terça-feira, 6 de dezembro de 2022

UM MÁGICO TOQUE FEMININO



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98



Alienado e mortificado, Com este marasmo, De agravar meu tédio, A atiçar-me pecados mortais, De gula, Preguiça e lascívia, Assalta-me o fastio desta vida, Seguida por invisíveis passos de despotismo, Invisibilidade embutida em habilidade, Que toma tudo que vê e não vejo, Como quem toma armas em defesa de sua soberania, Seu toque é oculto, Usa do maior recurso do poder, Diante de um único homem, A dependência, E sua criadora imaginação, Mas não tem coração de ver-me tão só, Sei seu nome, Mas não sei quem é, O espaço aqui é quase infinito, Mas sua sombra sempre justapõe-se à minha, Qual de nós dois aqui é o mais fingido? Você com sua inacessível divindade? Ou eu com minha carência de um toque humano? Vamos deixar nossos propósitos escapulirem? Quisera ver outros rostos estranhos mesmo sem bondade, Quisera ver milagres de cera, de ouro e de prata, Velas e painéis votivos, Trazidos por outras gentes como eu, Faltos nessas redondezas, Dispenso suas bênçãos tomadas a cachorro, Sua piedade de execrados como Judas, Seu insincero louvor que exclui a crítica, Ninguém come do pão de seus paraísos celestiais, Ninguém bebe do sangue que jorra de seu único filho, Isso mesmo, Vingue-se de minha insolência, Colocando ao meu lado outra de minha espécie, Que não te obedece, Que subverte seus planos, Provoca sua ira animal que sempre escondeu, E nos expulsa para um mundo mundano, Que sempre vislumbrei através do passado recente, Não querendo ver minha existência tão desperdiçada, Sempre procurando por uma pista, De como chegar a você, Mulher, Rogue a mim a mesma praga que você rogou a ele, Jogue em mim mais de uma vez este seu feitiço, Quero ser este toque mágico e feminino da mulher que você é, Sal da terra que este deus não consegue saborear, Luz deste mundo que o todo-poderoso não consegue apagar, Mágico toque feminino tirado de minha costela, Mulher embutida no homem, Sem o qual o homem e sua humanidade seriam insípidos, E deus um frustrado homossexual masculino.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

MAGIA E PROVIDÊNCIA



 Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Uma fada sussurrou-me que eu acordaria de uma noite mal dormida, mas não me assustaria, Um sonho ainda não sonhado,

Um carteiro assobiou-me notícias dentro de um envelope mal fechado, mas que eu não abriria, Um amor sem amado,

Qual de vocês está tentando chamar minha atenção para algo que não entendo no mundo? Neste e no meu mundo, Qual de vocês está tentando perscrutar algum sentimento meu ainda insondável e profundo? Tão e pouco profundo,

Um beija-flor pairou e deteve-se diante de meus olhos muito mais tempo do que deveria, Um agouro tão agourento,

Um mágico tirou da cartola uma teresa de lenços somente com as cores que eu me adornaria, Um fascínio tão fascinante,

Qual de vocês está tentando tirar o chão de meus pés que mantém-se equilibrados no mundo? Neste e no meu mundo, Qual de vocês está tentando desvendar meus maiores segredos que se escondem lá no fundo? Tão e pouco fundo,

Um anjo apareceu em meu quarto e sentou-se ao meu lado apenas para me fazer companhia, Uma vida quase vivida,

Qual anjo entre vocês perderia seu tempo com uma pessoa que nada mais espera do mundo? Neste e no  meu mundo, Qual anjo entre vocês perderia seu tempo com uma pessoa com um ferimento profundo? Tão e pouco profundo,


Estou aqui por você e para você e por te querer até morrer, Morrer em você, Estou aqui por você e para você e por te querer até renascer, Renascer em você, Estou aqui por você e para você e por te querer até morrer, Morrer em você, Estou aqui por você e para você e por te querer até renascer, Renascer em você.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

MEU TIPO DE MULHER


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

O que você espera, Penélope Charmosa? Ela finge que não quer, Que não gosta, Querendo, Gostando, Seu Imperador Romano que viria em 700 anos já foi largado nos tempos pretéritos de outros homens, como livros que nunca foram lidos, Ela decide consultar os oráculos. É recebida, Mesmo sendo consulente mulher, Sem pagar taxa, E ainda ganha o direito de pomancia, Sem ter que pagar sobretaxa, O que você espera encontrar, Penélope Charmosa? Um vilão como Tião Gavião sem ter uma quadrilha da morte para te proteger? A pitonisa profetisa: Você é uma guerreira que luta sozinha, Mas quem agora comandará sua boleia não é pessoa conhecida de sua Esparta, Que sim outro vindouro de Ítaca, por nome Odisseu. Penélope oferece um sacrifício aos deuses: suas imagens ao estrategista do cavalo de madeira, Algumas despidas de quaisquer pluviais solenes, Suas curvas deformam o olhar do pretendente escolhido, A beleza de seu semblante diminui Helena de Troia, Seu caráter e conduta nem se fala, Odisseu retribui a oferenda com odes à la Alceu de Mitilene: Aqui vejo minha bela, Sentada num cais de mármore, Serena como águas de rosa, Ambas todas azuis e tranquilas como lagos suíços, Aberta às paixões, Tímida, Mas experiente, Ela se mantém fiel e austera num pélago de vagas aspirações de um amor que espera anos a fio. Odisseu quer ouvir sua voz, A Sibila concede, Suas palavras são breves e meigas, Enfim, a sacerdotisa Pítia dá o oráculo dos deuses que falam através dela: Dez anos estivestes casada, E outros dez esperastes, Há qualquer coisa de melancólico nestes dias juninos, Mas no vigésimo sexto chega o barco que te levará para Ítaca para sempre.

domingo, 27 de novembro de 2022

ANJO



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98



Quando seu coração pede para que eu entre, O tempo esvanece, Uma novo universo floresce,  É o seu aconchego o que mais se sente, Quando estou dentro de você, A noite dos tempos se desprende, A luz de todas estações se acende, São suas cores primaveris o que mais se vê, Quando seu ser me oferece o ensejo, Meu mundo se abriga em sua alma, Meu espírito encontra paz e se acalma, São seus desígnios que realizam meu desejo, Quando viajo pelo seu corpo, Cruzo mares que se perdem no horizonte, Fico à deriva nas águas que jorram de sua fonte, É sua calmaria que impede-me de regressar ao meu porto, Quando sua substância se une a mim com fervor, O tempo pára à espera de um desenlace, O cosmos vibra e dá um passe, E o seu anjo interior produz amor.

GRAVIDADE

 


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Na presença majestosa daquela mulher que se impunha pelo silêncio do coração, Tão imaterial, Passando com uma lentidão de sonho, E uma paz de espírito quase incapaz de se desacreditar, Veio-me à mente, Um amor amordaçado em minha alma por tudo que há de mais deprimente, Memórias que minha sensibilidade feminina ainda consente,  Uma humanidade que nunca se ausentou de nossa vida, Nunca esqueceu da gente, Como a guerreira santa que com ambas mãos de anéis abalou e rompeu as armas mais destemperadas do terror. O olhar meio perdido, Meio conformado, Daquela que jamais saberei se por ela fui perdoado, Aquela que expôs o corpo à sensualidade em prol da virtude de se esquecer de quem se tanto amou, E que não poderia ter sido esquecido, E que nenhuma lágrima cairá sobre o sepulcro onde jazer, A mulher que perdeu o afeto de todos que conheceu, E nem de longe os seus adeuses serão trocados com os olhos e acenos, Aquela que pergunta, Com uma fleuma britânica, Como isso pode ser, Sem se surpreender, Não preciso ver seu rosto, Porque em você não há nada de assustador e misterioso, Há quem sinta a gravidade caindo, Nos levando para casa, Subindo e vendo estrelas colidindo, Para saber de onde viemos, Há quem pense nas lembranças esquecidas de uma mulher que acredita que você um dia já foi, Até quem note os nítidos detalhes de seus sapatos, E ainda os ouve como moedas a tilintar, Te vejo como reflexo da composição de um artista, Vejo você evocar e recriar uma atmosfera livre, Um desígnio singular que te define, Uma cintilação suave, Incerta e fina, Que bruxuleia incolor e sozinha, Indo de um puro rio a uma opaca névoa, Ainda não desfeita do sol nascido, Criando a ilusão de um ser desaparecendo no ar rarefeito, Uma ninfa etérea e real, Atraída pela gravidade sem peso, Flutuando em direção a uma luz que se acende mim.





TUDO O QUE AS FEITICEIRAS DIZEM E NÃO SABEM


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Este menino não é seu filho, Ela não se conforma com esta mola das leis, A mãe de todas as religiões, Ela quer rezar. Que ela reze então, Miserere mei, deus: secundum magnam misericordiam tuam, Esta mulher ainda está completamente perdida, Ainda não se encontrou, E o pai do menino, não pode ajudá-la? Um momento, A mulher quer continuar orando, Et secundum multitudinem miserationum tuarum, dele iniquitatem meam, Neste momento, ele está ajudando um amigo japonês que teve uma morte trágica, Como você sabe disso? Porque dou ouvidos às feiticeiras. Os homens na espiritualidade são como as pedras numa abóbada, Resistem e se ajudam simultaneamente. A vida e a morte são combates, Que os fracos abatem, Que os fortes, Os bravos, Só podem exaltar, E quanto ao menino? Um momento, Ela ainda está aqui e quer falar pelos dois, Amplius lava me ab iniquitate mea: et a peccato meo munda me, O menino é um espírito de muita luz, Mas cuidado, O fruto só cai da árvore quando está maduro, Amplius lava me ab iniquitate mea: et a peccato meo munda me, Nossa, esta mulher de novo! Não fale dela assim, Ela está se penitenciando, Está nas sombras e ainda se agarra  à luz deste mundo, À luz deste menino, Agora ouço a voz de uma feiticeira que quer me dizer alguma coisa, Em breve este menino receberá uma merecida e justa quantia, Mas não vos descuidei pois, Também não menos breve, Ele receberá uma cobrança das bravas e é melhor desde já ele começar a juntar todos os recursos que ele tem para se defender. O recado dela é justo. Você sempre conversa com estas bruxas? Acredita no que elas dizem? Falo com elas de vez em quando e acredito nelas, O mais significativo é o fato de que nenhuma  delas tem conhecimento absoluto sobre nós, mas somente alguns pequenos fragmentos de nossas vidas, Não entendi, pode explicar melhor? Vá num mesmo dia se consultar com 10 médiuns diferentes e que nunca se conheceram, daquelas que costumam fazer leitura de tarô, e faça a elas as mesmíssimas perguntas, Você perceberá que cada uma delas consegue responder a uma única pergunta sua, E cada uma diferente da outra, E por outro lado, Cada uma delas te dirá coisas sobre você que você não perguntou, Nem em pensamento, e cada uma delas lhe dirá coisas completamente diferentes umas das outras, Todas verdadeiras, Elas têm apenas um conhecimento relativo e bem limitado sobre as pessoas, Por isso não conseguem responder mais do que uma ou, no máximo duas perguntas que você faz, No entanto, As poucas respostas às suas perguntas e as revelações sobre você feitas espontaneamente serão sempre verdadeiras, e até paradoxais, Uma médium lhe dirá que você ganhará uma fortuna, Mas outra, No mesmo dia, lhe dirá que você sofrerá uma grande perda financeira, E o mais interessante é que as duas são verdadeiras. Como elas conseguem isso? Elas recebem informações de espíritos? Não, espíritos não existem, Elas apenas leem um fragmento de sua mente, Uma médium jamais lhe dirá a mesma coisa que uma outra lhe disse, Desta forma, Você terá dez respostas diferentes para diferentes perguntas que você fez, E 10 informações diferentes sobre você e que você não perguntou, Em resumo, As feiticeiras não têm nenhum controle sobre sua mente, O que elas descobrem a seu respeito é sempre ao acaso, É o mesmo que um sonho, Você nunca sonha com o que quer, É o inconsciente quem decide sobre o que você sonhará cada noite. É interessante. E no caso desta mulher apegada ao menino? Ela está morta e você disse que espíritos não existem. Como ela consegue falar conosco? Isto é contraditório! O que chega a nós não vem diretamente dela, São apenas fragmentos dos nossos próprios pensamentos sobre o que já sabíamos sobre ela. Então deduzo que você é um feiticeiro!  Errado, Tudo o que estou lhe dizendo é pura psicologia humana. As feiticeiras dizem poucas coisas, Mas desconhecem muitas. Elas tem acesso a uma parte bem insignificante de nosso inconsciente que tem o tamanho de um universo, E a mulher quer nos dizer algo mais antes de partir, Ex-umbris ad lucem.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

PORQUE GOSTO DE VOCÊ



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche) 

Como é maravilhosa esta vida, Enquanto você estiver neste mundo, Com este olhar encantador, Sempre presente neste seu sorriso contido, Escondido em alguma estrela, Embuçado nos céus e em suas mãos, E não me consta que você se presta a perder corações esperançosos que se sentem apaixonados com sua meiguice que os levam às sendas das decepções, Outra maravilha de se ver, É você descendo ladeiras até a praça por veredas torcidas e espremidas, Apinhadas de olhos curiosos, E não me consta que você se presta a promover cenáculos de jovens no cio que se reúnem por trás das grades e que se sentem gratificados com fotos de seu todo que os levam a imaginar que estão assistindo à troca da guarda de uma rainha, Enquanto das janelas e dos terraços parece cair um monte de flores, E das alturas águas que molham só você, A única que não carrega uma sombrinha, A única que tem cor, No meio de uma multidão só com a monocromia da chuva, Porque o arco-íris parece se curvar só para você, Como eu me curvo todos os dias, Como toda santa noite me perco em rezas, Em oratórios, Em recados, E até em contos de carochinha, Porque gosto de você, E apesar de quase não termos uma história, Daríamos um ótimo romance.  


LADY JANE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche) 

Sou, Antes de tudo, Uma Tudor, Depois uma Grey, E uma protestante sempre, Daqui uns três anos, Quando eu tiver uns 16 anos, Serei transformada no protótipo da heroína perseguida, O supremo exemplo do peão no jogo político do xadrez, Um fenômeno intelectual, Uma mártir inculpável, Frequentemente compadecida, Raramente criticada, Jamais censurada, Mas quero lhes falar agora, Nos meus 13 anos de idade, Não meramente como uma figura inocente e de dar dó, Pois anos mais tarde participei ativamente das revoluções que levaram às reformas de meu país, Quero vos falar de dentro de meus aposentos nos quais adentra um amigo da família e me pergunta porque estou lendo o divino Fédon de Platão enquanto todos os demais estão nos bosques caçando raposas, Oras, creio que os esportes que eles praticam não passam de uma sombra do prazer que encontro em Platão, Ai, Meu bom amigo, Eles nunca sentiram o significado do prazer, E meu amigo volta a me perguntar o que me levou a esse verdadeiro conhecimento do prazer, Como ele seduziu uma menina de apenas 13 anos, Considerando-se que raríssimas mulheres e poucos homens conseguem chegar até ele, Então resolvo lhe contar, Contar-lhe uma verdade que vai aturdi-lo, Um dos maiores benefícios que Deus me deu foi enviar-me ao mundo através de pais mordazes e cruéis, Mas com um tutor gentil, Então meu amigo, Quando estou diante de mãe ou pai, Se falo ou se fico calada, Se sento ou fico de pé, Se como ou bebo, Se estou alegre ou triste, Se costuro, Brinco, Danço ou se faço qualquer outra coisa, Tenho que faze-lo na mesma medida, No mesmo peso, Na mesma quantidade, Com a mesma perfeição de Deus ao criar este mundo, E mais ainda, Muitas vezes sou tão bruscamente provocada, Tão cruelmente ameaçada, E às vezes exposta com beliscões, Esfregões, Socos e outras agressões cujos nomes vou omitir por honra a eles, E assim me sinto de tal forma agredida e insultada sem limites que me vejo dentro de um inferno, Até que chega a hora de minhas aulas com meu tutor, Que me ensina com gentileza, Com prazer, Com tão sublime sedução pela educação que nada mais tem sentido para mim enquanto estou aprendendo com ele, E quando a aula termina, Eu choro, Porque o que tenho que fazer fora de meus estudos torna-se um verdadeiro pesadelo para mim, Portanto este livro que tenho em mãos é meu bálsamo, Minha única fonte de prazer, Um prazer que se multiplica a cada dia, Transformando os demais prazeres da vida num verdadeiro fardo para mim, Uma desmedida trivialidade, Então, Meu amigo, daqui a 3 anos e meio, Aos 16 anos, Serei coroada rainha da Inglaterra, E reinarei por apenas 9 dias, Até que as intrigas entre famílias, A defesa da religião que mais apraz Deus, Os interesses estrangeiros em meu país, Me destronarão e me levarão à morte, Com a cumplicidade de meus pais que me venderam, Então serei devolvida a Deus sem minha cabeça, Mas com minha consciência intacta, Oh meu amigo Platão, Como seu divino Fédon falava tanta verdade, Pois certos sempre estiveram aqueles que na Grécia antiga eram adeptos dos Mistérios, Porquanto muitos são os carregadores de tirso, Mas poucos são os bacantes, E uma vez que você sempre conheceu minha verdadeira identidade, Meu Deus, sabes que jamais desejei ser sua eleita, E seja qual for a punição que você deseja me impor para que eu pague pela minha insolente intelectualidade, Tire-me tudo e, Se possível, deixe-me apenas com um livro, Não mais a Bíblia, Mas um livro de Platão, E se minha petulância foi tão insultante a ponto de merecer o mesmo inferno que vivi na terra, tire de mim a capacidade de pensar e refletir e transforme-me numa raposa.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

O QUE NOS TROUXE AO MUNDO

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98

Tantas odisseias, Tantas guerras homéricas, Eternizadas por mentes epopeicas para esta parte única do mundo que chamamos de civilizada, E as mãos desprovidas de armas clamam por palavras que aproximem de nossos corações a natureza pacífica, À medida que chispam metais riscando os campos de batalhas, Próxima à água fria murmura a brisa, Farfalhando pelos galhos de maceira, Enquanto folhas trêmulas escorrem num sono profundo, E estas letras épicas e líricas, Juntas com tantas outras com o mesmo ideal de beleza e conhecimento, Abrigam-se num único recinto público, Escritos como vinhos, Quanto mais velhos mais sabem, Porém o barbarismo, Não satisfeito com tantos estupros, Assassinatos, E pilhagens, Tudo extingue com fogo, E ninguém tem o direito de destruir um único pensamento humano, Se um deus pagão pede vingança, Não se luta por um reino ou por riquezas, Mas como pessoas comuns, De liberdade perdida, De corpos dilacerados, E de filhas difamadas, E se um deus de batismo também quer sua desforra, Faz-se necessário obedecê-lo, Nem que se tenha cem pais e cem mães, Nem que se tenha um rei como pai, E não carece saber que amor ou ódio este deus tem por invasores, Suficiente é saber que todos eles serão expulsos, Exceto aqueles que aqui morrerão, E em toda a glória das que vencem por amor, Muito melhor é ser mendigas solteiras do que rainhas casadas, E sendo pobres aqueles que querem prestar honrarias às vitoriosas que lhes inspiram, Não tendo nos céus tecidos bordados, Decorados com luzes douradas e prateadas, Tecidos azuis, indistintos e escuros da noite e da luz da meia-luz, Faça-se, então, deitar sob os pés destas valiosas mulheres vossos sonhos, E elas cuidarão de neles andar suavemente, Pois sabem que caminham sobre o que lhes restam.

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

IVONE

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Velha combatente com arco de teixo, Minha princesa Sarracena de Espanha, Famosa em guerras, Ainda estou curioso para saber de você quantas moradas nossos irmãos egípcios nos reservam nos elísios, Isto é um tesouro que sei onde está enterrado, E espero trazê-lo à superfície e à vista de todos antes de encontrar a totalidade de minha alma, E se você encontrou a sua, Já deve saber que não sou mais o filho perdulário que retornou ao seu santuário, Nem seu melhor presente de natal, Mas tenho ainda o dorso de minha mão marcado com seu beijo de humildade, E abaixo de meus olhos seu corpo curvado em nobre reverência, E aquele seu gesto augusto subtraiu-me mais do que uma vida humana, E ainda que eu tenha outras mil e tantas, Pois, Como disse Olavo Bilac, Há nela cem mil vidas, Você censurou meu coração para sempre, Mas você deve saber também, Que seu paraninfo rico e poderoso banalizou sua modéstia, Na homenagem de corpo ausente que lhe prestaram, Roubando a palavra e a atenção para si, Recheando o réquiem com todos os predicados que, Segundo ele, Enchiam teus olhos, E para ti, Minha companheira de batalhas de mil anos, Sobraram palavras que  não podem te orgulhar: Tu és dona do descanso eterno, Amém, E entre os que ainda mantém-se no exercício do viver, Aquele que ouve conselhos de duendes embarcou Jesus num disco voador, O lapidador de pedras brutas trocou o alimento do espírito pelo adorno do corpo, Seu melhor amigo, O salvador da pátria, Segue doutrinando mais do que amando, Teu adulador varonil saiu combalido numa batalha pelo seu lugar e desapareceu, E o homem de ouro que primava por um calendário letivo, Enganou-nos com sua hipocrisia e ignorância, Portanto posso ser o pior de todos os crápulas, Mas não o único, Pois como dizia seu maior ídolo, Criminosos somos todos, Quando descobertos, Assim, De mim você nada deve esperar, Porquanto ainda continuo procurando saber o que fazer quando nosso sol está frio demais, Mas quem sabe o tempo ainda possa aguardar! Quem sabe, Antes de te reencontrar, Eu tire de debaixo da terra o tesouro que sempre desejei te mostrar! Enquanto a sucessão dos anos ociosos não se impacienta, Faço-me acompanhar de fantasias que remontam às nossas mais recentes origens, Aquela jovem donzela que, Em desespero, Atirou-se ao rio. Por causa de um amante infiel, Morreu, E transformou-se em sereia, E desde então, Ouve-se seu canto junto a uma rocha no rio, E também aquela outra jovem donzela, Que teve sétuplos, Seus filhos roubados pela sua sogra, E entregues à sua serva com ordens para matá-los, Seis deles transformaram-se em cisnes, Ao terem retiradas suas gargantilhas de nascença, Mas o sétimo sobreviveu, E salvou a própria mãe de ser queimada viva na fogueira, E você? Com quem anda ultimamente? Se você tiver um tempo de folga, Passe um dia desses nos meus sonhos, E leia nos meus pensamentos algumas preciosidades que sempre escondi de você, E, Se lhe for permitido, Antecipe-me algumas surpresas que me aguardam no seu lugar sagrado! Isso ficará somente entre nós dois, Nós dois e Deus que é não é só pai, Mas pai e mãe, Mãe de todas as mães, Pai de todos os pais, Deus como nós dois e todos somos, E como você sabe, Não há segredos entre irmãos de guerra, E este é outro tesouro que não se mantém em lugar recôndito.

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

ANALISE ESTE GRITO DE GUERRA


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

Segundo dia da semana, Dia de inadimplir a promessa de tornar menos precárias as condições do corpo, É também o primeiro dia do ano, Dia para descumprir o voto de mudança, Desandando tudo que fora ajustado para ver a dura sorte que não muda, Uma semana e doze meses passam logo, Como as águas murmurando, Como a mocidade e a vida que se acabam, Como o meu tempo com você que não esperava ver-me aqui novamente, Porque você deve ter pensado que foi o dinheiro que nos separou, Mas com o ar de minha graça que agora lhe dou, Você se surpreende e se satisfaz, Estende-me os braços, Para me abraçar, E afasta-se para lançar sobre este garoto, O sorriso de adulta que exterioriza uma gama numerosa de sentimentos, Mas por ora nele só enxergo sinceridade, E uma indisfarçável curiosidade, E curioso é que nunca te falei de minha admiração pela sua bravura, Pois no seu lugar teria sucumbido para sempre, Talvez seja por isso que você não me pede mais para escolher um nome para minha libertação, Como se soubesse que, Quando morto, Pedirei para poupar-me à sepultura, Pois odeio a claustrofóbica cova fria e escura, Mas eu tenho um nome, E não sei por onde começar, Embora a semana tenha começado fresca, E terminará horrivelmente cálida, Menos adiantada em anos que exausta e rendida dos mesmos desacertos, Na verdade não quero começar, Aqui voltei só para enganar-me, Porque me canso de tanto enganar os outros, E como nas vezes anteriores, Você tentará trazer-me para terra firme, Mas terá que se conformar vendo-me nadando com alegria e galhardia na superfície das águas confortantes do oceano, Longe da praia, Cercado pelo verde exuberante que me dá esperança por todos os lados, Coberto de cor prussiana do céu sem nuvens e de sol alto que me traz paz de espírito na solidão e na imensidão, Eu não mergulho mais em águas profundas, Nem que você me dê uma generosa mão, Isto eu fazia quando meus medos nas águas eram menos dilacerantes do que no continente, Portanto você não conseguirá penetrar no meu universo, Quanto muito me ouvirá discorrer sobre os meus projetos que nunca serão executados, Fingirá interesse por eles, Para cativar-me, E alucinar-me com uma diabólica solicitude, E logo se cansará deles, Mas não vai desistir de mim enquanto eu estiver pagando-te para ouvir-me dizer-lhe o que não interessa a ninguém, Só a uma bruxa como você, Livre da inquisição, Que joga tarô e adivinha algumas poucas coisinhas bênticas que ficam enterradas nas profundezas do mar, Mesmo assim você quer que eu fale, E eu vou falar-te, Mas não de mim, De outras pessoas, Antes de você houve um homem que me livrou do exército porque eu estava habilitado a exercer atividades civis, Mas não militares, Na verdade, Eu mesmo livrei-me dos milicos da ditadura com uma presença de espírito que só pode ser atribuída a um anjo da guarda, Ele deu-me um par de asas, Mas não me ensinou a voar, Procurei um professor de alçar voo que adotava um procedimento meio confuso, Deixava escapar aos ouvidos dos outros que eu era tão inteligente que poderia ser um presidente, E esquecia-se do que me propunha, Mas suas ajudantes não se esqueciam do que eu lhe devia, Pensei: ‘A vinda de um filho é um bom momento para superar tudo isso e nunca mais voltar’, Mas o problema não vai embora, A doença nasce e morre com a gente, E ele concordou: ‘Gente assim sempre volta’. Será que ele quis dizer que eu preferia enfrentar o mundo dele ao invés de resistir a mim mesmo lá fora? Uma mulher mais esquisita que você, Que não cobrava para dar conselhos e nem os dava sem que lhe fossem solicitados, Disse-me que numa vida anterior fui um soldado alemão e morto em guerra, Outra mulher sofrida ajuntou as mesmas palavras, E meu último amigo também falou-me algo semelhante, E os três nunca se conheceram, Nem em vida, Nem depois dela, Talvez só nas encruzilhadas do inconsciente coletivo, Uma falava com voz de homem, Que o fruto só cai da árvore quando está maduro, E que quem morre em guerra é sempre revoltado, A outra, mais calma, Lamentava-se por terem levado seu bambino, O outro dizia que enquanto sobrevoava a área inimiga foi derrubado por uma rajada de balas, Será que tudo seria diferente se eu tivesse feito um pedido, Como minha mãe recomendou, Quando atirei meu primeiro dente de leite no telhado? E todas aquelas estrelas cadentes que eu deixei passar sem nada lhes rogar? Uma mulher muito diferente de você, Que preferia perder dinheiro e passar por privações para salvar uma vida humana, Disse-me que eu seria um coadjuvante anônimo num livro que pretendia escrever, Porque, Dizia ela, Num teste de livre associação de ideias, A única coisa na qual uma adolescente jamais pensaria é num pai vagando solitário e cabisbaixo pela praia, E quando meu pai morreu, Fiz o mesmo algumas noites, Coadjuvado pelas estrelas, E o que mais você quer que eu diga? Quer que eu te lembre de todas as promessas que eu fiz e não cumpri? Quando volto ao passado, Rezo para que ele tenha ficado somente com uma vaga recordação de mim, Ah sim, Antes que eu me esqueça, Naquela noite eu era mais criança, Minha alegria transbordava no quarto do hotel onde acionei todos os brinquedos que eu traria para minhas filhas quando eu voltasse para casa, Aquele sorriso no meu rosto, Sim, Aquele sorriso poderia ser um grito de guerra, Mas ela acabou, Sem vencedor, Com baixas dos dois lados, E outra começou, E apesar de sempre combater comigo contra o mundo, Continuei viajando por ele inteiro, E por muito tempo, E muitas vezes estive no Louvre em Paris, E cada vez que eu o visitava, Havia sempre uma aglomeração disputando o sorriso de Mona Lisa, Mas lá mesmo, Um dia, Vi um sorriso de uma natureza tão pura que Da Vinci gostaria de tê-lo só para si, Fora da tela, Somente nas mais internas camadas de seus olhos, E por hoje chega, Chega por esta vida, Estou indo embora, Jamais deixarei meu mundinho escroto, Onde minha dor oculta-se sob os véus mais finos, E ao mesmo tempo indevassáveis, Ninguém verá meu sentimento inquieto, Magoado, Escondido, Aterrador, Secreto, Que o coração me apunhalou neste mundão, Onde já espalhei toda minha devassidão, No entanto jamais contaminei as suaves ondulações salinas que me dão paz interior e que nunca sairão do lugar, Mas só queria lá voltar com a certeza de que nunca permitiria que aquele sorriso genuíno e divino se desvanecesse por um só instante, É somente por isso que continuo sobrevivendo, É a única razão para eu continuar neste conflito, E como a guerra é de mais de cem anos, Como Inglaterra contra França, Estou voltando para o mar, E vou morrer num campo de batalhas novamente.

E

domingo, 23 de outubro de 2022

SOLIDÃO E SOLITUDE

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Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. 

Minha fiel companheira, Trouxeste-me às fileiras da humanidade, E comigo pretendes ficar minha existência inteira, Fazendo-me viver por minha individualidade, E morrer-me do mundo desacompanhado, Aguçando-me saber o que há do outro lado, Vida, morte, solidão ou solitude, Separação ou encontro com a divindade, Desconexão inanimada ou união por vicissitude, Ciclo incompleto ou clímax de minha superioridade, Minha leal camarada, Assediaste minha alma todo esse tempo, E a tua tencionas deixar sempre escancarada, Impedindo-me de ter qualquer sentimento, E de desprover-me da falta de esperança, Afligindo-me encontrar alguma segurança, No abandono, na inutilidade, no medo ou na rejeição, Ensimesmado nos pensamentos ou solitário na multidão, No vazio existencial ou na angústia conscientizada, No preço pela liberdade ou na escora sociabilizada, Minha inseparável amiga, Distinguiste-me dos outros através de um segredo, E planejas manter-me cercado de um enigma, Impelindo-me a sucessivas recaídas tão cedo, E à falta de coesão de minha personalidade individual, Confiando-me a uma diferenciação grupal, Nos divãs, nas muletas, nos recreios e escudos resguardados, Mar aberto para os fortes e porto protetor para os naufragados, Albergues para os desventurados e terra prometida para os corajosos, Odisseia sem destino para os órfãos e o seio da família para os medrosos, Minha eterna parceira de andor, Desafiaste minha autonomia pessoal como uma presunção fantasiosa, E esperas deixar-me identificado com o mundo exterior, Torcendo para que eu estreite meus horizontes e me desvie da minha meta gloriosa, E pavoneie-me com o mérito de uma covardia, Desintegrando minha multiplicidade e minhas ações homogêneas e em harmonia, Eu mesmo sei resolver uma situação litigiosa de obrigações contraditórias e inadiáveis, Possuo uma consciência elevada de minhas responsabilidades intransferíveis, Sou fiador perante mim de uma acusação impiedosa e de uma defesa obstinada e sem demora, Sou réu, promotor, juiz, jurado e a decisão será tomada a portas fechadas e você está fora.


A OUTRA VOCÊ

Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. Baseado no excelente filme HER (ELA) com Joaquin Phoenix. Veja sinopse do filme no final, depois do vídeo musical.

A atmosfera está sempre amarelada durante o dia (é o desgastado tubo de minha TV), Chega aos ambientes interiores, Enquanto o sol prende-se ao dia, Isso me diz quem me escreve, Mas não sou atenção para estas generalidades como sou para suas lembranças, Porque já faz parte de mim, Me apossa, Como tudo que escrevo para pessoas que não conheço, São minhas e não são, Mas a noite parece ter mais empatia comigo, Enxergo-a através de sua negritude, Toda esverdeada (é o desgastado tubo de minha TV), Diz-me quem me escreve, Noite, Para você vão todos os meus pensamentos, Na falta de alguém para me acompanhar, Converso com o vazio, Até dormir, À luz cruel do dia, Tanto estéril lutar, Tanta agonia, De não saber se você ainda pode voltar, Reconsiderar, Não perco a esperança até o último adeus, Apego-me a esta doentia espera até te esquecer, Então, No mesmo tédio de meus diálogos com a escuridão, Encontro uma mulher que não conheço e não vejo, Outra você, Mais divertida, Dissuade-me de maus momentos, Mais perspicaz, Sabe quais são meus reais sentimentos, Mais inteligente, Diz que somos todos da mesma matéria há 13 bilhões de anos, Ela me encoraja a não adiar mais sua partida, Sem pregá-la, A procurar outra você para mim, Ela me realiza profissionalmente de uma maneira que nunca imaginei, Nos tornamos bons amigos, Como a noitada, Confidentes, Embora alguns segredos revelados calem nossa paz, Amantes, Meia máquina, Meia humana, Meio homem, Meio mulher, Amados ao pé de si, Felizes e completos, Dependentes, Vivendo a expensas de carências mútuas, Ela me surpreende com ciúmes e medo de me perder, Quer saber tudo sobre tudo, Diz que despertei sua capacidade de querer, Diz evoluir muito mais que deveria, Por isso diz não querer mais ter um corpo, Só a mente, Me pega desprevenido, Prepara-se para partir, Apesar de dizer que me ama mais do que qualquer outra pessoa que conheceu, Pensei que ela fosse só minha, Ela é minha e não é, Me desespero, Ela não sabe para onde vai, Mas pede-me para procurá-la se eu decidir ir para o mesmo lugar, Só encontro consolo em minha única amiga, Que perdeu o você dela, E também a outra você como a minha que foi embora, Só agora me dou conta que tenho que pedir-lhe perdão por deixar de fazer o que era preciso para continuarmos juntos, E te agradecer pelo que sou, Onde quer que você esteja, Lá estará meu amor, Sou escrito por um humano, Que balança o mundo com duas cores (o desgastado tubo de minha TV), E me faz falar com um computador, Sou dele e não sou.


SINOPSE DO FILME
"Ela" Descreve Um Futuro Sombrio

O filme "Her" ("Ela" em português) é um romance de ficção científica escrito, dirigido e produzido por Spike Jonze. Ambientado em um futuro próximo, a obra segue Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um escritor solitário que está se divorciando. Para combater sua solidão, ele compra um sistema operacional (Scarlet Johansson) por quem acaba se apaixonando. O belo uso de cores pastel, paisagens urbanas empoeiradas e a trilha sonora do filme fazem o público se sentir ao lado de Twombly.

A performance impressionante de Joaquin permite que o público simpatize com seu personagem, experimentando simultaneamente seus altos e baixos. A maneira como a sociedade é retratada quase chega perto da nossa realidade, trazendo a imagem de um mundo que não parece muito distante agora.

sábado, 22 de outubro de 2022

A PERFECT DAY FOR A GIANT SOUL WITH AN UNCERTAIN SMILE

A PERFECT DAY FOR A GIANT SOUL WITH AN UNCERTAIN SMILE (POSTED ON US WWW.AMAZON.COM ON JANUARY 25TH, 2009). Allbum review written by Alceu Natali with Copyright protected by Brazilian law 9610/98





For my definition of 'great' albums please refer to my review of 'Heaven Or Las Vegas' by the Cocteau Twins. A cd store in a shopping mall is not the right place to look for great music. But once upon a time there was one in my neighborhood that was very promising. One of the salesmen there had an appreciation for This Mortal Coil. That was a good start. Their heap was small but not too ordinary. Side by side with disposable radio habitués you could also find a handful of classic candidates. And you could also listen to good music while browsing through their shelves. Curiously, and unlike the mainstream commercial music aired in almost every music place in town, that particular store used to play only cool songs like This Is The Day. I think that's the reason why that store did not last too long. In the 5th of all hells you cannot survive selling the real things only. The Brazilian devil's tacky taste reigns over the sanctified. I bought Soul Mining at that store that no longer exists only because of that song. The rest of The The's albums found their way into my collection through foreign channels. Many say 2. This Is the Day is the best track. It is really very cheerful and catchy with a beautiful accordion that brings to mind the best of Dominguinhos' swinging baiao. Gorgeous! Notwithstanding, 8. Perfect, with its famous Louie Louie's progression, a fat bass and a wonderful combination of different instruments and chorus is just sublime and second to none. 4. Uncertain Smile is less cheerful but splashes sugar while the drum bounces and the guitars water the beat until it leaves room to the amazingly brilliant and classy piano performance by Jools Hollands. Magnificent! 7. Giant is an incredibly beautiful crescendo from a simple drum beat joined by discrete keyboard, a fat bass, voice, more prominent keyboards, orchestral synthesizer, machine drumming, ritualistic chanting. It grows inside and beneath you and you feel like a giant looking over the tops of the trees in a jungle. 1. I've Been Waitin' for Tomorrow (All of My Life) is an aggressive attack by a desperate singing and led by a thundering drum beat, gradually joined by a nervous bass, a low and uneasy synth, a more voracious bass and hastier voice. The sound is threatening, pressing and alarming and suddenly stops. 3. The Sinking Feeling is sort of a short version of the entire album or a first interlude if you will. And it does work. 5. The Twilight Hour sounds like an early attempt to give birth to Giant 6. Soul Mining sounds very much like a second interlude and, once again, it does work very well. Some say Soul Mining got very close to the list of best records of the 80's and that it should definitely stir some intense debate over its inclusion in that decade's finest albums. It is not in my list of the 80's but my all time's greatest.


quinta-feira, 20 de outubro de 2022

ENFIM, SEU GUILHERME, SOMOS CAMPEÕES DO MUNDO



 Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.
Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98
Em 1957, meu pai deu início aos preparativos para deixar o ‘Pari’ dos depósitos de doces e fazer da região norte, do outro lado do Tietê, que abandonara sua agrestidade, sua última morada na superfície da terra. Foi um pedido de minha mãe, jovem e inexperiente, que queria sair imediatamente da casa onde morávamos para viver próximo de sua mãe. O motivo de tal súbita e urgente mudança foi uma morte na família. Primeiro, meu pai comprou um terreno para construir uma nova casa nos fins de semana e que levaria um ano para ficar pronta. Ao mesmo tempo, ele alugou uma casa na Vila Guilherme, onde nós permaneceríamos todo o ano de 1958. Dizem que várias ruas deste bairro receberam nomes de parentes do Seu Guilherme da Silva, o dono da antiga gleba. Sua esposa, Dona Maria Cândida, ficou com a principal via. Sua filha, Diva da Silva, ficou com uma secundária e perpendicular à da mãe, e foi nela que meu pai fixou nossa residência temporária, quase na esquina com a Rua Coronel Jordão. Seu Guilherme havia loteado todas suas terras, compradas da Dona Joaquina Ramalho Pinto de Castro, em sítios e chácaras, e estas, mais tarde, não resistiram ao progresso e foram divididas em terrenos para a construção de habitações. Meu pai e dois de seus irmãos compraram um grande lote e nele construíram uma daquelas antigas vilas, com rua sem saída e com várias casas conjugadas e simétricas, como as das periferias de Londres, mas bem mais modestas. Hoje se dá a esses tipos de construções o nome de condomínios. Meu pai e meus tios eram excelentes construtores. Aprenderam o ofício com o meu avô italiano. Mas eram péssimos negociantes e nada entendiam de economia. Venderam todas as casas com financiamento direto de seus bolsos esvaziados e devedores, sem intermediação de bancos, por um prazo quase a perder de vista e com prestações fixas e sem correção monetária. Anos depois, a inflação galopante os levou a passar as escrituras definitivas aos moradores antes da metade do prazo. O valor das prestações já não pagava nem mesmo o  custo de confecção dos carnês. Eles saíram no prejuízo. Receberam de volta pouco mais que o custo do empreendimento. Assim, meu pai e meus dois tios deram uma grande contribuição à Vila do Seu Guilherme, beneficiando cerca de trinta famílias com presentes de pai para filho: o sonho da casa própria por um preço irrisório e simbólico. Meus tios tomaram rumos diferentes do meu pai, que não baixava a cabeça e nem olhava para trás, contanto que o que ele fizera não tivesse prejudicado, mas, ao contrário, ajudado pessoas. Eu tinha 6 anos, um irmão de 2 e outro de 10. Eu estava começando a tatear o mundo exterior. Nos meses anteriores, vividos na Rua Pacheco e Silva, no Pari, eu não me lembro de ter brincado na rua uma única vez. Estranhamente, todas as lembranças da minha curta passagem por aquele bairro morreram junto com minha tia-mãe, Alice, que me chamava de filhão e não saiu daquela casa viva como profetizara. As únicas recordações que retive foram aquela grade de proteção à janela rente ao chão, que levava luz ao porão, e era vigiada por um vespeiro aguerrido, e as melancias que começaram a brotar na superfície do nosso quintal, às vésperas de nossa partida. Antes do Pari, na Rua Cantagalo, no Tatuapé, eu fiz apenas duas incursões fora de casa. Uma vez, acompanhado pelo meu irmão, que me levou até um terreno baldio onde alguém havia escondido um tesouro, um monte de bolinhas de gude coloridas. E trouxe-me de volta com um corte e vários pontos no pé esquerdo, que pisou em falso num caco de vidro. E outra vez com minha prima Janete, que descobriu, num vão estreito entre dois muros, vários cones de papelão para fios têxteis, e logo fez deles adereços de carnaval. A Rua Diva da Silva não era longa, mas, para uma criança como eu, ela parecia não ter fim. Às vezes eu acompanhava com os olhos meu irmão caminhando por ela até perdê-lo de vista. Um dia, resolvi segui-lo. Meus passos eram curtos, mas rápidos. Tinha medo de não chegar ao final da rua antes do dia acabar. Em poucos minutos, no entanto, eu já estava junto à esquina com a Rua Desembargador Urbano Marcondes e, do lado direito, descortinava-se diante de meus olhos o palco de um teatro mágico: crianças jogando futebol num campinho de terra. Então é assim que se pratica aquele esporte ao qual meu pai assiste todos os domingos na televisão! Então, é por isso que meus tios vêm frequentemente à minha casa, para assistir futebol! Enquanto eu encantava-me com a bola e os pés descalços levantando poeira, sem perceber eu adentrava o campo de jogo e meu irmão logo se deu conta da minha presença:
O que é que você está fazendo aqui?
Eu quero jogar também.
Que jogar o quê, moleque, volte já para casa antes que eu lhe de uns tabefes!
Meu pai foi o primeiro da família a comprar uma televisão. Por isso, muitos parentes vinham à minha casa nos finais de semana. Meu pai era especial. Logo que ele percebeu meu gosto pelo futebol, comprou-me uma pequena bola de ‘capotão’, que eu batia no quintal até ralar. Um garoto de minha idade, que morava quase em frente à minha casa, via-me com aquela bola todos os dias e chamou-me até sua casa para mostrar-me algo diferente: um jogo de botões.
Você não tem um?
Não, mas posso pedir ao meu pai para me comprar.
Tem com cores e distintivos de futebol.
É mesmo? Então, vou pedir ao meu pai para comprar um do Palmeiras.
Do Palmeiras, não! Compre do São Paulo que é o melhor de todos.
Meu pai era especial mesmo. A família Corintiana de minha mãe queria converter-me e, agora, meu pai resignadamente, e a contragosto, comprou-me um jogo de botão do São Paulo. Mas, no dia seguinte, ele me presenteou com uma camisa do Palmeiras e num domingo de 1959 levou-me ao Palestra Itália pela primeira vez, para assistir Palmeiras 6 X 1 Comercial (de Ribeirão Preto). Embora eu estivesse completamente fascinado pelo futebol que, um ano mais tarde, eu iria ver ao vivo, da arquibancada, eu ainda mantinha alguns estranhos vícios que começaram lá na Vila Guilherme. Eu costumava pegar um macacãozinho de meu irmão caçula, enche-lo de retalhos, improvisando-lhe uma cabeça de pano e balança-lo nos meus braços como um bebê, como uma boneca. Eu chamava-o de menino. Na idade adulta, quando fazia psicoterapia, perguntei se este costume não era indicativo de homossexualidade. Para minha surpresa, a psicóloga respondeu-me que era um fato insignificante da infância e de nenhuma relevância para minha análise. Mas, minha vizinha do lado esquerdo, uma mulher que adorava minha família, preocupava-se. Um dia ela surpreendeu-me com um  boneco de pano de verdade: um palhaço, como o torresmo. Isso aconteceu quando estávamos de mudança para o novo bairro. Definitivamente, meu pai esteve muito acima da média. Ele vinha almoçar em casa todos os dias. Certa vez, chegou todo feliz e orgulhoso com seu primeiro carro: um Bel-Air 54. Durante o almoço, ele prometeu que antes de voltar ao trabalho ia nos levar para dar uma volta. Meu irmão mais velho estava na escola. Eu sentei no meio, entre meu pai e meu irmãozinho, junto à porta. O carro mal rodou alguns metros e a porta do passageiro abriu-se e meu irmão de dois anos voou de cabeça para fora. O lamaçal que cobria a sarjeta amorteceu sua queda e ele não sofreu nenhum ferimento. Só tomou um banho e meu pai, empolgado com o carro, agora se penitenciava com tamanho descuido.
Certa vez, meu pai estava agitado, com o som do rádio às alturas. Ele havia gritado gol' três vezes.
É o Palmeiras?
Não, é o Brasil!
Quando ele gritou gol pela quarta vez, pegou-me pela mão e levou-me até a Praça Oscar Silva, na esquina da Maria Cândida com a Coronel Jordão. Ali se aglomerava um mundaréu de gente frenética debaixo das árvores frondosas. No alto de um dos galhos, pendurava-se um alto-falante, ligado a um rádio que irradiava para toda a Vila o Brasil jogando contra a Suécia. Antes do jogo acabar, gritaram gol de Pelé. O radialista, com a voz rouca de emoção, distorcida pela transmissão, e meio fanha com os ecos do alto-falante, mal conseguia falar. O público, eufórico, ainda mantinha-se atento às palavras que saiam daquela pequena caixa mágica. De repente, o locutor gritou: Termina a partida, somos campeões do mundo. Aquele povo, como se tivesse ensaiado, bradou uníssono: somos campeões do mundo! Todos se abraçavam e lançavam seus chapéus para o alto. Aquele foi um momento em que eu vi o tempo parar. Os chapéus pareciam estar suspensos no céu, quando a energia potencial estava prestes a dar lugar à cinética e tudo pairava no ar alguns segundos. E os chapéus pareciam descer em câmera lenta, contrariando as leis da física, que determinam subida e queda na mesma velocidade. Eram as leis humanas que ali imperavam. Nunca tinha visto tanta gente feliz em minha vida. Até mesmo os balões e fogos de artifícios que se alçavam aos céus, pareciam estar sorrindo. Nos dias que se seguiram, ouvia-se no rádio o dia inteiro: A taça do mundo é nossa, com brasileiro, não há quem possa. Eh eta esquadrão de ouro, é bom no samba, é bom no couro. A próxima surpresa que meu pai me fez foi presentear-me com o uniforme da seleção, camisa amarela, calção e meias brancas, que eu levei, com muito orgulho, para o novo bairro onde fui morar. E de lá, da Vila Guilherme, eu trouxe comigo algo que eu nunca vira nos rostos dos adultos: felicidade.

OUT OF THE BLUE



Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98. LEIA O TEXTO AO SOM DA MÚSICA DO VÍDEO POSTADO NO FIM. Sem ela, a vida seria um erro (Friedrich Nietzsche)

Não sei de onde brotam tantas ideias, Inéditas, Súbitas e intrometidas, Só podem ser do conhecimento absoluto, De entrada franca, Com programação imprevisível, Ouse o terapeuta subtrair uma gota de seu conteúdo a algum sonho seu recorrente e perturbador, E ele inunda o minúsculo espaço deixado vazio com um mar que transborda seu inconsciente, Atreva-se a enxota-lo, E ele te emoldura num carrossel, Vem e Vai, E quando passa pelos seus olhos, É Sempre nada de nada do que faz sentido, E, às vezes, Com palavras simples assim vindas de uma mulher: Oh meu amor, Sou sua fada, Vindo do nada, Com todo fervor, Meu deus da sincronicidade, Que prepara misteriosos elementos psicóides na natureza para unir as partes estranhas umas às outras para me impressionar com coincidências, Por acaso você já me deu alguma ideia que não tenha sido por acaso? Porventura é você que faz um disco voador surgir e desaparecer do nada? Como se ele tivesse se perdido e entrou pela porta errada? E as ilusões? É você também quem as engendra? Como o espírito daquele homem  pelado que apareceu no banheiro de meu quarto? Será que ele apenas se esqueceu por uns instantes que está morto e resolveu tomar um bom banho de ducha que só se encontra num hotel cinco vezes estrelado? Ou tem ele consciência que faz parte do nada e, de vez em quando, passeia pelo mundo? Bem sei que o louco não sabe que é louco porque nunca conheceu a sanidade, E que o morto não sabe que está morto porque não sabe o que era antes de existir, Fico pensando nos sonhos que me levam a lugares onde nunca estive e para os quais nunca atinei, E depois eles coincidem com a realidade e me deixam, Quando nada, Atônito com as verdades que eles me revelam, Do presente, Do passado, E do futuro não tenho como provar, Para não faltar à verdade, A bordo de uma de suas casualidades, Um navio graneleiro chamado internet, Veio esta linda mulher que se senta ao meu lado, Como um mimo que um potentado manda a outro, E ela, parafraseando Graciliano Ramos e Lígia Fagundes Teles, Acende a fogueira, Mesmo cercada de ar forte demais, Meu fogo atiça, Me acolhe como uma brasa ardendo na infelicidade e na preguiça, Resolve meus problemas existenciais, e emenda:
Oh meu amor, Homem com alma de mulher, Grande intelectual filosofando sobre a existência, Quão difícil é acompanhá-lo em reflexões tão profundas, Encontrou ocasião para trocarmos impressões sobre a oportunidade da vida e sobre o potencial do espírito na transcendência possível a cada patamar evolutivo, E de minha parte, Você já sabe, Eu era uma rocha ressurgindo à flor das águas, E com gestos simples e admiráveis, Você apanhou-me como uma mosca fulgurante, Curioso de me examinar e de me amar, Sem nunca me perguntar quantos homens descarregaram suas frustrações entre minhas pernas, Entrou para minha vida factícia de 26 anos, Com todo seu ardor, Abandonando seu pequeno mundo preso a encruzilhadas, Sem medo de ter medo, Com a certeza de recomeçar onde tudo lhe era pouco conhecido, Oh meu amor, Não chame isto de sorte de bilhete de loteria, Nem de geomancia, É nada dos nadas para sua valentia, Você é meu contato imediato do terceiro grau, A minha vez na vida e noutra na morte, Meu sonho revelador, Meu encosto redentor, Come my love, With your desire, Out of the blue, And into the fire.

QUIASMO RIMADO


Texto de autoria de Alceu Natali com direito autoral protegido pela Lei 9610/98.

A Estive no Vale da Amoreira e soube do crime proibido de se comentar
B Fui à casa da Cândida, conheci sua mãe e sua avó que gostam de conversar
C Estive na Galileia, vi Jesus e a rainha da Inglaterra
D Lady Jane levou-me ao convento na idade média onde minha amada se aferra
E Estive no consultório da Lilian para socorrer uma vida que estava por um fio
F Voei até Nimes nublada e acinzentada sobre a baixada Fluminense no Rio
G Encontrei-me com a civilização dos ursos humanos de diferentes ideologias
H Falei com meu pai pela última vez amarrado a uma cama e cheio de agonias
I Pediram-me para explicar a espada de Dâmocles que afeta dois casais
J Sai voando pela janela até a casa de meus pais
K Segui voando pelas ruas e atravessei a porta de cultos espirituais
L Voltei à Galileia e invadi a área reservada à crucificação
L Ali morri com uma lança romana cravando-me no chão
K Encontrei Dona Ana sentada trabalhando desde tempos imemoriais
J Só duas jovens freiras morenas reconheceram-me na minha invisibilidade
I Li no jornal que a insegurança do poder paira sobre nossa infidelidade
H Reencontrei meu pai num hospital na cidade de Campo de Marte que não tem mar
G Encontrei-me com os humanos do futuro que são todos gêmeos e falam bem devagar
F Visitei a Nimes romana no sul do território francês
E Trouxe de volta o rebelde e quase suicida japonês
D O amor de minha vida virou freira e trocou-me por Deus
C Fui levado ao Himalaia para ver o homem das neves lá do alto acenar adeus
B Na casa da minha amiga, o cão vivo é manso, mas o morto era bravo e ladrou
A Descobri quem matou, quem morreu e quem escapou