanto parece um recôndito, Mas quando se atravessa seu alto portão, Descortina-se um enorme ginásio grego, A céu aberto, Reservado somente aos másculos, Onde a paixão pelos jogos, Precedidos por uma expectativa messiânica, Faz o coração saltar palpitando pelos olhos, Imortaliza, Como o amor entre Romeu e Julieta, Quem lá pratica esporte vence sem derrotar o adversário, E tudo mais nele se esgotaria, Se do que aqui se fala não fosse o paraíso, Que tem entre o que deveria ser profano e o que deveria ser sagrado, Um ponto de encontro, Só para ocasiões especiais, Para dançar as pernas em bailes, Para dançar a alegria em festas de casamento, Para se comungar diretamente com a felicidade num estado de alma poético, Quase religioso, Quase metafísico, Mas é o bar quem insiste em monopolizar, Bem à sua frente está o jardim do Éden, Com todos descendentes de Adão e Eva andando em círculos, Entreolhando-se quando se cruzam, O sorriso implícito do sexo frágil, Correspondendo ao gracejo explícito do quase inquebrável, A cidade inteira parece lá se reunir todas as noites, Caminhando em volta do centro, Onde o coreto está vazio, Onde Deus não é visto, Onde a árvore com o fruto proibido desaparece, E Baco e suas Bacantes não atrevem-se, Porque este território fértil em seres simplórios pertence aos carregadores de tirso, Mas suas lanças são muito curtas, E no lugar de heras e pâmpanos, Suas pontas sustentam os frutos congelados com mãos caseiras e santificadas, Que vêm lá do bar, E no recesso menos distante, Abaixo do jardim, Que fecha a cidade no lado Oeste, Os trilhos estão adormecidos nos dormentes, A estação está vazia, Mas não solitária, Fecha-se ao silêncio, Mas seu íntimo abre-se às lembranças de todos que nela desceram e dela partiram, E todos espectros saudosos que fizeram passagem, Por ela ainda são acolhidos com a mesma hospitalidade, E o bar, Aqui tanto referido, É, Na verdade, Somente a fachada de um templo, Um ponto de intercâmbio, De gente, De prazeres, Os adultos trocando dinheiro por aguardente, E os jovens por guloseimas, E quem está por trás das bancas serve e sorri por comprazer, E se deixa levar pelos olhares maravilhados sem se preocupar que vai para onde o impelem, A única moeda de troca aqui é a cordialidade, O templo é enorme, Suas noites de paz celestial são de tirar o folego de Deus, Suas manhãs gloriosas são regadas por mesa farta e uma hóstia, Do tamanho de uma broa, Abençoada com a palavra generosidade ao ser servida, Seu pomar tem o chão forrado de frutas que caem da árvore preferida, E a maior tentação é subir até o último galho para apanhar a fruta que quer sair voando pelos ares, Lá sentar, Se lambuzar, E delirar com uma vida airada, E um de seus vários aposentos, Improvisado de depósito de bebidas e outras tranqueiras, Nada tem de especial, Mas retém pessoas por horas, Encanta, Porque lá parece ser o lugar onde a magia dorme, E muitos dormem com ela, Outros, Porém, Precisam partir, Porque o paraíso é uma democracia, Chega, Fica e se vai quem quiser, Nasce, Cresce e morre nele quem quiser, E os que estão só de passagem fazem uma pergunta que Deus não sabe responder: Para onde vão os que morrem no paraíso?