domingo, 30 de junho de 2024
TEM GENTE NOVA NA TABA POR EXCELÊNCIA
SÓ COM ESTAS ÁGUAS
SAUDADE
Pouco ou muito eu faça, A ressonância de uma cantiga
sentida, Embalando seu último olhar, Me segue por toda a vida, De pouca valia,
Para quem não tem senão dias e noites, Dias que foram só seus, Vivendo e
trabalhando a plena luz, Sendo-me dado somente ver nascendo, O sol claro, Seu
amigo de heróis anônimos, Noites que ainda são minhas, Incriminatórias e
irrespondíveis, Debruçadas sobre sua lembrança, Tornaram-me a saudade, A única
companheira que pude te oferecer, Que punge, Não me consola, Nem me perdoa, Pouco
ou muito eu pense, O silêncio das lágrimas derramadas, Pedindo-me para te
abraçar, Enlutam seus dias venturosos, De muito valor, Para quem nunca teve
senão todas as horas para os outros, Sem ninguém que lhe trouxesse de volta ao
lar, Onde seus sorrisos meu tempo não vivido em plenitude obliterou, E sempre
ao me deitar, Pergunto-me, Que caminhos terá sua alma percorrido para chegar
onde está, Que caminhos há para se chegar ao santuário que só pode ter te
acolhido com o mesmo amor que você doou, Sempre de olhos abertos e atentos,
Enquanto cerro os meus, Pego no sono e com você tenho meus sonhos, Indagando se
estou vivendo nos seus, Se minhas preces ajudam-lhe a esquecer o que não fui
para você.
quinta-feira, 27 de junho de 2024
ESCREVER POEMINHAS TAMBÉM É JUNTAR LETRINHAS?
quarta-feira, 26 de junho de 2024
SOLDADOS SINTÉTICOS
CANÇÃO DA MELANCOLIA
ENCARNAÇÃO
terça-feira, 25 de junho de 2024
VIGÉSIMA QUINTA HORA
Texto de autoria de AustMathr Viking Dubliner e Inglesa Luso-Chinesa com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.
As linhas de seu fim, Sinalizadores de sua efemeridade, Cada um dos sulcos que marcam a palma de suas mãos conhece todos os escuros e tortuosos meandros de sua alma, Os desígnios de suas aspiradas transcendências, As inexorabilidades de seus incompreendidos mundos, Sua Alma, Sua Palma, Esconda-se da luz do dia até que a noite caia, Não carece ainda dormir sem acordar, Dissipe de sua memória os que nunca imaginaram estar em seu lugar, Em seu abandono, Em sua revolta, Nenhuma lágrima sua deve ser derramada sobre os sepulcros onde todos os que não querem ver jazerão, Nenhuma de suas vesguices pode enxergar pelo que seus olhos choram com voz embargada, Nenhum pensamento seu deve ser levado de volta às suas melhores lembranças das quais eles se fartaram até se olvidarem, Que os dias que lhe restam apaguem tudo, Até mesmo o que Deus ainda está por vislumbrar, Que se cultive a virtude da obliteração, Dos repetidos erros de qualquer passado, Das pretensas regenerações de qualquer futuro, Quando os espectros dos mortos começarem a errar à sua volta e a se lamuriarem, Pegue a estrada e viaje sem destino, Sem se deter, Madrugada adentro, Por caminhos desolados, Aqueles que pelo criador não são lembrados, Guie-se somente pelas luzes das estrelas até que os primeiros raios de sol as apaguem, Quando você chegar onde não há mais nenhum sinal de vida, Aí você deve parar, E esquecer de mim, Para ser ninguém, Ter somente seu avesso por companhia, Sem aqueles olhos cegos que te tateiam, Numa criminosa injustiça por suas deficiências de que são os primeiros testemunhos, Sem aquelas bocas dormentes que te bocejam, Numa impiedosa indiferença por sua suprema provação que fingem desconhecerem, E, Então, Caminhe, Até encontrar a porta que se abre na vigésima quinta hora, Adentre-a, E fique à mercê do imponderável e do intangível, Estes majestosos senhores da eternidade e do infinito, Venerados e rogados, Por todo impetuoso espírito, A um só tempo carente e valente, Por uma única disposição, Uma única ideia factícia, Nestas palavras tão escatológicas, Neste tempo extra tão adormecido, Que só de sonhos se levanta.
VESTIDA DE MODÉSTIA
domingo, 23 de junho de 2024
TRANSLITERAÇÃO DO SENTIMENTO
quarta-feira, 19 de junho de 2024
O RETRATO DE UMA ALMA
Sempre tenho ideias, coisas para dizer, para escrever, fatos que incomodam-me enquanto não conversar com eles, sentimentos imprecisos que inquietam-me enquanto não tentar entende-los. Para lidar com essas impressões, concretas e abstratas, reais e imaginárias, preciso de ajuda, ajuda de algo que sensibilize a alma, que a alimente com lágrimas emotivas e incensuráveis. Quando procuro ajuda, impaciento-me para encontrá-la mas, quando menos espero, ela desponta, cantando para mim sem saber que veio socorrer-me, acreditando ter encontrado alguém que a ouça com os ouvidos da alma. Então digo o que tenho para dizer e o som numinoso alegra-se com nossa empatia, mas ainda pede-me uma imagem que registre para sempre este encontro mágico, entre o pensamento e a voz do princípio vital. A feição da alma muda a cada milionésimo de segundo e é impossível captar o exato e raro momento em que ela sincroniza o elemento psicóide da natureza com a transcendência da reflexão humana. Lembro-me de uma vez quando sonhei que eu era um pintor e me pediram para explicar o sorriso de Monalisa. Eu falei com desenvoltura por meia hora, esgotei todos os meus conhecimentos sobre técnicas de pintura e conclui que não sabia dizer de onde veio aquele sorriso da Gioconda. Os que indagaram-me, explicaram-me que o sorriso dela partiu do coração, antes que o cérebro recebesse qualquer estímulo. Por isso, deixo estas imagens surgirem ao acaso, e elas aparecem, supostamente indiferentes, mas já produzidas com propósitos definidos e perdidos, um dos quais sempre vem ao encontro de minhas necessidades antes mesmo que elas tenham nascidas. Há pouco tempo, tive uma sensação incomum. Apareceu diante de mim o retrato de uma alma pedindo-me para explicar-lhe que devaneios divinos e que cânticos angelicais registraram sua imagem. Minha querida, eu te chamo de querida porque a alma é feminina, enquanto o corpo é masculino, e a mente, que une os dois, é a sizígia, ou a própria anima que é a interlocutora entre a psique e seu centro regulador que chamamos de Deus. Minha querida, eu gostaria de ser puro, como o branco, mas não sou, e, se você acha que tenho alguma inclinação à alvura, não se engane, pois sou um ser ambivalente e o que você vê em mim é o positivo do retrato de minha alma, mas negativamente carregada de todas as misérias humanas resgatadas de volta a uma caixa de Pandora, e recomposta de todas as cores do espectro devolvidas à sua fonte original através do mesmo prisma que as separaram, transformando-me no enganoso vazio total e neutro da cor que não representa apenas a ausência de cores ou a soma de todas elas, mas também uma contraposição ao nada que é gelado, escuro e assustadora e desproporcionalmente maior do que o insignificante todo para o homem, essas pedrinhas luminosas e solitárias que salpicam o breu sem-fim. Se eu me desvio para o branco, não é porque eu sou puro, pois nem mesmo meus terapeutas tiveram acesso ao meu lado sombrio, e nem porque sou um pacifista por convicção, mas por conveniência, pois minha apologia a não violência é apenas um simulacro para camuflar meu medo, daí o fato de minha face, às vezes, parecer estar pálida de sobressaltos. Na verdade, eu sou um medroso e sempre amarelo, mas sem as rédeas curtas de minha fobia social e de meu acanhamento, posso transformar-me numa fera indomável, como a matiz áurea que rechaça todo tipo de atenuação e transborda da tela onde o pintor tenta enclausurá-la com outras nuanças. Mas você é sublime, mais alva que o branco supremo, por isso muda de cor, como o negro do ébano que parece azul de tão negro. E você é como o branco do marfim que parece rosáceo de tão branco. Quem te fotografou, imaginou a vida como ela deveria ser hoje, e sua imagem deve ter sido captada ao som do que os cientistas chamam de big bang, quando o universo foi gerado, e as predisposições para cria-lo não são dos mesmos que tiveram a ideia de inventar Deus, antecipando que ele seria uma explicação plausível para este momento singular de sua alma.
segunda-feira, 17 de junho de 2024
LIBERDADE SILENCIOSA
Vim participar de uma exposição internacional muito disputada, Não há alojamento porque a infraestrutura da cidade está saturada, Vou para a delegacia da polícia e passo por uma triagem, A burocracia não é tão lenta e logo consigo um lar como hospedagem, É preciso andar de bonde para chegar até a periferia, Não existe táxi, nem carro para alugar, nem cortesia,
O dono é zelador no condomínio de prédios de dois andares, A dona trabalha como enfermeira nas redes hospitalares, A filha única foi para a casa da avó por uma semana, Para que eu pudesse usar seu quarto e dormir na sua cama, Ainda faz frio, a calefação cochila ao lado e com seu calor me abano, A noite é silenciosa e o ar é igual a todo lugar do planeta: humano,
A frígida manhã congela meus dedos que seguram a alça da pasta, O abrigo do ponto de bonde deixa passar frio e a mão ficar dura e gasta, Dentro do ônibus elétrico, em movimento, peço ao cobrador uma informação, Uma loira volta-se contra mim e vocifera ódio em alemão, Confundiu-me com um de seus americanos imperialistas, Aqui meu sotaque inglês é igual a todos, todos comunistas,
Ao longo da Avenida Stalin, não ouço Johann Sebastian Bach compor e tocar, Nem Johann Wolfgang von Goethe escrever e declamar, Não ouço Schumann, Hahnemann e Mendelssohn ecoarem na atmosfera, Só outdoors impondo aos alemães os ditames de uma opressiva e humilhante era, Eu devo ter um amigo russo porque ele é nossa única esperança de paz no mundo, Produzimos armas nucleares para nos defendermos do americano porco e imundo,
O frio é de lascar e, antes de chegar ao meu local de trabalho, paro num local familiar, Um outro pavilhão onde há um estande da nossa Petrobras com tudo no devido lugar, Mulheres lindas, bar completo, cachaceiro do Rio, pinga, limão e açúcar brasileiros, Uma caipirinha dupla esquenta o peito e a mente e deixa os membros bem ligeiros, Já sei onde vou completar todos os dias meu café das sete da manhã a semana inteira, Já sei onde farei uma parada no final do dia para falar português e tomar uma saideira,
De volta ao lar da menina que teve férias forçadas para que os pais fizessem um bico, Ainda preciso trabalhar, escrever relatórios à mão e enviá-los ao meu patrão rico, Vou até uma sala que tem um sofá, uma mesa de centro e uma redonda com cadeira, Ela fica entre meu quarto e o resto da casa e dá passagem obrigatória a uma geladeira, Antes de terminar, ouço uma porta ranger, levanto-me para ver que é numa hora destas, Vejo um vulto distanciando-se lentamente e que espreitava-me por entre as frestas,
Mais um dia de trabalho, hoje abençoado com um encontro com um velho amigo meu, Morou no Brasil, voltou à sua pátria, a Suíça, e estava fazendo em Leipzig o mesmo que eu, Ele ajuda-me a encontrar-me com a Ministra de Economia da Alemanha Oriental, A reunião é no estande de outra empresa brasileira conspirada com aquele país ditatorial, O dono tem que comer a Ministra todos os dias e depositar sua comissão numa conta na Suíça, A corrupção deles não é mais sofisticada do que a nossa e perde em questões de injustiça,
Meu amigo Suíço convida-me para sair para jantar com outros companheiros europeus, A noite de Leipzig é triste, solitária, deserta, um lugar desconhecido por Deus, Os velhos prédios ainda conservam todos os buracos de balas da segunda guerra mundial, Encontrar um restaurante é coisa rara, só com dia e hora marcada e expectativa mortal, Fomos rechaçados por vários deles, até que um aceitou como suborno um valioso pó, A gente esquece todos esses inconvenientes tomando um copo cheio de vodca num gole só,
De volta ao meu ‘lar’, sou surpreendido com uma máquina de escrever sobre a mesa na sala, Ao lado dela, há um maço de papel sulfite caprichosamente alinhado com um pacote de bala, Imaginando minhas mãos calombentas e minha boca seca, meu anfitrião compadeceu-se, De propósito, deixou a porta da sala aberta, passou rapidamente pelo seu vão e escondeu-se, Tirei o paletó, afrouxei a gravata, arregacei as mangas compridas e pus me a trabalhar, Ouço passos macios do outro lado onde fica a cozinha e sinto que há alguém a me perscrutar,
Gostaria de dar uma escapada até a Escola de Tubinen para manifestar uma honraria, A Ferdinand Christian Baur que defendeu pela primeira vez o estudo científico da Bíblia, Mas o tempo é exíguo, então vou logo ali à famosa Universidade de Leipzig, Por onde passaram Wilhelm Leibniz, Goethe, Nietzsche, Wagner e só faltou Ludwig, Lá no campus e no refeitório conheço duas patrícias em busca do que não há em Portugal, Elas só sabem falar de dialética marxista e do iminente fim do ocidente imperial,
Em casa tenho outra surpresa: um par de abotoaduras peroladas e fingidas de mortas, Meu anfitrião continua tentando acerta-se comigo por linhas que me pareciam tortas, Primeiro foram minhas mãos calejadas, e agora são minhas mangas compridas sem botões, Eu sei que persegue-me uma inevitável amizade e logo abriremos nossos corações, E meus pensamentos são corroborados com sua entrada segurando duas garrafas de cerveja, Aqui começam as mimicas e o esforço paciente quando é fraternidade que se almeja,
Hoje resolvi sair mais cedo, andar a pé pela cidade para conhece-la melhor antes do sol se pôr, É hora do rush, as ruas estão inquietas, mas nos semblantes das pessoas há sinais de torpor, Todos andam de cabeça baixa, como se estivessem cuidando onde pisam para não tropeçar, Olham para o alto procurando a posição do sol para ver quanto falta para o dia terminar, Não há sorrisos, movimentos espontâneos, olhares maravilhados, nenhuma descontração, As pessoas parecem ainda viver em clima de guerra com a vida que flui por obrigação,
Lá em casa, meu anfitrião recebe-me com sua esposa e mais déjà vu, Iniciamos uma conversa baseada numa frase universal: I love you, Eles ensinam-me alemão e eu português e sobra um pouquinho para o inglês, As mãos falam pelas bocas e os olhos convertem tudo em humanês, Não existe fronteira, nem país, nem ideologia, só um fraterno apego, O silêncio imposto pelos mandatários é rompido por um livre aconchego,
Última noite em Leipzig num restaurante cubano com a turma da Petrobras, Nas paredes posters de Fidel, Guevara, Lenin e Marx, Copos de tequila num só gole, piadas brasileiras, música e alegria, Alguns gritam viva a revolução, outros não ao neo fascismo, outros viva a democracia, Todos embriagam-se, dançam e já não sabem de onde são, Todos amam-se uns aos outros, mas no dia seguinte de nada se lembrarão,
Último dia no meu lar em Leipzig e tenho a honra de almoçar com toda a família, Comida simples e farta, regada a vinho e aberta com uma homília, Meu anfitrião fez um cambalacho na antena para captar a rádio de Berlim Ocidental, Tento lhe mostrar que há muita coisa além de sua cortina de ferro prisional, Ele não me entende e me surpreende com uma coleção de discos dos Beatles original, Adquiridos através de contrabando e pagos em dólares do seu maior rival,
Malas prontas, meu amigo alemão, que só tem primário, leva-as para mim até o ponto, Olha para mim ficando a imaginar se um dia teremos outro encontro, Eu lhe devolvo as abotoaduras, ele as aperta contra seu coração e as recola em minha mão, Entrega-me um papel com endereço, pede-me para escrever e não contém a emoção, Estamos quase derramando lágrimas, e, de irmão para irmão, damos abraços calorosos, Adeus Leipzig, adeus dias inesquecíveis, adeus meu amigo alemão, adeus tempos impiedosos.
TURNING POINT OF AN IDLE CHAT (MOMENTO DE DECISÃO NUMA CONVERSA MOLE)
Ele está de malinha pronta
É aquela dele montar uma escola para ensinar língua estrangeira?
Pressinto que desta vez não
Puxar a descarga
Esvaziar minha mente
E chegar em Vênus
Onde ninguém vai ligar para minhas flatulências
Desculpe minha intromissão
Só se Vênus tivesse uma temperatura entre 100 a 150 graus
Então existiria água na superfície do planeta
Por causa de sua pressão extremamente alta
No entanto a temperatura de Vênus chega a quase 500 graus
E uma vez que o ser humano é composto predominantemente de água
Você não vai conseguir soltar gases lá
Ao contrário
Lá você se tornará um verdadeiro flato
Ajudei?
Muito
Minha mãe sempre me disse que a vida é só um gás
Peguei o trem certo
Obrigado
Nossa, ele vai se perder ainda mais na vida
Passar o resto de sua vida sem nossas bendições